GLOSSÁRIO do PODER ORIGINÁRIO.

21/04/2013 07:20

 

 

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Ação: os grupos humanos elaboraram, em todos os tempos, formas de comportamento que queriam uniformes nas suas ações coletivas. O PODER ORIGINÀRIO se expressa e age na objetividade dos sistemas e das instituições nas quais a ação encontra os seus dados com os demais agentes e constitui um elo e um repertório comum para expressar o sentimento de pertencimento a um determinado coletivo. A filósofa Hannah Arendt escreveu (1983 p.41) que “a ação é a única atividade que coloca em relação direta os seres humanos, sem intermediação dos objetos, da matéria, correspondendo à condição humana da pluralidade, pois são os seres humanos, e não o ser humano, que vivem na Terra e habitam o mundo”.  Ladrière amplia (1977. pp.206 /7)  este pensamento pois “a ação é ato de colocar numa obra efetiva o dinamismo essencial que caracteriza a vontade e a criatividade que a habita. Ela é o ponto de interseção  de um fluxo de energia, de condições de efetividade e de uma destinação. O fluxo energético que a conduz, é precisamente a vontade, enquanto tensão auto constituinte: a vontade é um modo de ser caracterizado por uma relação a si mesmo feita ao mesmo tempo de uma distância originária e de uma exigência absoluta de coincidência. A distância que afeta constitutivamente a vontade e instaura nela mesma a tensão que a faz uma fonte viva de energia, separa, de uma certa forma, a vontade dela mesma; ela marca em si mesma uma diferença, entre o que ela é na sua efetividade e o que ela é como exigência, entre o que ela faz de si mesma - pela ação precisamente - e o que se apresenta nela mesma como sua própria realização, quer dizer como expansão máxima de seu ser e pelo faz também a assunção integral da tensão que ela é... Em toda a ação, mesmo a mais modesta, enquanto que ela verdadeiramente coloca em movimento a energia voluntária, há uma caminho que, em e pelas determinações concretas e limitadas que ela coloca, frente ao cumprimento integral da vontade, e cujo sentido é contribuir, por sua parte, para a chegada da realidade integral”. Ainda Ladrière resume e reitera (1977:206,304 e 308) “A ação coloca em obra a vontade. A ação coloca em contato a pluralidade dos seres humanos”. Contudo a ação possui um pressuposto que Schaeffer, assinala (1992, p.28) pois “a ação seria inútil se todos o homens fossem iguais, assim não haveria espaço para a arte

 

Ação e Autonomia: a ação de acordar a Nação da escravidão assusta a qualquer um. Assusta tanto pela extensão como pelas consequências desta ação. Esta tarefa poderia redundar em mais uma demonstração de aprendiz de feiticeiro que ao não dominar a própria mágica. A improvisação pode chegar ao efeito final contrário ao projeto malogrado Esta tentativa frustrada poderia invocar todas as sanções morais, jurídicas e materiais sobre este aprendiz. Enquanto isto o Poder Originário é jogado na mais profunda heteronímia, e vez de mantê-lo acordado, vigilante e com voz ativa na sua neutralidade diante de eventuais desmandos provenientes dos tiranos sempre de plantão. Quanto a esta ação Ladrière escreve (1977: 207/8) que “se a ação, como iniciativa concreta, situada, e forçosamente também limitada, é necessária, é porque a vontade não pode se realizar sem se dar um conteúdo. Este conteúdo não pode vir-a-ser senão nas condições que ela encontra no mundo, na realidade objetiva das situações, na qual existem também determinações vindas da natureza que essas determinações de segunda ordem, que o homem se dá à si mesmo, nas suas instituições e nas suas culturas. É na objetividade dos sistemas que a ação encontra os dados substanciais sobre os quais ela deve se apoiar para dar a si mesma, essa materialidade sem a qual ela seria um desejo ilusório. Mas, ao fazer dos conteúdos sistemáticos sua própria substância, a ação se eleva à sua lógica interna, que vai em direção a sua autonomização, para os inserir na sua própria lógica, que é tornar-se senhora da vontade. Por aí, os retoma sobre a lei de sua autonomia e lhes confere uma finalidade que é aquela de sua própria destinação”.

 

Ação e linguagem: para Arendt (1983: 235) “sem a presença da linguagem, a ação não só  perderia seu caráter revelador, ela perderia, por assim dizer, também o seu sujeito, pois não haveria mais seres humanos, mas robôs executando atos que, falando humanamente, ficariam incompreensíveis”

                                                                     

Acaso: Catão (Agatão apud Arendt 1983: 404) dizia que: ‘a arte ama o acaso, e o acaso ama a arte’.” Aristóteles  afirmava (1973: 344 1140a 17) “diferindo o produzir e o agir, a arte deve ser uma questão de produzir e não de agir; e em certo sentido, o acaso e a arte versam sobre as mesmas coisas”.  poder arcaico e  tribal rebrota, ao acaso,  em cujo modelo todos mandam e ninguém obedece. Para Kuhn, (1997: 35) “na ausência de um paradigma ou de algum candidato a paradigma, todos os fatos que possivelmente são pertinentes ao desenvolvimento de determinada ciência têm a probabilidade de parecerem igualmente relevantes. Como consequência disso, as primeiras coletas de fatos se aproxima muito mais de uma atividade ao acaso do que daquelas que o desenvolvimento subsequente da ciência torna familiar”..

                                                                        

Agente: o agente do  PODER ORIGINÁRIO pode comparado ao artista que segundo Argan (1992: 40) “ele deve salvar-se com a sua ação”. Ou “como seu líder institucional” nas palavras De Mais (1997: 20). A forma preferida de atropelamento e desqualificação deste administrador e do servidor público é a “plantação” de meias verdades e com o bombardeio de noticias alarmante. O administrador é desqualificado como pessoa e como agente do bem publico.

 

Agir: Giulio Argan afirma (1992: 39) que “técnica da arte é ambígua na medida em que produz fenômenos sendo práxis e ritualidade quando produz fenômenos reveladores”. O mesmo historiador e prefeito da cidade de Roma, nas palavras de se os projetos reconhecem no agir no qual existe uma somatória dos esforços da práxis com a ritualidade.  Para Aristóteles (1973: 344) “a arte está em quem produz e não no que produz”. O inovador PODER ORIGINÀRIO não podendo agir, governa e conceitualiza a produção na concepção de Arendt (1983: 286 e 404)

 

Agir distinto de fazer: se o governante é um tecnocrata ele quer trabalhar apenas para causar efeito com o seu “planejamento” e pautando o seu projeto com o FAZER em vez do AGIR coerente com o Poder Originário. Para evitar resvalar para o abismo do “governo é culpado de tudo” é preciso distinguir o executar (fazer) do  agir . Hannah Arendt distinguiu (1983 p.286) “Executar (archein) e agir (prattein) podem tornar-se duas atividades absolutamente diferentes, e o inovador é um chefe (arhon no  duplo sentido do termo)  que «que não tendo como agir (prattein) governa aqueles que são capazes de executar”,  “Nunqum se plus agere quam nihil cum ageret, nunquam minus solum esse quam cum solus esset... «Nunca fui tão  ativo quando não fazia nada   nunca fui menos só  quando estava só»” Catão apud Arendt 1983 p. 404.

                                          

Alodoxia cultural: termo que Bourdieu usa para caracterizar a falsa legitimação dos bens simbólicos. Trata-se de erros de identificação bem montados para dar aos que deles são vítimas, tenham a ilusão de ortodoxia cultural. Para Bourdieu,(1987: 145) “a alodoxia cultural enfatiza a acessibilidade econômica e cultural dos produtos propostos, valendo-se de sua elevada legitimidade”  O campo cultural é vitima constante desta alodoxia inclusive na universidade como Coli denunciou[1] a forma como a arte é tratada, mal entendida e o seu sentido corrompido em São Paulo. Na mesma linha Dacanal[2] denuncia esta mesma alodoxia universitária no Rio Grande do Sul.

 

Altruísmo: o filosofo francês Jean Jaques Rousseau defendeu o contrário nas suas obras e que a criatura possui uma tendência e sentimento natural de altruísmo nas civilizações. O chileno Maturana também percebe muitos pontos de altruísmo entre as espécies vivas reforçando o filósofo francês com o seu bom selvagem. Assim, apesar do mito em contrário, as espécies vivas praticam normalmente ações que vem  em benefício coletivo. Maturana escreveu (1996: 170/1 e 209) que “os etólogos denominaram «altruísmo» ações que podem ser descritas com efeitos de benefício coletivo, escolhendo um nome que evoca uma forma condutual humana carregada de conotações éticas. Isto é assim, talvez, porque durante muito tempo receberam do século passado uma visão da natureza «vermelha nos dentes e nas garras» como disse um contemporâneo de Darwin. Muitas vezes se escuta que justamente o que Darwin propunha tem a ver com a lei da selva e que cada qual cuida por seus próprios interesses, egoisticamente, à custa dos demais, numa implacável competição. Essa visão do animal como egoísta é duplamente falsa. Primeiro é falsa  porque a história natural nos diz que, para onde queiramos olhar que não é assim, que as instâncias de condutas que podem ser descritas como altruístas são quase universais. É falsa, em segundo lugar, porque os mecanismos que se podem postular para entender a derivação animal não requerem absolutamente essa visão individualista em que o benefício de um indivíduo requer o dano do outro, ao contrário, seria inconsistente com  eles”.

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Amor: os agentes sociais  tornam-se históricos apenas na medida em que conseguem propor um projeto para romper com a endogenia. Projeto que propicie ocasião para dar-se conta do papel do amor numa civilização. “Como humanos só temos o mundo que criamos com os outros. O ato de ampliar nosso domínio cognitivo reflexivo implica sempre numa experiência nebulosa, podemos chegar seja porque raciocinamos em direção a ele, ou então, e mais diretamente, porque devido a alguma circunstância nos leva a olhar o outro como um igual, num ato que habitualmente chamamos amor. Contudo, ainda mais, isto mesmo permite dar-se conta que o amor, ou se não queremos usar uma palavra tão forte, a aceitação do outro junto a sí na convivência, é o fundamento biológico do fenômeno social: sem amor, sem aceitação do outro junto a sí não há socialização, e sem socialização não há humanidade. Qualquer coisa que destrua o limite da aceitação do outro junto a si, desde a ‘competência’ até a posse da verdade, passando pela certeza ideológica. destrói ou limita que se dê o fenômeno social e, portanto, o humano, porque destrói o processo biológico que o gera. Não nos enganemos, aqui não estamos moralizando, esta não é um sermão de amor, só estamos destacando o fato de que biologicamente, sem amor, sem a aceitação do outro, não há fenômeno social, e que ainda se convive, vive-se hipocritamente a indiferença ou a ativa negação.’ Maturana e Varela, (1996: 209)

 

Análise: no caminho do pensamento da construção artificial do Estado Nacional, segue-se o caminho de Schiller quando afirmou (1963: 12) que “sabemos só aquilo que analisamos”.

 

Anomia coletiva: a anomia coletiva decorre da crescente fragmentação do mundo do trabalho à semelhança do que ocorre no mundo cultural pela multiplicação incontrolável de EGOS, que se dizem coletivos e universais, cujos caprichos necessitam serem satisfeitos muito antes do bem coletivo. Fragmentação acelerada pelo numero imponderável de caciques e de coronéis de sindicatos que se multiplicam sem a mínima logica de e respeito pelo Poder Originário de suas bases. Num determinado campo as condições para constituir uma vida autônoma foram satisfeitas. “A temporalidade de um campo cultural é tanto maior quanto maiores os efetivos de artistas e mais enraizada especialização temática e técnica decorrentes da divisão do trabalho, que assim cria sub-universos de referência e ajuda a desvanecer a ideia de movimento do conjunto. É preciso acrescentar aos fatores derivados do estado de ‘anomia estética’ do campo artístico dos países de capitalismo desenvolvido a circunstância de que o surto do mercado de arte no Brasil não foi contrabalançado por uma intervenção estatal mais decidida de subsídio à produção corrente ou montagem de acervos de museus” ANOMIA no PODER ORIGINÀRIO a multiplicidade de ações e progressiva divisão de trabalho desvanece a ideia de um movimento coletivo e unitário no campos das artes. Durand, (1989: 42 e 278).

                                                                   

Anormia: estado de impossibilidade de intuir ou seguir uma determinada norma. No estado de anormia a vida vai sendo regida pelo caos. Graças a entropia potencial qualquer construção artificial de uma civilização pode retornar para a anormia coletiva em qualquer tempo e lugar. O inglês Thomas Hobbes (1588-1679) percebeu esta tendência a anormia coletiva, pois,  “a criatura humana só obedece por dois motivos:  1°- quando  teme que alguém pode tirar algo - ou então -  2° - quando alguém pode dar algo que esta criatura aspira”. Para se contrapor a esta  anormia coletiva ele imaginou o “Leviathan” (1651),

 

Anomia distinto de Anormia: as matrizes derivadas das concepções positivistas, comunistas, capitalistas, socialistas, anarquistas, nazistas, fascistas e existencialistas tentaram evidenciar para um hipotético Poder Originário. E, em seu nome,  estas matizes tentam administrar um contrato oculto ou inexistente. As projeções derivadas destas matrizes geraram uma anomia social política e econômica. A superabundância de vetores, de lideranças e de grupo do mesmo campo consegue a anomia que neutraliza qualquer projeto, pois no âmbito da anomia não existem projetos factíveis e que possam descer ao mundo prático Os formuladores originais foram mitificados pelos seus mediadores ou atravessadores do poder. Ato contínuo e após a sua superexposição e uso intensivo pelo marketing e propaganda, passaram à condição de “culpados de tudo” inclusive de fracassos, da obsolescência precoce e a entropia das guerras e das revoluções.  As projeções o escapismo criaram as condições da anormia generalizada na qual “ninguém é culpado de nada”. As imensas telas dos templos do cinema materializaram  e capitalizaram a cultura da primeira era industrial. Aproveitaram-se do deserto de projetos autênticos inexiste, devido à anormia geral, as ações descoordenadas geraram a anomia  de mais uma Torre de Babel pós-industrial. As condições, tanto anomia como a anormia resultaram dos trabalhos do Homo Faber, sem vocação para alguma permanência no tempo e no espaço..

 

Aparência: o voluntariado só pode ser levado adiante entre iguais e pessoas em perfeita autonomia para celebrar contratos antes, durante e após ação coletiva para a doação de suas energias e de seu tempo. O voluntariado pode ser comparado com a aparência e as condições necessárias para a existência de uma obra de arte na qual “a aparência é estética somente quando sincera (abdicando de qualquer pretensão à realidade) e quando autônomo (despojando-se do apoio da realidade)” segundo a concepção (1963 p. 124) de .Schiller,

 

Área: na concepção de Atcon (1974: 5) a área reúne vários campos afins do PODER ORIGINÁRIO e reunidos numa só atividade A coerência econômica deverá estar resolvida na medida em que tiver uma decisiva origem na área da sociedade civil organizada. Esta solução será possível na proporção direta em que a célula municipal se mantém efetivamente como originária dos três poderes.

 

Arquivo: os meios de informações fidedignas constituem um primeiro estágio prático de um projeto civilizatório compensatório ideal. Os atuais instrumentos, da era digital numérica, são perfeitamente plausíveis e factíveis para instituir, manter e reproduzir redes de BANCOS de DADOS ESTADUAIS, REGIONAIS e MUNICIPAIS. Bancos que podem receber mecanismos de sua própria sustentabilidade com arquivos confiáveis do Poder Originário. Percebendo o potencial do arquivo Chartier, escreveu (1998: 10 – 18) ”Diante do refluxo dos grandes modelos explicativos, uma primeira e forte tentação foi o do retorno aos arquivos, ao documento bruto que registra palavras singulares, sempre mais ricas e mais complexas do que o historiador pode dizer. Os historiadores perderam muito de sua ingenuidade e de suas ilusões. Eles sabem, contudo, que o respeito às regras e às operações próprias de sua disciplina é uma necessidade, mas não suficiente para estabelecer a história comum saber específico. É talvez seguindo caminho que leva do arquivo ao texto para a escritura ao conhecimento, que eles poderão vencer o desafio que lhes é lançado hoje”. Conhece-se uma instituição, uma universidade ou uma nação pelo conteúdo e pelo estado dos seus arquivos. Neste sentido a maioria dos trabalhos universitários está condenada `destruição, obsolescência, ou no máximo, a espaços grises. É o que se deduz da crônica de Élio Gaspari[3]

                                                                        

Arte: no caminho da obra de Arte a concepção, criação e manutenção do Estado também é artificial e distinto da Natureza. Esta humanidade realizou, através dos tempos, os seus maiores feitos por meio do Estado. Pensadores, de grande expressão, estiveram mergulhados na árdua tarefa de examinar o acúmulo que o Estado Nacional traz para a cultura e para a civilização. A Arte é tratada como um “ente primitivo” no presente estudo, como também as concepções de poder, origem e Estado. Manifesta e torna perceptível e de uma forma legível a ação humana. A vida questionada e compreendida por uma obra. “Toda arte visa à geração e se ocupa em inventar e em considerar as maneiras de produzir alguma coisa, que tanto pode ser como não ser, e cuja origem está no que produz, e não no que é produzido” na concepção (1973: 343  - 1140ª10) de  Aristóteles. Na concepção de Durkheim, (1983: 111), “distingue-se assim da natureza torna perceptível a ação humana”. Como tal pode ser tratada com “coisa” na concepção do pai da Sociologia. Ou ainda a Arte “ocupa-se em inventar e cuja origem está em quem, produz e não no que é produzido”, ainda, (1973: 343) em Aristóteles. Após Marcel Duchamp a arte retomou o seu referencial no própria artista, sem abdicar da sua autonomia e sem desconsiderar a sua longa caminhada onde revisita pilares como o filósofo Kant evocado por De Duve[4]

 

Arte e Ciência: a humanidade só se encontra aquilo que procura. Esta busca necessita de um projeto especifico fundado na Ciência e na Arte. Para Durkheim (1983 p.111) não existe barreiras “entre a Ciência e a Arte já não há um abismo, em vez disso, passa-se de uma para outra sem solução de continuidade”. Sensível e humano pela Arte e lúcido pela Ciência e Razão o Poder Originário pode decidir sobre o sentido que revelam as luzes destes projetos. Para Schiller (, 1963, p.102) “somente a estética conduz (o espírito) ao ilimitado. Qualquer outro estado em que possamos ingressar remete a um anterior e exige, para solucionar-se, um ‘subsequente’; somente o estético um todo em si mesmo, já que reúne em si todas as condições de sua origem e persistência. Somente aqui nos sentimos como arrancados do tempo; nossa humanidade manifesta-se com pureza e integridade, como se não houvesse sofrido ainda dano algum pelas forças exteriores”. 

                                                                    

Arte e Politica semelhanças com Religião: elas constituem competências absolutamente distintas, campos reciprocamente autônomos e recorrentes excomunhões recíprocas. Porém existem semelhanças entre os três campos distintos, como e o caso a prática das mediações que as três eles toleram e de necessitam de certa forma. As práticas dos mediadores tanto na Arte, como na Politica e na Religião suscitam dúvidas, promovem continuas desconfianças, recriminações e evidentes corrupções.  A doutrina do positivismo foi um caso exemplar da busca da mediação nos três campos. Os mediadores do pensamento do cidadão francês Isodore Auguste Marie François Xavier Comte (1798-1852) estiveram cercados de um mar de dúvidas, continuadas desconfianças, recriminações e que acabaram por alijá-los da Vida corrente. Um cortejo funesto de mediadores transformou o pensamento coerente de Karl Marx em comunismo e que se expressa nas mais contraditórias ideologias que obscurecem e corrompem os textos originais. O mesmo aconteceu com os textos do Corão, da Bíblia ou escritos religiosos de todos os tempos. Eles também oportunizaram o surgimento de outros tantos cortejos funestos de mediadores, de conflitos e de guerras de ortodoxia entre os ditos seguidores. Não se trata de fazer a distinção weberiana entre profetas e sacerdotes, mas do singelo fato de remeter aos textos originais a serem lidos pelos atuais observadores para que estes tirem as SUAS conclusões coerentes com o seu próprio tempo e lugar. Os três campos, pela sua elevada transcendência, permitem inúmeras leituras e emergências de profetas, políticos e artistas que modificam absolutamente os comportamentos e os conceitos face tanta a práticas religiosas, políticas como das instituições artísticas. As três formam agentes que reproduzem as revelações dos profetas, os programas dos partidos e as instituições dos artistas. As três, se levadas aos extremos, tornam-se ciumentas e exigem exclusividade de quem se dedica a uma delas, provocando acerbas excomunhões recíprocas. Especialmente as artes mais contemporâneas encontraram a sua aura e este vinculo interativo com a religião  como escreveu Mersh[5] no início do século XXI.

 

Artes Visuais: o Estado como algo artificial a vista de todos,  participa da mesma virtude da obra das artes visuais e que “não pode mentir” na concepção de Berenson. “É a própria natureza que eleva o homem da realidade à aparência, já que dotou de dois sentidos que somente pela aparência podem conduzi-lo ao conhecimento do real. Na visão e na audição o contato material fica afastado dos sentidos. O que vemos pelos olhos é diverso do que sentimos; pois entendimento salta por sobre a luz em direção dos objetos. O objeto do tato é uma força que experimentamos; o dos olhos e dos ouvidos é uma forma que criamos” Schiller (1963: 122/3). As artes visuais e o campo de forças que se desenvolvem ao redor dos seus signos estéticos fornecem preciosos índices para perceber como o Poder Originário circula neste âmbito. Assim as instituições da França tiveram em Gerar Monnier[6] e os agentes em Yves Michaud[7] atentos observadores de uma cultura que tomou foros internacionais como paradigma da arte de muitas outras nações. Porém são muito antigos os registros, como o de Aristóteles, que destacam  que “os seres humanos sentem prazer em olhar para as imagens que reproduzem objetos. A contemplação delas os instrui, e os induz a discorrer sobre cada uma, ou a discernir nas imagens as pessoas deste ou daquele sujeito conhecido”[8]

                                                            

Artista e político: em todos os tempos e lugares “a corrupção dos ótimos é péssima”. Esta sentença latina vale tanto para artistas, políticos como para todos os agentes que lidam com os mais elevados valores de uma civilização. Para Argan (1992, p.10) “o artista se situará no espaço que medeia entre o contingente e o universal, entre o presente e a profundidade sem fundo do tempo e do espaço; falará dos interesses essenciais do mundo ainda que esse não o escute e persiga, como sempre fez com os profetas”   Na Inglaterra com a vinda da era industrial, a relação entre artistas  o público modifica-se, o público é tratado de uma forma diferente em relação a era do artesanato, a produção artística torna-se uma entre as especializadas, a teoria da realidade superior da arte e o artista independente é um «gênio superior».  De todas as categorias sócio-profissionais, a do artista é sem dúvida o mais definido na medida em que os critérios que podem servir são a herança multissecular. Antoine Prost observa que a organização de escolas para a formação de artesões e operários correspondeu a uma fase em que, com a destruição do artesanato pela indústria capitalista, e com a correlata desorganização das categorias de artesões através da aprendizagem nos ateliers dos mestres credenciados, abriu-se a necessidade de nova solução institucional. Foi somente no início do nosso século que os grandes artistas, com uma surpreendente unanimidade, começaram a protestar contra o nome «gênio» para insistir no ofício, da competência e nas relações entre arte e artesanato. O artista, mesmo quando empresta sua obra à autoridade constituída, exerce uma função de guia no interior da sua esfera social, a do trabalho. Nietzsche afirmava (2000, p.134) que “a arte não pode ter sua missão na cultura e formação, mas seu fim deve ser alguém  mais elevado que sobre passe a humanidade. Com isso deve satisfazer-se o artista. É o único inútil, no sentido mais temerário”. O autêntico político reconhece esta mesma realidade sobre-humana e nem sonha em transformar o seu cargo público em algo do qual irá usufruir algum bem particular ou para os seus. O seu horizonte mesmo estético é conferir identidade e visibilidade inclusive ao espaço físico de sua comunidade como  Bakos[9] percebeu e registro na ação dos ‘intendentes” de Porto Alegre

 

Atravessadores: no Brasil 80% dos pobres não possuem meios para chegar até o Estado. Evidente que uma sociedade complexa necessita a divisão dos trabalhos que a sustentam. As conexões entre as categoriais profissionais serão realizadas pelos mediadores estas divisões e parcelas profissionais que constituíram campos autônomos e herméticos para aqueles não iniciados. Os advogados de todos os tempos e lugares são trabalhadores que constroem as pontes que mediam o trânsito entre estas altas montanhas, mas próximas entre si. Porém quando estas funções de conexões são corrompidas surgem, os negociantes e atravessadores que cobram altos pedágios pessoais, se prevalecem e mitificam este ofício constituindo castas separadas.. Os atravessadores corrompem as instituições que deveriam, por natureza, possuir o papel de garantir uma escala, explicitar o seu projeto colocado  entre o gigantismo do Estado e a figura do seu cidadão.

 

Autonomia: constitui um dos entes primitivos centrais do presente trabalho. Para elcidar este termo o jurista Clemente Mariani elucidou que “no conceito de autonomia há dois elementos essenciais: um é o das raias que limitam a ação;  o outro, é o poder de agir livremente dentro dessas raias. Sem raias limitadoras, estaríamos em face, não da autonomia, mas da soberania ou do arbítrio. Assim entendido, seria ilógico falar-se em autonomia ‘absoluta’: o conceito é sempre relativo e a amplitude do círculo de liberdade pode sofrer infinitas variações” (in Nóbrega, 1952, p. 329) Para Kant (Crítica da Razão Prática. Livro I Teorema IV) “a autonomia da vontade é o único princípio de todas as leis morais e dos deveres correspondentes as mesmas. Por outro lado, toda a heteronímia do livre arbítrio, não só deixa de fundamentar  qualquer obrigação, como resulta contrário ao princípio desse arbitrário e moralidade da vontade” O teórico Schaeffer aponta (1992  p. 28).“a esfera estética é a subjetividade concreta e autônoma: na criação artística e nos julgamentos do gosto o indivíduo age livremente, sem se submeter a nenhuma heteronomia, seja ela teológica, conceitual ou ética.” Já os biólogas chilenos, Maturana e Varela, esclarecem ( 1996., p.41) “a pergunta pela autonomia do vivo é tão velha como a pergunta pelo vivo. São só os biólogos contemporâneos os que se sentem incomodados face a pergunta: - como pode compreender-se a autonomia do vivo? Desde nosso ponto de vista, ao contrário, esta pergunta transforma-se no fio conduto que nos permite ver que para compreender a autonomia do ser vivo devemos compreender a organização que o define como unidade. E isso é assim porque é o dar-se conta dos seres vivos como unidade autônomas o que permite mostrar como sua autonomia usualmente vista como algo  misterioso e fugidio se faz explícita ao destacar que o que define como unidades é a sua organização autopoética, e que ela que simultaneamente se realizam e especificam a si mesmos.” Os mesmos partem do pensamento de Torres Nafarrate (in Maturana, 1996 pp XIII / XIV) quanto abrem parra a compreensão do termo “autopoiética” para eles na autonomia: “a célula expõe de forma manifesta a superação da correspondência ponto por ponto com respeito ao meio ambiente. A célula já não é só um componente constituído só de átomos ou moléculas, senão uma forma específica (autopoiética) de combinação dos ditos componentes. Essa forma-específica-de-combinação exige uma perspectiva de autonomia no sentido de que a célula requer da criação de distância em relação ao meio circundante. A autonomia do orgânico, em último termo, significa que só a partir da célula pode-se determinar o que é relevante e, sobretudo ,o que é indiferente: «Assim, diante dessa derivação natural  celular, as membranas operam transportando íons de sódio e cálcio, e não outros”. Os mesmos perceberam e Varela descreveu (1995 p. 210 que “A chave da autonomia é que um sistema vivo encontra, em cada instante, o próprio caminho para o seguinte, graças à adequação dos seus recursos” No entanto Maturana e Varela não deixam de apontar (1996: 41) que esta autopoesis, supõe “na biologia o exemplo da célula viva que necessita da membrana para proteger a competência da vida. Só  partir da célula viva é possível determinar o que é relevante”.

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Autonomia administrativa distinta de soberania: o Decreto da Proclamação Republica reconheceu como “soberanos” os estados regionais brasileiros. O resultado foi que estes estados regionais declarados soberanos comprometeram a unidade nacional brasileira, A soberania dos estados regionais levou á uma forma de anomia coletiva onde todos mandavam e ninguém obedecia. A revolução de 1930 e depois a Estado Novo nomeou interventores, queimou as bandeiras regionais e os seus demais símbolos Em 2013 o Brasil é reconhecido juridicamente soberano e os estados regionais receberam autonomia no âmbito da Constituição de 1988. Esta autonomia compõe-se de uma competência e os seus limites segundo Clemente Mariani ( in Nóbrega, 1952:  p.329). A distinção entre autonomia e soberania foi explicitada numa consulta  ao MEC e respondida por Edmundo Lins Neto no parecer nº 116/1952. “Alega-se que a Universidade da Bahia é autônoma e que V. Exª no caso poderia intervir. A Universidade tem, não há dúvida, autonomia administrativa, didática, financeira disciplinar, mas não possui soberania, porque a sua autonomia lhe foi concedida ‘nos termos da legislação federal sobre o ensino superior’ ” -  In Souza Neves 1951, v. I p. 207   “No conceito de autonomia, há dois elementos essenciais: um, são as raias que limitam a ação; outro, o poder de agir livremente dentro das raias. Sem raias limitadoras, estaríamos em face, não da autonomia, mas da soberania ou do arbítrio. Assim entendido, seria ilógico falar-se em autonomia ‘absoluta’: o conceito é sempre relativo e a amplitude do círculo de liberdade pode sofrer infinitas variações”. Sampaio Dória – Clemente Mariani-1948, in Nobrega, 1952 p.333.

                             

Autonomia do gosto estético: o projeto de querer fugir do fixo, do silêncio, do imponderável e da conivência com as corrupções e reducionismos de que padece a prática da Democracia. Neste âmbito é possível admitir uma espécie de autonomia proveniente da estética na que Rosenfeld comentando (1963, pp. 16/7) a partir da leitura de Schiller.  “O feito de Kant é ter definido, com grande precisão, a peculiaridade e autonomia do gosto estético dos objetos a que se refere, diferenciando-os, de um lado, radicalmente do conhecimento e do julgar lógicos e, de outro lado, do aprovar moral e dos princípios morais. Kant concebeu entre a função teórica do nosso intelecto – que se refere ao conhecimento das leis morais, isto é, daquilo que não é mas deve ser – uma terceira função, inteiramente autônoma, intermediária entre as outras. Esta terceira função, numa  das suas especificações, constitui o gosto estético que, portanto não pode ser reduzida nem a conhecimento lógico-científico, nem à razão enquanto determinadora do imperativo moral (isto é das normas da nossa vontade)”.

                                               

Autonomia e gênio: os conquistadores Cortez e Pizarro eram indivíduos vindos de baixo para cima e agiam como tais. A estes dois, e todos os seus semelhantes, pode-se atribuir-lhes as condições de “autonomia de gênio” na concepção derivada da cultura do Renascimento que ainda acreditava que “a criatura humana era medida de todas as coisas”. Pächt afirmou (1994, p156)  “quanto mais importante é um artista, mais ele é o executor de uma vontade artística característica da tradição da qual ele saiu e na qual ele se insere, como da época na qual vive”. Estes indivíduos “gênios” agiam pessoalmente invocando como pretexto para a sua ação, o nome de um rei, um projeto e uma tradição que acreditavam serem coletivos e justos. Este rei não sabia o que estava sendo praticado em seu nome e muito menos concedeu a anuência para todas as ações destes “gênios”.

                                                        

Autonomia e Universidade: o processo industrial da linha de montagem unívoca, em ciclos implacáveis e que arrastam a sociedade e a fecha na cultura da sua própria lógica. Desta lógica não escapam as instituições de ensino superior, que no Brasil se autonomearam de universidades no vácuo de antiga Sorbonne rediviva na França depois de 1816. As competências e os limites da autonomia destas universidades provisórias estão presos às rodas administrativas, ideológicas, sucessivas administrações e de regimes, estão identificadas em Fávero, (1980, p. 270) que escreveu: “ A Universidade é uma instituição que se apresenta, em geral, como um instrumento do sistema global, podendo em alguns momentos, viver em estado de tensão entre a necessidade de autonomia e o controle do Estado. A autonomia universitária, evidentemente, varia em função do regime político e do estágio de desenvolvimento da sociedade na qual a universidade está inserida”  Esta concepção foi reforçado por Oliveira quando escreveu (1997 p. 12) que “autonomia não quer dizer soberania, portanto a Universidade deve estar subordinada à ordem jurídica e institucional do Estado, garantindo dessa forma, uma relação com a sociedade pela qual a autonomia universitária seja expressão da autonomia da  própria sociedade na esfera da cultura e do saber”.

                                             

Autonomia semelhança com ética: os “Pig-Brothers” fuçam e retalham pátrias, assaltam Estados e controlam os currais feudais de uma forma absoluta custe o que custar. Esta safra já havia sido preludiado pelo Marquês de Sade em relação ao qual Freire Costa escreveu  (1997, c,5, p. 14) “Sade mais do que do que um personagem é uma abreviatura; um «made in» perverso colado à montagem de redução do outro a objeto...O gozo sadeano é o da humilhação; é o de tornar o outro impotente, submisso e sem vontade. Importante é que agindo como sujeitos agimos moralmente, isto é, não concedemos a ninguém ou a nada o direito de manipular nossas vidas como meios à serviço de fins. Agir moralmente é fazer da vida ética seu próprio fim e não subordiná-la a nenhum outro propósito”.

                                                               

Autonomia semelhança com lei: os sistemas abertos e com energias soltas são potencializadas melhor pela lógica formal da informática numérica digital do que pelo taylorismo da era industrial. A ferramenta desta nova era - de sistemas abertos e com energias soltas - encontra excelentes meios para aperfeiçoar toda a criação humana, combater a entropia e a racionalizar o caos. Caos eternamente no horizonte da potencialidade devido à imprevisibilidade inerente à ação humana. Neste caos as leis são impotentes e inúteis vistas pelo lado interno na ótica de Montesquieu, apropriado por Arendt ao registar (1983 p. 250) que: “As limitações da lei não oferecem garantias absolutas contra uma ação vinda do interior da nação, da mesma forma que as fronteiras do território não são  salvaguardas seguras contra uma ação vinda do exterior... Se as limitações e fronteiras que se encontram em todos os estados podem oferecer uma certa proteção contra a infinidade, inerente a ação, elas são absolutamente impotentes contra a segunda característica  (da ação), que é de ser imprevisível”.

                                                         

Autonomia semelhança com individuação: as instituições possuem o papel de garantir uma escala, explicitado no seu projeto, entre o gigantismo do Estado - que se quer unitário - e as figuras a dos seus cidadãos que se querem absolutamente distintos entre si mesmos. A autonomia destes cidadãos sem a sua diferenciação e a sua individuação serio caminho direto para o “tipo” desejado pelos Estados totalitários que trabalha para comandar um povo com uma única cabeça. Este absurdo foi denunciado por Hannah Arendt ao escrever (1983 pp. 42 /3) que:. “A ação seria um luxo supérfluo, uma invenção caprichosa nas leis gerais do comportamento, se os homens fossem repetições reproduzíveis ao infinito de um e mesmo e único modelo, se a sua natureza ou essência fossem sempre a mesma, tão previsível como a essência ou natureza de um objeto qualquer. A pluralidade é a condição da ação humana, porque todos semelhantes, sem que jamais uma pessoa seja idêntica a um outro homem que já viveu, vivendo ou ainda por nascer

                                       

Autopoiesis: a busca da proximidade à Natureza não é um retorno aos meios entrópicos. A constante atualização da Inteligência permite a interação entre o meio natural as maiores conquistas artificiais da humanidade. Esta circulação constante, entre Natureza e Inteligência, coloca a realidade em permanente mutação, afetando tanto a mentalidade humana como os meios tecnológicos. O próprio trabalho em rede numérica digital magnifica e materializa no meio técnico que toda célula viva praticou a partir da primeira célula viva no planeta  conforme Maturana e Varela afirmam (1996:39) que “os seres vivos reproduzem-se a partir das suas potencialidades, produzindo redes de reações que por sua vez determinam potencialidade e os seus limites”. Os mesmos Maturana e Varela ampliam (1996, p.39/40) o seu pensamento “A característica mais peculiar de um sistema autopoiético e que ele se ergue pelos seus próprios limites, constituindo-se como diferente do meio circunstante por meio de sua própria dinâmica, de tal maneira que ambas as coisas sejam inseparáveis. O que caracteriza o ser vivo é uma organização auto poética e distintos seres vivos se distinguem por que tem estruturas distintas, contudo são iguais enquanto organização” Maturana apropriam-se do pensamento de Torres Nafarrate quando escreveu (1996, p. XIII) que “a noção de autopoiesis serve para descrever um fenômeno radicalmente circular: as moléculas orgânicas formam redes de reações que produzem as mesmas moléculas  nas quais estão integradas. Tais redes e intercessões moleculares que se produzem a si mesmas e especificam seus próprios limites são os seres vivos. Os seres vivos então definidos como aqueles cuja característica é que se produzem  a si mesmos, o que se indica, ao designar a organização que os define, como organização auto-poiética: « A característica mais peculiar de um sistema autopoiético é que se levanta por seus próprios cordões e se constitui de maneira diferente do meio circundante através de sua própria dinâmica, de tal maneira que ambas as coisas são inseparáveis”.

                            

Auto regulação: o cientista suíço Jean Piaget realizou uma revolução silenciosa. As suas observações podem ser colocadas numa via de dupla mão. Numa tira dos ombros da frágil criatura humana a sua onipotência em face dos processos vitais nos quais ele esta mergulhado desde a sua origem até o seu final. Na via oposta recrudesce a responsabilidade moral, científica e estética, deste mesma criatura humana. Responsabilidade consciente tanto nas suas interações com esta mesma vida. Interações  tanto na sua origem, no seu desenvolvimento, na sua reprodução e também nos processos de sua entropia natural. Ele escreveu (1983, p. 38) em relação auto regulação: “A fecundidade particular das interpretações fundadas na auto regulação é que se trata de um funcionamento constitutivo de estruturas e não de estruturas já feitas no seio das quais bastariam procurar aquelas que conteriam de antemão no estado pré-formado tal ou qual categoria de conhecimento”.

                                                                         

Autoridade do manual científico: por mais neutro aparente ser o campo da própria Ciência, ela não escapa deste controle espúrio, legitimação duvidosa e validação externa à ela mesma. Submetem todo manual científico à sua autoridade de atravessadores e tutelares da Ciência. O teórico  Kuhn, escreveu (1997 p. 174) que:  “Grande parte da imagem que cientistas e leigos têm da atividade científica criadora provém de uma fonte autoritária que disfarça sistematicamente - em parte devido a razões funcionais importantes - a existência e o significado das revoluções científicas. Somente após o reconhecimento e a análise dessa autoridade é que poderemos espera que os exemplos históricos passe a ser plenamente efetivos” Kuhn, 1997 p. 174.

                                                             

Avaliação: assim não há intenção nem vontade de enfrentar nenhum paradigma, que paira por cima e por fora, e se pretenda metafísico, onisciente, onipotente, eterno e onipresente. Busca-se expressar a realidade humana, pois qualquer “avaliação não existe e não se sustenta no abstrato” conforme Alves, (1999: 7). Para Bruyne (1977: 32)  “a avaliação possui sentido na medida  é sempre feita em relação à vida”. Diante do presente texto, parte-se do fato dele se constituir num projeto e ser o pressuposto de uma avaliação de uma construção humana. Acredita-se que não é possível uma avaliação sem o projeto graças ao qual vida humana tomou forma e decorrem, pautam e se reproduzem as suas ações.

 

Axiomática: o texto relativo ao Poder Originário constitui um dos numerosos esforços axiomáticos que se lançaram na busca de conhecimento, de vontade para que o cidadão usufrua este direito sem naturalizações, prejuízos e corrupções. Para tanto, estudam-se plataformas para a sua ação pública no exercício do seu poder no âmbito desta sociedade. O autor leva em conta, para este estudo, a circulação de informações e os inúmeros paradigmas de poder que estas informações trouxeram ao palco da Política pública. A axiomática constitui oconjunto de axiomas de que se deduz uma teoria ou um sistema lógico ou matemático. Na arte erudita e pura a axiomática leva para a explicação por meio de tendências anteriores.  Bourdieu: 1987: 113 Os entes primitivos que se admitem, sem uma existência física possível, como o ponto, a linha e o plano na Geometria, na axiomática são pressupostos que sustentam proposições ao exemplo dos termos Poder, Democracia, Arte ou Política e são aceitos como axiomas. Estes funcionam como normas e leis para gerar, sustentar e reproduzirem no meio de exercícios mentais de deduções e teoremas de um determinado campo do conhecimento. A axiomática confere as competências e os limites de uma determinada ciência. Bourdieu, (1987 p.113). “A integração axiomática constitui certamente a característica mais específica de todas as formas modernas de produção erudita. Neste sentido, a arte “pura”  leva ao paroxismo as tendências inerentes à épocas anteriores, ao submeter a explicação e a sistematização os princípios próprios a cada tipo de expressão artística”.

                                                             

 

B

 

Beleza: a diversidade e a riqueza da criação e a proporção humana oferece uma riqueza insuspeita. Esta riqueza permite aproximar-se, tanto da vida comandada pela Natureza do meio rural como se conjugar com a vida urbana comandada pela abstração do ideal e da mentalidade humana que viceja e se renova em todas as épocas e lugares. O poeta Schiller conferiu (1963, p. 103) esta conjugação de antagônicos ao campo das energias da Arte: “Se nos entregamos ao gozo da beleza autêntica, somos senhores, a um tempo e em grau idêntico, de nossas forças passivas e ativas, e com igual facilidade nos voltaremos para o grave e para o jocoso, para o repouso e para o movimento, para a brandura e para a resistência, para o pensamento abstrato ou para a intuição”. (O mesmo poeta Schiller afirma 1963, p. 89), ainda que “Pela beleza o homem sensível é conduzido à forma e ao pensamento; pela beleza o homem espiritual é reconduzido a matéria e recupera o mundo sensível”.

 

Bios: na busca de equilíbrio homeostático e de proporção entre o micro e macro poder, a vigilância é inadiável e perpétua. Esta vigilância não possui o objetivo de policiar, tutelar e extinguir esta tensão entre extremos. O critico da arte inglês, Herbert Read, escreveu  (1986 : 32)  que “No cerne da vida está o que as vezes é chamado de dialética, que simplesmente é uma contenda entre as forças positivas e negativas, entre o amor e a morte” Segue-se a distinção aristotélica que atribui ao bios uma práxis.

 

Bios distinto de zoe: a criatura humana é impulsionada para a cultura após suprir as suas necessidades básicas do alimento, da saúde e da habitação. Ela não nasceu preparada somática e psicologicamente para deflagrar, desenvolver e reproduzir este processo por si mesmo. No máximo necessitaria refazer, solitária,  o acúmulo de milhões de anos de tentativas e erros da espécie toda. Como “a Vida é breve e a Arte é longa” , Aristóteles já distinguia a bios da zoe. Nas palavras de Hannah Arendt 1983 p.143 “É esta vida, bios em oposição ao simples zoè, que Aristóteles dizia que ela «era de alguma forma um espécie de praxis»”. Nesta práxis despontam, amadurecem e se reproduzem as sementes da cultura humana a serem desenvolvidas ao longo da existência humana.

 

Bondade: uma medida exclusiva necessita dos predicados da Bondade, especialmente no seu constante silêncio e na prática da suspensão de qualquer juízo (epoke) definitivo. Os biólogos chilenos, Maturana e Varela, advertem e recomendam (1996: 209) que “a Bondade deve fugir da aparência, caso contrário é outra coisa, a saber, tem por objetivo aparecer, mesmo que a descoberta venha do diálogo ente o EU e EU-MESMO”.

 

Bondade distinto de saber: admitir que a infraestrutura é determinante de tudo aquilo que é construída acima dele, é desconhecer as forças dispares que agem em cada ENTE humano no seu  SER. Mesmo que estas forças se comportem dispares nas maneiras de SER e reagirem diante do poder que se acumula num grupo humano. A partir de deste ENTE humano Hannah Arendt não abdica, mesmo neste alto grau de desenvolvimento deste SER. Ela coloca (1983 p. 118) como pedra de toque a distinção do agir movido pela sensibilidade e pela convicção da vontade em contraste com saber pela inteligência: “Somente a bondade deve, sob pena de morte, se dissimular e fugir da aparência.  O filósofo não tem necessidade de se esconder a si mesmo: ao contrário, sob o céu das ideias ele não só descobre a essência verdadeira de tudo aquilo que é, se descobre no diálogo entre o «eu e o eu-mesmo»”. Ao mesmo tempo ela distingue as divisões das funções sociais do altruísta daquelas do filósofo.

 

 

C

 

Campo: o pensador francês, Pierre Bourdieu, tratou (1996b. p. 159) de colocar exigências rigorosas para entender e depois respeitar a autonomia destes campos sociais, políticos e administrativos: “Todos os mundos sociais relativamente autônomos, que chamo de campos - campo artístico, campo filosófico, etc.,.. - exigem daqueles que neles estão envolvidos um saber prático das leis de funcionamento desses universos, isto é, um habitus adquirido pela socialização prévia e/ou pôr aquela que praticada no próprio campo”.  Já o administrador escolar norte americano Rudolph P. Atcon é mais pragmático ao ser referir (1974: 3) ao conceito de Campo como: “ramo do conhecimento que reúne todas as matérias básicas, derivadas e aplicadas de sua competência”.

 

Campo axiológico: o cientista político ou o estudioso da administração pública esta impedido de atirar em qualquer um e a qualquer pretexto. O cientista  Bruyne os coloca  (1977, pp. 32 /2) no Campo axiológico especifico no qual onde agem respeitando   “O campo axiológico é o campo dos valores sociais e individuais que condicionam a pesquisa científica. A própria persecução do esforço científico é sustentada por valores específicos. Os valores culturais inerentes a sociedade impõem ao pesquisador a escolha de suas problemáticas, dos temas que ele aborda. Assim Max Weber insistia sobre a ‘relação aos valores’; Marx dizia que os homens só se colocam os problemas que podem resolver, confessando, por conseguinte, as conexões da pesquisa com os contextos sociais, técnicos e culturais nos quais ela se inscreve. Ora, a escolha da problemática deve esforçar-se por ser explícita, sob pena de ceder à múltiplas influências das ideologias. Os interesses próprios ao pesquisador sugere-lhe igualmente orientações específicas.. isso não impede absolutamente que as pesquisas em ciências sociais, cujo objeto com muita frequência concerne o estudo dos valores, das normas, das dignificações, possam tratá-los como ‘fatos normativos’ sem cair no subjetivismo”.

 

Campo doxológico: o estudo da linguagem usada correntemente, sem que ela sofra edições, revisões, sistematizações ou profundas análises de discurso acadêmico, muito menos paire na estratosfera da metafísica. Em relação a este campo impuro da linguagem e sem apuro formal Bruyne escreveu (1977 p. 33) que:   “O campo doxológico é o campo do saber não sistematizado da linguagem e das evidências da pratica quotidiana, de onde a pratica científica deve precisamente esforçar-se para arrancar suas problemáticas específicas. O campo doxológico é o suporte e o produto da linguagem comum, das práticas empíricas; pode determinar no pesquisador um a “certeza sonambólica” (Manheim) sobre a realidade que ele investiga. O pesquisador deve desprender-se das pré-noções do senso comum. Uma doxologia teria o papel de estudar a incidência do saber sobre as práticas cientificas; uma nosografia (Wittgenstein). Esta campo doxológico pode ser aproximada dos diversos graus de expressões humanas .O estudo da linguagem do jovem no âmbito dos recursos numéricos digitais ou das pichações dos muros urbanos, abre um novo e surpreendente campo doxológico. Apresenta um arsenal de estratégias, táticas e de logística dependem, a atual era da informática, das ideologias e dos projetos que os governantes remetem e decifram para o entendimento do seu próprio poder originário.

 

Campo epistêmico: no entanto é necessário insistir que as novas energias controláveis pelos instrumentos numérico digitais estão muito distantes de ser dominadas e remetidas para um único e mesmo campo epistêmico. Bruyne, alerta (1977 p. 34) para as condições que se exigirá na medida em que estas energias queiram transitar e ser julgadas com Ciência “ O campo epistêmico é o campo do conhecimento científico que chegou a um grau de objetividade reconhecido: estado das teorias, estado da reflexão epistemológica, estado da metodologia, estado das técnicas de investigação. A região epistêmica mais próxima de uma pesquisa específica  é, evidentemente, a da disciplina do pesquisador na qual ele procede a escolhas teóricas, epistemológicas, técnicas, etc., no próprio seio do que a tradição dessa disciplina oferece.” Certamente existem dúvidas que queiram fazer este vestibular da Ciência e se submeter aos seus rituais de iniciação.  Um índice desta dúvida é indefinição do mercado face aos profissionais da Informática e que, por sua vez parecem pender mais para o lado dos profissionais da Arte. No entanto, se exige destas energias novas intensos estudos, experimentações implementações para aproximar se do espaço da criatividade e do campo Arte. Contudo já é possível constar que o uso e a intervenção das ferramentas numéricas digitais são mais humanas e menos invasivas do que o bisturi  do médico taylorista da era industrial.

 

Canon: Lei, em grego. Norma primitiva de um grupo humano. O poder indígena do México e do Peru pré-colombiano era uno, personalizado e havia se cristalizado num canon mitificado e onipresente em práticas cujos ciclos eram comandados pelo ciclos implacáveis da Natureza.

 

Caos: As energias mentais e físicas encontram no caos a matéria prima para os projetos possíveis e o espaço potencial para que a imaginação erga a sua criação, conforme Mazzocut-Mis escreveu (1994: 64) que: “a imaginação, compreendida a imaginação divina, deve se submeter ao princípio cósmico-construtivo, ordenador e criador, que lhe permite erguer-se para além do caos desagregador da matéria no estado nascente. Da mesma forma, o artista deve modelar através da ação seu próprio potencial criativo para que a incoerência torne-se um contraste sensível para o espírito humano. A arte é um caminho que começa no sonho caótico e que termina num cosmos acabado, uma viagem interpretativa e constitutiva num claro-escuro continuado no qual não faltam nem tempestades e nem abismos”.

 

Célula viva: é possível aplicar ao município, a menor unidade do Estado, muitos dos atributos que Maturana descreveu (1996a: 41) e que são perceptíveis numa célula viva:  “transporto da biologia a representação que a vida encontrou na organização da sua competência e os limites da membrana constituindo uma unidade. Essa unidade é capaz de se reproduzir e ao mesmo tempo constituir na ordem de outras células um organismo coerente e que por sua vez forma outra unidade. O artista possui sua unidade competência e os seu limites mas ao mesmo tempo possui a potencialidade de constituir um organismo institucional na qual soma e aumenta e sua autonomia”.  Contudo, possui o seu preço manter um país continental, por meio da política proveniente das pequenas células municipais. É possível transportar da biologia para a célula municipal  a representação que o político possui sua unidade competência e os seus limites municipais,  mas ao mesmo tempo possui a potencialidade de constituir um organismo institucional na qual soma e aumenta e sua autonomia”.

 

Cidadão: no renascimento italiano Maquiavel escrevia (O PRINCIPE capítulo V) ao “querer preservar uma cidade habituada a viver livre, mais facilmente, que por qualquer outro modo, se a conserva por intermédio de seus cidadãos”.

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Ciência: Aristóteles advertia (1972: 211) a quem busca a ciência para compreender o espaço empírico. Nesta busca dialética “é absurdo procurar ao mesmo tempo a ciência e o método da ciência. Nenhum deles é fácil de aprender, pois, nem o rigor matemático se deve exigir em todas as coisas, mas somente naquelas que não tem matéria”. A discípula de Heidegger, Hannah Arendt completa  (1983: 337) que "pode-se cercar de uma rede matemática, não importa qual universo, contendo muitos objetos, o fato é que o nosso universo se presta a um tratamento matemático, mas isso não tem grande significação do ponto de vista  filosófico” O Poder Originário possui matéria e circula nas ações dos seus agentes. Esta ação ganha o mundo da ciência pela difícil e escorregadia escada da linguagem como  Chartier observou (1998: 11) ao escrever “Em todos os campos os saberes não reduzidos (ou elevados) ao estatuto de uma verdadeira ciência, o pensamento fica preso ao modo linguístico  pelo qual se pretende apropriar-se das configurações dos objetos presentes no seu campo de percepção”. Existe um abismo entre o campo das ciências e as coisas deste mundo. Assim Bruyne afirma (1977: 51) que “a ciência não pode atingir as coisas, mas constrói, manipula, realiza, prediz os fatos, os acontecimentos efeitos que não existem fora das proposições que os exprimem. O que é próprio de toda operação de sentido, de linguagem”. No entanto a ciência necessita coordenar as energias de um determinado campo no qual Kuhn percebe (1997: 23) que “a pesquisa eficaz raramente começa antes que uma comunidade científica pense ter adquirido respostas seguras”

 

Circularidade e reversibilidade: O discurso por cima e por fora é uma destas prisões de uma criatura humana que nasce numa determinada cultura. A mentalidade e o pensamento, possíveis nestas prisões, segue a lógica da circularidade e da reversibilidade valendo a observação de Pierre Bourdieu quando afirma, (1987, p. 111) decorrerem “ das relações de produção e consumo culturais resultantes do fechamento objetivo do campo de produção erudita, estão dadas as condições para o desenvolvimento das produções simbólicas assuma o caráter de uma história semi-reflexiva”. A criatura humana quando deixa o útero materno e começa a colocar em cheque a sua experiência ontológica. Na sua trajetória, neste planeta, necessita refazer e re-elaborar toda a cultura formal em todos os tempos e em todas as culturas. Esta trajetória é realizada. a partir de um ponto singular e único no qual reinam soberana a lógica da circularidade e da reversibilidade. Sempre caberá a uma nova geração questionar a base sobre a qual esta cultural artificial foi construída pela cultura humana anterior e, se possível, alterá-la a seu favor.

 

Ciência e História a História não possui os instrumentos unívocos, lineares e reversíveis das demais ciências exatas. Marc Bloch possui razão ao afirmar (1976: 140) que a “nossa ciência (História) não dispõe, como as matemáticas ou a química de um sistema de símbolos separado de qualquer linguagem nacional. O historiador fala unicamente com palavras: portanto, com palavras do seu país” No entanto e apesar disto, a nova geração pode contornar obstáculos e armadilhas nas quais seus antepassados ficaram presos ao longo de gerações.

 

Civilização: supõe a existência de instituições. As instituições não pertencem ao âmbito do Estado e são distintas dele na medida em que materializam e representam o poder originário no município e na sua neutralidade não se confundem com o governo ou instâncias administrativas. As instituições sadias e coerentes com o Poder Originário facultam a escolha e legitimação de personagens cujas biografias são isentas de edições e manipulações do  marketing e da propaganda. Nas instituições sadias e coerentes com o Poder Originário é possível motivar para esta escolha os agentes e líderes de instituições ativas e bases de qualquer civilização. Evidente que estas instituições existem porem deprimidas, sem visibilidade, sem voz e vez. O estudioso Mota, percebeu e registrou (1980: 179) em relação a “Faoro procura indicar que a principal consequência cultural do prolongado domínio do patronato do estamento burocrático é a frustração do aparecimento da genuína cultura brasileira”. Na sua analise desta obra Chaves de Melo, encontra (1974, p. 25) razões para que  Raimundo Faoro não entre na discussão entre  cultura e civilização. Um dos méritos do estudo (de reside no fato de que, não entrando nos velhos debates sobre distinções entre ‘cultura’ e ‘civilização’“ No caso das deprimidas instituições das células municipais  ganhariam visibilidade, voz e vez  nas suas figuras proeminentes, seus líderes e agentes.

 

Coisa: ao pensar a construção artificial do Estado Nacional por meio de experiências que são causas de vertigens aos despreparados para pairar no espaço do tempo presente e sem a aparente gravidade do poder. No caminho deste pensamento da construção artificial do Estado Nacional, segue-se o caminho de Schiller quando afirmou (1963, p.12) de que  “sabemos só aquilo que analisamos”. De outra parte nas Ciências Humanas esta análise supõe o que Durkheim afirma (1983, p. 94) que “a primeira regra e a mais fundamental é a de considerar os fatos sociais como coisa”.  Esta operação é necessária pois  Argan, argumenta (1992: 38) que “ao colocar objeto como coisa o sujeito constitui-se como algo distinto na arte. A coisa é monossemântica enquanto o objeto é polissêmico”.

 

Competência a competência é aceita aqui como aquilo que está contido entre os limites ou, ainda, uma faculdade ou um direito concedido. No mundo da ação humana constitui a qualidade de quem é capaz. No mundo da axiologia pode ser um desafio ou uma luta pela verdade e ortodoxia.

 

Conduta cultural: na concepção de Maturana e Varela, (1996, p. 174)  “entendemos por conduta cultural a estabilidade transgeracional de configurações adquiridas ontogeneticamente na dinâmica comunicativa de um meio social”. O escritor brasileiro Sérgio  Buarque de Holanda[10] fixou um dos pontos de suas observações da ‘estabilidade transgeracional’ do homem brasileiro na sua ‘cordialidade’.

 

Confiança institucional: a confiança institucional não é gerada, mantida e reproduzida apenas pela mediação do marketing e da propaganda. Apesar de todo o seu poder e eficácia subliminar a sua energia do marketing e da propaganda é pontual e passageira. O exemplo é visível em tendências politicas, em nomes dos seus agentes. Historicamente está o exemplo da Contra Reforma com o seu instrumental político da Propaganda da Fé ou da instalação e manutenção do Regime Nazista. Entre os franceses percebe-se, em janeiro de 2013 a nítida tendência declinante da confiança do cidadão francês em relação ás suas instâncias e aparelhos estatais. Porém está nítido que este cidadão ainda confia predominantemente na sua célula municipal

 

Conflitos de geração: no interior da cultura, gerada pela informática numérica digital o “grande pai” perde o seu sentido e o seu poder totalitário. Este sentido de poder totalitário é dissolvido na concepção de Bourdieu anotou (1994 p.104 (nota)) em relação aos: “conflitos de gerações que não opõe classes de idades separadas por propriedades da natureza, mas habitus produzidos por maneiras de gerações diferentes, quer dizer através de condições de existência que, impondo diferentes condições do impossível, do possível ou do provável oferecem para provar, práticas ou aspirações, que para  alguns parecem como naturais ou razoáveis e para outros como impensáveis ou escandalosos, ou inversamente” Nessa dissolução e naturalização o grande Leviatã estatal, cuja figura e forma emergiam, além do medo que ele impunha, da era industrial também seguem a lei da entropia e vão parar no museu da História.

 

Configuração: uma pseudo autoridade aniquila a vontade do poder originário pelo ritual do voto conduzido pelos sacerdotes e sacerdotisas do corporativismo interesseiro do seu continuísmo no poder pelo poder. Esta pseudo autoridade anula e corrompe todas as configurações como no caso de um jogo fraudado. Nesta configuração Chartier registrou  1998 : 244 que “os jogadores não incluem só o seu intelecto individual. Mas toda a sua pessoa, suas ações e relações sociais”.  O jogo politico fraudado por uma pseudo autoridade corrompem-se e se esterilizam os contratos profundos e verdadeiros  entre quem cede e quem recebe o poder como autoridade. Na Politica, no Esporte e na Arte não existe como pedir perdão pois estas ações resultam da livre aceitação da regras destes campos de forças e competências humanas.

 

Conhecer: dialética entre grande bem e grande mal necessita ser resolvido tanto no plano do seu conhecimento como na ação concreta do agir humano. Marc Bloch permanece na dívida se é a inteligência ou as mãos estão na origem das forças politicas quando afirma (1976) que “o homem coloca em ação a sua sede de busca através do uso das suas mãos. Enquanto o saber procura ficar ao nível da contemplação. Não há evidências se a tecnologia conduz a ciência ou é o contrário” A célula política municipal não escapa à esta dialética entre a contemplação da cultura intelectual ou se ela entrega a energia das forças tecnológicas.

 

Conhecer distinto de saber: a criatura humana é impulsionada para a cultura após suprir as suas necessidades básicas do alimento, da saúde e da habitação conforme as concepções de Abraham Maslow.  Para Hannah Arendt esta criatura humana avança célere para o conhecimento depois de satisfazer as suas necessidades básicas. Ela escreveu (1983 p. 363) que “Seja o que for, a experiência fundamental na origem da inversão, da contemplação e da ação, foi exatamente que o homem não pode apaziguar a sua sede de conhecer senão depois de colocar a sua confiança na engenhosidade de suas mãos. Não foi porque a verdade e o conhecimento perdessem a importância, mas foi porque não se podia mais esperar que através da «ação» e não mais pela contemplação´. Porém esta dialética supõe um meio adequado e circunstâncias específicas para a criatura humana fazer surgir, desenvolver e reproduzir este potencial que lhe é imanente.

 

Conhecimento o histórico do Poder Originário não é evidente e ardilosamente camuflado entre as linhas das narrativas estatais. Conforme os autores Maturana e Varela afirmaram que as respostas irão depender das perguntas que dirigirmos a esta realidade camuflada. Escreveram (1996, p.148) “admitimos conhecimento cada vez que observamos uma conduta efetiva (ou adequada) em um contexto assinalado, quer dizer, um domínio que definimos como uma pergunta (explicita ou implícita) que formulamos como observadores.” O conhecimento que se busca  descobrir e evidenciar estão relacionadas com as perguntas relativas às competências, às proporções e aos limites de circulação do Poder

 

Consciência: é necessário concordar com Piaget quando afirma (1983: 231) que “a tomada de consciência é sempre em parte uma reorganização e não uma tradução ou uma evocação”  Apesar da objetividade desta consciência, proveniente da reorganização, as suas consequências e os seus subprodutos mentais sempre foram projetados subliminarmente no inconsciente coletivo como uma segunda natureza. Os grupos humanos reorganizam, elaboraram, em todos os tempos, formas de comportamentos coletivos que querem uniformes e gerais nas suas ações  O brasileiro Raimundo Faoro, 1975 : 634 “Para  aquele que se encontra submetido ao domínio pessoal, inexistente marcas objetivas do sistema de constrição a que sua existência está confinada: seu mundo é formalmente livre. Não é possível a descoberta de que sua vontade está presa à do superior, pois o processo de sujeição tem lugar como se fosse natural e espontâneo Anula-se a possibilidade de autoconsciência, visto como se dissolvem na vida social todas essas referências a partir das quais ela poderia se construir. Plenamente desenvolvida, a dominação pessoal transforma aquele que a sofre numa criatura domesticada: proteção e benevolência lhe são concedidas em troca de fidelidade e serviços reflexos” O poeta, dramaturgo e pedagogo Schiller também é categórico ao afirmar (1963, p. 95) que “Somente daquele que tem consciência de si pode-se exigir razão, isto é, coerência absoluta e universalidade de consciência; antes disto ele não é homem e nenhum ato humanidade pode ser esperado dele”.

                                                                        

Consciência e habitus: a escravidão, apesar das eleições, permanece ativa no Brasil e se renova em constantes formas subliminares devido ao habitus. Este termo habitus que o pensador Pierre Bourdieu associou (1996b, p. 144) com a concepção antiga de consciência quando afirmou: “O habitus preenche uma função que, em outra filosofia, confiamos à consciência transcendental: é um corpo socializado, um corpo estruturado, um corpo que incorporou as estruturas imanentes de um mundo ou de um setor particular desse mundo, de um campo, e que estrutura a percepção desse mundo a ação nesse mundo”. Não existem mudanças possíveis ou significativas enquanto perdurar o império deste habitus no mundo das pseudo deliberações e nas decisões formais e externas.

 

Conservação: a lógica proveniente e estimulada pela linha de montagem deixou profundas sequelas e enormes lixões, a céu aberto,  que concorre com a apregoada civilização urbana. Estas sequelas possuem por origem o que Hannah Arendt escreveu em relação à conservação Ela afirma (1983: 311) que “na cultura contemporânea é a conservação que causa a ruína, porque na conservação não há possibilidade de substituir os objetos que são criados para a obsolescência imediata”. Esta ameaça de ruina perpassa a produção material, imaterial, pessoas, instituições e projetos que se dobram a esta lógica da linha de montagem programada pela era industrial. Mais adiante (1983: p.320/1) a mesma Hannah continua  “Nas condições modernas não é a destruição que causa a ruína, é a conservação, pois a durabilidade dos objetos conservados é em si o maior obstáculo ao processo da substituição, cuja aceleração constante é tudo o que sobrou de constante quando ela instalou a sua dominação. A prosperidade está ligada estreitamente a produção do «inutilidade» dos meios de destruição, dos bens produzidos para serem desperdiçados, tanto usando-as na destruição, como destruindo-os, porque saem da moda”. Deste processo da lógica industrial permaneceu uma consciência latente de que um Estado deveria ser administrado como uma empresa e os mesmos problemas para a sua conservação e reprodução

 

                                         

Contemplação: a simples identificação ou sua visão não possuem sentido maior para a criação das circunstâncias da Democracia. O dramaturgo, poeta e política Goethe já se havia dado conta (1945: 13) desta falácia da simples e pura contemplação: “O simples olhar não nos leva a parte alguma. Todo olhar transforma em considerar. Todo considerar em mediar, rodo mediar em relacionar, assim cabe dizer que  o pouco que se olhe com atenção se está em plena atividade teorizante. Mas para faze-lo com consciência, conhecimento de si mesmo, liberdade e, para usarmos uma palavra atrevida, com ironia, eis aqui o que requer se a abstração temida deve ser inofensiva e o resultado empíricos, esperando, palpitantes e proveitosos”.  Os resultados - desta simples e pura contemplação - estão sujeitos à entropia e ao caos como qualquer ferramenta. O grego Platão já distinguira: “Estudaremos a astronomia, assim como a geometria, por meio de problemas, e abandonaremos os fenômenos do céu, se quisermos aprender verdadeiramente esta ciência e tornara útil a parte inteligente de nossa alma, de inútil que era antes” (Platão,1985: 128, 2º vol)

 

Contrato: a informática numérica digital permite a dupla via de circulação do poder e, ao mesmo tempo, não quebrar a hierarquia originária da Nação. Poder Originário que circula envolvendo o pátrio poder, a célula municipal, passando pela região e dirigindo-se ao núcleo do poder central sempre em dupla via de ida e volta no âmbito da sua hierarquia. Hierarquia que emerge da soberania de um pacto nacional expresso, factível e aceito universalmente num contrato.  Contrato que Hannah Arendt descreveu (1983 p. 311) como “a força que assegura a coesão, distinta do espaço das aparências nas quais se reúnem e do poder que conserva o espaço público, é a força das promessas mútuas, do contrato”.   Arendt vale-se ainda do contraste com estágio anterior (1983 : 239) 311, 312) “a sociedade depois da retirada da coerção física (tirania) e espiritual (religião), estrutura-se, a partir do iluminismo, na esperança contratual celebrado nas promessas mútuas do contrato” . Contrato que permite a circulação continuada e que permite evidenciar, afastar e reduzir, ao mínimo, os filtros disfuncionais e mediações corruptas e corruptoras.

 

Contrato e Ciência: o vasto campo do mundo empírico, no qual age a Democracia, estende-se muito além deste modelo teórico. A atividade da própria Ciência que na concepção de Kuhn (1997 p. 25) segue contratos que “são denominados de revoluções científicas os episódios extraordinários nos quais ocorre a alteração de compromissos profissionais. As revoluções científicas são os complementos desintegradores da tradição à qual a atividade da ciência normal está ligada”.  Respeitando esta oscilação o presente texto acalenta apenas o projeto de querer fugir do fixo, do silêncio, do imponderável e da conivência com as corrupções e reducionismos de que padece a prática da Democracia.

 

Controle: aparentemente uma tirania não atinge o pensamento e deixa livre o exercício de uma mentalidade. Este é uma meia verdade, pois o controle sobre o corpo impede, distorce e reduz a possibilidade da expressão desta mentalidade e pensamento. Na concepção Umberto Eco, numa divulgação de Calligari (1995 cad.5  p.6),  denuncia  “o controle físico afeta os valores espirituais. A referência ao corpo é importante porque nenhuma ditadura pode paralisar nossa possibilidade de pensar, mas ela pode impedir nossa possibilidade de expressar este pensamento com a língua.” Assim, no caso do voto eletrônico, todo o discurso do cidadão é silenciado e reduzido ao gesto de tocar alguma teclas e da qual não recebe outro feedback do que o “FIM”. Diante desta distorção e reducionismo das deliberações e decisões do cidadão pelo atual sistema de votar não é possível do que denunciar uma armadilha.

 

Cooptação: o Estado nacional soberano pode ser percebido como um poder teórico e abstrato. Como tal funciona apenas como um vértice isolado e desenraizado. Este vértice apresenta-se isolado e desenraizado. Este vértice isolado e totalitário distribui cargos e funções. Mas é impensável a distribuição do poder que fica preso ao vértice Esta operação é possível pela pura e simples cooptação que Fávero descreu, (1980, p. 48) este “mecanismo de cooptação requer, em geral, um controle sobre os elementos cooptados, a fim de evitar o perigo de ameaça à unidade de controle e decisão. Em decorrência por meio da cooptação pode haver uma distribuição de encargos, de trabalhos, mas nunca do poder em si”. O mecanismo de cooptação realiza a façanha e normalmente possui fortuna do pleno êxito em congelar todo o fluxo do poder. Fluxo do poder represado e procrastinado até o momento de uma nova primavera onde o fluxo de novo, porém tumultuado e destrutivo.

 

Corpus: no presente texto não há menor tentativa de constituir o que Bourdieu nomeia e que Argan descreve (1992: 62) como um “corpus que aspire a enumerar, catalogar, definir, fotografar e publicar tudo” no que ser refere ao Poder Originário. O presente texto não propõe constituição de um corpus até pelo fato da massa de novidades ser reduzida. De outro lado uma rígida sistematização poderia congelar a criatividade necessária neste estágio embrionário do projeto. Além do mais a era numérica digital está nos seus primeiros e titubeantes passos. Esta implementação será gradativa e na medida em estiverem em plena energia as forças que precedem esta etapa para implantar de forma definitiva e por tempo indeterminado.

 

Corrupção: a insensibilidade e pouca atenção, com a origem do seu poder,  se acumula nas falcatruas, nos desvios e nas corrupções que mancham o conjunto do Estado Nacional e suas circunstâncias. Esta corrupção pode atingir os mais altos degraus da esperança do cidadão no seu estado ou arruinar a fé na religião que se pratica no seu domínio. Maquiavel já percebera uma mutua agressão e desqualificação recíproca nas pequenas e frágeis repúblicas italianas renascentistas. Nas palavras de Arendt (1983) “para Maquiavel, a alternativa colocada para o problema da dominação religiosa no domínio secular era inevitavelmente esse aí: ou o domínio público corrompia a religião e portanto se corrompia a si mesmo, ou então a religião permanecia intacta destruindo completamente o domínio público” . Os agentes tanto do domínio público como do religioso, podem desculpar-se diante desta catástrofe e evidenciar as complexas e incontroláveis instâncias do mundo material ou imaterial que tomaram livremente em suas mãos. 

 

Crença representacional: buscam-se motivações para exercitar a potência humana na representação dos seus projetos. Crença que na concepção de Sperber e que Oliven  registrou (1992 p.24)   “é o que chamamos de ‘convicções’, ‘persuasão’, ‘opinião’. Para, decidir se alguma crença é racional, necessitamos saber não somente seu conteúdo, mas também em que sentido ela é acreditada”. Esta convicção coletiva cria, alimenta, circula e reproduz na opinião de que o ser humano é portador na sua nação, no seu povo e no seu Estado.  Uma nação surge no lento e cumulativo aglutinando da sua vontade, e gerando um povo.

 

Criatividade um projeto que possui a virtude de busca do êxito em fazer funcionar uma arquitetura na qual este ENTE humano materializa o processo da socialização intencional do seu SER ao longo de tempo. Esta criação humana possui a necessidade de controle entre as causas colocadas no processo para atingir o efeito esperado pela eficácia desta socialização. O controle entre causa e feito não pode abdicar da criatividade. A competência humana da criatividade é colocada aqui na concepção que Hannah Arendt lhe confere (1983: 188) ao afirmar que “É somente porque nós fabricamos a objetividade, o nosso mundo, com aquilo que a natureza oferece porque nós construímos, inserindo-o no espaço da natureza e assim nos sentirmos protegidos, que podemos olhar a natureza como alguma coisa objetiva”. Esta concepção ganha os seus limites com os biólogos Maturana e Varela que lhe atribuíram (1996: 173) na forma na qual “o organismo restringe a criatividade das unidades porque elas existem para ele. No sistemas social humano amplia a criatividade humana, pois esse existe para estes” Esta construção criativa e única supõe, também no campo político, a informação fidedigna, um projeto coerente com estas informações e o exame permanente dos seus fundamentos e com novos desdobramentos. Os fundamentos da criatividade possuem etapas sucessivas e culminâncias descritas por Saunders[11] a partir das observações do psicólogo Guilford e do arte educador Lowenfeld.

 

Criatividade humana e linguagem: o continuo administrativo de uma nação exige que as infinitas partes que a constituem, possam agir para manter vivo este organismo composto de fractais coerentes com o todo. Esta coerência necessita enfrentar o desafio da criatividade linguagem humana intima e coerentemente associado à sua conduta. Este desfaio é apontado por Maturana e Varela quando afirmam (1996 p 173) que “a história evolutiva do homem, ao estar associada as suas condutas linguísticas, é uma história na qual foi selecionada a plasticidade condutual ontogenética que faz possível os domínios linguísticos, e na qual  conservação da adaptação do ser humano como organismo requer de seu operar nos ditos domínios e da conservação de tal plasticidade De modo que ali onde a existência de um organismo requer da estabilidade operacional de seus componentes, a existência de um sistema social humano requer a plasticidade operacional (condutual) deles. Ali onde os organismos querem requerem um acoplamento estrutural no lingüístico entre os seus componentes, os sistemas sociais humanos precisam componentes acoplados estruturalmente em domínios lingüísticos, nos quais eles (os componentes) podem operar com linguagem e ser observadores. Em conseqüência, enquanto que para operar de um organismo, o central é o organismo e dele resulta a restrição das propriedades de seus componentes ao construí-lo, para o operar de um sistema social humano o central é o domínio linguístico que geram seus componentes e a ampliação das propriedades desses, condição necessária para a realização da linguagem que é o domínio da existência. O organismo restringe a criatividade individual das unidades que o integram, pois estas existem para este; o sistema social humano amplia a criatividade individual de seus componentes, pois este existe para este. A íntima e coerentemente criatividade associação da linguagem humana com a sua conduta é também o campo dos vetores da informática numérica digital. 

 

Crise: Accurso afirma (1990 p.21) que “de maneira geral, no Brasil, o encaminhamento de soluções não guarda escala com os problemas brasileiros”. Para construir uma escala deste gigantismo existem soluções. Estas soluções decorrem da imperiosa necessidade de entender as recorrentes crises e administrá-las no mundo contemporâneo. Uma crise na concepção de Kuhn ocorre, no âmbito da própria Ciência, ao escrever (1997, p.105 e p. 115) que “O significada das crises consiste exatamente no fato de que indicam que é chegada a ocasião para renovar os instrumentos [...]Todas as crises iniciam com o obscurecimento de um paradigma e o consequente relaxamento das regras que orienta a pesquisa normal”. As gerações que nasceram, se educaram, trabalharam e viveram ao longo de regime colonaial não podiams se represebtar o mundo de outra maneira. Algo semelhanto aconteceu para quem nasceu, se educou ao longo do Estado Novo ou do período da Ditatura Militar não podiam imaginar o mundo e ou cultura de outro modo. O momento de crise de um destes paradigmas inculcados veio quando houve necessidade de sair deste condicionamento por meio da Abertura  Politica descrita na obra de Bernard  Kusinskyi[12]. Com os atuais  ferramentais  da era numérica digital certamente estes condicionamentos de povos, nações e culturas parecem improváveis, mas não impossíveis.  Para afastar este perigo é necessário permanecer atento de que aqui se aponta o potencial decorrente do uso deste ferramental e distinto da época anterior. Este ferramental potencializa e permite soluções  preventivas para reconduzir a origem do poder. Especialmente se a tenção estiver voltada a para a administração municipal destas, após as sucessivas crise de um poder central.

 

Crítica: as meias verdades saltam aos olhos de todos e revelam seu completo embuste diante de qualquer tipo de crítica. O escritor italiano Umberto Eco faz o seu registro (in Calligaris, 1995 p. 09) que “nenhum sincretismo é capaz de suportar a crítica. O espírito crítico faz distinções, e ser capaz de fazê-lo é signo de modernidade. Na cultura moderna, a comunidade científica elogia o desacordo como maneira de aprimorara o conhecimento  [...] O espírito crítico é capaz de fazer distinções. O sincretismo não a suporta”. Mesmo que “a crítica de arte desenvolvida no romantismo existiram tendências conflitantes que polarizam de modo mais intenso com o surgimento das correntes de vanguarda: a crítica da arte ora reivindica o papel de complemento produtivos da obra de arte, ora o papel de advogados da exigência interpretativa do público em geral”  apontado por Habermas em (1982: 118) e cuja distinção facilmente estendível à politica e às práticas administrativas contemporâneas. O suporte e as condições de receber, iniciar e elaborar críticas são preocupações constantes na Educação e na Psicologia. A maturidade da crítica é revelado nas condições e competências que uma vontade e uma inteligência humana é capaz de receber, iniciar e elaborar rupturas epistêmica e estética

 

Cultura: o conceito de cultura pode ser aquela do cidadão ou então aquela do ente publico. A cultura do cidadão o teórico Chartier resumiu (1998: 62) que  “no plano individual  pode ser um certo desenvolvimento de uma certa personalidade”. No concerne àquela de uma coletividade  o intelectual Ladrière assinalou (1977: p.16 e p.77) que “a cultura de uma coletividade pode ser considerada como um conjunto formado pelos sistemas de representação, os sistemas normativos, os sistemas de expressão e os sistemas de ação desta coletividade [...] A cultura de uma coletividade é o conjunto dos sistemas de representação,  normativas, expressão e ação”.  A cultura de um cidadão converge com aquela do seu Estado na ocasião em que o poder público está na eminência de se esvaziar e o eleitor legítimo é convocado para preencher estre vazio por meio do seu voto. Na cultura brasileira o voto é um frágil e índice gasto de um frágil um contrato compulsório entre o indivíduo com a sua coletividade. Índice que pretende significar os vínculos de um cidadão com uma cultura gasta. Cultura na completa heteronímia de um eventual partido de plantão ou de uma pessoa que conquistou e se diz candidato num quadro cultural formal pré-existente. O termo cultura ganhou mais atenção de Ladrière, quando anotou 1977, p.77que “Pode-se tomar a palavra cultura no sentido amplo que lhe dá a antropologia cultural: tratar-se-ia como um conjunto de instituições, consideradas por sua vez no seu aspecto funcional e no seu aspecto normativo, nos quais se expressa uma certa totalidade social e que representando, pelos indivíduos pertencentes a essa totalidade, o quadro obrigatório que modela a sua personalidade, proscrevendo-lhe suas possibilidades e traçando de uma certa forma  preliminarmente o esquema de vida no qual sua existência concreta poderá se inserir, e pela qual poderá tomar uma forma efetiva”. Em Porto Alegre o tema da cultura foi objeto dos estudos de Pedro Demo[13] e que o colocou entre a educação e a política. No aspecto da formação individual Ladrière escreve (1977: 77/8)  que “pode-se tomar  o termo cultura num aspecto muito mais restrito, como significando o conjunto de disciplinas que permitem a um indivíduo, numa sociedade determinada, atingir a um certo desenvolvimento de sua sensibilidade, de seu sentido crítico, de suas faculdades de conhecimento, de suas capacidades criativas, numa palavra, um certo desenvolvimento de sua personalidade”. O estudioso Teixeira Coelho Neto sistematizou um dicionário[14] da terminologia                    da politica cultural brasileira.

 

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Definição: Na busca teórica evita-se avançar em direção de uma definição única, linear e fixa do Poder Originário diante do amplo espectro de conceitos, de paradigmas e de axiomas que se levantam numerosas dúvidas, contradições e conflitos. Segue-se o conselho de Aristóteles 1973 p.135 - Tópicos VII 5 155a 5de que o mais fácil de tudo é demolir uma definição. Porque, devido ao número de afirmações nela implicadas, a definição nos oferece o maior número de pontos de ataque, e, quanto mais abundante for o material, mais depressa surgirá um argumento, pois mais probabilidade de se insinuar um erro num grade do que num número pequeno”. Apesar de carecermos de uma definição unívoca e linear do Poder Originário, muito poucas pessoas, do mundo empírico atual, podem-se julgar isentas de alguma relação, ou mesmo, da tutela de algum Estado nacional.

 

Democracia: Entende-se a Democracia, no plano etimológico, como o governo do povo para o povo. Vista pelo lado da cidadania acompanha-se a concepção de Mary Follet (in Carvalho, 1979 :60) de que “só teremos democracia verdadeira quando os jovens não mais forem doutrinados, mas formados no caráter da democracia. Portanto o meu dever como cidadão não se esgotou naquilo que trago para o Estado. Meu teste como cidadão é quão plenamente o todo é expresso em mim ou através de mim”. No plano do projeto nacional Skinner coloca ( 1980 : 207) a Democracia  como “ o povo planejando as contingências nas quais irá viver”. Num questionamento de Marilena Chaui de origem filosófica ela argumenta(1981, p.85) que “a interrogação acerca da democracia é uma indagação em que estamos todos implicados como sujeitos, sem que possamos reivindicar o lugar imaginário do saber separado”. Na direção comportamental o norte americano Wright Mills distingue (1975, pp.410/1) que “duas coisas são necessárias a uma democracia: públicos articulados e informados líderes políticos que, se não á homens de pensamento, sejam pelo menos razoavelmente responsáveis perante o público informado que exista. Somente quando públicos e lideres são responsáveis e de responsabilidade, podem as questões humanas ser submetidas a uma ordem democrática, e somente Quando o conhecimento tem importância pública é possível essa ordem. Somente quando o pensamento tem uma base autônoma, independente do poder, mas poderosamente ligada a ele, pode exercer sua força no condicionamento dos assuntos humanos”.  Contudo se no plano teórico há imensa dificuldade de se aproximar de algum esboço de definição a dificuldades aumenta na sua prática. Neste mundo empírico para que este governo que se quer democrático,  do povo e para o povo, possa existir, ele necessita admitir numerosos e variados componentes contrários ao fixo, ao único e ao fechado. O filósofo Platão foi implacável afirmando (1983 308) que “A democracia abriga um bazar de sistemas políticos”. A grande dificuldade surge não querer implantar a democracia no mundo prático em especial da era indústria onde o político Olivio Dutra sentiu a contradição (Correio do Povo, 11.12.1983) pois “Pode-se falar em democracia da porta da fábrica para fora. Da porta da fábrica para dentro, não pode”. Como também enfrenta a constante insegurança como afirma Chaui (in Lefort, 1983: intr.) que “a democracia possui a capacidade de questionar as suas instituições e abrir-se para história sem possui garantias previas”.  Quando estes componentes são reduzidos a um ou outro componente fixo, tanto no campo teórico como no empírico, eles passam a se hostilizarem, contradizerem e não caberem nesta fórmula fixa, única e primária. Neste sentido o primeiro Ministro da Cultura Aluísio Pimenta[15]  produziu um documento incontornável e que continua a incomodar muita gente. Na medida em que os variados componentes de Democracia deixarem de se hostilizarem e contradizerem ele se tornam complementares  eles ganham sentido como polos de energias opostas. Estes polos opostos foram examinados por Weffort, outro ministro da Cultura do Brasil e cujos resultados foram publicados[16]  no mesmo ano do que aqueles de Pimenta.

 

Descoberta:distinta de invenção Um hipotético “quarto poder” possui variadas formas, resistências e recusas em admiti-lo no mundo prático.  Com calma e paciência é necessário pondera o que o pesquisador Kuhn nos faz distinguir (1997 p. 78) entre descoberta e invenção nos quais “devemos agora perguntar como podem surgir tais mudanças, examinando em primeiro lugar descobertas (ou novidades relativas a fatos), para então estudar invenções (ou novidades concernentes à teoria)” Nas descobertas iremos orientar-nos pelos recursos técnicos provenientes do mundo numérico digital recém-instaurado. Nas invenções adiantamos novas formas de perceber, cultivar e reproduzir o Poder Originário. Invenções de novas formas para fortificar suplementar os habituais e consagrados “três poderes”. Invenções que visam transformar as contradições, as resistências e as recusas ao mundo numérico digital que tomam forma diante da era pós-industrial. Nas invenções é logico que os lideres mais atilados percebem num hipotético “quarto poder” abastecido ainda nas concepções vigentes na era industrial, tanto na sua definição, no seu suporte institucional como na sua reprodução.

 

Desconstrução: se a maioria não tomar a decisão da mudança de um Estado injusto, este fato irá doer para todos e para sempre. Vai doer para os injustiçados. Uma desconstrução de um hábito, de uma cultura e de práticas ancestrais adquiridas subliminarmente sempre é dolorosa. Esta desconstrução está no que Mota registra (1980 : 222) ao constatar que: “Uma análise do romance de Antônio Callado que serve de marco para a época: QUARUP. Assinala por Ferreira Gullar, tem por subtítulo ‘Ensaio de deseducação para Brasileiro virar Gente’, sugerindo que a ‘afirmação implícita no romance de que é preciso ‘deseducar-se’, livrar das concepções idealistas alheias à realidade nacional, para encontrara” Mota,  Desconstrução necessária para distinguir ENTE de SER e que Arendt aponta (1983: 244 e 304) quando escreve:  “Quem é, ou quem foi alguém, não o sabemos a não ser conhecendo a história  da qual ele é o herói-  dito de outra forma – a sua biografia; todo o resto do que sabemos dele incluindo aí a sua obra que deixou, nos diz somente o que ele é ou o que ele era”. Hannah Arendt escreveu (1983: 304) que “não existe nada mais brilhante do que as tentativas da grandeza e da potência humana, que possui as suas fontes na capacidade de agir, e que, sem os remédios próprios da ação, inicia inevitavelmente à ultrapassar e destruir, não a criatura humana propriamente dito, mas as condições nas quais a vida foi dada ao homem”.

                                 

Descontinuidade:  é aparente no mundo da linguagem que o fluxo  do poder corre pelos mesmos canais de forma continuada e uniforme. No entanto, no mundo empírico está sujeito aos seus ciclos, interrupções e descontinuidades que a mantém em permanente vigilância para medidas preventivas. Sobre este fenômeno da descontinuidade o intelectual Chartier avisa (1998: 61) que: “a história intelectual não deve deixar-se prender no laço das palavras que podem dar a ilusão que os diversos campos dos discursos nos quais as práticas são constituídas de uma vez por todas, recortando os objetos dos contornos, como também dos conteúdos, são invariáveis: bem ao contrário ele deve colocar como centrais as descontinuidades que fazem com que se designem, arruínem e se dispersem, de maneiras diferentes ou contraditórios, segundo as épocas, saberes e atos.  Na atualidade o Poder Originário nunca dispôs de tão numerosas formas culturais e técnicas para estudar as causas destas interrupções e crises do e tomar os meios para fazê-lo circular se solução de continuidade. 

 

Descritivo distinto do prescritivo: Na era informatizada há necessidade de intensas e ativas mudanças de mentalidade, de hábitos e de comportamentos.  Uma das mudanças é em relação ao mundo prescritivo da era industrial é penetrar e interagir com o mundo descritivo pós-industrial.  No portal da pós-modernidade impõe-se transformar a aparente contradição entre o prescritivo em descritivo em produtiva complementariedade. Esta transformação é um dos projetos de De Duven ao escrever (1989, p.71) que “O que eu procuro é uma aliança entre o descritivo «pós-moderno» ( em termos da implosão, de simulacros, de esquizofrenização social, etc.. ) e o prescritivo «moderno» (que recorre ao marxismo, à teoria crítica e ao relatório da emancipação)”. O universo das severas prescrições da era agrícola e industrial é compatível com o universo as exaustivas descrições da era numérica digital informatizada. Estes dois universos mentais são complementares com os seus respectivos universos empíricos nos quais os seus poderes micro e macro potencialmente podem celebrar alianças, contratos e pacto..

 

Desenho: O jogo do poder de uma Nação, na ausência de uma educação formal, não conhece competências e limites da autonomia tanto do poder originário com a quem delega o exercício administrativo  Diante desta perda preliminar a necessitaria acordar para conferir um desenho para o trabalho a ser enfrentado no mundo da ação e da prática da cidadania. Entende-se por desenho aquela operação básica pela qual mundo mental designa aquilo  que deve acontecer no mundo material e empírico. No universo da Arte o desenho ou ‘disegno’, constituía a base dos mais diversos ofícios e que vinculavam as artes plásticas ao mundo das ideais através do ato da designação mental. Assim o desenho constituição  transito necessário entre a materialização de um projeto e daquilo de que ele realizar no tempo e no espaço. Segundo Pevsner (1982, p. 53) os artistas da época de Miguel Ângelo qualificavam o ‘disegno’ como ‘ún signo de dio in noi’. Pevsner resumiu a importância que a Academia de Vasari dava Desenho, ao registrar que era a disciplina que reunia os mais diversos profissionais, trabalhando em materiais diferentes e que procuravam infundir nesses materiais os conceitos e ideias que os animavam. Pevsner resumiu (1982, p 45) a importância do desenho na «Accademia del Disegno» de Vasari onde “os seus membros trabalhavam materiais muito diversificados, e portanto pertenciam a diferentes grêmios, mas o que  o que era importante para todos era o «disegno» e que acima de qualquer outra coisa era «esprezione e dichiarazione del concetto che sia nell’animo».

 

Diacronia distinta de sincronia: A informação proveniente no atrito dos incontáveis objetos - na sua tensão com os objetivos humanos - constitui uma fonte da luz que orienta para o funcionamento do Estado. Este atrito alimenta-se das energias provenientes das tensões resultantes das percepções históricas entre a diacronia e a sincronia. Na simultaneidade e do acúmulo do presente (sincronia) interferem poderosamente as lembranças e heranças de um passado imutável e os receios, incertezas de um porvir sem garantias (diacronia). No seu Dicionário de Filosofia Ferrater Mora resume (1994: 860) diacronia como o “termo usado por Ferdinand Saussure (1857-1931) para a evolução no tempo da linguística”. Esta tensão pode ser representados pelos eixos XY e que Hansen traduziu (1998 : 99)  “A extensão horizontal do olhar é épica, pois pressupõe o tempo do percurso e o recitativo do ir a Tróia e volta para Ítaca.  No eixo vertical situa-se o imaginário da experiência propriamente trágica: linha onde a máxima ascensão atingida pela potência já começa a desabar, transcendência vertical do destino irreversível, tal a flecha que cai quando atinge o auge do voo”. A tensão é gerada pelo acumulo vertical das diversas infraestruturas que se acumulam sincronicamente no atual Poder Originário. Estas luzes são essenciais e necessárias para a evolução diacrônica da origem, presente e futuro de um projeto e seus respectivos contratos. Contudo estas luzes não possuem significado algum se não estiverem focados em projetos e  contratos específicos que se prolongam no tempo (diacronia). São meros relâmpagos ou fogos fátuos resultantes de energias acumuladas pontualmente (sincronia) e que se desfazem na instantaneidade de eventos pontuais.

 

Dialética da distinção cultural diferente do construtivismo: As classes, as categorias e as instituições do Poder Originário podem ser surpreendidas e jogadas na heteronímia pelo formalismo e construtivismo de um desenho meramente formal. De um lado o Poder Originário caminha na busca de sua emergência, da sua distinção. Para  Habermas (in Grespan, 1997: 8) “em vez de “dialeticamente”, como até agora, a esquerda deveria pensar “construtivamente”, mesmo que isso possa ser incomum. Nós precisamos é de modelos ou de projetos, como se fosse possível uma compensação global de interesses no quadro de uma comunidade de Estados que pensasse, digamos, uma “política interna mundial”. Só em tais modelos podem se inflamar as fantasias e formar os motivos necessários para que se configure uma vontade política nas sociedades civis ... Crise sem dialética: de certa forma você tem razão. De qualquer modo, aquele modelo de constelações de interesse e de relações de poder, com as quais Marx ainda contava, modificou-se fundamentalmente na segunda metade do século 20, tanto nacional quanto internacionalmente. Os marginalizados e pauperizando-se, pauperizados formam hoje “subclasses” impotentes, a quem falta um potencial ameaçador. Não há um “braço forte” que possa “deter engrenagens”. As classes dominantes conseguiram dialeticamente desenhar ou projetar um outro mundo no qual foi riscada qualquer ameaça das classes depauperadas.    A ação de acordar a Nação desta alienação induzida e da escravidão assusta a qualquer um. Assusta tanto pela extensão como pelas consequências desta ação.

 

Dialética da totalidade. Não se pretende retomar os teóricos e pesquisadores que aceitaram, seguiram ou contestaram este relação determinante entre infraestrutura e superestrutura. Determinismo bebido e aceito num marxismo vulgar, divulgado à saciedade e experimentado na carne viva humana. Evidente que a mentalidade que defende o Poder Originário em oposição ao discurso por cima de um Estado central, fixo e unitário, abre as portas para o reducionismo de uma pretensa dialética da totalidade na concepção de Fávero ao registrar (1980, p. 19) que “a dialética da totalidade concreta não é um método que pretende reproduzir todas as implicações, fatores, mecanismo e efeitos sociais que interferem na produção de um evento, fato ou processo social. Ao contrário na explicação dialética, o conceito de totalidade é empregado como recurso interpretativo pelo qual visa compreender não a identidade, mas as diferenças em uma unidade, tal como se apresentam em determinada totalidade”. O que se pretende aqui é situar o estudo empírico do Poder originário com as suas circunstâncias do início do terceiro milênio. Buscam-se eventos empíricos e pensa-los na construção artificial do Estado Nacional

 

Diversidade distinta de ecletismo O perigo é embarcar na “nau dos insensatos” do ecletismo. A multiplicidade e a diversidade no Brasil provoca tentação permanente do formalismo eclético que aparentemente soluciona e acaba com o problema. O populismo, o marketing e a propaganda busca esta solução provisória e pontual sem atingirem o âmago, a fonte e a raiz da causa do problema, nesta direção Pernoud advertia  (1997: 60 c.3) que Diversidade não quer dizer ecletismo”. Mario da Andrade era bem rigoroso quando, em 1938, na época do Estado Novo fustigava (1955, fl. 13) como “acomodatício e máscara de todas as covardias”.

 

Diferenciação (processos de) O filósofo Platão foi implacável afirmando (1983 308) que “a democracia abriga um bazar de sistemas políticos”. Esta diversidade favorece a possibilidade um trabalho teórico separado devido à diversidade empírica que apresenta cada tenda deste bazar.  A possibilidade da construção teórica da Democracia separada a partir da multiplicidade das suas tentativas no mundo empírico possibilita cultivar o processo que de foi escrito por Pierre Bourdieu quando afirmou (1987 p.103) que:  “devido aos progressos da divisão do trabalho, a diferenciação da obra de arte, como mercadoria e a aparição de uma categoria particular de bens específicos destinados ao mercado, propiciaram  condições favoráveis a uma teoria pura de arte. Instaurada na dissociação entre a arte como simples mercadoria e a arte como pura significação.” Se este mundo teórico da democracia ainda está disperso nas múltiplas versões e experiências, maior é a dificuldade ao querer implantar a democracia no mundo prático:

 

Dinâmica social linear: Insistir num progresso linear permanente é um mero formalismo de marketing. O sociólogo Oliven expõe este fato no âmbito da dinâmica social linear quando afirma (1992 p. 20) que “esta tendência - que aparece sob várias formas como ideia da evolução, da possibilidade de um progresso ilimitado, do desenvolvimento, da crescente racionalidade, da modernidade - se depara frequentemente com evidências que a contrariam.” Especialmente quando os marqueteiros, atravessadores e pretensos mediadores insistem num progresso linear permanente sem apresentar um rumo definido, sem proporções, sem contratos e descartando todas as bases culturais consolidadas.

 

Discurso: O município opera na interação por meio dos contratos celebrados na célula política com a fonte e a origem mais próxima da cidadania.  Neste âmbito municipal o discurso humano possui mais elementos comuns entre o Poder Originário e as eventuais autoridades para materializar os termos de qualquer contrato. Esta interação necessita buscar a significação que na concepção de Durham (in Oliven,1992, p. 21) para a sua eficácia “é necessário que um discurso ao interpretar sujeitos veicule uma mensagem verossímil, pois, para que uma ideologia se realize como tal, ‘capture’ os sujeitos, provoque adesão, é preciso que as significações produzidas pelo discurso encontrem eco no imaginário dos indivíduos aos quais se dirige, isto é, é preciso que se dê uma certa adequação entre as significações desse discurso e as representações dos sujeitos.” Neste discurso é possível um repertório comum e próximo que favorecem a busca de forças e bases competentes no paradigma - que ora se apresenta - para celebrar contratos postos em exames continuados e em tempo real.

 

Discurso de segunda ordem: Um exercício coerente com o Poder Originário necessita prever um contrato único para o antes, o durante e o depois de um evento governamental e contrário a todo projeto corrupto pelo personalismo. Contrato único, coerente e factível que necessita aceitar o fato de que o Estado realiza discursos de segunda ordem, diferente daquele de grupos populares. Esta distinção entre os planos na concepção de Ortiz (in Oliven, 1992, p.20) caracteriza “a memória coletiva dos grupos populares é particularizada, ao passo que a memória nacional é universal. Por isso o nacional não pode se constituir como prolongamento dos valores populares, mas como um discurso de segunda ordem”.  No entanto este contrato, coerente com o Poder Originário, não cabe num voto. Nele se materializa a discurso de segunda ordem e cujo objetivo se traduz e destina primordialmente à etapa da conquista do cargo.

 

Disposição ávida e ansiosa em relação à cultura: pelo mestre de Alexandre Magno ao descrever esta cilada e aconselhava: “não se deve argumentar com todo mundo, nem praticar argumentação com o homem da rua, pois há gente com quem toda discussão tem por força que degenerar”. Aristóteles –Tópicos – [Penúltimo aforismo].  Aristóteles fez esta observação após apresentar todo o seu arsenal lógico e capaz de sustentar uma argumentação no interior de uma Retórica civilizada. Não se trata de julgar, discriminar ou desqualificar o “homem de rua”. Trata-se de perceber que ele facilmente pode ser vitima da sua própria disposição ávida e ansiosa em relação à cultura. Pierre Bourdieu caracterizou (1987, p.144) esta ânsia e avidez como “boa vontade pura, mas vazia e destituída de referências ou de princípios indispensáveis à sua aplicação oportuna, conduzem os pequenos burgueses a todas as formas de falso reconhecimento que definem a alodoxia cultural”. Evidente que os corruptores percebem esta ávida e ansiosa disposição do homem de rua em relação à cultura. Investem nesta falta de referências colocando  neste vazio as suas próprias meias verdades que lhes interessam e as corruptos como algo para preencher o seu vazio conceitual.

 

Distinção realidade e aparências: O conhecimento é proveniente, não só de sua história, mas das cinzas e das dores do presente. As cinzas e dores do presente, causadas pela sua queima de etapas e pelas frustrações, são simétricas com as esperanças que causaram quando eram meras utopias. Mas a História não se repete a não ser como farsa. Toda Ciência, Arte e Politica, coerentes com suas forças que as sustentam, possui numa das suas metas a busca para distinguir a realidade das aparências. Esta disposição geral foi evidenciada por Schiller quando escreveu (1963 pp123/4) que: “o direito humano de domínio ele o exerce na arte da aparência, e quanto mais severo for no distinguir entre o ‘meu’ e o ‘seu’, quanto mais carinho puser em separar a forma do ser, quanto mais autonomia der a ela, tanto mais chegará não só a ampliar o reino da beleza, mas a preservar também os limites da verdade; pois é impossível purificar a aparência dos resíduos de realidade sem libertar, ao mesmo tempo, a realidade das aparências” Esta busca para distinguir a realidade das aparências está presente no universo das forças dos campos da Política, da Educação, da Religião, da Justiça, do Comércio e da Indústria cultural. As aparências escamoteiam e escondem-se em eventos pontuais avaliações e macro análises favoráveis à natureza das grandes utopias dos séculos XIX e XX e sem que estas tenham muito claros e objetivos dos projetos que lhes deram origem e pelas quais buscam se reproduzir.

 

Distinções culturalmente pertinentes: O gradativo acúmulo e a crescente complexidade levam estas energias a um estado crítico no qual é possível praticar distinções culturalmente pertinentes. Neste acúmulo Pierre Bourdieu encontrou (1987, p.109) as razões da formação deste estado crítico, pois: “quanto mais o campo estiver em condições como campo de competição pela legitimidade cultural, tanto mais a produção pode e deve orientar-se para a busca das distinções culturalmente pertinentes em um determinado estágio de um dado campo por serem capazes de fazer existir culturalmente os grupos que os produzem, vale dizer, de conferir-lhes um valor propriamente cultural, atribuir-lhes marcas de distinção (uma especialidade uma maneira, um estilo) reconhecidas pelo campo como culturalmente pertinentes, suscetíveis de serem percebidos e reconhecidos enquanto tais, em função das taxionomias culturais disponíveis em um determinado estágio de um dado campo”.  As energias vivas que buscam um ponto de equilíbrio homeostático das taxionomias culturais disponíveis da autoridade no meio das antigas, atuais e aspirantes ao governo. Homeostase a ser mantida enquanto persistir a vida, a força e a reprodução dos conceitos de sua origem.

 

Diferenciação: Os grupos humanos reorganizam, elaboraram, em todos os tempos, formas de comportamentos coletivos que querem uniformes e gerais nas suas ações. Inconsciente coletivo que controla mentes e corações dos grupos humanos que adota um repertório comum. Inconsciente coletivo que Pierre Bourdieu concebeu (1987: 103) com resultado material proveniente do mundo da ação comum, na qual  “progressivamente, com a divisão do trabalho aparece uma categoria de objetos apenas como pura significação”.  Seguindo esta pura significação, estes grupos humanos estão à vontade para seguirem caminhos e comportamentos diferentes conforme as suas circunstâncias de Tempo (Zeitgeist), de Lugar (Weltgeist) ou do Grupo Social (Volksgeist) a que pertencem.

 

Discurso O pior percalço para o poder legislativo é constituído por uma série de discursos equivocados dos seus agentes e que não respondem à um repertório político, social e econômico do seu próprio Poder Originário. Uma das características da eficácia de um autêntico discurso, conforme Oliven o concebe (1992: 21) necessita “capturar os sujeitos provocando a sua adesão. Para tanto é necessário que haja coerência entre as significações desse discurso e as representações dos sujeitos”. As representações do Poder Originário estão muito distantes da coerência daqueles que pretendem chamar sobre si mesmos a máxima atenção possível. Para tanto convocam e seduzem pessoas do povo que não possuem, e nem podem ter, um projeto e um contrato comum entre eles mesmos.  Esta sedução está presente nos mais altos propósitos com o discursos de Getúlio Vargas[17] diante dos legisladores em 1931.Estes agentes nem ao menos estão conscientes dos percalços de uma glória repentina e fugaz. A súbita e fugidia celebridade é encoberta pelo sentimento que os envaidece e os estopins da onipotência, onipresença, onisciência e uma falsa eternidade ascendem e explodem em suas próprias mãos. Um cargo passageiro, que lhes pertence temporariamente é transformada em trampolim para o nada.

 

Distinções: o ente moral necessita ser coerente com seus limites no controle, que um grupo pode exercer sobre a parcela considerada. A criatura humana é competente para realizar distinções dos limites entre o fundo e forma. Esta operação e possível e Maturana e Varela escreveram (1996: 34) ela se realiza na medida em que:  “o ato de assinalar qualquer ente, objeto, coisa ou unidade, que está associado ao fato de alguém poder realizar um ato de distinção que separa o assinalado como distinto do fundo. Cada vez que fazemos referência a algo, implícita ou explicitamente, estamos especificando um critério de distinção que assinala aquilo de que falamos e especifica suas propriedades como ente, unidade ou objeto. Essa é uma situação inteiramente quotidiana e não única, na qual estamos submergidos necessária e permanentemente” Na origem do Estado Nacional esta distinção  é definida por grupos que se conhecem, interagem por meio de contratos implícitos ou explícitos. Estes se distinguem do fundo daqueles que são outros, estrangeiros e inimigos.

 

Distinções culturalmente pertinentes: Quando se projeta evidenciar o “quarto poder”, a partir da célula municipal, há necessidade de pensar minuciosamente como este processo possa evoluir em todos os patamares de um Estado, sem meias verdades e geração de equívocos implementados pelos mediadores de sempre. Inclusive no plano material não é possível ignorar, desleixar ou desqualificar qualquer distinção que é culturalmente pertinente ao Poder Originário. Neste sentido Pierre Bourdieu escreveu (1987:109) que “na medida em que uma área é capaz de competição pela legitimidade, tanto mais devem ser percebidas e reconhecidas distinções culturalmente pertinentes em função das taxionomias culturais disponíveis” Para reforçar esta percepção e evitar equívocos, não se prega a destruição nem mesmo a substituição das hierarquias funcionais existentes e coerentes com os três poderes.

 

Documento e a endogenia do poder: O Brasil cultiva as cortes e as retóricas presidencialistas, parlamentaristas ou jurídicas com o objetivo de ocultar esta contradição entre o Estado e a Nação. As normas pétreas das práticas jurídicas,  favoráveis à circulação do poder entre o Estado e a Nação são rompidas, na sua prática, para dar lugar a um  presidencialismo ou parlamentarismo divinizado e oportunista. Normas pétreas que se sustentam em documentos divinizados e mitificados entre milhões de outros. Neste cortejo de documentos, evidenciados pela indústria cultural, entram autobiografias, panegíricos e narrativas, que se louvam nas mais ridículas e estonteantes alodoxia ideológicas. A discípula de Heidegger, Hannah Arendt, escreveu (1983: 251) que: “Todos os relatos escritos pelos próprios atores do fato histórico, ainda que em raras ocasiões  possam expor de uma forma digna de crédito as intenções, os objetivos e os motivos, nas mãos dos historiadores não são mais que documentos úteis e não atingem jamais nem a significação e nem a veracidade do relato histórico. O que o narrador diz é necessariamente escondido ao ator, ao menos na medida em que está envolvido na ação e nas consequências, pois para ele o sentido do seu ato não reside na história que segue. Mesmo se as histórias são os resultados inevitáveis da ação, não é o ator, é o narrador que vê e que ‘faz’  a história”. O resultado desta alodoxia estonteante é que brotaram infinitos poderes individuais que se alimenta destas divinizações descalabros e rupturas com a realidade. Cada um destes milhares de pequenos poderes julga-se divino nos seus interesses. O poder arcaico e  tribal rebrota, ao acaso,  em cujo modelo todos mandam e ninguém obedece.

 

Domínio linguístico: Os candidatos são transformados em “santinhos” pela graça do  marketing e a propaganda eleitoral. Os olhos dos potenciais eleitores são bombardeados por arsenal interminável de ícones, os seus ouvidos são saturados até o limite pelos sons os mais estridentes de jingles  repetitivos e do mau gosto mais horroroso possível. Muito poucos percebem quais as reais fontes dos fundos partidários e os interesses determinantes do marketing e a propaganda eleitoral. Empresas, escritórios, agências bancárias aguardam e necessitam destes eventos para movimentar consideráveis somas de cuja natureza e fluxo e destinatários o eleitor permanece muito distante. A distância entre o domínio linguístico e os campos da Filosofia e da Psicologia é perceptível na separação intencional pelo campo de forças  marketing e da propaganda eleitoral. Esta clivagem contraria o Lyons ao escrever (1976: 95) que “a linguística não pode ser separada da filosofia e da psicologia”. Por sua vez Maturana e Varela descrevem (1996: 180) a lógica do domínio linguístico ao “designamos como domínio linguístico de um organismo ao domínio de todas suas condutas linguísticas. Os domínios linguísticos são, em geral, variáveis e mudam ao longo das ontogenias dos organismos que os geram”. Este domínio das condutas linguísticas do cidadão autônomo é jogada, violentamente, na heteronímia pelo marketing e pela propaganda eleitoral. Estes necessitam impostar, não só uma nova linguagem, mas modificar aos genes do repertorio do eleitor, violando e adulterando o centro da vontade das ontogenias dos organismos que os geram.

 

Doxia: Tanto na política como na administração, as mediações desastradas, amadores ou de pura e simples tutela do bem público e universal, interpõem mais como ruídos, filtros inúteis ou obstruindo e atulhando de ruinas o exercício da autoridade nestes campos. Como tais provocam mais aversões no mal estar natural de qualquer civilização. Os candidatos a conquistar este poder central, apresentam-se como “os salvadores da pátria” e aparentando “candura” para seduzirem os seus eleitores. Como tais prometem transformar o tabu das aversões, ruídos e catástrofes do passado, em totens da mudança para o bem querer universal, paz e progresso continuado. Bem querer, paz e progresso linear uniforme subsumido em violenta ‘doxia’ avassaladora que Pierre Bourdieu descreveu (1996: 144) acontece: “quando as estruturas incorporadas e as estruturas objetivas estão de acordo, quando a percepção é constituída de acordo com as estruturas do que é percebido, tudo parece evidente, tudo parece dado. É, a experiência dóxica, pela qual atribuímos ao mundo uma crença mais profunda do que todas as crenças já que ela não se pensa como crença”. Crença na qual o seu próprio portador esconde o projeto real desta “candidatura” mesmo que esteja consciente que ela tenha apenas e tão somente a conquista do poder, pois suscitaria e espalharia a insegurança, a desconfiança e o medo

 

Duração: repertório comum. Inconsciente coletivo que Pierre Bourdieu concebeu (1987: 103) com resultado material proveniente do mundo da ação comum, na qual  “progressivamente, com a divisão do trabalho aparece uma categoria de objetos apenas como pura significação”.  Seguindo esta pura significação, estes grupos humanos estão à vontade para seguirem caminhos e comportamentos diferentes conforme as suas próprias circunstâncias de Tempo (Zeitgeist), de Lugar (Weltgeist) ou do Grupo Social (Volksgeist) a que pertencem.  Zeitgeist que conforme Bloch na qual estes grupos encontram  a duração quando afirma (1976: 29) que: “o historiador não pensa apenas o humano. A atmosfera que seu pensamento respira naturalmente é a categoria da duração”. Enquanto nos grandes discursos hegemonistas planetários do Weltgeist encontram saberes que são assumidos e convergem para núcleo da Ecologia que os recebe e os  projeta de forma planetária para os mais variados campos. Já a Sociologia encontram acumulados relativos Volksgeist e provenientes de uma imensa gama de campos das Ciências Humanas. As concepções que suportam e são a base do Estado Nacional são, em si mesmas, o resultado da criação humana no âmbito desta tripla dimensão.

 

Dúvida e a derrota do espírito: Dúvida que desafia não pela incerteza, derrota dos projetos humanos e falta de rumo. A gênese da dúvida inicia no mundo helênico e ganha foros centrais na contemporaneidade conforme Arendt afirma (1983: 345)  que “Descartes instala a dúvida e somos instados a segui-la em todas as ramificações. Como é possível aceitar o argumento da superioridade do espírito sobre os sentidos, quando ele reconhece que para triunfar  deve se apoiar sobre os sentidos”. O mundo moderno teve seu caminho civilizatório aberto pelas concepções do mundo grego clássico. Porém a dúvida em relação ao espírito e das suas chances para se impor aos  sentidos, estava bem presente em ambos conforme Arendt afirma (1983: 345/6 que.“a filosofia moderna, depois de Descartes, consiste em sistematizar a dúvida e a segui-la em todas as suas ramificações.. Se o Ser e a Aparência se separam para sempre, pois esse é o postulado da ciência moderna, então não existe mais nada a aceitar na confiança; é necessário duvidar de tudo. Já Demócrito havia predito que a vitória do espírito sobre os sentidos não poderia terminar do que com a derrota do espírito.”. A derrota do espirito ocidental precipitou-se através de uma janela que se escancarou repentinamente através do uso concreto e audacioso da informática por redes de terrorismo revelou outra face pouco aguardada.

 

E

 

Ecletismo distinto de Diversidade A diversidade não quer dizer ecletismo” conforme Pernoud sentenciava (1997: 60 c.3).  Na época do Estado Novo, em 1938,   Mario da Andrade era bem mais rigoroso ao afirmar (1955, fl. 13) que o ecletismo é “acomodatício e máscara de todas as covardias”.

 

Ecologia. A Vida, como a Arte, é gratuita. A liberdade, de pensar e de expressar o pensamento, não pode ser subjugada ou conspurcada por répteis e contrafações da política, da economia ou da mistificação Os bens materiais foram a tônica dominante da Ecologia. O que deveria significara triunfo do espirito sobre a matéria foi direcionada para a naturalização. No extremo oposto desviou-se imediatamente do espirito e buscou o seu triunfo na pura, absoluta e singela mitificação. Para esta mitificação valeu-se dos instrumentos dos grandes e pontuais discursos hegemonistas planetários expressos em pomposos e inúteis tratados. No lado obscuro, e longe destes discursos e tratados, os problemas ambientais foram se naturalizando e se infantilizando pelo marketing e propaganda. A violenta oscilação entre a naturalização e o reducionismo para o extremo oposto da mitificação hegemônica, espantou qualquer vestígio do espírito dos seus pioneiros como Ciência. Ao buscaram o poder central e procurarem alojar-se nos núcleos dos poderes estatais de todo planeta passaram o emitir discursos por cima e por fora sem resolver os problemas pontuais dos quais se esqueceram completamente. Apesar da responsabilidade de quem espalha poluição e degradação ambiental ultrapassar as suas fronteiras, esta degradação ambiental não pode ser controlada pelos seus efeitos á não ser nas suas origens pontuais, identificados e controlados na sua origem. No plano empírico qualquer responsabilidade esta origem é localizável na célula municipal e do seu respectivo Poder Originário. Os meio numéricos digitais permitem rastrear, corrigir e tomar providências profiláticas, proporcionais e manter uma homeostase de poderes no âmbito da Ecologia se nela triunfar o espirito sobre a matéria.

 

Editorial: O Poder Originário, que se apregoa aqui, possui infinitos paradigmas e é constituído politicamente pela sociedade civil organizada. Contudo este mesmo Poder Originário deverá ser considerado de forma permanente pelo outros três poderes que nascem, representam e agem em seu nome. Um destes instrumentos pode ser constituído pelos editoriais dos jornais e periódicos. Entende-se os editoriais dos jornais como textos fundamentais de cada  periódico e que explica, argumenta e justifica as razões da criação, circulação e manutenção de um órgão jornalístico publico. Um jornalístico possui os seus apoiadores e que os sustentam como assinantes. Estes assinantes e leitores contribuem o seu Poder Originário. Cabe á direção ou proprietário do periódico legitimar e expressar, nos seus editoriais, as razões e para coerência entre o seu pensamento e dos seus leitores e assinantes que mantem circulando este periódico. Se tal acontecer de fato este periódico merece toda a atenção dos poderes públicos municipais e conhecimento do poder central Os textos destes editoriais podem ser remetidos, sem custo, por meio de e-mails e ordenados pelo CEP no qual se localiza a sua redação. Os textos destes editoriais, reunidos, ordenados pelos respectivos CEP’s podem circular em todas as instâncias governamentais e trazendo as premências e o pensamento vigente no amplo território nacional.

 

Educação formal institucional: no possível pacto nacional coletivo da era da informática numérica digital, não se trata de um contrato arbitrário e inconsequente com o objetivo de pulverizar o poder e a autoridade. Contrato que no campo de forças e energias da educação formal escolar é dialético, mas que permite contornar a pulverização do poder e da autoridade. Nas palavras de Hegel (1980: 133) esta dialética da educação formal institucional “deve impor-se como mediadora a razão que exige unidade enquanto a natureza solicita a diversidade”. Pulverização que Schiller evitava e sanava (1963: 86) quando “a razão e a espiritualidade ficam despojados do abstrato  unindo-se a natureza da qual toma  sangue e carne, sendo que a tarefa da educação estética é fazer das belezas a Beleza”. União dialética entre a Razão e Natureza potencializada na era da informática numérica digital pelos seus meios técnicos. Meios técnicos que são ferramentas potenciais para abrirem canais pelos quais circulam as energias de sangue único de um poder nacional. No Brasil a relação entre a Educação formal e institucional está muito longe de um projeto e de um pacto nacional em relação a este tema. Talvez por esta falta ela foi objeto constante de preocupações e de grandes nomes em todos os tempo. Dos que se projetaram nacionalmente ao longo do século XX podem ser destacados, entre os já falecidos, ao pedagogo Fernando Azevedo[18] devido  ao volume e constâncias de produções a respeito do tema e as conexões com a cultura. O fundamental Anísio Teixeira[19]  O atento e ativo Florestan Fernandes[20].  O antropólogo e criador da Universidade de Brasília Darcy Ribeiro[21]. Paulo Reglus Neves Freira (1921-1997)[22] projetou-se no plano internacional

 

Educador  O ENTE humano realiza a socialização visível na escola formal na continuação da daquilo que está difuso no meio social. O ENTE humano evolui - neste meio social e na instituição escolar - em direção à sua maturação do SER social, intelectual e cultural. Rubens Alves propõe (1984: 14)  que o seu agente e o seu docente seja um educador em quem  “habita em que a interioridade, visões, paixões, esperanças e horizontes utópicos fazem a diferença. Muitas vezes o educador é um mau funcionário”. Esta tensão passa entre o professor funcionário e o educador como pessoa. A instituição escolar foi projetada, moldada e funciona na cultura da era industrial para a lógica unívoca da linha de montagem típica. Em instituição escolar com esta característica, o professor é funcionário e muito distante e em conflito com o educador como pessoa.  Com a era numérica digital surge uma outra maneira técnica de o educador agir como escreveu Read[23]. Por estes meios técnicos a interação entre estudante e docente educador tornou-se potencialmente muito produtiva, se cada parte entender e praticar as novas competências e também os seus limites.

 

Educador distinto de professor: Na cultura ao modelo da linha de montagem - com prévio planejamento e gerido em sucessivas e rigorosas séries cumulativas - o ENTE humano evolui nesta mesma direção. O mesmo Rubens Alves é mais explicito (1984: 14-15)  quando amplia o seu pensamento: “O educador, pelo menos o ideal que minha imaginação constrói, habita em um mundo em que a interioridade faz uma diferença, em que as pessoas se definem por suas visões, paixões, esperanças e horizontes utópicos. O professor, ao contrário, é funcionário de um mundo dominado pelo Estado e pelas empresas. É uma entidade gerenciada, administrada segundo a sua excelência funcional, excelência esta que é sempre julgada a partir de interesses do sistema. Frequentemente o educador é mau funcionário, porque o ritmo do mundo do educador não segue o ritmo do mundo da instituição”. Os agentes da instituição escolar e a cultura difusa do meio social realizam, nesta linha de montagem, todos os esforços que visam construir um SER social numa arquitetura intencional que tende ao erro zero.  Esta modalidade de socialização do ENTE humano busca lograr a eficácia controlável e reversível à sociedade de sua origem unívoca da linha de montagem. Assim a instituição escolar e a cultura difusa caem num processo de endogenia da era industrial.

 

Eidos: Um enxame de mediadores, de intrusos e de mediadores que impõe alinhamento com as suas mentalidades corrompidas, pois afirmam conhecer a tudo e ameaçam, a todos, de fazer revelações surpreendentes e estonteantes.  Mediadores, usurpadores de tutela e atravessadores que se valem do  aspecto exterior (eidoz) e se prende o olhar, o observar, o imaginar, o fingir, o poder ( eidw) e que Arendt, descreve (1983, 193/4) manifestando-se: “através do aspecto exterior (eidos), a ideia da projeção ao mundo interior (ideien), se liga a da fabricação (poiesis) A imagem de permanência, antes da fabricação, e que subsiste, depois de sobreviver a todas as formas de uso possíveis, esta mesma imagem contribuiu poderosamente sobre a qualidade da doutrina platoniana das ideias eternas. Na medida em que essa doutrina se inspira na palavra ideia ou eidos («aspecto», «forma»), e que Platão foi o primeiro a usar num sentido filosófico, repousa sobre experiências de poiesis, de fabricação”. Fabricação que mal disfarçam os “Pig-Brothers” que riscaram do seu dicionário as palavras moral e ética.

 

Eficiência: As projeções derivadas das matrizes socialistas, anarquistas, nazistas e fascistas criaram uma anomia social política e econômica. No centro de cada uma delas residia o projeto subliminar da eficiência. Este projeto de eficiência, quando passou a reger os contratos no mundo prático, tornou-se imediatamente totalitária. O teórico que Greenberg percebeu e descreveu (1996: 49) a força implacável da eficiência que “no momento em que se aceita como valor absoluto a eficiência, nunca se é eficiente de forma absoluta como nunca se é absolutamente virtuosos, passando a infernar e pesar como um sentimento de culpa”. Esta implacável busca pela eficiência percebeu rapidamente o seu limite se continuasse presa ao relógio e à linha de montagem. Constrangidos os mediadores ou atravessadores do poder, mitificaram os formuladores originais e os levaram aos museus e sem deixar de transformá-los simultaneamente em “culpados de tudo” como os “grande tiranos” de sempre. Esta mitificação de eficiência foi para as imensas telas dos templos do cinema e que projetavam a cultura da primeira era industrial. Estes templos foram apenas um dos índices e uma das projeções deste escapismo de uma anormia generalizada e capitalizações da impossível eficiência total.

 

Emoção e regra: Na práxis despontam, amadurecem e se reproduzem as sementes da cultura humana a serem desenvolvidas ao longo da existência humana. Estas sementes, maduras e férteis, são transportadas para se reproduzirem em espaços novos e por tempo indeterminado.  No sentido inverso, uma vez adquirida a cultura, permite lhe usar o potencial para realizar o diálogo diferenciado com a macro Natureza, recomeçando e ampliando o ciclo do crescimento. A criatura humana vale-se da Arte para expressar o estágio deste crescimento. De Masi percebe (1997: 13)  a emoção é competente para ativar “a arte permite tanto amar a regra para corrigir a emoção (Braque) como amar a emoção que corrige a regra( Gris)” A Arte é distinta da cultura.  Porém as duas juntas fornecem um espaço de base universal para se constituir um índice de avaliação

 

 

Empirismo: Os atenienses concediam um ano para o exercício do poder. Eles acreditavam que qualquer um dos seus cidadãos, educados nas suas leis e seguindo as práticas diárias da cidade, poderia ser guindado para qualquer um dos cargos criados por eles e, o escolhido, saberia e cumpriria as funções destes cargos. Os seus teóricos tinha esta convicção a partir da íntima conexão entre empeiria e techné que o filósofo e educar Aristóteles remetia (1972, p. 212  Metafísica - I cap. I (7) )..para a consideração dos seus leitores, pois: “nós julgamos que há mais saber e conhecimento na arte do que na experiência, e consideramos os homens de arte mais sábios que os empíricos, visto a sabedoria acompanhar em todos, de preferência, o saber. Isto porque uns conhecem a causa, e outros não. Com efeito os empíricos sabem o ‘que’, mas não ‘porque’: a passo que os outros sabem o ‘porquê’  e as causas que os artistas conhecem.  Por isso há mais saber na arte (techné) do que na experiência (empeiria).  “ Nas suas concepções atuais como aquelas que Leonardo da Vinci afirmou que “tudo o que é contínuo pode ser dividido em infinitas partes”, os meios e ferramentas numéricas digitais vieram em boa hora. Vieram inclusive para reconectara a obra física de empirismo com o mundo mental.

                                         

Enigma A nova era da informação numérica digital encontra condições e uma ocasião única para fazer refluir esta compulsão concentradora da era industrial. Inclusive ela joga enigmas recorrentes e desestabilizadores como resultado do que De Masi escreveu (1997: 228) ao afirmar que: “na medida em que se admite que a criatividade é modernidade e decadência, não acumulação mas explosão emocional, afirmação de valores ao mesmo tempo a sua dissolução e desmoronamento de valores, o enigmo torna-se explicação”. Para estes desafios, enigmas e urgências a nova era da informação numérica digital oferece notáveis meios tecnológicos para fazer refluir estas energias acumuladas nestas metrópoles, para as sadias células municipais espalhadas em todos os recantos do imenso território brasileiro.

 

Ensinamento de arte: Os novos meios numéricos digitais permite reconstruir que a vida, os ambientes e as mentalidades por meio dos quais seria possível constituir um círculo de amizades sem patrulhamentos ou por intromissões indevidas de ideologias fechadas e mortas. Liberdade que promete uma vida em ambientes nos quais seja possível um constante pertencimento sem constrangimentos e a fuga do anonimato cinza urbano.  Este ideal Schiller buscava (1963, p.105) na por meio dos ensinamentos da Arte e da educação estética, pois: “existe uma bela arte da paixão; mas uma bela arte apaixonada é uma contradição, pois o efeito inescapável da beleza é a liberdade das paixões. Não menos contraditório é o conceito de bela arte com ensinamento (didática) ou corrigidora (moral), pois nada é tão oposto ao conceito de beleza quanto dar ao espírito uma certa tendência”.  Nesta paixão pela liberdade existe o longo caminho do ‘ensinar’ e do ‘aprender’ que significa APRENDER na medida do ‘compreender’ e o seu efeito do ‘ter compreendido’. Nesta compreensão encontras a impossibilidade da volta ao campo e nem o fim das metrópoles

 

Ente primitivo: Admite-se como ‘entes primitivos’  de uma narrativa os termos e os conceitos sem pretender esgotar significados e tornar o seu significado unívoco, linear, reversível e tornar simétrico o seu sentido. As Ciências exatas. estão próximas deste reversibilidade, pois todo polígono de três lados, como todo polígono de três lados é um triângulo. Concebe-se como ‘ente primitivo’ como algo sobre o qual se fala,  que está na origem de uma ciência e admitido sem definição Ponto, linha e plano são impossíveis de definir, mas com eles constrói-se a Geometria. Palavra cuja definição torna-se muito ampla, mas constitui a base de uma teoria. Na geometria é impraticável uma definição e sua transferência unívoca para o mundo real como de um ponto, de uma linha ou de uma superfície. Constituem entes primitivos desse estudo, e ao redor dos quais gira toda a construção da teoria sem que seja possível delimitar a sua natureza e a essência, muito menos a sua aplicabilidade unívoca. A maioria das histórias nacionais constrói as suas narrativas a partir do referencial e guia dos entes primitivos discursivos simplesmente delimitados pela cultura política dos governos centrais ao estilo das narrativas das dinastias dos faraós egípcios. O histórico do Poder Originário não é evidente e ardilosamente camuflado entre as linhas das narrativas estatais carentes de análise do discurso de suas próprias versões. No presente texto, poder, a autonomia, a democracia, a educação, a história, a liberdade. ...constituem entes primitivos desse estudo, e ao redor dos quais gira toda a construção da teoria sem que seja possível delimitar a sua natureza e a essência, muito menos a sua aplicabilidade unívoca. Goethe escreveu (1945: 11) que “definitivamente tratamos em vão expressar a essência de uma coisa. Percebemos efeitos sim, e uma história completa dos efeitos abrangeria melhor a essência da dita coisa. Esforçamo-nos em vão em descrever o caráter de um homem; mas se recolhermos seus atos e ações surgirão deles uma imagem do caráter”: Trabalha-se com elementos essenciais dos quais pressupõe-se uma suspensão (épokhé) da definição.  O tempo dado e o julgamento suspensos da épokhé  encontra na skholé seu espaço privilegiado de desenvolvimento. Esta suspensão de juízo possui um lugar, uma instituição no qual os juízos particulares são suspensos para se abrigarem no juízo geral do grupo humano, Bourdieu escreveu (1996 p.206) em relação a este ambiente separa como “Skolé é uma forma especial, como situação institucionalizada de lazer estudioso. A adoção desse ponto de vista escolástico é o preço de entrada tacitamente exigido por todos os campos do saber: a disposição ‘neutralizante’  (no sentido de Husserl), que implica suspender qualquer tese sobre a existência e qualquer intenção prática, é a condição - pelos menos igual à posse de uma competência específica -  de acesso ao museu e à obra de arte.”

 

Entropia a entropia e o caos andam de mãos dadas em todos os horizontes humanos e da Natureza. Arendt escreveu (1983: 313) que “a vida humana precipita-se em direção à morte e a ruina”. Na perspectiva oposta Max Bense afirma (1975 :118) que “a sua ação permite lembrar que ainda que o homem deva morrer, não nasceu para morrer, mas para renovação” . Esta ação que Schiller traduziu (1963, pp. 120/1) como:“a disposição é a fonte da liberdade, não podendo, portanto, dela nascer e ter origem moral. ... A semente [da estética] irá ter pouco desenvolvimento onde a natureza pobre irá roubar ao homem o lazer. Onde, [a Natureza for] perdulária e o libertar de qualquer esforço, é onde a sensibilidade embotada não experimenta desejos e onde a violenta avidez não encontrar alimento. A planta amorável não irá nascer do homem troglodita, oculto em cavernas, eterno isolado que nunca encontra a humanidade fora de si, nem irá nascer nos grandes exércitos nômades, em que o homem é número e nunca encontra a humanidade em si”. No domínio desta liberdade e humanidade os sistemas abertos e com energias soltas são melhor potencializadas pela lógica formal da informática numérica digital do que pelo taylorismo da era industrial. As energias mentais e físicas encontram no caos a matéria prima para os projetos possíveis e o espaço potencial para que a imaginação erga a sua criação. Mesmo as instituições mais sólidas desmancham no ar. A história do colapsos, falências e a deterioração atingem o que Giron[24] descreve o triste estado de uma instituição paulista onde se formou e lecionou Mário de Andrade.

 

Entropia e ação humana: O ENTE humano necessita construir um SER social a partir deste potencial fundo natural e da sua própria ação. Pelo seu lado natural o ser humano não  nasce social. Do outro lado morte é certa. O que o salva é a sua ação e sua renovação continuada. É o que Arendt escreveu (1983, p.313) ao afirmar que: “a vida humana precipitando-se em direção à morte levaria inevitavelmente para a ruína, para a destruição, tudo o que é humano, se não fosse permitido interromper essa corrida e de começar tudo de novo, permissão que é inerente à ação, como para lembrar constantemente que os homens, ainda que devam morrer, não nasceram para morrer, mas para a renovação”.O longo e o enorme e continuado esforço da ação humana na busca da sua adequação à sociedade, a sua e a potencialização intencional e as constantes renovações necessária, foram comprovadas cientificamente por Jean Piaget.

 

Epistemologia: Nesta História, na autêntica Ecologia nas Ciências humanas desenvolve-se  uma epistemologia que Bruyne como “um polo essencial da pesquisa no qual se situa a lógica da descoberta, como o da prova. Os pesquisadores estão na base enquanto os filósofos estão no vértice, analisando os resultados dos pesquisadores”. Resultados que iluminam as concepções que suportam e que conferem a base do Estado Nacional como resultado da criação humana no âmbito da tripla dimensão do Zeitgeist, Weltgeist e do Volksgeist. Bruyne Continua (1977 pp. 42 /3) “A epistemologia, de qualquer modo que seja definida, coloca, de certa maneira, que uma ciência da ciência é possível. Mas isso não significa absolutamente que essa ‘metaciência’  tenda para uma compreensão absoluta das ciências; deve-se antes dizer que um certo saber ligado à produção científica torna-se possível a partir da reflexão epistemológica. A epistemologia assim concedida, enquanto polo essencial da pesquisa, situa-se portanto, de imediato, tanto numa lógica da descoberta quanto num lógica da prova, o modo de produção dos conhecimentos interessa-lhe tanto quanto seus procedimentos de validação.” Ainda Bruyne  (1977: 41/2) afirma que “A epistemologia estabelece as condições de objetividade dos conhecimentos científicos, dos modo de observação e de experimentação examina igualmente as relações que as ciências estabelecem entre as teorias e os fatos.. Para discernir o papel e contribuição de uma instância epistemológica no processo de pesquisa, convém distinguir duas funções de própria epistemologia. Pode-se qualificá-la de metaciência na medida em que vem após e diz respeito  às ciências: reflexão sobre os propícios, os fundamentos, a validade das ciências. Mas ao lado desse caráter metacientífico, a epistemologia revela também um caráter intracientífico e, como tal, representa um pólo intrínseco à pesquisa científica.”. Por sua vez Ladrière, citado por  Bruyne (1977: 16 /17), sustenta: “se a epistemologia é possível, é porque a ciência já funciona e, em seu próprio funcionamento, uma certa ideia reguladora já se manifestou parcialmente. Não é possível encerra num fórmula a ideia de cientificidade, mas essa ideia já funciona e pode-se pelo menos indicar em que direção ela nos orienta. O que já aparece bem claramente é a figura de um saber  que não apenas é capaz de crescimento mas que regula as condições de seu próprio crescimento e consegue aperfeiçoar métodos de regulação cada vez mais eficazes. Estamos diante de um processo evolutivo caracterizado pela auto-organização: o que é produzido num dado momento não vem simplesmente acrescentar-se ao que já foi produzido anteriormente, mas cria condições novas que tornarão possível uma produção qualitativamente superior no futuro. O que importa, então, bem mais do que o crescimento do saber, é sua transformação qualitativa e portanto, o aperfeiçoamento dos mecanismos graças aos quais o saber se constitui.”                      

                                                           

Épokhè:. Os agentes políticos do Poder Originário encontram um apoio inédito na era numérica digital. Estes oferecem instrumentos poderosos para desmontar os interesses fundados sobre meias verdades. O objetivo claro e avaliável ao longo da prática por meio dos instrumentos numéricos digitais é desmascarar as meias verdades semeadas pelos corruptores e os corruptos. Reagir e frontalmente contra corruptores e os corruptos, na mesma medida e intensidade gera tensões e resultado imprevistos e frequentemente lastimáveis. O pensamento sábio e prudente recorreu em todos os tempos e lugares a aquilo que a cultura grega denominava de “épokhé”.  Para Bruyne (1977: 75c) nesta “parada reflexiva” antes da ação “trabalha-se com elementos essenciais dos quais se supõe uma suspensão de juízo, não se procura o núcleo de sua definição mas os fenômenos que pertencem ao objeto da nossa atenção distinguindo-os do fundo”. Outros pensadores, como Arendt, (1983 : 215), Ricœur (1999: 5), Greenberg, (1996: 244) e tantos outros reconhecem esta mesma estratégia em outras palavras. Antes deles o poeta Schiller já havia escrito (1963 pp. 97/8) que: “o homem não pode passar de modo imediato da sensação ao pensamento; ele precisa retroceder um passo, pois somente quando uma determinação é negada surge lugar para outra que lhe seja oposta. É preciso portanto, para substituir a receptividade pela espontaneidade, a determinação passiva pela ativa, que o homem, por momento, esteja livre de qualquer determinação, atravessando um estado de pura determinabilidade”. O mesmo Schiller também escreveu (1963, pp. 101 / 2 (nota)) em relação ao tema: “a disposição estética – como estado intermediário, de plena liberdade lúdica – restitui-nos as virtudes humanas enquanto meras virtualidades, pelo fato de anularem-se mutuamente as oposições da necessidade natural e da necessidade moral. Esta descrição de estado de ‘indiferença’, de neutralização mútua e indeterminação importa numa negação de feitos ou intenções imediatos de ordem moral ou religiosa, ou de qualquer outra espécie, no uso da arte. Mas ao mesmo tempo atribui à arte altíssima função educativa, ainda que indireta, visto ela restituir a liberdade de tornar-se aquilo que ele cabe tornar-se”  Em geral ao longo desta suspensão de juízo (epokhé), nesta “parada reflexiva” as meias verdades e os ecletismos forçados, não se sustentam com os seus recursos falso e saltam aos olhos de todos e expões o seu completo embuste diante de qualquer tipo de crítica.

 

Equilíbração: As energias mentais e físicas encontram no caos a matéria prima para os projetos possíveis e o espaço potencial para que a imaginação erga a sua criação. Esta elaboração é possível ao ENTE humano na medida em que o seu SER possui um núcleo solido e equilibrado e que Piaget verificou suas pesquisas e descreveu (1983  p.74) como confirmação das suas crenças:  “Eu tinha chegado a duas ideias centrais segundo meu ponto de vista, que aliás nunca mais abandonei depois. A primeira é que todo organismo possuindo uma estrutura permanente, que se pode modificar sob influências do meio mas não se destrói jamais enquanto estrutura de conjunto. Todo conhecimento é sempre assimilação de um dado exterior a estrutura do sujeito. A segunda é que os fatores normativos do pensamento correspondem biologicamente a uma necessidade de equilíbrio por auto-regulação: assim a lógica poderia corresponder, no sujeito, a um processo de equilibração”. Esta “equilibração” deriva do fato de que todo o organismo possui uma estrutura permanente que o meio modifica. O escritor mineiro,  Guimarães Rosa acrescenta (1963 : 62) que “o real não está nem no início nem no final”,

 

Equilíbrio: coloca-se o equilíbrio entre o “EU” o “TU”.  Equilíbrio que não significa um ponto médio fixo de um “NÓS” emergente entre as variadas forças e energias que compõe o campo de energias críticas do Poder Originário. Se aceita a concepção de equilíbrio do poeta Schiller, ao escrever (1963:  98)  que “os pratos da balança equilibram-se quando vazios e também, quando suportam pesos iguais.” O mesmo poeta e educador Schiller avança (1963, p. 52) em direção à excelência do equilíbrio ao humano e ao seu objetivo  de  pertencer à uma época, lugar e grupo humano onde “a tensão de forças espirituais isoladas gera homens extraordinários, mas apenas a temperatura uniforme delas os faz felizes e perfeitos”. Esta “temperatura uniforme” pode ser aceita como uma metáfora do clima gerado pela Democracia. Este equilíbrio e esta temperatura uniforme - gerados pela Democracia - agem de forma homeostática. Não possuem a esperança de um único ponto médio fixo imutável e imponderável em todos os tempos e lugares.

 

Escola: o mundo da instituição da educação formal normalmente responde pela palavra escola Aristóteles a percebe (1973: 212) como o “lugar e forma institucionalizado do lazer estudioso”. (scolh’ lugar do ócio) é o lugar ideal para a prática da suspensão dos juízos (epokhé).   O francês Pierre Bourdieu livra a escola de uma série de parasitas e sedimento culturais que se acumularam em cima dela quando a livrou (1996b: 206) do fato de “não visar nem ao prazer nem a necessidade”. Já Hannah Arendt afirma (1983: 182) que “a escola não é um lugar de consumação, mas de abstenção da atividade do trabalho e consumo. A frugalidade é sua característica”.  O mundo do educador  no conjunto dos agentes da instituição escolar buscam neste mundo da instituição é superar as suas contradições e transforma-las em complementariedades. O julgamento e a fortuna dos seus contratos afeta diretamente a cultura difusa do meio social do poder originário da nação. No entanto esta balança dos julgamentos ainda possui por fiel  a linha de montagem, todos os esforços que visam construir um SER social numa arquitetura intencional que tende ao erro zero.  Esta modalidade de socialização do ENTE humano busca lograr a eficácia controlável e reversível à sociedade de sua origem unívoca da linha de montagem. Assim a instituição escolar e a cultura difusa caem num processo de endogenia da era industrial. Na leitura ampliada de Aristóteles percebe-se  (1973 pp.212/3 Metafísica I cap.I  (11) que   “constituídas as [ciências] outras se descobriram que não visam nem prazer nem necessidade, e, primeiramente, naquelas regiões onde [os homens] viviam no ócio. É assim que, em várias partes do Egito, se organizaram pela primeira vez as artes matemáticas, porque aí se consentiu que a casta sacerdotal vivesse no ócio.” Na ampliação do pensamento de Bourdieu é possível ler (1996b  p.206) que “Um ponto de vista muito específico sobre o mundo social, sobre a linguagem ou sobre qualquer tipo de objeto do pensamento, que se tornou possível graças à situação de skholé, de lazer, da qual a escola - palavra também derivada de skholé - é uma forma especial, como situação institucionalizada de lazer estudioso”. Enquanto isto Arendt amplia (1983 p. 182) para “os lazeres tais como são concebidos atualmente não são a skholé antiga, que não era um fenômeno de consumação, evidente ou não, como também não resultava de um ‘tempo livre’ tomado do trabalho, pois se tratava ao contrário de uma «abstenção» consciente de todas as atividades ligadas à existência, atividades de consumação tão bem como atividade de trabalho. A pedra de toque desta skholé, em oposição ao ideal moderno de lazeres,  é a frugalidade bem conhecida, e muitas vezes descrita, da vida dos gregos da época clássica”. No Brasil a relação da escola com a concepção da democracia foi objeto de Dermeval Saviani[25] e escrita sob a ótica da Abertura Politica que se seguiu ao período da Ditadura Militar(1964-1979).

                                                             

Escola e indústria a mudança é particularmente visível na instituição escolar que ainda se move na mentalidade agrícola. Aa escola como instituição contemporânea visível, fez a sua estreia na passagem da era agrícola para a industrial a. Durand escreveu (1989 : 59) que a escola, na linha industrial, foi:  “a nova solução encontrada depois da destruição do artesanato e aprendizagem em guildas e atelieres na prática dos ofícios . Antoine Prost observa que a organização de escolas para a formação de artesãos e operários correspondeu a uma fase em que, com a destruição do artesanato pela indústria capitalista, e com a correlata desorganização das categorias de artesãos através da aprendizagem nos ateliers dos mestres credenciados, abriu-se a necessidade de nova solução institucional”:  Porém o mais grave foi que “ o vínculo entre Industria e Escola não aparecia aos  olhos ingênuos do liberalismo como aquilo que é:  uma forma de reprodução planejada do sistema social” na observação reveladora de Bosi ( in Mota, 1980 : III Durand, 1989 p.59 nota 9). O processo  geral foi examinado no seu aspecto histórico por José Antônio Tobias[26]  Os agentes tornam-se históricos apenas na busca de um equilíbrio na medida em que conseguem propor um projeto para romper com esta ingenuidade e a endogenia subliminar e que arrasta, por tempo indeterminado, estes projetos de bases mecanicistas e behavioristas. Caso contrário eles passa a categoria da obsolescência programada e destinados ao descarte como o professor foi percebido por Rubem Alves[27].

 

Espaço psíquico diferente do espaço relacional: uma construção criativa e única supõe, também no campo político, a informação fidedigna, um projeto coerente com estas informações e o exame permanente dos seus fundamentos e com novos desdobramentos. Este exame espelha-se permanentemente na origem de seu projeto e retorna para as razões e as etapas da sua construção. Nesta construção os biólogos Maturana e Varela distinguem (1996, pp. 60 /1) o ESPAÇO PSÌQUICO é diferente O ESPAÇO RELACIONAL que não é suficiente para explicar o psíquico, pois:  “Todo o ser vivo existe num espaço psíquico. Essa é uma afirmação ousada- Por que não dizer simplesmente: cada ser vivo existe num espaço relacional? Utilizo a expressão espaço psíquico porque quero sublinhar três coisas, a saber: as dimensões invisíveis do espaço relacional e também a extensão em todos os aspectos  da maneira de viver do organismo; que os seres humanos diferem de outros seres vivos só nas muitas dimensões de seu espaço relacional o qual está completamente centrado em conversações; e que nada  daquilo que chamamos psiquê humana esta de fato fora do ordinário. Se eu fosse fazer a afirmação contrária, dizendo que cada ser vivo existe em um espaço relacional, sem dúvida me perguntariam sobre o caráter evasivo da psiquê humana como se esta pertencesse a um domínio formal diferente, e para responder a essa pergunta iria referir-me ao que eu disse anteriormente” . O problema da diferença entre o ESPAÇO PSÌQUICO é O ESPAÇO RELACIONAL é perceptível na incoerência do projeto enunciado pela mentalidade e a competência da autoridade no espaço administrativo. É espantoso o abismo entre aquilo que autoridade sonha, enuncia e faz que acredita contraposto com aquilo que ela pratica e é perceptível no seu fazer pelo fazer para marcar o se espaço.

 

Esquecimento: Um dos processos mais subliminares para anestesiar o Poder Originário é exibir, evidenciar a fazer reproduzir a alodoxia construída com fragmentos brilhantes dos quais um povo se orgulha e que ele próprio exibe como conquista única e definitiva. Porém o objetivo último desta alodoxia é substituir e fazer esquecer o presente monótono, chato e aversivo. Freitas descreve (1996, p.24) este processo de que: “ao invés de se empenhar na conquista do futuro, refugiou-se no passado idealizando-o como uma perdida idade de ouro em que todos eram livres e felizes. Percebe-se a vantagem do mito, as novas elites urbanas dele se apropriaram e promovem através dos seus aparelhos ideológicos, o folclore, a literatura a historiografia, a poesia. Desta forma embevecidos na contemplação e recordação de um passado mítico, os homens se conformam  com  o presente, e deixam de sonhar com  o futuro” .Denunciar e inverter este processo constitui uma das primeiras mudanças necessárias.

 

Estado: Obcecado por uma visão administrativa, central e totalitária que o filosofo Hegel escreveu 1980 : 133 que é “o Estado  é que faz a nação e não a nação o Estado”. mO seu contemporâneo e conterrâneo Schiller foi mais prudente (1963: 41) na dúvida ““Será ainda muito imperfeita uma constituição de Estado que só  saiba alcançar a unidade pela negação da multiplicidade. “O Estado não deve respeitar apenas o caráter objetivo e genérico dos indivíduos, mas também o subjetivo e específico; não deve, pela instauração do reino da moralidade, despovoar o reino da aparência”.   Após dois séculos de duras experiência com o Estado hegeliano  Foucault registrou  (1995: 292) que “o homem contém o germe do Estado. Toda nação tende a um Estado. Funde os sujeitos indivíduos apesar das múltiplas diferenças. O Estado provoca amor ou horror; o primeiro gera o monstro frio, o segundo o reduz a algumas funções”. No entanto no Brasil  Buzzar enuncia (1997: 129) o equilíbrio homeostático entre estes polos extremos das forças antagônicas que oscilam entre  “a ênfase em um desses polos cria a sístole e diástole nacionais. A Primeira República coloca a ênfase na Nação. Depois da Revolução de 1930 o enfoque é sobre o Estado intervencionista”. Porem esta oscilação possui o seu preço que Foucault apontou (, 1995, p.292) que “Sabemos que  fascínio exerce hoje o amor pelo Estado ou o horror ao Estado: como se está fixando no nascimento do Estado, em sua história, seus avanços, seu poder e seus abusos, etc.. Esta supervalorização do problema do Estado tem uma forma imediata, efetiva e trágica: o lirismo do monstro frio frente aos indivíduos; a outra forma é análise que consiste em reduzir o Estado a um determinado número de funções.” A oscilação entre a culpa (ditadura Militar) e perdão (Abertura Política) só é possível na medida da concepção de que o povo é sinônimo de pobre e de desqualificado para receber a informação integral e fidedigna. O Poder Originário é bola da vez neste jogo mortal entre culpa e perdão e sem a menor chance da estabilidade permanente de sua consciência política. Nesta concepção desqualificadora o povo é pobre de corpo e de alma. O homem contém o germe do Estado. Toda nação tende a um Estado. Funde os sujeitos indivíduos apesar das múltiplas diferenças. O Estado provoca amor ou horror; o primeiro gera o monstro frio, o segundo o reduz a algumas funções. Foucault, ‘1995 : 292

 

Estado estético: a Democracia, no plano etimológico, como o governo do povo para o povo. Vista pelo lado da cidadania acompanha-se a concepção de Mary Follet (in Carvalho, 1979: 60) de que “só teremos democracia verdadeira quando os jovens não mais forem doutrinados, mas formados no caráter da democracia. Portanto o meu dever como cidadão não se esgotou naquilo que trago para o Estado. Meu teste como cidadão é quão plenamente o todo é expresso em mim ou através de mim”. No plano do projeto nacional Skinner coloca (1980: 207) a Democracia  como “ o povo planejando as contingências nas quais irá vive”. Esta mesma esperança é perceptível em Schiller no texto em descreve (1963, p. 102) as virtudes agregadores do fundo e da forma presente num estado estético:

 “não se pode chamar injustos aqueles que declaram o estado estético o mais fértil com vistas ao conhecimento e à moral. Tem plena razão, pois uma afirmação do espírito que abarca em si o todo da humanidade não pode deixar de abarcar também, virtualmente, qualquer manifestação isolada; numa postura do espírito que afasta todos os limites da totalidade da natureza humana afasta-os também, com necessidade, de todas as exteriorizações individuais. Por não proteger de modo exclusivo nenhuma das funções da humanidade, ela favorece todas, sem exceção, e se não favorece nenhuma isoladamente é por ser condição da possibilidade de todas elas”.  As virtudes agregadoras do fundo e da forma, presentes num estado estético, possuem características muito semelhantes ao questionamento e às interrogação acerca da democracia.

 

Estado industrial: Na origem do Estado Nacional esta distinção  é definida por grupos que se conhecem, interagem por meio de contratos implícitos ou explícitos. Estes se distinguem do fundo daqueles que são outros, estrangeiros e inimigos. Neste ambiente distinto do Estado como algo artificial a vista de todos, ele participa da mesma virtude da obra das artes visuais e que “não pode mentir” na concepção de Bereson. O Estado contemporâneo não pode mentir quanto á sua origem industrial. Neste sentido Arendt escreveu (1983: 375) que “na medida em que processos servem de modelo ao homo faber na época moderna, o Estado é reinventado para dar  uma forma a esses modelos dos processos”. Na medida da consciência da origem e do processo industrial o Estado Nacional guarda guardar a sua proporção e espelhar-se na célula municipal efetiva esta concepção de limite e de competência. 

 

Estado industrial e escola mesmo que se queira desmentir esta utopia - bem urdida pelo marketing - a escola e a educação formal sentem-se muito bem e continuam a funcionar nos princípios cartesianos, positivista e no behaviorismo programado de  Taylor. Para Arendt (1983,  p.375) “os processos, e não as  ideias, modelos e formas das coisas futuras, servem de orientação as atividades do homo faber da época moderna”. O Estado, nascido dentro do contexto da era industrial, emergindo do poder da burguesia industrial, construiu uma escola nos interesses e nas práticas dessa burguesia industrial. Em contraposição ao Estado do ‘Regime Antigo’, com raízes de poder nas alianças da era agrícola feudal e dominada por castas de privilégios de sangue, e que precisava de uma escola para reproduzir essa nobreza, a escola do Estado industrial privilegiava os processos industriais sobre a nobreza das ideias puras. O Estado Industrial assume a educação formal, antes a serviço do ideal da nobreza, para transformá-la em escolas nas quais são privilegiados os processos, expressos nos currículos e administrados na linha de montagem serial Há de se convir que toda nova geração necessita justificar a tomada do poder por meio de uma utopia que ela forja, alimenta e busca meios para reproduzir. Esta nova geração, quando chega ao cenário do poder do seu tempo, deseja distinguir-se da geração que a precedeu. Na Arte, o Estado Industrial assume as Academias Imperiais, a serviço do ideal da nobreza, para transformá-la  em escolas nas quais são privilegiados os processos, expressos nos currículos e administrados na linha de montagem serial.

 

Estado patrimonial: foi necessário recomeçar tudo a partir do Poder Originário. Os pequenos feudos medievais recomeçaram da base na busca de um vértice comum em o objetivo de reconfigurar o mosaico multicolorido que formavam. A monetarização das culturas levou estes pequenos estados a perceberem este vértice em comum era um Estado patrimonial. Isto é o Faoro percebeu (1975: 15) e escreveu que:  “A realidade econômica, com o advento da economia monetária e a ascendência do mercado nas relações de troca, dará a expressão completa e este fenômeno, já latente nas navegações comerciais da Idade Média. A moeda – padrão de todas as coisas, medida de todos os valores, poder sobre os poderes – torna esse mundo novo aberto ao progresso do comércio, com a renovação das bases de estrutura social, política e econômica. A cidade toma o lugar do campo. A emancipação da moeda circulante, atravessando países e economias até então fechadas, prepara o caminho de uma nova ordem social, o capitalismo comercial e monárquico, com a presença de uma oligarquia governante de outro estilo, audaz, empreendedora, liberta de vínculos conservadores” Ao acompanhar a História de Longa Duração é possível perceber que as diferentes moedas ganharam formas de mediação nas respectivas alfândegas entre estes feudos com rígidas fronteiras guarnecidos de assustadores castelos. Estas rígidas fronteiras gradativamente estabeleciam formas de comunicação e celebração de contrato. Assim é possível perceber com os Estados Nacionais, se reencontraram após um milênio da queda do Império romano.

 

Estágio anterior: na pergunta pela origem também é possível especular em relação ao “estado anterior” de uma determinada etapa O axioma do “estado anterior” pelo qual Alan Turing é considerado o pai das máquinas numéricas digitais e permitiram lhe decifrar o código da máquina ‘Enigma’ nazista. Este momento significou uma interrogação até onde poderia progredir a tecnologia da era industrial e qual a direção deveria tomar a nova era numérica digital. A “queima de etapas” da era industrial foi seguida pelas “reciclagens” da era numérica digital. Contudo esta pergunta pelo “estágio anterior” é ampla se coloca para toda a interrogação em relação a uma determinada etapa de uma civilização. Esta civilização torna-se mais evidente para a inteligência humana ser for considerada a etapa que a precedeu e o significada para o repertório de quem realiza a pergunta.

https://www.ufrgs.br/alanturingbrasil2012/presentation-RuyQueiroz-ptBR.pdf

 

Estamento. é forçoso admitir que qualquer contrato entre o País, a Nação e o Estado Brasileiro nunca existiu, ou se existe, ele é ignorado. No seu lugar instauram-se os rígidos estamentos que nenhuma razão consegue explicar muito menos entender. Neste ambiente os rígidos estamentos, vinculados apenas pela apropriação pessoal simples do poder estatal,  substituindo as classes sociais.  Nesta apropriação do poder geram, alimentam e reproduzem  conflitos permanentes com as categorias sociais e ignorando solenemente o Poder que lhes origem os mantém. A partir de Max Weber Raimundo Faoro resumiu  (1975: 46/6)que estamento “primariamente uma camada social e não econômica, embora possa repousar, em conexão não necessária real e conceitualmente, sobre uma classe. O estamento político constitui sempre uma comunidade, embora amorfa: os seus membros pensam e agem conscientes de pertencer a um mesmo grupo, qualificado para o exercício do poder. O estamento supõe distância social e  se esforça pela conquista de vantagens materiais e espirituais exclusivas.  Os estamentos governam, as classes negociam. Os estamentos são órgãos do Estado, as classes são categorias sociais (econômicas)”. Um estamento, na sua permanente metamorfose existem, provoca muitas dificuldades em percebê-lo e o conceituar uma forma unívoca e linear.  No entanto ele é absolutamente autônomo, e vive em função de si mesmo. Assim uma vez instalados no cargo os integrantes de um estamento, passam a funcionar de forma autônoma. 

 

Estrutura: Processo industrial da linha de montagem unívoca, em ciclos implacáveis e que arrastam a sociedade e a fecha na cultura da sua própria lógica. Visto pelo lado do estruturalismo o contínuo de um processo indústria é distinto das suas partes. Durkheim afirma (1983: 129) que “um todo não é idêntico à soma das partes que o constituem. É algo diferente cujas propriedades diferem do que revelam as partes de que é composto.” Nisto Piaget acompanha (1983: 38) permitindo preciosas distinções no processo evolutivo humano bem distinto das etapas escolares formais e decorrentes do processo industrial da linha de montagem unívoca.

 

Estudante o projeto que tenha a virtude de busca do êxito em fazer funcionar uma arquitetura na qual este ENTE humano materializa o processo da socialização intencional do seu SER ao longo de tempo.  Este processo se instala quando ENTE humano coloca no seu projeto SER estudante. Este modo de SER impõe-se como centro e culminância do processo educativo e a razão de existência da instituição escolar se ela aspirar a alguma coerência um elemento fundamental do Poder Originário. É o que afirmava Olinto de Oliveira o primeiro médico pediatra com tese defendida. Ele escreveu (1912: 40) o “aproveitamento dos alunos em uma escola de belas artes, mais do que nas de outros ramos, depende do talento e da aptidão de cada um”. Souza Campos registrou (1940 pp.287/8 e 1954, p. 85)  a frase pronunciada pelo Dr. Olinto em 1928  “o estudante está acima de todas as organizações escolares”. Na América Latina o estudante universitário foi objeto de estudos específicos[28] ou de instituições  que viu de fato na sua frente[29].  As causas colocadas pela escola formal no processo para atingir esta socialização e qualificação do seu estudante constituem elementos fundamentais para o Poder Originário.  A criação humana da escola formal constitui um suporte para esta eficácia. Ela atingirá esta eficácia esperada não só pelo controle, como pela liberdade, autonomia e dignidade que ela exigir do seu estudante. O controle entre causa e o efeito não pode abdicar da criatividade.

 

Etapas ao Brasil não adiantou desfazer-se do Regime Colonial lusitano ou imperial. Estes regimes foram substituídos pelo conceito de etapas ao longo do Regime Republicano. Estas etapas segundo Mota, (1980: 239)  levaram ao:  “dualismo, a visão em etapas do processo econômico e cultural, a rigidez dos conceitos para entender as variações de uma sociedade de massas, que veio a substituir os quadros de oligarquia, não bastam e não  bastaram  para enfrentar  tão complexo tema”  Apesar deste dualismo subliminar, o que se propõe, aqui, é o protagonismo do político para transformar as contradições e complementariedades. Protagonismo que se competente para enxergar por cima das muralhas das contradições e das grades das mansões dos encastelados nos bens materiais. Protagonismo que se faz solidário com quem vive no isolamento físico e sob os pobres tetos das favelas

 

Eternidade: tutelas, mediações e intermediações invadem todos os campos e saberes humanos que ignoram suas próprias competências e limites. Pior: naturalizam ou mitificam estas observações empíricas ou projetando utopias sem pé nem cabeça. Na mitificação somos convidados para a heteronímia da simples contemplação. Contemplação que admite o conceito e a prática da eternidade. Hannah Arendt  coloca (1983 p.56) neste  conceito e prática de  eternidade  “o que importa, é que a experiência do eterno, em oposição aquela da imortalidade, não corresponde e não pode dar lugar a nenhuma atividade: mesmo a atividade mental que se segue em nós com a ajuda das palavras é incapaz de exprimi-la, ao contrário só serviria para interromper e arruinar a experiência (do eterno) em si mesma”. O trabalho e ação humana buscam superar esta contradição entre Natureza e o ideal da Eternidade De um lado a Eternidade não abdica das exigências rigorosas para entender o ideal inatingível. No mundo atingível a autonomia dos campos sociais, políticos e administrativos não pode retornar às exigências da Natureza implacável nos seus vorazes ciclos que devoram a tudo e a todos.

 

Eternidade distinta de imortalidade: acredita-se que não é possível uma avaliação sem o projeto graças ao qual vida humana tomou forma e decorrem, pautam e se reproduzem as suas ações. Ações consequentes com projetos e sem o escapismo da eternidade, na qual a “teoria ou «contemplação»  designa a experiência do eterno, diferente de outros que podem , mais ou menos, dizer respeito a imortalidade”. Na concepção expressa (1983: 56) por Hannah Arendt. Concepção de eternidade distinta do conceito de  imortalidade que é buscada pela polis, sendo que a ruína da polis a joga para a eternidade Trabalha-se no plano político para adiar o mais possível a ruinas da polis. Nesta convicção o autor trabalha para que os novos e potenciais equipamentos disponíveis tenham êxito no reforço do tecido social para que este ganhe consistência e corra menos riscos de se romper. No Brasil o tema da busca da imortalidade foi tratado por Abreu(1996)[30]

 

Ethos: os próprios portugueses tiveram casos em que os colonos lusos, que se fixaram no Brasil, aderiram aos costumes indígenas, chegando às raias da antropofagia ritualística. Costumes que agem no interior de hábitos. Esta palavra que Aristóteles descrevia (1973: 267) “o “hábito (e q w z) dá origem a palavra ética  (h q i k h)” . Hábitos antigos que necessitam ser atualizados, os disfuncionais descartados, os necessários e coerentes para o novo tempo e lugar adotados  pelas gerações nascidas, que se criaram no Brasil e que naturalizaram as suas culturas  Desconhecer e passar por cima desta realidade e também insistir um mero hábito de formalismo de marketing a ser repetido por tempo indeterminado num progresso linear permanente.

 

Ética (hqikh’): Enquanto perdurar apenas a quantificação numérica, o Estado jamais irá chegar até um grau mínimo de cidadania.  O indivíduo condicionado e abastecido por esta política populista passará o resto da sua vida na mais absoluta e confortável heteronímia e dependência. Como resultado a criatividade e o potencial do indivíduo estarão destinados ao cemitério. De outra parte o populismo e rebanho atropela a ética ((hqikh’) para quem  Varela reserva (1995: 13) o papel de “ estar mais próxima da sabedoria do que da razão, mais próxima da compreensão de que coisa deve ser o bem do que da formulação de princípios corretos” esta concepção que Shusterman transfere( 1992: 223) para a Arte na qual “essa reflexão deve incluir o outro para gozarmos uma perspectiva mais abrangente. Essa virtude é adquirida mediante o exercício tal qual sucede como na  arte”. Aristóteles reforça (1973: .267) “a virtude é adquirida como resultado do hábito, donde ter-se formado o seu nome (hqikh’) por uma pequena modificação da palavra e q o z (hábito). As coisa que nos vêm por natureza, primeiro adquirimos a potência e mais tarde exteriorizamos os atos. Com as virtudes dá-se exatamente o oposto: adquirimo-las pelo exercício, como também sucede com as artes.” O altruísmo não exclui etnia, idade, condição social, cultura e econômica. O filho do cidadão abastado não precisa ser excluído da escola ou da saúde pública quando indivíduo for pensado a partir dele em direção ao Estado. Este trânsito entre Estado o cidadão singular Maturana e Varela o remete (1996: 209) para a linguagem, pois “Todo ato humano tem lugar na linguagem. Todo ato na linguagem leva pela mão o mundo que se cria com os outros no ato de convivência que dá origem ao humano; por isso todo ato humano tem sentido ético. Essa vinculação do humano ao humano  é, em resumo, o fundamento de toda ética como reflexão sobre a legitimidade da presença do outro” Em outro lugar do mesmo texto (1996:.208) Maturana e Varela afirmam que, “na ética o central é que o verdadeiro assumir a estrutura biológica e social do ser humano  equivale a colocar no centro a reflexão de que este é capaz, e o que o distingue Equivale  buscar as circunstâncias que permitem tomar conhecimento da situação na qual está - qualquer que esta seja - e olhá-la a partir de um perspectiva mais abrangente,, com um verto distanciamento. Se sabemos que o nosso mundo é sempre aquele mundo que temos na mão junto com o outro, cada vez que nos encontramos em contradição ou oposição com outro ser humano, como qual queremos conviver, nossa atitude não pode ser a de reafirmar o que vemos desde o nosso próprio ponto de vista, senão o de verificar que o nosso ponto de vista é o resultado de um acoplamento estrutural no domínio experimental tão válido como o do nosso oponente, ainda o dele nos pareça menos desejável. O que então caberá, será a busca de uma perspectiva mais abrangente, de um domínio onde o outro também tenha lugar e no qual poderemos construir um mundo com ele”. Os mesmos  Maturana e Varela afirmaram (1996 : 206) “equivale a colocar no centro da reflexão o que o ser humano é capaz e o que o distingue”. A palavra final merece ser dada para Aristóteles  quando afirmou (1973 : 267) que “todo ato humano tem sentido na ética na medida em que se cria o mundo com os outros”.

 

Ética semelhança com estética: Os agentes do executivo, legislativo e judiciário, possuem referencias nesta temática coletiva para ordenar o funcionamento dos respectivos mecanismos do Estado nacional. A ética do seu funcionamento se parece em muitos com a estética pois tanto a arte como a ética possuem o mundo como cenário. Ambas remetem ao «místico». Ambas buscam a felicidade. O teórico Richard Shusterman amplia (1992   pp. 233/4) esta semelhanças a partir de Wittgenstein “numa breve observação entre parênteses, na proposição 6.421 do Tractatus Lógico-Philosophicus, Wittgenstein afirma que  « ética e estética são uma só». A identificação de ética à estética ali parecem efetuados em nome de três considerações: Primeiro, as duas olham as coisas sub specie-aetrenitatis: «do exterior», « de tal maneira que elas possuem o mundo inteiro como cenário». Na estética, « a obra de arte é este objeto visto sub specie-aeternitatis. Segundo, a ética e a estética remetem ao reino do «místico», não só porque suas asserções (que não são proposições nem empíricas nem lógicas) remetem a o indizível, mas porque elas adotando essa perspectiva global que Wittgenstein associa ao domínio do místico. Terceira, todas as duas se ocupam principalmente da felicidade. Da mesma forma que «o ponto de vista estético sobre o mundo consiste essencialmente na contemplação do mundo por um olhar feliz» pois «arte é serena», da mesma forma a ética pode se reduzir a ser «feliz ou infeliz: eis tudo. Pode-se dizer: não existe nem bem nem mal» .Apesar de um texto soar como um mundo de contradições com os argumentos desenvolvidos até aqui, o dito acima permite também permite complementariedades. Porem é necessário afasta o perigo maior que é o da estetização da política e o fatal populismo marqueteiros e proselitista.  Contrariando o misticismo e estetização o Poder Originário, que se apregoa aqui, possui infinitos paradigmas e é constituído politicamente pela sociedade civil organizada.

 

EU: a tendência comandada pela Natureza que conduz os projetos e os esforços humanos dos vetores do “EU” e do “TU”  ao caminho da entropia e ao caos universal, que dissolvem as condições e as circunstâncias da Democracia. A concepção naturalizada do EU para Habermas é um erro quando argumenta (1973: 56) que “a noção de que o pensamento pressupõe a unidade transcendental do EU é tão falha, ontologicamente, quanto a suposição de que a geração de objetos estéticos implica a unidade criativa do sujeito”. Nesta concepção Hannah Arendt escreveu (1983: 322) que “uma tendência persistente da filosofia moderna, depois de Descartes, talvez a sua contribuição a mais original para a filosofa, é o cuidado exclusivo do EU, por oposição à alma, à pessoa, ao homem em geral, a tentativa de redução total das experiências que se desenrolam entre o homem e seu EU.. Não é a alienação do EU, como acreditava Marx, que caracteriza a época moderna, é a alienação em relação com o mundo”   Os biólogos Maturana e Varela elucidam (1995:.4) e distinguem “o que chamamos ‘EU’, nós mesmos, pode analisar-se como resultante das habilidades linguísticas recursivas do homem e da sua capacidade única de autodescrição e narração... Se o ‘EU’ narrativo se constitui necessariamente através da linguagem, consegue que o Si mesmo pessoal esteja ligado à vida, ao passo que a linguagem só pode operar como fenômeno social” Nesta direção linguística uma das muitas façanhas do artista poeta Fernando Pessoa (1888-1935) foi realizar o transito poético ente o EU UNO para o TU MÚLTIPLO através dos HETERONÔMIOS. A grande contribuição do artista criador foi ser capaz, de no seu LIRISMO, contornar tanto o NÓS como a EPOPÉIA descritiva de outro. Com estas estratégias poéticas o criador lusitano manteve a autonomia e coerência entre o EU, o TU e o NÓS. Porém nenhum deles é estático, fixo, definitivo e incomunicável. Isto foi observado também pelos cientistas Maturana e Varela, ao escreverem (1995: 4) que “olhando os fundamentos do nosso ser vivo podemos  observar os fenômenos sociais e retornar ao núcleo do EU”.

 

Expressão: a conexão entre poder central e célula municipal passa pela expressão humana que é potencial sem idade e ultrapassa códigos falados e escritos. A criatura humana pode-se valer desta expressão em qualquer, cultura tempo e lugar. O poeta Goethe escrevia (1945: 11) que: “definitivamente tratamos em vão expressar a essência de uma coisa. Percebemos efeitos sim, e uma história completa dos efeitos abrangeria melhor a essência da dita coisa. Esforçamo-nos em vão em descrever o caráter de um homem, mas se recolhermos os seus atos e ações surgirá deles, uma imagem do caráter”. Esta imagem se tornará particularmente viva e nítida, se observarmos esta criatura, ou coletividade, mergulhada e reagindo perante dificuldades. Chartier constata (1998: 96) isto quando “a tensão inventiva dos indivíduos ou comunidade face aos constrangimentos, normas e convenções revela o que lhe é possível pensar, enunciar e fazer”. Basta prestar atenção ao papel dos editoriais dos jornais que tratam normalmente de constrangimentos, normas e convenções de uma coletividade. Os editorais dos periódicos, podem serem apropriados e potencializados na era da informática numérica digital.

 

Executivo: muitas vezes o executivo é parte mais visível e é acusada como o “culpado de tudo”. Ele funciona como o segmento do poder do governo na interação com o seu Poder Originário No regime republicano a figura do presidente possui o seu similar e, muitas vezes, a própria sua origem nos partidos que adotara o presidencialismo como principio. Assim a pessoa do seu presidente também é potencialmente o vértice da autoridade partidário. O fórum destes presidentes nacionais de partidos representaria a convergência da sociedade organizada e se configuraria o espaço natural de interlocução do povo e da nação. Na sua conexão este fórum apontado, aqui, como o vértice qualificado com o qual o executivo, o legislativo e o judiciário nacionais teriam uma sólida plataforma permanente se atualizarem e para negociar. A maioria das instituições republicanas age neste ideal.

 

F

 

Fake-lore x Folclore:  toda nova geração necessita justificar a tomada do poder por meio de uma utopia que ela forja, alimenta e busca meios para reproduzir. Pode-se pensar num autêntico “Fake-lore” que Oliven descreve (1992: 23) como “a palavra folk, isto é povo, é substituída por fake, isto é ‘falso’. O Fake-lore aparentemente preenche uma necessidade psíquica nacional, a saber: afirmar nossa identidade nacional, especialmente num tempo de crise, e instilar orgulho nessa identidade”. Caso esta nova geração, quando chega ao cenário do poder do seu tempo, mesmo que não outro argumento inventado o disseminado no “Fake-lore”, no mínimo deseja distinguir-se da geração que a precedeu. O pesquisador Vilhena[31]  precedeu uma amarga varredura por meio de  uma  visão crítica   no sentido das autênticas buscas do Folclore como Ciência e o sentido atual destas buscas.

 

 Fatos:, tutelas, mediações e intermediações invadem todos os campos e saberes humanos que ignoram suas próprias competências e limites. Pior: naturalizam ou mitificam estas observações empíricas ou projetando utopias sem pé nem cabeça. “Os fatos em si mesmo não possuem sentido e são como pedras no caminho” escreveu Luís Fernando Veríssimo (1998: 12). Fatos neutros, mas passiveis de mitificados e assim somos convidados para a heteronímia da simples contemplação. 

 

Fazer: a memória da desqualificação é infensa a qualquer mudança quando colocada no vértice de uma sociedade corrompida no seu cerne. A permanência desta desqualificação é mais forte na medida em que o novo grupo no poder disseminar, na cultura do seu povo, a convicção ingênua de que o FAZER consiste em que “governar é andar a cavalo pela fazenda”. Hannah Arendt percebe (1983: 194 /5) que “o processo do fazer é em si mesmo inteiramente determinado pelas categorias do fim e dos meios. O objeto fabricado é um fim neste duplo sentido, que o processo da produção ali se conclui e apenas existe que um único meio  de produzir esse fim” No seu FAZER o novo grupo instaura a tradição de que o espaço do poder é a sua herança e o seu fim. Este FAZER gera, mantem e reproduz o mito herdado da autoridade e, que, na maioria das vezes acaba apenas “FAZENDO BESTEIRA”.

 

Felicidade os regimes totalitários realizaram trabalhos gigantescos, mas também causaram desgraças monstruosas. As pirâmides egípcias ou a muralha da China foram frutos de imensa coerção social provocada pelo gigantismo desmesurado do Estado, e que, no seu final, arruinou os seus próprios criadores. Com as lanças ou as baionetas, dá para fazer tudo, menos ficar sentado confortavelmente em cima das suas pontas. No contrário “a felicidade é a formação equilibrada de todas as forças humanas” nas sintéticas e sábias palavras de Schiller, o autor da ode à Alegria da Nona Sinfonia de Beethoven.

 

Fetichismo na lógica de circulação do sistema de dominação acumulativa completa, a era industrial desativou e desqualificou qualquer proporção humana construída ao longo da era agrícola. No seu lugar instalou, fez funcionar e reproduzir um vigoroso fetichismo. O pensador brasileiro Ianni resumiu (1992: 11 /2) afirmando que: “depois de mostrar como o valor de-uso esconde o valor-de-troca e ambos escondem o valor-de-trabalho, de mostrar, por tanto. que a mercadoria é trabalho social cristalizado e alienado, Marx se dedica a examinar o seu fetichismo. Isto é, se queremos encontrar uma analogia com este fenômeno, precisamos elevar-nos às regiões nebulosas do mundo da religião, onde os produtos da mente humana assemelham-se a seres dotados de vida própria de existência independente, mantendo relações entre si, como com os humanos”.  A linha de montagem e as máquinas, com esta “aparente vida própria” trabalhando em escala industrial, destruíram esta proporção construída do contato humano íntimo do ritmo da Natureza.

 

Ferramenta distinto de máquina: A linha de montagem e as máquinas, com esta “aparente vida própria” trabalhando em escala industrial, destruíram esta proporção construída do contato humano íntimo do ritmo da Natureza. Esta distinção também é de Hannah Arendt ao escrever (1983  p. 200) que “a ferramenta a mais refinada permanece ao serviço da mão que não pode nem guiar nem substituir. A máquina, a mais primitiva, guia o trabalho corporal e eventualmente pode substituí-lo de fato”. A ferramenta é típica da criatura humana ainda próxima da Natureza incluindo o agricultor. Já a máquina exige uma “aparente vida própria”.

 

Filosofia e Literatura: A leitura restrita ao mínimo das necessidades básicas, impede qualquer ruptura epistêmica e incapaz de deixar um espaço conceitual para um autêntico e coerente Poder Originário.  O conceitual apropriado necessita preparação e correção para produzir algo de útil. O intelectual Danto afirma (1993: 204) que “a filosofia é pois literatura tanto mais que entre as condições da verdade figuram aquelas pelas quais ela é lida: ler tais textos supõe revelar o que nós somos em virtude da nossa leitura”. As buscas desta literatura tendo por objeto a Filosofia e usando como ferramenta a sua História no Brasil resultou numa das obras de Vita[32].Afinal somos aquilo que lemos.

 

Força diferente de violência: Neste cenário desolado de anormia individual e coletiva é necessário distinguir o conceito de violência daquele de força. Segue-se Hannah Arendt no seu caminho (1983, p. 263) para distinções: “Coisa assaz curiosa, a violência destrói mais facilmente a potência do que a força, e se a tirania é sempre caracterizada pela impotência dos sujeitos, que perderam a sua faculdade humana de agir e falar em conjunto, ela não é caracterizada obrigatoriamente pela fraqueza e pela esterilidade, ao contrário as artes e os ofícios podem se expandir, se o tirano é assaz «benevolente» para deixar seus súditos tranquilos nos seus isolamentos”. Para agir na desqualificação deste povo e se apropriar dos seus valores este predador vale-se de envolventes sistemas subliminares. Joga o Poder originário do seu isolamento físico em células habitacionais invioláveis, o cerca de uma parafernália da aparente conforto físico ao corpo e para a mente exausta oferece todo lixo e kitsch cultural coletivizante.

 

Forma: Antes de qualquer busca de proporção, há necessidade visual do conceito de forma. Forma é o terreno permanente das artes. Nelas o teórico Wölfflin percebe (1990:  874) duas concepções distintas. Para ele “a forma é uma noção ambígua nas artes visuais: ela designa ali tanto a configuração do objeto representado como elementos e o sistema do qual se serve para dar conta dos objetos”. Assim a forma do Estado pode-se materializar no seu tamanho físico e todo Estado luta para demarcar fisicamente, possuir e manter o espaço da sua ação. Esta ação vale-se de todo o sistema humano e ideológico para atingir os projetos da nação que se encarnou físico e relacional humano possível nesta forma.Todos conhecem os nefastos estragos das escolhas equivocadas da proporção realizadas a partir do espaço físico e relacional humano possível nesta forma do Estado.

 

Fractal: Nesta era da informação numérica digital a pessoa humana possui uma visão e uma percepção planetária diferentes dos seus antepassados.  Neste novo meio numérico digital a concepção de fractal de um todo é mais fácil. Conforme Leygonie escreveu (1994: 142) que a concepção de fractal foi: “descoberta em 1903 por Von Koch e redescoberta em 1975 por Mendelbrodt. Na topologia, o desenho do litoral (exemplo Grécia) e manchas reproduzem e sugerem essas características. Uso o conceito fractal na  história no sentido de que não existe uma linearidade possível nos fatos observados e que cada fato institucional repete características do todo. Esta curva não mensurável pelo método da retificação. Nenhuma das suas partes é diferençável. Constitui-se, entre outra propriedades, de uma dimensão não inteira entre 1 e 2. Assim fica entre uma linha e uma superfície”. Esta percepção e aplicação do fractal  permite expressar inclusive as lições provenientes do mundo de alguém que se criou e viveu nas cidades italianas do Renascimento.

 

Franquia no discurso é possível usar um repertório comum e próximo que favorecem a busca de forças e bases competentes no paradigma - que ora se apresenta - para celebrar contratos postos em exames continuados e em tempo real. De certa forma pode-se falar numa ‘franquia’ no sentido que lhe imprime Hannah Arendt  diante da política da Grécia Clássica quando ela escreveu(1983, p. 291) que “na República, o rei-filósofo, aplica as ideias como o artesão suas regras e medidas; ele «faz» a sua cidade como o escultor sua estátua; e para finalizar, as ideias na obra de Platão, tornam-se leis que apenas é necessário colocar em prática”. Certamente é possível valer-se do termo contemporâneo ‘franquia’ e fazer conexões entre os conceitos atuais e os bem mais antigas como da Grécia Clássica e aplicações do que este termo é portador. No entanto não se aceita aqui franquia  no sentido que lhe confere uma organização concorrencial. Esta concepção não cabe, segundo Marilene Chauí, pois ela defende (2001: 2.) a concepção de que uma instituição possui outra teleologia imanente do que uma organização concorrencial comercial do mundo capitalismo adiantado.   A célula municipal apresenta agilidade e viabilidade para examinar o acervo das potencias franquias legais institucionalizáveis, realiza contratos, controla e avalia em tempo real. Estes contratos ágeis, sob olhar de todos e avaliação continuado na sua execução, são significativos, pois materializam as aspirações da sociedade civil organizada do município.


G

 

Genealogia, arte e política: Uma sociedade organizada exibe uma bela genealogia e que se evidencia no contraste das mazelas, das recorrentes corrupções e na mentalidade apenas atenta para socializar prejuízos e embolsar lucros. Para perceber este contraste é indispensável um paradigma no qual está inscrito o código genético da liberdade, da civilização e da coerência com o aqui e agora. Nas artes o esteta Pächt escreveu (1994: 123) que  “da mesma maneira que na biologia existe uma ontogênese e uma filogênese, as relações entre indivíduos, que participam de uma evolução estilística, são considerados como relações de parentesco; traçamos a genealogia de uma arte ou de uma personalidade artística, de um ponto de vista biológico, com antepassados e posteridade artística, A pesquisa genealógica, sob a forma habitual de  uma dedução genética das correntes artísticas, torna-se uma das preocupações essenciais de nossa disciplina, principalmente porque a história da arte e de sua «evolução» não há distinção ou exceção ao princípio de causalidade que faz depender uma obra da arte de uma outra, desconhece o fenômeno da partogênese e considera que as criações artísticas, as mais originais podem constituir o objeto, apesar das simples transformações progressivas, de uma dedução genética’. Com pouco esforço é possível ampliar este projeto, para a política e administração pública e particular.  Sem qualquer determinismo preliminar - fundado em férreas grades de causalidades ideológicas - é possível suscitar  motivações individuais e coletivas para empreender e a sua execução e uma avaliação coerente com o projeto com o seu tempo e o seu lugar numa cultura de uma sociedade organizada.

 

Gênero, arte e política: na segurança e estabilidade é necessário colocar a Politica acima de partidos. Estes por sua vez, vindo do Poder Originário, prosperam neste horizonte no qual seja possível ter um panorama do bem geral. Como Arte está em quem a pratica e não naquilo que produz, a autêntica Politica está em quem a a cria, conduz e reproduz e não em gêneros que Aristóteles configura (1973, p. 14 Tópicos-I.5 [102]) como  “ gênero é aquilo que se predica na categoria de essência, de várias coisas que apresentam diferenças específicas”. Este mesmo conceito Willy Corrêa de Oliveira (in Barbosa, 1993: 37) transfere para a Arte na qual “hoje os gêneros já não causam desavenças. Decisivo é o ato de fazer: o gosto, não o discutimos mais. Imersos no irenismo os autores do Organon são complacentes com todas as vocações-limites. Importa a arte e não o gênero no qual a arte vai se expressar”. Importa a Politica e não com a política irá se expressar. Na medida em que coloca a Politica acima de partidos, qualquer contrato não pode incluir ingerências indevidas. Nem mesmo das fontes do financiamento destes partidos. Um partido necessita a fonte do Poder Originário para a sua autonomia econômica e sem favorecimentos ou contrapartidas governamentais de qualquer um dos três poderes. Se examinarmos os vôos curtos dos partidos brasileiros, certamente irão despontar os seus conluios obscenos com governos transitórios.

 

Gênio: A mitificação do nome individual possui uma longa história na cultura ocidental. Ganhou notoriedade e estatuto no Renascimento Italiano. Estra fabricação dos “gênios” Hannah Arendt descreveu (1983: 271/2) a forma mais visível nas artes “a frustração da pessoa humana, inerente a uma coletividade de produtores e ainda mais a uma sociedade de comerciantes, encontrou sua melhor forma de expressão no fenômeno do gênio que, do renascimento ao fim do século XIX parecia o ideal supremo dos tempos modernos. Foi somente no início do nosso século que os grandes artistas, com uma surpreendente unanimidade, começaram a protestar contra o nome «gênio», para insistir no ofício, na competência e nas relações entre arte e artesanato”. Porém não bastou a voz uníssona, mas solitária, dos artistas contra este alfinete nas suas costas identificando-os como “gênios”. nas paredes dos museus e nas gavetas e  prateiras.  Este protesto foi abafado pela voz e o alarido das multidões e que vinha a encontro dos interesses dos mediadores, tuteladores e atravessadoras das obras destes “gênios”. Na política a aconteceu o algo semelhante. Existem os candidatos com um nome forte e bons de voto popular. Diante destes cenários é forçoso admitir que um  contrato sério e coerente entre País, a Nação e o Estado Brasileiro nunca existiu, ou se existe, ele é ignorado a favor do nomes fortes e bons de votos, mesmo que o nome fosse de bicho famoso ou de palhaço engraçado e simpático para crianças.

 

Guardiões da memória: os grandes teóricos passam soberanos e impávidos sobre, ou ao lado, destas “miudezas” confrontadas com as gloriosas e universais doutrinas que fazem e programam as suas mentes. Reproduzem o centralismo e a iniciativa já consagrada e coroada por prêmios metropolitanos. Estes soberanos e impávidos guardiões da memória, em permanente conflito e excomunhões reciprocas em relação ao que “o que bom para o povo” foram identificados por Oliven, quando ele escreveu (1992:.20) que “a construção de uma memória nacional e uma identidade nacional, longe ser consensual, está ligada aos grupos que são vistos como detendo o poder e autoridade para se erigirem nos guardiães da memória.”  A única e a mais eficaz alternativa - que resta o Poder Originário - é libertar-se destes soberanos e impávidos guardiões da memória e contrapor-lhes a instauração de um sentido próprio de identidade. Na medida em que o Poder Originário ingressa numa cultura decorrente da era da informação eletrônica numérica digital, o imenso território abandonado - ou degradado pela era industrial - volta a ter sentido e qualidade de vida.

 

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Hábito (e q o z ): a fortuna da travessia ou as eventuais tragédias, e as perdas decorrentes, se traduzem em ganhos ou perdas. Elas resultam das deliberações, decisões e escolhas realizadas na “arte do piloto” (kupernites) e autonomia da vontade de um comandante ou de um piloto solitário. Estes rochedos entre a opinião alheia, petrificada pelo hábito, e dura realidade da Natureza implacável exige a perícia da “arte do piloto” (kupernites) para achar a rota entre estas duas muralhas irregulares e cheias de surpresas. Aristóteles percebeu (1973:  243.Metafísica II cap. III (3). A  “arte do piloto” (kupernites) no próprio discurso humano e a necessidade de tomar decisões autônomas que contrariem os dois lados “A força que possui o hábito, (e q o z ) mostram-no as leis, nas quais o fabuloso e o pueril têm, pela força do hábito, maior poder do que o conhecimento das mesmas. Assim, uns, se alguém não emprega uma linguagem matemática, não aceitam as suas afirmações; outros, se não se serve de exemplos; outros querem tudo rigorosamente [demonstrado] e outros não querem saber de rigor, ou por não o poderem compreender, ou pelo receio do palavreado. O rigor, tem, com efeito, um pouco disto, por forma que se afigura a alguns como menos próprio, quer nos contratos, quer nas discussões.” Ninguém manda em ninguém na hierarquia primitiva do bando cuja cultura está muito distante destes requintes retóricos e metafísica. A falta distinções e de hierarquia dispensa qualquer projeto coletivo unívoco e linear do exercício administrativo de um governo com a “arte do piloto” (kupernites).

 

Habitus: O administrador público, ou particular, bem intencionado busca o bem comum. Para tanto presta intensa atenção, faz cumprir e avalia os contratos coletivos antes, durante e após qualquer ação. Ele age num campo que o “habitus” insiste em condições nas quais fluem as energias diferenciadoras e libertárias e em condições próprias e distintas dos contratos coletivos pontuais. A sabedoria do administrador é aproveitar estas energias do   “habitus” para dar um sentido a esta  força coletiva, inclusive para constituírem um grande organismo nacional, sem se confundir com ele.  Neste organismo nacional no qual terão de conviver, modificar e qualificar.  Organismo nacional no qual persiste o que Pierre Bourdieu denominou (1994:.99)  “habitus não é outra coisa do que a lei imanente, lex insita inscrita nos corpos por histórias idênticas, que á condição não só da harmonização das práticas mas também das práticas harmonizadas” A lógica formal da concepção de cidadania, da democracia e do trabalho pede mais flexibilidade neste “habitus”. No grande organismo nacional as ações diferenciadas do “habitus” nacional impõe atenção, tempo e lógica para a convivência, eventuais modificações e para qualificações da era numérica digital, coerentes com o espaço e com o tempo.. Bourdieu, amplia a concepção “habitus” quando escreveu (1996b: 158) que ele é 0 “princípio gerador e unificador que retraduz as características intrínsecas e relacionais de uma posição, em um estilo de vida unívoca, isto é, num conjunto unívoco de escolhas de pessoas, de bens e de práticas” Bourdieu aproxima (1994 pp. 88/9) a concepção “habitus” aos  “condicionamentos associados a uma classe particular de condições de existência produzem os habitus, sistema de disposições duráveis e transponíveis, estruturas estruturadas predispostas a funcionar como estruturas estruturantes, quer dizer enquanto que princípios geradores e organizadores de práticas e de representações que podem ser objetivamente adaptados ao seu objetivo sem supor a representação consciente de fins e o domínio expresso das operações necessárias para atingir, objetivamente «reguladas» e «regulares» sem ser  absolutamente o produto da obediência a regras, e, tudo isso, sendo orquestrado coletivamente sem ser o produto da ação organizadora de um regente de orquestra” Bourdieu em outro texto (1996b: 158) elucida a etimóloga da palavra “habitus é o que foi adquirido, do verbo habeo, devia significar muito concretamente que o princípio das ações ou das representações e das operações de construção da realidade social, pressupostas por elas, não é um sujeito transcendental, envolvendo categorias universais[...}. É o habitus, como estrutura estruturante, que engaja, nas práticas e nas ideias, esquemas práticos de construção oriundos da incorporação de estruturas socais oriundas, elas próprias, do trabalho histórico de gerações sucessivas.” Para o mesmo Bourdieu (1996b, pp. 21/2) o efeito do “Habitus é esse princípio gerador e unificador que retraduz as características intrínsecas e relacionais de uma posição em um estilo de vida unívoca, isto é, em um conjunto unívoco de escolhas de pessoas, de bens e de práticas”.

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Habitus e História: os ardis que encobrem o Poder Originário geram os mistérios que ocultam o seu fluxo, a sua potencialidade e a sua natureza. Porém eles se evidenciam para a História naquilo que Pierre Bourdieu denominou de “habitus”. Ele escreveu (1994: 91) que o “produto da história, o habitus produz práticas, individuais e coletivas, portanto história, conforme esquemas engendrados pela história; ele assegura a presença ativa de experiências passadas que, depositadas em cada organismo sob a forma de esquemas de percepção, de pensamento e de ação, tendem, mais eficazmente do que todas as regras formais e de todas as normas explícitas, garantir a conformidade das práticas e sua constância através do tempo”. Para redescobrir, e evidenciar o Poder Originário impõe-se enxergar por cima da “escravidão voluntária” inculcada  pelo “habitus”  seculares de uma heteronímia e um dos obstáculos subliminares.

 

Herói: Necessita de um projeto que tenha a virtude da busca do êxito em fazer funcionar uma arquitetura na qual este ENTE humano materializa o processo da socialização intencional do seu SER ao longo de tempo. No entanto esta arquitetura social não possui o menor êxito e sentido de o SER revelar o seu ENTE, mesmo que sejam expostos os seus atributos no espaço publico como herói ou imortal ao olhar de todos. Isto Hannah Arendt registrou (1983: 244) como. “Quem é, ou quem foi alguém, não o sabemos a não ser conhecendo a história da qual ele é o herói- dito de outra forma - a sua biografia; todo o resto do que sabemos dele, incluindo aí a sua obra que deixou nos diz somente o que ele é ou o que ele era”. Este processo esta em cheque continuado quando o ENTE humano coloca e instala o seu projeto de SER estudante. Diante da gravidade desta escolha este modo de SER estudante impõe-se como centro e culminância do processo educativo e a razão de existência da instituição escolar. Parte-se do pressuposto de que esta instituição, possua, honra e aplique o seu projeto pedagógico. Especialmente no ponto do seu projeto no qual se ela aspira a alguma coerência um elemento fundamental do Poder Originário.

 

História: os fatos que chegam ao conhecimento coletivo são aqueles mais dramáticos aos sentidos humanos. Dai a importância da Arte como índice sensorial dos objetivos e dos objetos de uma civilização dada da cultura humana. Arte em companhia da História, que Marc Bloch (1976 : 30, 60) “situa-se entre o tempo que continua e ao mesmo tempo muda gera problemas de investigação”. Mar Bloch (1886-1944) esteve na origem da renovação de um paradigma novo de perceber, representar-se, narrar e reproduzir narrativas históricas. Este paradigma foi objeto de estudos de Peter Burke [33]. E que para Hannah Arendt representa (1983, p. 297) o:  “conceito central das duas ciências verdadeiramente novas da época moderna, a ciência natural e histórica, é o conceito de processo, que está fundada sobre uma experiência humana: a da ação. É apenas porque nós sabemos capazes de agir, de nos destacar do processo, que nós podemos conceber, e a História e a natureza como sistemas de um processo”.  Arte e História que produzem, recolhem e divulgam informações provenientes no atrito dos incontáveis objetos na sua tensão com os objetivos humanos. Informações fidedignas e coerentes com o aqui e agora constituindo uma fonte da luz que orienta para o funcionamento do Estado. Este atrito alimenta-se das energias provenientes das tensões resultantes das percepções históricas entre a diacronia e a sincronia. Na simultaneidade e do acúmulo do presente (sincronia) interferem poderosamente as lembranças e heranças de um passado imutável e os receios, incertezas de um porvir sem garantias (diacronia). O arquiteto e historiador de Arte e prefeito comunista de Giulio Argan escreveu (1977: 7) que “o pensamento histórico nos leva a emitir juízos que nos permitem enfrentar o tumultuoso presente com a força que nos dão as experiências racionalizadas; ainda que o juízo enquanto tal, dando o fato passado como totalmente acabado, o fixa no seu tempo e seu espaço, diferente do aqui e do agora do presente. A história é «catarquica» na medida em que nos assegura que o passado é o passado e não pode repetir-se ou retornar, não existindo razão alguma para refazer seu espírito, dando-nos a experiência, contudo liberta-nos da complexidade do passado, confirma a plenitude da nossa responsabilidade para com o presente”. Este distanciamento também esta presente em Hannah Arendt quando escreveu (1983: 297) que “pelo fato de sabermos capazes de agir, separar-nos do processo, nos podemos conceber, a história e natureza como sistemas de um processo” . Para Chartier a História não é uma mera contemplação  externa do passado do outro lado de um cristal, pois, segundo ele (1998: 104) “a história produz um discurso, mas ao mesmo tempo possibilidade de estabelecer regras permitindo controlar operações proporcionais à produção de objetos determinados”.

 

História da Arte: O universo das severas prescrições da era agrícola e industrial é compatível com o universo as exaustivas descrições da era numérica digital informatizada. Exaustivas descrições que sempre formaram as narrativas da  História da Arte.  Heidegger esclarece (1992: 62) “como instauração, a arte é essencialmente histórica. Isto não significa apenas: a arte tem uma história, no sentido exterior de ela ocorrer também nas mudanças dos tempos, ao lado de muitos outros fenômenos, e de aí se ver sujeito a transformações e perecer, oferecendo à história aspectos mutáveis. A arte é histórica, no sentido essencial de que funda a História e, mais propriamente, no sentido indicado” Estes dois universos mentais são complementares com os seus respectivos universos empíricos nos quais os seus poderes micro e macro potencialmente podem celebrar alianças, contratos e pacto. Neste Giulio Argan percebe (1992: 40) que  “a História da Arte e a única história do agir humano tanto no aspecto da contemplação como no do trabalho” . Esta contemplação aliada e complementar do trabalho. Contemplação e trabalho que se reforçam- na era informatizada.  Contemplação e trabalho complementares que potencializam e são o conteúdo das potencialidades e dos vínculos que ligam às células micros (municípios) ao macro da cabeça nacional e internacional (Brasília- Blocos - ONU).  Como toda atividade humana a sua natureza está em que produz as suas narrativas, imagens e textos. Assim cada época e cultura possui a sua História da Arte cuja origem, evolução e reprodução necessita ser acompanhada como o fez Belting[34] para o seu tempo e lugar. Inclusive esta narrativa pode ser realizada sem a presença das obras de arte como escreveu Bianchi[35]. O perigo, neste caso, é a proximidade do campo da Estética e da Filosofia. Por isto as Histórias Gerais das Artes sempre são provisórias e destinadas aos não iniciados.

 

História e biologia: Primordialmente insiste-se para que as energias diferenciadoras e libertárias tenham condições para fazer fluir as suas energias coletivas, inclusive para constituírem um grande organismo nacional, sem se confundir com ele. Estas energias primordiais mostram uma unidade espantosa quando aceitamos as observações do biólogos Maturana e Varela quando escreveram (1996: 48) que   “nós, como seres vivos temos uma história: somos descendentes, por reprodução, não só dos nossos antepassados humanos, mas de antepassados muitos diferentes que se estendem no passado até três milhões de anos. A outra é que, como organismos, somos seres multicelulares e todas as nossas células são descendentes por reprodução da célula particular que se formou ao unir-se um óvulo com um espermatozoide e nos originou. A reprodução está, por tanto, intrometida na nossa história em relação a nós como seres humanos e em relação a nossos componentes celulares individuais, o que curiosamente, faz de nós e nossa células seres da mesma idade ancestral. Mais ainda, desde um ponto de vista histórico, o anterior é válido para todos os seres vivos e todas as células contemporâneas: compartilhamos a mesma idade ancestral”. A espécie humana possui uma origem, um rumo e uma possível ancoragem num patrimônio comum nesta mesma idade ancestral comum. Apesar de todo o aparente caos e desorientação que o individuo, entregue a si mesmo possa perceber no mundo pontual que o cerca aqui e agora. Inclusive o  organismo nacional no qual este ser humano aparentemente isolado e único, possa sentir, conviver, modificar e qualificar o seu pertencimento esta História da espécie. 

 

Historiador: No entanto o autor está bem consciente daquilo que Aristóteles advertia (1972: 211) a quem busca a ciência para compreender o espaço empírico. Nesta busca dialética “é absurdo procurar ao mesmo tempo a ciência e o método da ciência. Nenhum deles é fácil de aprender, pois, nem o rigor matemático se deve exigir em todas as coisas, mas somente naquelas que não tem matéria”. O Poder Originário possui matéria e circula nas ações dos seus agentes. Ao apresentar matérias e ações este autor vale-se do pensamento de Marc Bloch quando ele afirma (1976: 29) que “o historiador pensa tanto o humano como o tempo”. Neste pensar, tanto o humano como o tempo, Cabral de Melo distingue (1995:14) “os amadores discutem estratégia, mas os profissionais preferem falar de logística, bem se poderia dizer que os historiadores preferem falar de documentos, deixando a outros o cuidado de descobrir o sentido da história”. Sem discutir ou avaliar, se o autor é amador ou profissional, ele busca, nos seus limites e parcas competências, um conhecimento e uma vontade para que ele como cidadão usufrua também o seu direito ao seu poder, sem subterfúgios ou corrupções. Devido aos limites das suas competências, este autor, pede ao seu leitor que este lhe conceda três das suas  qualidades que Nietzsche  também solicitou (2000: 27)  ao leitores do seu texto ‘o futuro das nossas escolasespero do leitor três qualidades: 1) - deve ser tranquilo e ler sem pressa; 2) - não deve fazer intervir constantemente sua pessoa e a sua cultura, e 3) - não tem direito de esperar – quase como resultado – projetos”.

 

Homem ético: Para a existência efetiva do estágio desta interação para a discussão dos contratos necessários o locus privilegiado é o município.  Neste micro espaço público o agente governamental e o seu Poder Originário  possuem condições para discutir e estabelecer contratos antes de AGIR. Para tanto  deliberam e decidem em relação  aos eventuais perdas e lucros durante e após o trabalho coletivo. Podem discutir a natureza dos contratos, readequá-los ao longo da sua realização e serem avaliados imediatamente após o trabalho coletivo. Este estágio adiantado de uma civilização possui a sua simetria e fonte em cada cidadão que a compõe. O esteta Schiller apontou (1963: 53.) que este cidadão é: “o homem ético deverá estar primeiramente acalmado o conflito dos elementos, dos impulsos cegos, e a contraposição grosseira deve ter cessado antes que possa ousar  o favorecimento da multiplicidade. Por outro lado, antes de submeter sua multiplicidade à unidade do ideal é preciso que a independência de caráter esteja assegurada e que a submissão a formas estranhas e despóticas tenha cedido lugar ao decoro da liberdade” Este o favorecimento da multiplicidade cidadã se evidencia na interação humana no micro e macro universo.  O homem ético realiza contratos fidedignos e consequentes tanto na micro célula municipal, como, também, no macro espaço público do Estado nacional. Evidente que a circulação do poder é mais eficiente na micro célula municipal.

 

Homeostase diversos termos agem num homeostase que busca um equilíbrio entre forças contrárias sem que existe um ponto central, fixo, único e definitivo de equilíbrio. Esta homeostase que Aristóteles descreveu  (1973: 278 Ética a Nicômaco, livro II,  1108 23-29) “em todas as coisas o meio-termo é digno de ser louvado, mas às vezes devemos inclinar-nos para o excesso e outras para a deficiência. Efetivamente, essa é a maneira  mais fácil de destingir o meio termo e o que é certo” . Esta homeostase  Compagnon recomendou na relação entre autor e o se leito, quando escreveu (1996: 65/9) que: “instituir um  novo modelo de relação entre o sujeito e o objeto, entre o autor e o livro, modelo que, integrando de algum modo as condições de receptibilidade do texto fornecesse por si mesmo o principio de sua regulação,, como um homeostato.. A escrita só é possível quando um sujeito a sustenta, ela e as suas consequências.”  Esta busca homeostática entre criatura humana impulsionada para a cultura após suprir as suas necessidades básicas da Natureza, como o alimento, aa saúde e a habitação está conforme as concepções de Abraham Maslow.  Esta criatura humana avança célere para a interação dos três anteriores depois de satisfazer as suas necessidades básicas

 

Homo academicus: Caberia aos cientistas jurídicas estudar as possibilidades e as potencialidades do Poder Originário possui nesta interação simultânea com os três poderes de um Estado. Depois de obter um padrão desta interação efetiva, ampliar este estudo aos diversos países soberanos das Américas. Após verificar como Poder Originário e os Estados realizaram estudos dos processos de interação e autônomas das pressões econômicas, políticas partidárias e ideológicas.  Os cientistas jurídicos constituem uma das categorias profissionais mais organizadas e com a tradição proveniente de Oxford, Salamanca e Coimbra. As sociedades evoluídas o são na mediada em que é possível distinguir o “Homo Academicus” na concepção de Bourdieu. Este escreveu (1996b: 206 /7) que “o homo academicus, é alguém que pode jogar a sério, porque seu estado (ou Estado) lhe assegura todos os meios de fazê-lo, isto é, o tempo livre, liberando-o das urgências da vida; a competência, assegurada por um aprendizado específico com base na skholé, e, por último, e de maneira especial, a disposição a investir, a envolver-se nas  relações fúteis, pelo menos aos olhos das pessoas sérias.” No o Brasil este “Homo Academicus” de Bourdieu é ainda temporão. No entanto seria ainda uma Colônia Escravocrata se tivesse se orientado pelas tradições, pelas mentalidades e pelas visões legais forjadas nos moldes de Coimbra.

 

Homo faber: apropria-se da alma deste povo por meio da exibição marqueteira dos resultados imediatos e impactantes do seu FAZER. Este FAZER é  do  “Homo Faber” que Hannah Arendt (1983: 212/ 3) pois “se permitirmos que as normas do homo faber governem o mundo acabará como elas governando a criação do mundo. O homo faber se servirá um dia de tudo e irá considerar tudo o que existe um simples meio para o seu uso. Ele classificará todas as coisas entre os chremata, os objetos de uso, e, para retomar o exemplo de Platão, não se compreenderá o vento como força natural, e o considerarmos exclusivamente em relação as necessidades humanas de respiração ou de aquecimento - o que evidentemente significa que o vento como coisa objetivamente dada foi eliminada da experiência humana.” Arendt distingue o “Homo Faber” do “Animal Laborans” que tenta prolongar a vida, tornando-a mais fácil. O “Homo Faber”, ao se apropriar da alma do povo, reivindica o cargo e a função como mediador universal e definitivo. O “Homo Faber” está interessado, de fato, no poder pelo qual  sente-se no direito de deliberar e decidir em nome deste “pobre povo” do qual julga se fiel depositário de seu ânimo e que ele interpreta na sua própria lógica.

 

Homo faber distinto do animal laborans: Arendt distingue (1983: 267) o “Homo Faber” do “Animal Laborans” que tenta prolongar a vida, tornando-a mais fácil. Porém possuem algo em comum: “o homo faber e o animal laborans são apolíticos no sentido estrito da palavra; em geral eles julgam as atividades públicas segundo a sua utilidade a respeito dos fins supostos mais altos neste caso o homo faber embeleza o mundo o torna mais utilizável, no caso do animal laborans tenta prolongar a vida tornando-a mais fácil”. Ao se apropriarem da alma do povo, reivindicam o cargo e a função como mediadores universais e definitivos como qualquer outro tirano totalitário. Mas de fato estão interessados no poder, como qualquer outro produto. Na sua posse sentem-se no direito de deliberar e decidir em nome deste “pobre povo” do qual julgam se fiéis depositários de seu ânimo e que eles interpretam na sua própria lógica pragmática.

 

I

 

Ideia: a origem da palavra “ideia” - mitificada e remetida e enjaulada no mundo da metafísica – possui uma origem e uma etimologia bem prosaica no mudo do FAZER. Arendt explica (1983: 229) que  “Platão.. havia emprestada a palavra-chave de sua filosofia, a «ideia», da vida do artesão: antes a percepção da imagem, ou forma (eidos) do futuro produto, depois a organização dos meios e depois a execução Para Platão o artesão possui na sua mente a imagem de uma mesa universal que ele realiza no mundo em objetos diferentes”. Nas próprias palavras de Platão (1985: 2º vol, 221) “há três espécies de camas: uma que existe na natureza das coisas e da qual podemos afirmar, penso, que Deus é o autor, de contrário quem seria?..-Ninguém mais a meus ver.- A segunda é do marceneiro. –Sim - E a terceira, a do pintor, não é/- Seja Assim, pintor, marceneiro, Deus, são três que presidem a fatura das três espécies de camas”  Neste sentido esta concepção de “ideia”, colocada no mundo prático, ganha um vigor reprodutivo intenso. Por esta ótica a ‘ideia de república’ ganhou uma analise erudita de Nicolet [36] a partir do vigor com que este regime surgiu se manteve e se reproduziu  na França entre 1789 e 1924.. De Masi percebe esta força no âmbito institucional quando afirmou (1997: 396) que “uma instituição é tanto mais eficiente quanto mais eficiente for a sua ideia”. O mesmo vigor reprodutivo também foi percebido por Chartier, quando ele afirmou (1998: 31) que “a instituição colocada no lugar da ideia a faz  desdobrar numa rede de fatos sociais, produzindo milhares de ações e de reações”. O contrario também é verdadeiro quando esta ideia é pulverizada numa multiplicidade caótica querem subir simultaneamente ao palco publico e da História. A cacofonia, o ruído e entropia são generalizados quando todos os caciques e coronéis disputam simultaneamente as mentes, os corações e os braços de poucos e exauridos índios da sua plateia.

 

Identidade: os aparelhos de formação da identidade na opinião pública estão nas mãos das elites que desqualificam e zombam de qualquer poder político e social proveniente de uma cidadania saudável e republicana. É esta mesma elite que impõe a identidade. A sua hegemonia irá durar enquanto esta mesma dominar “o processo de construção da identidade nacional se fundamenta sempre uma interpretação” conforma Ortiz escreveu (1985: 139). Esta – também a interpretação de Chartier, quando observa (1998: 78) que a  identidade existe – “ 1- a partir da exibição de uma unidade um grupo se atribui a partir do crédito de uma representação ou então a – 2 -identidade e imposta por aqueles que possuem o poder de classificar, nomear  de definir”.  Para Arendt (1983: 280) “a segunda torna-se perigosa quando os classificados podem usar os índices de sua identidade para se reconhecerem como taisFoi proposto ao Senado decretar o uso de um uniforme para os escravos, para que fossem imediatamente identificados entre os cidadãos livres de Roma. A proposta foi considerada como perigosa, pois os escravos ao se reconhecendo poderiam tomar consciência de sua potencialidade virtual. “O que o instinto político dos romanos julgava perigoso, é a aparência como tal, independente do nome das pessoas”. Opiniões semelhantes poderão ser encontradas em Buzzar (1997: 397) e  Maturana (1996: 14)

 

Identidade nacional brasileira: Para a libertação desta pasteurização geral da cultura, desponta a necessidade imperiosa da busca de sua identidade. Esta busca da identidade nacional também é crucial para a cultura brasileira. Contudo a sua busca está distante do Poder Originária. As classes dominantes dominam o campo de forças desta ‘fabricação da identidade nacional’. Na história da cultura brasileira Buzzar descreve (1997: 397) um contínuo de dominação de sua elaboração, que: “segundo Marilena Chaui, a busca da identidade nacional mostrou-se como uma preocupação constante das classes dominantes e da intelectualidade a partir de meados do século XIX. Essa busca perene expressou-se de forma diferenciada ao longo dos anos em função das questões político-sociais que a conjuntura de cada período determinava. Durante os anos 30 tal busca poderia ser sintetizada sob o slogan construir a nação, o que ainda segundo Chaui, teria permitido a absorção de todas as manifestações culturais pelo Estado.” Já o teórico Ortiz dedica duas obras[37]  a esta identidade brasileira. Contudo de fato o Poder Originário brasileiro é o destinatário compulsório deste destilado proveniente das classes dominantes e consumindo o objeto editado e do qual é o sujeito. Para tanto esta classes valem-se dos aparelhos governamentais do Estado. Por meio deste Estado instrumentalizado absorvem e se recobrem com todas as manifestações culturais da nação. O contraponto deste hegemonia é possível conferir naquilo que o cidadão brasileiro lê. Certamente não faltam obras fundamentais como Nelson Werneck já apontara[38] além do que os novos meios técnicos numéricos digitais oferece.  Fora do Brasil a era industrial concentradora - como  sinônima da felicidade urbana sob a proteção de um poderoso Estado instrumentalizado - teve um aviso sinistro em Nova York.

                                    

Identidade social: as múltiplas discussões procedentes dos mais diversos paradigmas presentes em cada célula municipal podem ser ordenadas por meio desta temática única, circulando em todas as instâncias. Isto não impede o surgimento de outras diferentes, urgentes e até contrárias e contestadoras do poder central que funciona como coordenador e as enviam para as instâncias específicas. Nestas instâncias estão as identidades sociais que Maturana, caracteriza (1996: 14) com a sua respetiva origem biológica e os potenciais dali derivados “em cada sistema social conserva-se a identidade da classe de seres vivos que o integram. Assim, se os componentes de um sistema social são formigas, a identidade que se conserva na dinâmica estrutural do sistema social é a identidade formiga. Se os seres vivos componentes de um sistema social são médicos, a identidade conservada nos seres vivos  componentes de um sistema social são médicos, a identidade conservada nos seres vivos componentes desse sistema social durante a dinâmica estrutural é a de médico. Por essa razão, nossa individualidade  como seres humanos ‘invólucro’ a conservação da nossa vida na conservação de tantas identidades como sociedades as quais pertencemos. Por isso mesmo podemos deixar de pertencer a um ou outro sistema social sem necessariamente nos desintegrarmos como seres humanos”. A atenta consideração e o efetivo respeito a estas identidades evita os discursos vazios de um país vazio e utópico.

 

Ideologia: de uma teleologia imanente não é possível afastar o trabalho da ideologia seja de que tendência que for. As suas forças e as suas energias foram identificadas e descritas por Oliven quando afirmou (1992: 21) que “uma ideologia é bem sucedida na medida em que consegue dar a impressão de unificar os interesses de diferentes grupos. Na medida em que uma ideologia se mede pelo seu poder de produzir discursos que repercutem no  imaginário social, isso significa que se uma determinada ideologia é eficaz ao trabalhar com noções aparentemente obsoletas, na verdade a anacronia está apenas na mente do pesquisador e não na dos agentes sociais. Permite dar a impressão de unidade de interesse de diverso grupos. Mede-se pela sua capacidade de produzir discursos que repercute, no imaginário social. Inclusive permite desqualificar como obsoletos discursos concorrentes.”. A relação entre ideologia e os aparelhos que um Estado cria para a sal administração foram o objeto da preocupação de Louis Althusser (1918-1990)[39]. No Brasil o tema da ideologia foi tratado de forma sucinta e didática por Marilene Chaui[40]. A força da ideologia positivista no Rio Grande do Sul foi objeto das pesquisas e conclusões de Boeira[41]

Imagem. na época de mídia eletrônica é necessário admitir que o Poder Originário não possui uma imagem, ou então de uma imagem positiva de si mesmo. O poder da imagem é inconteste para Goethe, ao afirmar (1945: 11) que ela “desce ao coração da matéria penetrando ali na realidade do mundo”. De outra forma Mazzocut-Mit acredita (1994: 64) que “a  imagem possui poder pois opera a substituição de uma força exterior na qual uma força não aparece a não ser para aniquilar uma outra força numa luta de morte, signos de força nos quais sinais e índices, que não possuem necessidade de serem vistos, constatados, mostrados depois contados e recitados para que as força, dos quais eles são o efeito, seja acreditada e com a imagem não se discute” No plano da pesquisa e da identificação de uma agente, Bourdieu mostra (1996: 206) que “se recolhermos atos e ações de ator social surgirá uma imagem de sua imagem”. O mesmo sentido e vigor da imagem podem ser encontrados em Arendt (1983: 193) e Chartier (1998: 179). As classes, as categorias e as instituições do Poder Originário, carentes da sua imagem identificadora, podem ser surpreendidas e jogadas na heteronímia pelo formalismo e construtivismo de um desenho externo e mediado e alheio aos seus interesses. Especialmente se estas imagens são da natureza daquelas que Sergio Miceli[42] estudou da elite brasileira entre 1920 e 1940.

 

Imaginação: aa “equilibração” deriva do fato de que todo o organismo possui uma estrutura permanente que o meio modifica. A partir desta “equilibração” se aproximar e modelar o caos, conforme Mazzocut-Mis escreveu (1994: 64) que: “a imaginação, compreendida a imaginação divina, deve se submeter ao princípio cósmico-construtivo, ordenador e criador, que lhe permite erguer-se para além do caos desagregador da matéria no estado nascente. Da mesma forma, o artista deve modelar através da ação seu próprio potencial criativo para que a incoerência torne-se um contraste sensível para o espírito humano. A arte é um caminho que começa no sonho caótico e que termina num cosmos acabado, uma viagem interpretativa e constitutiva num claro-escuro continuado no qual não faltam nem tempestades e nem abismos”.  Esta imaginação também Marc Bloch destaca (1976: 128) que “deve-se submeter ao princípio-cósmico – construtivo, ordenador e criador, que lhe permite erguer-se para além do caos desagregador da matéria no estado nascente”. A mesma energia Mazzocut-Mis (1994: 64) percebe como aquela com a qual “o artista modela através da sua ação o seu próprio potencial criativo para que a inconstância torne-se coerência de imaginação e para que a contradição torne-se contraste sensível ao espírito humano”.  A imaginação, aliada às ferramenta desta nova era numérica digital, encontra excelentes meios para aperfeiçoar toda a criação humana, combater a entropia e a racionalizar o caos. Imaginação e ferramentas aliadas em sistemas abertos e com energias que operam aquém e além dos rígidos receituários da linha de montagem

 

Imanência: tanto é necessário admitir limites á esta competências para estar seguro de sua autonomia no seu próprio voo da imaginação. Nesta busca dos limites o poeta Schiller foi exemplar. Ele afirmou (1963: 35) como seu projeto: “não quero viver noutro século, nem quero ter trabalhado para outro. O cidadão do Estado é também cidadão do tempo; e se é indecoroso ou mesmo proibido furtar-se aos hábitos e costumes do círculo em que se vive, por que não seria um dever, ao escolherem-se os próprios atos, considerara a voz do gosto e da necessidade do século?” O filósofo Kant nos socorre na compreensão do que significam os limites para as competências no âmbito da autonomia ao coloca-los face ao conceito de imanência quando afirmou (in Ferrater Mora, 1994, p.1845)  que  “chamaremos imanentes aos princípios cuja aplicação se restringe por inteiro dentro dos limites  da experiência possível e transcendentes aos princípios que pretendem passar tais limites”. A filósofa Hannah Arendt também é sintética ao afirmar (1983: 240,247) que “imanência restringe princípios cuja aplicação se restringe por inteiro no interior dos limites da experiência possível”. Negri recupera um extenso repertório filosófico para colocar (1995, cad.5, p.7) que “a mim mesmo tentava explicar: o campo da imanência saber mundo, não se opõe à globalização, ao contrário a deseja; opõe-se à transcendência, a qualquer forma de poder que se coloque fora do homem e da comunidade, isto é, à ideologia e a prática da globalização capitalista. A oposição fenomenológica de Heidegger (o saber distinto) e às filosofias analíticas (autonomia da linguagem como impotência ontológica) clarifica a direção da filosofia no campo da imanência: constituição do verbo, produção das livres singularidades, reapropriação do «espaço público», renovação perene da resistência contra qualquer forma de poder que transcende o movimento real.” No caso brasileiro, não se prega a destruição nem mesmo a substituição das hierarquias funcionais existentes e coerentes com os três poderes. Isto para evitar equívocos entre competências e limites do projeto do Poder Originário. O conceito e o uso coerente de imanência permite a resistência perene contra qualquer forma de poder que transcenda o movimento real. O  tema da imanência foi desenvolvido por Ferrater Mora, (1994: 1845), por  Negri (1995: 7), por Heidegger (1992: 43) por  Marcuse (1981: 79) 

 

Imanência distinta de materialismo: o conhecimento dos contratos sociais ocultos é proveniente, não só de sua história, mas das cinzas e das dores do presente. As cinzas e dores do presente, causadas pela sua queima de etapas e pelas frustrações, são simétricas com as esperanças que causaram quando eram meras utopias. Porém a imanência, representada por estas cinzas, não se completa na sua materialidade. Cinzas podem ser índices de um fogo já extinto e signo de um passado queimado. Ferrater Mora descreveu esta distinção ao afirmar (1994: 1.846) que “o materialismo não se confunde e não esgota o conceito de imanência. Posso designar de imanente um sistema que se funda no fato da experiência religiosa interna predominar sobre o discursivo”. Não há como esperar que  História se repita.. Ela só realiza este retorno como uma farsa. A busca para distinguir a realidade das aparências é uma das suas metas de toda Ciência, Arte e Politica, coerentes com suas forças que as sustentam.

 

Imanência distinta de reificação do presente: a nova geração é competente para contornar obstáculos e armadilhas nas quais seus antepassados ficaram presos ao longo de gerações.  O filósofo Heidegger escreveu (1992: 43) que “ a desocultação do ENTE nunca é um estado que está aí, mas sempre um acontecimento” . A sólida ancoragem no presente não pode ser confundida com a admissão de que o presente foi o único resultado  possível do passado e o futuro é a reprodução linear, e, única possível, através  das condições atuais. No contraditório, para Marcuse, a sua “pura reificação marca o seu ingresso no mundo do esquecimento” (1981: 79). Não é possível esquecer é que a cultura artificial possui o seu preço devido à falta de instrumentos unívocos, lineares e reversíveis para o acontecimento de desocultar o seu ENTE.

 

Imanentismo: no qual, Buzzi, 1989, p.: percebe as raízes de um “sistema filosófico, fundado sobre a noção de imanência, onde a qualidade do que é imanente é inseparável do objeto. A existência dos fins do sujeito, está nele próprio, sendo a qualidade de uma causa que age sobre aquilo que ela faz parte.” Os extremos do indígena brasileiro, sem um panteão de deuses as normas de uma religião separada, toca o extremo oposto da pós-modernidade também carente de um panteão e a formalização de uma religião separada .Ferrater Mora escreveu (1994: 1846) o imanentismo como “sistema religioso cujo primado é a experiência religiosa interna sobre o discursivo” Desconhecer e passar por cima desta realidade do imanentismo e também insistir um mero hábito de formalismo de marketing a ser repetido por tempo indeterminado num progresso linear permanente

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Impessoalidade: neste termo entende-se normalmente a distinção entre o sujeito e o objeto. Nas funções administrativas a distinção necessária o agente, do cargo que ocupa provisoriamente para exercer funções previstas pela lei no momento da justificativa e da efetiva criação deste cargo. Esta impessoalidade encontra-se tanto na iniciativa particular como na pública. Esta impessoalidade também é necessária no estudo, na implementação e nas práticas relativas ao Poder Originário. Sá assim possui oportunidade para constituir-se num dos numerosos esforços axiomáticos que se lançaram na busca de conhecimento, de vontade para que o cidadão usufrua este direito sem naturalizações, prejuízos e corrupções. As plataformas para a sua ação pública no exercício do seu poder no âmbito desta sociedade. O estudo, a circulação de informações e os inúmeros paradigmas de poder que estas informações trouxeram ao palco da Política pública. Considera-se, sem otimismo ou pessimismo, que a Política foi competente, em todos os tempos, para transformar a potência individual e coletiva em autoridade.

 

Implementar: usa-se este verbo como o ato de experimentar e testar em pequena escala e provisoriamente como num laboratório aquilo que se IMPLANTAR em larga escala  de forma definitiva.

 

Incerteza da História: mesmo com o terceiro milênio, em pleno curso, a distinção entre o torturado, do seu algoz, ainda não se efetivou na política brasileira. Muitos sorridentes algozes ocupam ainda cargos importantes no governo do Estado brasileiro. Ou estão refugiados em cargos intocáveis e chaves de corporações e em especial nas estrangeiras que operam em território nacional. A dolorosa distinção entre algozes e suas vítimas já foi realizada em muitos países latino-americanos, que sofreram ditadura semelhante. Esta falta de distinção se corporifica, no Brasil, no ecletismo como “acomodatício e máscara de todas as covardias” na clássica observação (1955, fl. 13) de Mário de Andrade face às “certezas” do Estado Novo Brasileiro . Este intelectual brasileiro preludiou o que um europeu Paul Ricœur, escreveu (1999: 3) muito tempo após a II Guerra Mundial (1939-1945) “é preciso reencontrar a incerteza da história”. Ou então Pierre Villar ao afirmar (1980: 29) que é necessário “escapar da compulsão à repetição para poder começar o trabalho de recordar”.  A Abertura Política foi reificada e aconteceu por decreto, de cima para baixo, tanto para os algozes como para as vitimas

 

Inculcação cultural: ao buscarem o poder central e procurarem alojar-se nos núcleos dos poderes estatais de todo planeta passaram o emitir discursos por cima e por fora sem resolver os problemas pontuais dos quais se esqueceram completamente. Realizam o discurso de inculcação cultural descrito por Chartier quando afirma (1998: 79) que o “ato de imposição do arbitrário cultural, criando um habitus secundário após o ato de converter em cultura legítima, através de desvinculação entre o conteúdo e o sentido atribuído arbitrariamente” a favor dos interesses.  Espalham a poluição e degradação ambiental que sabem que ultrapassa as suas fronteiras. Sabem que esta degradação ambiental  não pode ser controlada pelos seus efeitos á não ser nas suas origens pontuais, identificados e controlados na sua origem que é de sua própria responsabilidade

 

Indivíduo:  o individualismo, a ênfase no particular e no privado, não são males em si mesmos. A capacidade civilizatória desta ênfase depende da proporção, da estrutura e dos meios pelos quais esta ênfase for levada ao espaço público. É o que pensa Argan quando escreveu (1992: 38) que “do mesmo modo que o objeto não é apenas a coisa em relação com outras coisas e, antes e mais nada, com o sujeito que pensa também o sujeito não é apenas o indivíduo, mas o indivíduo em relação com outros indivíduos  e com as coisas, o indivíduo na sociedade”. Coerente com este pensamento os meios técnicos, advindos da revolução provocada pela informática numérica, permitem criar instrumentos que reconhecem, em si mesmos, o quanto esta ênfase individual possui estes recursos para estabelecer a proporção entre o termo do Estado Unitário e o indivíduo diferenciador do outro termo.

 

Indústria e arte: na relação indústria com a arte, Pierre Bourdieu, registrou (1987: 104) “com a era industrial modifica-se a relação entre artista e público. Arte e artista separam-se como ‘obra prima’ e ‘gênio’”. Nesta interação indústria e arte Gleizal percebeu (1994: 47) uma clivagem e o nascimento de algo novo, pois “é necessário situar efetivamente a arte na fronteira do que a caracteriza e da indústria. A arte torna-se um processo sobre o qual é necessário refletir. Ela aparece indissociável de uma epistemologia da criação”. Na medida em que a Arte avança para a “epistemologia da criação” a industrial, por sua vez, se projeta rumo ao espetáculo e produtos em séries. Este espetáculo e produtos em séries desta deram lugar para a nova infraestrutura e perceptível na rede eletrônica nacional de circuito de televisão aberta e coletiva com receptores domésticos individuais da tela.  Com o início da era da informática numérica digital, o PC (Personal Computer) passou para a tela individual conectado com a grande rede mundial. Nenhuma das grandes utopias ideológicas deixou de usar, ou escapou, desta infraestrutura cultural

OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA tipos de

https://alternatives.blog.lemonde.fr/2013/04/23/comment-lutter-contre-lobsolescence-programmee/

 

Indústria cultural: ”. A indústria cultural, segundo Williams (in Bourdieu, 1987: 104), iniciou:“na Inglaterra com a vinda da era industrial, a relação entre artistas e o público modifica-se, o público é tratado de uma forma diferente em relação a era do artesanato, a produção artística torna-se uma entre as especializadas, a teoria da realidade superior da Arte e o artista independente e um «gênio superior»”. Nesta interação indústria e arte Gleizal especifica (1994: 47) uma clivagem e o nascimento de algo novo, pois “é necessário situar efetivamente a arte na fronteira do que a caracteriza e da indústria. A arte torna-se um processo sobre o qual é necessário refletir. Ela aparece indissociável de uma epistemologia da criação”.

 

Influência: as energias vivas buscam um ponto de equilíbrio homeostático das taxionomias culturais disponíveis da autoridade no meio das antigas, atuais e aspirantes ao governo. Homeostase a ser mantida enquanto persistir a vida, a força e a reprodução dos conceitos de sua origem. Este ponto de equilíbrio também não é possível transferir de um indivíduo para o outro individuo ou grupo social por meio da influência. Salgueiro percebe, mesmo na Arte, e registra (1997: 38) este inconveniente pois “a noção de influência é inadequada para  a história cultural das relações artísticas por seu pressuposto autoritário, pelo nível de generalidade de sua aplicação e por partir de fissura teórica básica: a de levar em conta as condições que operam as relações entre A e B.”A presente fase da busca de um ponto de equilíbrio homeostático de autoridade no meio das antigas, atuais e aspirantes ao governo. No pensamento ampliado de Salgueiro é possível ler (1997:.38) que “um trabalho comparativo não pode, hoje, abster-se de princípios metodológicos básicos: da revisão de terminologias à precisão de conceitos, a história da arte se renova. No caso da análise sociocultural de instituições de formação profissional, como é a École des Beaux-Arts de Paris no século XIX, o recorte e confronto de obras de indivíduos que se apropriam de modelos difundidos por esta escola, deve afastar-se, por exemplo, o termo «influência», denunciado há tempos, sob ângulos diversos, em todas as ciências humanas: lembremo-nos de Roland Barthes há mais de trinta anos na célebre entrevista “Je ne crois pas aux unfluências” e, mais recentemente, de Michel Baxandall, no livro Pattern of intestino (1985), que o considera como “uma das pragas da crítica de arte”. A noção de “influência” é inadequadamente para a história cultural das relações artísticas por seus pressupostos autoritários, pelo nível de generalidade de sua aplicação e por partir de uma fissura teórica básica: a de levar em conta as condições em que operaram as relações entre A e B, elegendo-se a superioridade de A e negligenciando ciando-se as particularidades conjunturais receptoras de B, conforme observa Baxandall. Para Barthes, o leitor, futuro escritor, é um criador virtual que vai jogar com uma «coleção de referências»  e não sofrer passivamente influências. No campo da Arte, Baxandall propõe uma série de termos para substituir «influência», termos que permitem que se retenha as nuanças do empréstimo de formas, explicando, enfim, melhor, o que interessa diretamente aqui: o processo de transferência de modelos de uma instituição ou atelier de arquitetura. Entre estes termos, escolho: ‘apropriação’, ‘referência’, ’retomada’,  ‘repercutira’, ‘citação’, ‘variante’, ‘transformação’, ..tudo depende do enfoque. Outros cientistas sociais, como por exemplo Michel Certeau observam em relação ao processo de apropriação, que as condições práticas das trajetórias individuais inscritas nas singularidades dos contextos são responsáveis pela introdução das diferenças.” O mesmo foi percebido e descrito em relação à Literatura na qual  Antônio Cândido registro (in Mota, 1980 : 177) que “a influência [...] embora tenha utilizado largamente e sem dogmatismo como técnica auxiliar, é preciso reconhecer que talvez seja o instrumento mais delicado, falível e perigoso de toda a crítica, pela dificuldade  em distinguir coincidência, influência e plágio, bem como a impossibilidade de averiguar a parte de deliberação e do inconsciente”. Na Arte há necessidade de distinguir a influência entre a coincidência do plágio deliberado ou inconsciente.

 

Intelectual não se trata de fazer a distinção weberiana entre profetas e sacerdotes, mas do singelo fato de remeter aos textos originais a serem lidos pelos atuais observadores para que estes tirem as SUAS conclusões coerentes com o seu próprio tempo e lugar. A leitura, o estudo, as conclusões e a socialização destes textos foram confiadas aos denominados intelectuais. Eles não formam uma classe pois Mota, afirma (1980: 220) que “a intelectualidade não constitui uma classe, mas acaba por plantar seus frutos em campos sociais específicos”. Arendt desmistifica (1983: 137) a sua origem e a sua função “é conveniente lembrar-se que durante a História Antiga os serviços «intelectuais» dos escribas, tanto no domínio público como no domínio privado., foram executados por escravos e julgados como tais. É a burocratização do Império Romano, acompanhado com a elevação social e política dos imperadores, provocou uma revitalização dos serviços intelectuais”. Com a queda deste Império voltaram para serviços manuais de copistas   Estes copistas foram substituídos pela imprensa e na era numérica digital estes textos originais estão disponíveis em rede mundial. Assim evoluem dos textos manuscritos e únicos na era agrícola, múltiplos na era industrial e cuja divulgação e sua hermenêutica eram pretextos e a motivações para os atravessadores e os mediadores armarem as cenas de marketing e propaganda oral e depois impressa. Para Antônio Gramsci[43] este intelectual torna-se ‘orgânico” na medida em que concebe, estrutura e orienta a reprodução de uma dada cultura. Porém o que é comum à era agrícola, industrial ou virtual é que os mediadores do marketing e da propaganda se percebem compelidos para rebaixar as mensagens originais para meia cultura. O nível intelectual deste marketing e propaganda é destinado a um receptor de aos 12 anos do ser humano.

 

Intelectual  brasileiro: diante da permanente ameaça de entropia e naturalização das funções do intelectual brasileiro ele  merece a uma longa consideração, estudo como Pécaut  procedeu (1990: 18) a categorizar:  “a cultura política apresenta múltiplos aspectos, dos quais consideramos três. O primeiro relaciona-se à maneira de definir posição social dos intelectuais. Os critérios de classes ou de estratificação social mostram-se insuficientes para a análise. Convém considerar o lugar que os intelectuais atribuem a si próprios, e àqueles que lhe reconhecem o poder. Durante os dois períodos (1920-1930 e 1930-1945), constatamos que, assumindo uma vocação nacional, os intelectuais conseguiram se reconhecidos como elite dirigente, desfrutando do privilégio de situar-se, como Estado, acima do social O segundo aspecto diz respeito às representações do fenômeno político. Entre 1930 e 1945 alteraram-se muitos dos elementos que determinam essas representações. Entretanto, a constante desconfiança diante dos mecanismos da democracia representativa se traduziu na manutenção do essencial: a busca, dentro do real, de uma unidade anterior a todos os processos de instituição social e que pudesse escorara as formas de unidade da sociedade política.  O terceiro relaciona-se às articulações entre o campo intelectual e a esfera política. Uma vez que a atividade intelectual é orientada pela responsabilidade assumida diante do imperativo nacional, em que medida poderiam ambas ser dissociadas? Ou, mais exatamente: seria ainda possível falar num campo intelectual fundado numa lógica interna em funcionamento?” A ameaça de entropia e naturalização das funções do intelectual brasileiro faz lembrar o imanentismo. Um dos pontos altos da relação do intelectual com o a administração publica brasileira se deu ao largo da administração Capanema[44] no Ministério de Educação e Saúde Pública. Esta relação também foi objeto de estudo de Miceli[45] que se debruçou sobre o mesmo período. Devido a permanência do pensamento escrito dos intelectuais cada período oferece variados dados empíricos como foram analisados comparativamente por Maria Helena Capelatto[46] entre intelectuais argentinos e brasileiros.

 

Inteligência distinta de sabedoria: alguns lances históricos dos mais conhecidos daquilo que alguns querem como conceito definitivo de Poder Originário Brasileiro. Trabalham para ocultar o fato de que o poder circula permanentemente se espelham naqueles que conseguiram capturar uma parcela mínima dele algum tempo. Confundem inteligência com sabedoria. Distinção que Aristóteles já havia realizado quando afirmou (1973: 349  -1143ª.10) que “a inteligência e sabedoria prática não são a mesma coisa. Esta última emite ordens, visto que o seu fim é o que se deve ou não deve fazer; a inteligência pelo contrário limita-se a julgar” Obstinam ao mero plano da inteligência na qual encontram argumentos e  reconhecem o óbvio de que o Poder Originário possui a sua fonte. Porém atropela a sabedoria para infiltra-se como mediadores, tuteladores e atravessadores em tudo e se reproduz em qualquer grupo, atividade coletiva e ação humana. Tapam os olhos, os ouvidos e embotam toda a sua sensibilidade humana para arrastarem história afora o seu conceito coimbrão intangível de Poder Originário. Coloca como cláusula pétrea, esta sua elevada definição intelectual, premissa inarredável e com tabu intocável.

 

Interdisciplinaridade: a Democracia possui muitos pontos em comum com a Arte. Ambas gozam e necessitam da interdisciplinaridade neste vasto âmbito. Para ambas pode-se aplicar o que Schiller escreveu (1963: 35) sendo que “o mérito espiritual da arte não pesa, e ela, roubada de todo estímulo desaparece do ruidoso mercado do século. Mesmo o espírito de investigação filosófica rouba uma província após outra à imaginação, e as fronteiras da Arte vão se estreitando na medida em que a ciência amplia as suas”. Mesmo neste gradativo estreitamento das suas fronteiras a Democracia ainda conserva a sua vida enquanto existir a homeostase entre os extremos de seu contínuo. Os extremos representam  a tendência comandada por esta homeostase contínua, a semelhança do gráfico dos quatro polos da democracia. Os vetores do “EU” e do “TU” conduzem os projetos e os esforços humanos a uma destas oscilações continuadas. Para que esta oscilação seja contínua, Habermas argumenta (1973: 56) que o EU naturalizado é um erro.

 

Interesse: a circulação necessária à informação numérica virtual. Esta circulação constitui um novo modo de “ser entre” que um termo que também foi naturalizado sob a designação de “interesse”. A refletir em relação ao “interesse” Hannah Arendt escreveu (1983: 239/40) que.  “A ação e a palavra, dirigidas aos humanos, tem lugar entre humanos, e elas guardam o seu poder de revelação-do-agente mesmo se seu conteúdo é exclusivamente «objetivo» e não diga respeito aos feitos do mundo dos objetos nos quais se movem os homens, que se estende materialmente entre eles o do qual provém seus interesses do-mundo, objetivos, específicos. Esses interesses constituem, no sentido o mais literal da palavra, que inter-est , que está entre as pessoas e por conseguinte pode aproximar  e os ligar.” Resguardada esta concepção de “interesse” é impossível retornar para o âmbito, a prática e a mentalidade do poder dos pequenos feudos. O “interesse” hoje é planetário A política os “interesses” restritos dos coronéis ou das tabas indígenas primitivas não possui nem proporção e nem sentido. A circulação do poder no meio de uma rede de informação numérica digital de natureza planetária é desproporcional e sem sentido presa e fixa aos feudos estáticos.

 

Interrogação axiomática: O pior prejuízo que a Democracia pode sofrer é reduzi-la a uma definição pinçada entre os seus incontáveis componentes e fixá-la definitivamente neste rumo exclusivo. Rumo exclusivo que se prende à uma singela normatização da prática democrático reduzida a um catálogo daquilo que se deve ou não deve fazer. Este rebaixamento ao fazer encontra a sua  justificativa numa interrogação axiomática que a semelhança da “arte pura leva ao paroxismo tendências de épocas anteriores ao submeter à explicação e à sistematização os princípios próprio a cada tipo de expressão artística se deve ou não se deve fazer” como escreveu Pierre Bourdieu (1987: 113). Esta interrogação axiomática encontra no campo político a sua redução ao simples e singelo fazer do voto. Ritual do voto e interrogação axiomática constituem a morte da Democracia. Outras vezes ela cai no extremo oposta e se cansa da interrogação axiomática quando é confundida com a tolerância ou com a preguiça para enfrentar as mudanças que são da sua natureza e necessárias para a sua vida e coerência.

 

Instituição: A Constituição Cidadã trata de um paradigma proveniente da Cultura. Nesta Cultura artificial constrói, faz agir e torna significativas instituições com os seus cargos e as suas funções aptas para celebrar contratos com quem os irá exercer por tempo determinado. Popper caracteriza (1987: 33) as instituições que “não agem, ao invés, sós os indivíduos agem, dentro ou para, ou através das instituições. A lógica situacional geral destas ações será a teoria das quase-ações das instituições. Poderíamos constituir uma teoria das consequências institucionais, planejas ou não, de ação intencional. Isto também conduziria à teoria da criação e do desenvolvimento das instituições”. As instituições operam na interação por meio dos contratos celebrados na célula política do município como as fontes e as origens mais próxima da cidadania.  No âmbito municipal o discurso humano possui mais elementos comuns entre o Poder Originário e as eventuais autoridades para materializar os termos de qualquer contrato. A cultura francesa sob a força da sua Revolução de 1789 aboliu a universidade. Em seu lugar criou o ‘Institut de France’[47] com as suas academias. Escritas por sua vez esti8muaram e o surgimentos das ‘Écoles” financiadas, mantidas e reproduzida pelo erário publico. Com a queda de Napoleão Bonaparte foi reativada a a antiga Sorbonne. Ad ‘Écoles” passaram a  formara os quadros administrativos  franceses enquanto a Sorbonne foi destinada ao povo em geral e estrangeiros.

 

Isolamento com a sua ideia: coerência não nasce espontânea, mesmo que sejam por múltiplas e continuadas pressões coletivas. Há necessidade de uma centelha cuja força e coerência é construída no isolamento com a sua ideia. Arendt observou (1893: 215) que “o isolamento é a condição de vida necessária à toda a maestria, que consiste em estar sozinho com a  «idéia», a imagem mental do objeto futuro. Semelhante maestria, de diversas das formas políticas da dominação, regula antes de mais nada as coisas, os materiais e não os homens. Com efeito, o mando dos homens é secundária no artesanato; na origem, as palavras «obreiro» e «mestre» eram empregadas como sinônimos. É somente parando, momento em que o seu produto está acabado, que o operário pode sair de seu isolamento”. Compreende-se este isolamento tanto ao tempo da suspensão do juízo da “épokhé” antes do agir, como a atenção necessária e exclusiva ao longo da ação. Isolamento e atenção necessários antes dos contratos celebrados e coerentes com toda a educação formal preliminar

 

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Judiciário: o poder controlador e que permanece na retaguarda como uma espécie de reserva moral das ações do Executivo para avaliar e manter o rumo traçado pelas leis que emanam do Legislativo. Para manter o rumo o Judiciário é cego a tudo que possa usurpar a sua autonomia com um dos três poderes distintos

 

K

 

Kunstwollenn O suporte e as condições de receber,  iniciar e elaborar críticas são preocupações constantes na Educação e na Psicologia. A maturidade da crítica é revelada nas condições e competências que uma vontade e uma inteligência humana é capaz de receber, iniciar e elaborar rupturas epistêmica e estética. Vontade que Alois Riegel (1858-1905) percebeu nas forças que movem a Arte e que ele denominou de “Kunstwollenn” [vontade na Arte] no qual parte de um postulado, cuja validade necessita ainda ser provada, segundo o qual existiria alguma coisa, uma força, uma energia vital, que explicaria o desenvolvimento observado ao longo da vida de um artista ou na produção artística  de uma escola, de uma região ou de uma nação, mesmo de uma civilização. Vontade que se corrompida, gera meias verdades que iniciam e se prolongam tragicamente até na área da reprodução humana.. https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/05.054/3138

 

L

 

Legitimação paralela: a contemplação e o trabalho reforçam-se na era informatizada e estabelecem uma legislação paralela e civilizada. É o campo das forças da Arte na qual age a legislação cultural que Bourdieu, descreveu (1987: 108) como “todo ato de produção cultural implica na sua afirmação de pretensão à legitimação cultural”. Força da Arte que Greenberg distingue (1996: 48) como “inatividade ou atividade sem finalidade  distinta do trabalho como atividade carregada de finalidade”. Com esta concepção ganha espaço da legitimação paralela na qual a Arte serve às classes inferiores como forma de legitimação pelo sistema vigente. Esta legitimação, paralela é sustentada pelo consumo de objetos oferecidos pelas classes artísticas inferiores às classe elevadas Esta contradição entre contemplação e trabalho torna-se complementar. Potencializam-se reciprocamente e são o conteúdo das potencialidades e dos vínculos que ligam às células micros (municípios) ao macro da cabeça nacional e internacional (Brasília- Blocos - ONU).

 

Legalidade: da Constituição Brasileira, de 1988, uma “Constituição Cidadã” é a menção ao exercício direto do poder pelo cidadão. Este exercício direto, evidente só poderá tornar-se efetivo e legítimo no âmbito estatal, nos termos da Constituição. Contudo, aberta esta possibilidade de exercício direto do poder, impõe-se o esforço do cidadão na busca de conhecimento, de vontade para que ele usufrua este direito sem falsificações e sem corrupções. Inteligência que ele transfigura no direito de expressar a totalidade da nação em si mesmo, de contribuir com ações positivas para todos os brasileiros e sem causar qualquer prejuízo, apropriação daquilo que pertence à maioria da humanidade. O seu artigo 37, enumera a legalidade como um dos cinco pilares da administração do estado nacional, regional e dos municípios.

 

Legislativo: no Brasil a Lei precede o fato. Desta forma este poder é o pioneiro no trato das questões administrativas do governo do Estado. O discurso de primeira ordem é realizado nas câmaras municipais e prossegue em direção ao discurso de segunda ordem das Assembleias até atingir o seu vértice na Câmara e Senado

 

Lei: a classe dominante colonial brasileira mantinha a religião como fachada e a recompensavam com dádivas ostentosas, jogando-a assim  na absoluta e ignominiosa heteronomia. No contraste e para perceber esta corrupção brasileira, nada melhor do recuar para e perceber o que outras culturas pensavam e escreviam em relação à natureza da lei. Um texto de Hannah Arendt pode servir de inicio para o debate e onde ela escreveu (1983: 249 nota) que “é bom notar que Montesquieu, que não se interessa pelas leis, mas pela ação que inspira seu espírito, define as leis como «relações entre os seres» ( Esprit des lois, livr. I ch. 1, cf livr. xxvi, ch.I)  É uma definição surpreendente, porque sempre havia definido as leis em termos de fronteiras e limitações. A razão é que Montesquieu se interessava menos ao que ele denominava a ‘natureza do governo’- por exemplo república, monarquia, etc. - do que pelo princípio do governo ‘o que o faz agir’.. nas ‘paixões humanas que o fazem se mover’ (livr. III, ch. 1) “.   No Brasil colonial as Ciências Jurídicas foram colocadas na mesma heteronomia pela falta de qualquer forma definida na qual fosse possível contrariar os interesses das classes sociais colônias dominantes. A tolerância para a naturalização dos textos legais é porque eles tinham o objetivo que Schiller percebeu e escreveu (1963: 118) que o “escravo da Natureza quando apenas a sente, o homem torna-se o seu legislador quando a pensa”. Como o colonizador tinha todo o cuidado para que os nativos não pensassem e nem representassem na Arte esta Natureza brasileira, ele tolerava qualquer ação uma vez que não questionasse o os contratos legais laços colonial.  O pensamento e o núcleo deste poder jurídico residiam além-mar, na Metrópole colonial, e era algo inacessível ao poder originário brasileiro. Para ter uma percepção mais próxima desta relação entre Coimbra e os seus egressos no Brasil é possível consultar Gauer[48]. Porém o Poder Originário brasileiro estava entre à advogados que eram filhos dos senhores das classes elevadas coloniais,  e não podiam contrariar a lógica e os paradigmas dos seus antepassados e nem aqueles do seu presente. A mesma origem também era o de muitos sacerdotes.

 

Liberdade: a criação humana da escola formal constitui um suporte para esta eficácia. Ela atingirá esta eficácia esperada, não só pelo controle, como pela liberdade, autonomia e dignidade que ela exigir do seu estudante. A liberdade que constitui um ente primitivo. no presente texto relativo ao Poder Originário. Este termo ‘liberdade’ explicita-se em direção a sua etimologia latina, na qual a palavra deriva de ‘liber’ e que designava ‘o indivíduo apto para se reproduzir’ (Ferrater-Mora verbete liberdade  1994). etimologicamente ‘liber’  é cidadão romano apto para se reproduzir. Para Espinosa(1983: 55)  “é a força da alma e virtude dos particulares, [...] a virtude do governo  é a segurança”.. Para Lauro de Oliveira Lima (S/d.: 164)  “O que caracteriza a liberdade não é o constrangimento, mas deliberação”. Para Hannah  Arendt (1983: 170) “O homem não pode ser livre se não sabe que está sujeito à necessidade” . Porém o discurso mais apaixonado é do autor da ode à Paz da 9ª Sinfonia de Beethoven. Schiller escreveu (, 1963: .35-91-96) que: “a Arte é filha da liberdade e quer ser legislada pela necessidade do espírito, não pela carência da matéria [...]A liberdade, em que muitos colocam a essência da beleza não é ausência de leis, mas sua harmonia, não é arbítrio, mas máxima necessidade interior [...]O impulso sensível desperta pela experiência da vida ( pelo começar do indivíduo) e  o racional pela experiência da lei (pelo começar da personalidade), e somente agora, após terem se tornado existentes os dois, estará erigida a sua humanidade. .Até que isto viesse a ser realidade tudo nele se fez segundo a lei da necessidade; agora abandonado pela mão da natureza, e passa a ser empresa sua afirmar a humanidade que ela estrutura e revela nele. Pois tão logo os dois impulsos fundamentais e opostos ajam nele, perdem ambos sua coação e contraposição de duas necessidades origina a liberdade”. Para Arendt, (1983:.170) “o homem não poder ser livre se não sabe que está sujeito à necessidade, pois ele conquista sempre a sua liberdade tendendo, sem jamais ter sucesso pleno de livrar-se da necessidade”. O líder sul-rio-grandense Júlio de Castilhos afirmou (in Marques Júnior, 1967: 112) que “a liberdade não se divide, ela é um todo sistemático, que, ou existe integralmente, ou não existe de forma alguma. Não há meia liberdade ou liberdade parcial, ela é una e indivisível”.. O teórica austríaco  Pächt, destaca (1994: 157) que “O verdadeiro criador sabe que ele não é nada, e quanto maior é, mais consciência do nada possui. O que o distingue, com efeito segundo Metzenger, é uma certa abertura de espírito, que o torna atento as exigências da arte ou da situação. A criação artística é para Metzenger , como para Riegl, um processo que se orienta para um objetivo dado, uma forma de tratar os problemas colocados pela situação, e não pode haver liberdade nesse quadro a não ser na medida pela qual o criador verdadeiramente original, não se contenta em trabalhar segundo as regras pré-existentes, retomados da tradição, ou de outra parte, encontrada nele, elaborando, a partir de si mesmo, as leis que irá seguir”. O pensador Alceu Amoroso Lima distingue  (in Barbosa 1993: 105). “ arte é domínio da liberdade, ao passo que a ciência nos leva à servidão do ser, e o homem de ciência é tanto mais livre quanto mais servo da verdade, quanto mais medido pelo objeto; ao passo que a ética nos prende ao dever e indica o caminho da adequação dos nossos atos à sua finalidade intrínseca – a arte nos coloca na plena expansão das nossas possibilidades e constitui o domínio próprio da libertação. É domínio do poder ser” O controle entre causa e o efeito não pode abdicar da liberdade na criatividade. A competência humana da criatividade é colocada aqui na concepção que Hannah Arendt lhe confere (1983: 188) ao afirmar que “é somente porque nós fabricamos a objetividade, o nosso mundo, com aquilo que a natureza oferece porque nós construímos, inserindo-o no espaço da natureza e assim nos sentirmos protegidos, que podemos olhar a natureza como alguma coisa objetiva”.  Esta concepção ganha os seus limites com os biólogos Maturana e Varela que lhe atribuíram (1996: 173) na forma na qual “o organismo restringe a criatividade das unidades porque elas existem para ele. No sistema social humano amplia a criatividade humana, pois esse existe para estes”. O tema da liberdade foi objeto de Paul Nash[49]  na inter-relação educação formal e autoridade.  A liberdade também é tratada, entre muitos outros, por Musse, (1997: 6) e Winkelmann (1955: 371-6) nas suas buscas, ao longo doséculo XVIII na arte clássica grega.

 

Liberdade e indústria cultural: formalismo torna presente numa alodoxia reforçada por um “fake-lore” e se materializa numa pseudo liberdade sob o comando da onipresente e subliminar indústria cultural. Os teóricos Adorno e Horkheimer, da Escola de Frankfurt,  escreveram (in Musse, 1997. Cad.5 p.6) que  “A liberdade de escolha da ideologia que reflete sempre a coerção econômica, revela-se em todos os setores como a liberdade de escolher o que é sempre a mesma coisa.. A entonação no telefone e nas mais familiar situação, a escolha das palavras na conversas e até mesmo a vida interior organizada segundo os conceitos classificatórios da psicologia profunda vulgarizada, tudo isso atesta a tentativa de fazer de si mesmo um aparelho eficiente e que corresponda, mesmo nos mais profundos impulsos instintivos, ao modelo apresentado pela indústria cultural” Desta lógica da indústria cultural não escapam as instituições de ensino superior, que no Brasil se autonomearam de universidades. Estes cursos superiores que se autodenomina de universidade, aproveitaram o vácuo da recriação, em 1816, da antiga Sorbonne rediviva na França sob os ventos da indústria cultural pós Revolução e Napoleão. As competências e os limites da autonomia destas universidades provisórias estão presos às rodas administrativas da indústria cultural e de ideológicas que denunciam e criticam este formalismo legalista industrial.

 

Líder a arte, de quem quiser governar, é manter dialética entre os extremos e pagar o seu preço. O autêntico líder sempre soube prever estas dificuldade e prover positivamente as eventuais perdas sofridas pelos seus liderados. Almeida Prado descreveu (1955: 367) estas qualidades no autêntico líder como um “regente frente a orquestra de competentes professores é capaz  de transformar os conflitos em estímulos para a idealização e a solidariedade”. Mais recentemente De Mais analisou (1997: 20) “o líder fundador é capaz de uma dedicação heroica à instituição é carismático e competente  acima de qualquer expectativa e atento em alimentara a memória e a história do grupo”. Numa análise mais prolongada Wright Mills observou (1975: 410/1) que: “Duas coisas são necessárias a uma democracia: públicos articulados e informados líderes políticos que, se não á homens de pensamento, sejam pelo menos razoavelmente responsáveis perante o público informado que exista. Somente quando públicos e lideres são responsáveis e de responsabilidade, podem as questões humanas ser submetidas a uma ordem democrática, e somente Quando o conhecimento tem importância pública é possível essa ordem. Somente quando o pensamento tem uma base autônoma, independente do poder, mas poderosamente ligada a ele, pode exercer sua força no condicionamento dos assuntos humanos”. Este autêntico líder sabe que não há como pedir perdão pelo erro ou equívoco em Arte, em Política e em Esporte. Todas estas atividades são provenientes de escolhas humanas cuja fonte é o exercício da autonomia do seu praticante.  Praticante que necessita calcular antes, durante e após o preço (perdas) para manter o bem comum (ganhos) da circulação deste poder político, esportivo ou estético.

 

Limite:  há necessidade de uma compreensão do que entende aqui pelo termo limite. Worringer compreende (1953: 129) que “nosso conhecimento dos fenômenos não está completo até que compreendemos que o  que parecia limite  é apenas transição e imediatamente nos damos conta da relatividade do todo”. Pasanen (1994: 51) afirma que:  “segundo Wittgenstein, a linguagem delimita o mundo, e os limites do mundo são os próprios limites da linguagem. Não é possível ir além desses limites para descrever como é mundo, porque também será necessário então descrever como ele não é: e isso é impossível expressar na linguagem” Os limites nos quais s projeta a construção de um “quarto poder”, a partir da célula municipal, há necessidade de pensar minuciosamente esta linguagem. Nesta linguagem é necessário representar passo a passo as formas nas quais o seu processo evolui em todos os patamares de um Estado. Linguagem da qual se afastam as meias verdades aquelas que permita gerar equívocos implementados pelos mediadores de sempre.

 

Linguagem: Na circulação do sistema de dominação completa, necessitavam de territórios cativos e exclusivos para remeter para estas colônias as sobras e os refugos da lógica industrial, constituindo-se em depósitos seguros dos desqualificados e inaproveitáveis no território metropolitano. O instrumento preferencial e quase único, foi a linguagem que Barthes universalizou (1967: .9) pois “o homem está condenada à linguagem e nenhuma empresa semiológica pode ignorá-la”.  Mais universal ainda Heidegger escreve (1983: 23) que a linguagem  “corresponde  e se harmoniza e põe de acordo com a voz do ser, do ente. Esse corresponder é o falar”. No plano somático Maturana e Varela concluíram (1996: 181) que “operamos em linguagem quando um observador registra que temos como objetos de nossas distinções linguísticos  elementos de nosso domínio linguístico”. A linguagem como instrumente da análise na linha do método cartesiano Recht afirmou (1998: 11 Novalis, L´encyclopédie, 119 (IV-879)) o: “que não poder ser decomposto diretamente, é necessário tentar dissociá-lo indiretamente ou idealmente – quer dizer  elevá-lo ao nível da linguagem – em seguida decompõe-se o fenômeno – a expressão – encontrando-se assim as partes constituintes e sua relação”. No Brasil o fenômeno da Linguagem na sua relação  com a Educação formal forma objeto de pesquisa e publicação de Jorge Nagle e outros[50]. A era industrial desativou, na sua lógica cartesiana, aquilo construído ao longo da era agrícola. Em nome do sistema de dominação acumulativa completa, desqualificou qualquer circulação na proporção humana. No seu lugar instalou, fez funcionar e reproduzir um vigoroso fetichismo linguístico. Nesta lógica cartesiana a linguagem é bem distinta quando se transforma em instrumento de expressão

 

Linguagem e imagem: Os candidatos são transformados em “santinhos” pela graça do  marketing e a propaganda eleitoral. Estes instrumentos das imagens transformam-se em linguagem que Otto Pächt condena (1994: 112) pois: “a paixão quase frenética que se alimenta hoje pela iconografia nos aprisiona numa esfera dependente da linguagem, que autoriza enunciados, em que haja necessidade de empreender o trabalho difícil de traduzir a partir de uma linguagem diferente, que dizer, transpor para um outro meio, num outro elemento, as características da obra visual”. Um arsenal interminável de ícones bombardeia os olhos dos potenciais eleitores. Os seus ouvidos são saturados até o limite pelos sons os mais estridentes de jingles repetitivos e do mau gosto mais horroroso possível. Muito poucos percebem quais as reais fontes dos fundos partidários e os interesses determinantes do marketing e a propaganda eleitoral que se esconde nestes produtos da cultura industrial..

 

Linguística: Se este tecido foi urdido pela lei - que precede o fato - há necessidade que este fato faça companhia e seja entretecido com e pela lei que precedeu temerariamente o mundo empírico. A lei necessita, por sua vez, de uma construção linguística. Nesta construção linguística Gomes esclarece (1979: 62) que “o nosso instrumental linguístico se enriquece desde que partamos de nossas importâncias e urgência para a linguagem e a palavra e não o contrário". Os biólogos Maturana e Varela fundamentam (1996: 180) a concepção de que “designamos como linguística a uma conduta comunicativa ontogenética, quer dizer, a uma conduta que se dá em um acoplamento estrutural ontogênico entre organismos, e que um observador pode descobrir em termos semânticos”. O acoplamento estrutural ontogênico entre organismos ou, a costura entre o fato empírico e a narrativa do texto legal, acontece com frequência e com intensidade no universo do micro universo municipal. No município também será possível evitar melhor que este fio se rompa devido a sua proximidade entre o fato empírico e a lei ideal. 

 

Livre: no cenário onde reina a entropia, reina o caos comandado pela natureza que projeta ficar deitada ao sabor “Sono da Razão” e dormindo no berço esplêndido, o “Sono da Razão”, é a ocasião que os mediadores e atravessadores do poder aguardam para interpretar, à  sua maneira, o que esta Nação deseja. A escravidão voluntária de uma sociedade é caracterizada pela falta de deliberação, de decisões em tempo e de uma efetiva ação autônoma. Ação autônoma que implica não só profundo respeito ao termo liberdade como para o sentido que este termo é portador. O prefeito de Roma e historiador Giulio Argan indica o caminho quando escreveu (1992: 40) que “a ação do artista não teria nenhum sentido, se não fosse livre. Os homens do poder podem indicar-lhe o que fazer, mas não podem indicar-lhe a maneira de agir. A arte é um modelo do fazer segundo livres escolhas”. Na época de mídia eletrônica é necessário admitir que o Poder Originário não possui uma imagem do seu próprio potencial no mundo da livres escolhas. Livres escolhas esmigalhadas e confusas que não conseguem se agregar numa imagem positiva de si mesmo e muito menos do potencial de liberdade de que é portador..

 

Logística: a efetiva implantação é um projeto que paira acima de qualquer vontade política individual ou regional. Esta construção não pode ser realizada por meio de mitos, de alodoxia ou de “fake-lores”  inventados e repetidos até a exaustão. Uma narrativa histórica necessita daquilo que o diplomata e historiador Cabral de Mello diferenciava ao escrever (1995: 14) que “os amadores discutem estratégia, mas os profissionais preferem falar de logística, bem se poderia dizer que os historiadores  preferem  falar de documentos, deixando a outros o cuidado de descobrir o sentido da história”. Esta é razão pela qual se insiste que toda instituição digna deste nome tão bem como cada célula municipal tenho um arquivo documental, não só de sua origem, como dos fatos correntes da atualidade. Nestes documentos é possível compreender os limites e as competências de uma célula municipal viva. Com a proteção deste lastro logístico as lições sobre a célula viva de Maturana (1996: 41) são oportunas “a membrana da célula viva constitui ao mesmo tempo o seu limite e a abertura controlada das suas competências ao mundo externo”. O biólogo chileno evidenciou e reforçou algo antigo e evidente e fazem sentido nas guerras culturais entre outras células concorrentes e que buscam a hegemonia.

 

Lutas de representação: A rede numérica digital, conectada em tempo real como todo planeta, permite uma diferenciação no interior de uma unidade projetada e em constante mutação. Esta permanente mutação no interior de uma determinada unidade, visível em todo planeta, engloba também os ganhos da era industrial nas metrópoles urbanas. Diferenciação que permite fugir do padrão unificador, ao modelo do “tipo” único e múltiplo. Tipo único e hegemônico em luta permanente para “sua” representação. Luta crucial em  Chartier ao  destacar (1996: 79) como “a atenção sobre as estratégias simbólicas que determinam posições relativas e que constroem, para cada classe, grupo ou meio, um ‘ser percebido’ constitutivo de sua identidade”. Esta luta para um padrão unificador e totalitário também está presente e é visível nos núcleos urbanos inchados. Estes núcleos valem-se das estratégias simbólicas e reproduzem pelas atividades industriais comandadas pela uniformidade da obsolescência programada e instaladas em todas as metrópoles mundiais.

 

 

M

 

Manuais: todo e qualquer sistema necessita de energia própria para fazê-lo circular de uma forma homeostática entre as pulsões contraditórias e vivas. Quando o poder necessita de permanente atualização desta homeostática seria desperdício de energia retornar insistir e cultivar sistemas obsoletos e já sem suporte de uma infraestrutura obsoleta. Estruturas obsoletas como os manuais aos quais  Kuhn dedica acerba critica (1997: 17) pois:  “os manuais começam truncando a compreensão do cientista a respeito da história de sua própria disciplina e em seguida fornecem um substituto para aquilo que eliminaram. É característica dos manuais científicos conterem apenas um pouco de história, seja um capítulo introdutório, seja, como acontece mais frequentemente, em referências dispersas aos grandes heróis de uma época anterior. Através dessas referências tanto estudantes como profissionais sentem-se participando de uma longa tradição histórica. Contudo, a tradição derivada dos manuais, da qual os cientistas sentem-se participantes, jamais existiu.” A mitificação ou a naturalização dos tratados e os exaustivos códices de leis de todos os tempos pode tornar-se exemplares, obras admiráveis e índices de civilizações passadas. São desafios que mergulham a sua forca cultural no presente. Porém no presente necessitam da energia para fazê-lo circular de uma forma homeostática entre as pulsões contraditórias e vivas. Este é papel do Legislativo é competente para planejar e prever o fato futuro por mérito da informação numérica virtual, e pelo uso de dados disponíveis da realidade. O Executivo ao dispor de abundantes e atualizadas informações numéricas virtuais segue um Legislativo competente para  transformar a intenção em vontade e concretizando o fato previsto pela lei.

 

Material humano: a Vida, como a Arte, é gratuita. A liberdade, de pensar e de expressar o pensamento, não pode ser subjugada ou conspurcada por répteis e contrafações da política, da economia ou da mitificação. A simples expressão “material humano” trás terríveis conotações  de uma mentalidade dos repteis na política. É o que Hannah Arendt evidenciou (1983: 247.nota 1) pois  “para a história política recente não faltam exemplos para evidenciar que a expressão «material humano» não é uma metáfora inofensiva. Ela vale para toda uma série de experiências científicas de organização social, de bioquímica, de cirurgia do cérebro, etc.., que tratam todas de modificar o «material humano» como qualquer material.. O único resultado possível é de matar o homem, não necessariamente como organismo, mas como homem.” Os bens materiais, incluindo o “material humano” foram a tônica dominante da disciplina que se quer denominar de Ecologia. Aquilo que deveria significara triunfo do espirito sobre a matéria foi direcionada para a naturalização. No extremo oposto desviou-se imediatamente do espirito e buscou o seu triunfo na pura, absoluta e singela mitificação. Para esta mitificação valeu-se dos instrumentos dos grandes e pontuais discursos hegemonistas planetários expressos em pomposos e inúteis tratados.

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Materialismo: na era da informática numérica digital o território e a floresta tornaram-se virtuais e sem fronteiras físicas. No entanto não estão menos povoados de répteis políticos. Repteis que geram o terrorismo individual e independente das fronteiras físicas de qualquer Estado com respaldo da circulação econômica. Os répteis econômicos aliaram-se com os répteis políticos e estes com os conceituais. O tráfico de objetos e de drogas e toxinas (venenos) são as novas armas desta fauna. Estes se sustentam redes e celebram banquetes conceituais no quais sustentam e se alimentam do puro materialismo no qual  Hannah Arendt (1983: 240/1) cometem “o erro fundamental de todo materialismo na política.. é de não sublinhar que inevitavelmente os homens se revelam como sujeitos, como pessoas distintas e únicas mesmo se eles se concentram inteiramente sobre objetivos inteiramente do-mundo e materiais. Dispensar-se dessa revelação, supondo que isso seja possível, significaria transformar os homens naquilo que não são, de outra parte negar  a realidade dessas revelação e com consequências próprias, é simplesmente carecer de realismo.” Uma das características dos répteis é trabalharem no anonimato e coberta por uma densa rede de comparsas e de signos codificados para uso exclusivo da espécie. Esta falta de identidade pessoal aumenta na medida em que estes répteis se refugiam e se escondem numa imensa floresta ou num território nacional. Evidente que há necessidade de distinguir materialismo de imanência. Esta imanência necessária e fundamental para qualquer expressão de transcendia e que o materialismo nega.

 

Mediação: mediador distinto de intermediário há necessidade de admitir alguns conceitos de ‘mediação’ de ‘mediador’ e de ‘intermediário’. No conceito de ‘mediação’ Gleizal, percebe (1994: 48) que “designa o modo de funcionamento do político na arte política. É um verdadeiro conceito que permite pensar a autonomia de uma arte social e política. Pela mediação, a arte se socializa, mas segundo mecanismos que lhe são próprios. A arte abre-se ao político, mas sem aí se perder, podendo agir sobre o político”. No termo ‘mediador’ conforme Hennion et Latour escreveram (in Gleizal  1994: 24) que: ”o mediador transporta, redefine, desdobra e pode mesmo trair, enquanto o intermediário deixa intacto. Enquanto o mediador penetra naquilo que ele liga e pode mudá-lo, o intermediário fica externo em relação as partes sobre as quais trabalha. O intermediário é incapaz de produzir a alquimia que caracteriza a ação do mediador transporta, redefine, desdobra e pode mesmo pode  trair” .  Já no termo ‘intermediário’ o teórico Ladriere distingue  (1977: 17) que este “deixa intacto pois fica externo às relação as partes que trabalha”. Conforme os conceitos de ‘mediação’, de ‘mediador’ ou de ‘intermediário’ a cultura refere-se ao cidadão ou então aquela do ente publico.

 

Memória: o ENTE humano necessita construir um SER social a partir deste potencial fundo natural e da sua própria ação. Pelo seu lado natural o ser humano não nasce social. Esta construção encontra lugar especial na memória humana e na sua capacidade de refletir “sobre ela” é para o filósofo Aristóteles crucial (1973: 211.Metafísica. L.I cap.I) pois: “e da memória que deriva aos homens a experiência: pois as recordações repetidas da mesma coisa produzem o efeito de uma experiência e a experiência quase se parece com a ciência e a arte. Na realidade, porém, a ciência e a arte vêm aos homens por intermédio da experiência” O pesquisador e pedagogo Jean Piaget percebe (1983: 231) esta reflexão como algo circulara e potencializador a partir  de: “Erikson sustentou.. uma tese muito interessante: o presente afetivo é bem determinado, como demonstrou Freud, pelo passado do indivíduo, mas o passado é ele mesmo incessantemente reestruturado pelo presente”. No mundo da cultura humana Marcuse resumiu (1981: 79) “a autêntica utopia baseia-se na memória”. Contudo esta mesma memória humana corre o perigo de ser petrificado pela palavra e pelos signos falsos, o que constitui a sua morte certa.

 

Memória coletiva: Os pesados, tradicionais e caros equipamentos da era industrial estão enferrujando e desativados como as fábricas que lhes deram origem. As tradicionais estratégias, a logística e as táticas militares passaram a investir na lição das ditaduras do século XX. Estas preferem as formas das versões dos fatos políticos no lugar da realidade concreta. Neste sentido constroem o uma memória coletiva própria para o uso deste grupo interno e que Ruben Oliven destacou (1992: 20) que “a memória coletiva está ligada a um grupo relativamente restrito e portador de uma tradição, aproximando-se do mito e manifestando-se através da ritualização dessa memória”. Para tanto manipularam e construíram factoides em versões interesseiras que ocultavam e fizeram circular, apenas, as informações que lhes eram favoráveis.

 

Memória, esquecimento e lembrança: necessária circulação aberta, das informações, poderá impulsionar as energias do poder originário em direção da Democracia, da austeridade republicana e para a cidadania. Estes impulsos encontram poderosos apoios na dialética entre memória, esquecimento e lembrança e cujo efeito que Marcuse descreveu  (1981: 79) como:   “a autêntica utopia baseia-se na memória.. A arte combate a reificação fazendo falar, cantar e talvez dançar a palavra petrificada. O esquecer os sofrimentos do passado e as alegrias passadas torna mais fácil a vida sob uma realidade repressiva. Pelo contrário, a lembrança estimula o impulso pela conquista do sofrimento e da permanência da alegria”  Nestas dialéticas, transformadas em complementariedades, desejam-se todos os tratados disponíveis em todas as instâncias. Os contratos escondidos e depositados em arquivos estáticos de difícil acesso e cercados pela burocracia só ajudam a petrificar e congelar a memória viva.

 

Memória nacional: entra-se no conflito entre memória nacional, já petrificada e a memória que brota viva e plástica. Conflito que Ortiz conceitua (in Oliven, 1992: 20) como “memória coletiva dos grupos populares é particularizada, ao passo que a memória nacional é universal”. O próprio Oliven entende (1992: 20) como “a memória nacional refere-se a uma entidade mais ampla e genérica (a nação), aproximando-se mais da ideologia e, por conseguinte, estende-se à sociedade como um todo e definindo-se como universal”. O tema foi objeto de considerações de Eric J. Hobsbawn entre as  quais (1990:32) se destaca “o que caracterizava o povo-nação, visto de baixo, era precisamente o fato de ele representar o interesse comum contra os interesses particulares e o bem comum contra o privilégio”.   Prossegue-se aqui nesta “vista de baixo” de Hobsbawn. Nesta “vista de baixo” destaca-se a existência legal e as competências municipais que decorrem da Constituição Brasileira de 1988. Competências com potencial para implementar, amadurecer e reproduzir o Poder Originário a partir da proximidade das instituições da sociedade civil.

 

Mentalidade Uma das razões que fazem da Constituição Brasileira, de 1988, uma “Constituição Cidadã” é a menção ao exercício direto do poder pelo cidadão. Este exercício direto, evidente só poderá tornar-se efetivo e legítimo no âmbito estatal, nos termos da Constituição. Contudo, aberta esta possibilidade de exercício direto do poder, impõe ao cidadão um esforço na busca de conhecimento, de vontade para que ele usufrua este direito sem falsificações e sem corrupções. Inteligência que ele transfigura no direito de expressar a totalidade da nação em si mesmo, de contribuir com ações positivas para todos os brasileiros e sem causar qualquer prejuízo, apropriação daquilo que pertence à maioria da humanidade. Este exercício da vontade não pode representar diante de si mesmo a mentalidade de que o agente é portador. No Brasil o tema da mentalidade popular foi tratado em 1932[51] sob a ótica da sua formação escolar. No plano mundial Chartier desvela o que parece evidente a todos. Para ele (1998: 38) o que a mentalidade “é o que escapa aos sujeitos individuais da história porque revela o conteúdo impessoal do seu pensamento”. Este contraditório ocultamento exige constante e profundo esforço axiomático que inclua o agente atordoado pelo seu fazer mecânico. O texto relativo ao Poder Originário constitui um dos numerosos esforços axiomáticos que se lançaram na busca de conhecimento, de vontade para que o cidadão usufrua este direito sem naturalizações, prejuízos e corrupções. Leonardo da Vinci trata (1944: 165) mesmo tema sob a ótica da Arte.

 

Metáfora: No inicio de qualquer discurso é necessário conceituar e distinguir os termos a serem usados na argumentação, no texto ou na narrativa. Nisto segue-se o caminho de Aristóteles, o mestre da Retórica. Mesmo que estes termos constituam  metáforas eles servem para o discurso como “metaforai” atravessam a cidade atual Atenas sem se confundi ou definam a atual polis. Certeau valeu-se (1998: 199) desta imagem dos “ônibus da Atenas atual são denominados de metaphorai;[52] os relatos atravessam e organizam lugares, selecionam e reúnem num só conjunto, fazem frases e itinerários, são percursos de espaços” O titulo Poder Originário reúne dois termos como uma metáfora o que necessitam serem sinalizados e considerados como “entes primitivos” do discurso.  Nesta metáfora nem o conceito de PODER e nem o de ORIGINÁRIO  é suscetível de receber um sentido único, linear e reversível, ao estilo daquelas usadas nas Ciências Exatas. O literato mineiro Guimarães Rosa sentenciou (1963: 62) que “o, real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”.

 

Metáfora flutuante: O populismo, o marketing e a propaganda busca esta solução provisória e pontual sem atingirem o âmago, a fonte e a raiz da causa do problema, nesta direção Pernoud advertia (1997: 60) que diversidade não quer dizer ecletismo”. Mário da Andrade era bem mais rigoroso quando, em 1938,  na época do Estado Novo fustigava  (1955:  13) como “acomodatício e máscara de todas as covardias”. D outra parte não é possível uma existência vivida em linha reta e única. A vida como numa obra de arte o ser humano atravessa existência como uma metáfora flutuante. Na construção de uma obra de arte Marchan Fiz escreveu (1996: 245) que ela “atravessa sem linearidade fica ao critério do fluxo da libido e do inconsciente

 

Método: No inicio de qualquer discurso é necessário conceituar e distinguir os termos a serem usados na argumentação, no texto ou na narrativa. Nisto segue-se o caminho de Aristóteles, o mestre da Retórica quando afirmava (1973: 139. Tópicos VIII  1 155b):   “cabe discutir os problemas relativos à ordem e ao método que se deve seguir ao propor questões. Todo aquele que tenciona formular questões deve, em primeiro lugar, escolher  o terreno de onde lançará o seu ataque; em segunda, deve formulá-las e dispô-las uma por uma; e, por fim, passar atualmente a apresentá-las ao seu adversário”  Mesmo que estes termos constituam  metáforas, eles servem para o discurso como “metaforai” atravessam a atual cidade Atenas sem se confundir ou definam a atual polis. Certeau valeu-se (1998: 199) desta imagem dos “ônibus da Atenas atual são denominados de metaphorai; os relatos atravessam e organizam lugares, selecionam e reúnem num só conjunto, fazem frases e itinerários, são percursos de espaços” O titulo Poder Originário reúne dois termos como uma metáfora o que necessitam serem sinalizados e considerados como “entes primitivos” do discurso. Nesta metáfora nem o conceito de PODER e nem o de ORIGINÁRIO é suscetível de receber um sentido único, linear e reversível, ao estilo daquelas usadas nas Ciências Exatas. Estas seguem os passos metodológicos que René Descartes (1596-1650) escreveu(1983, p.38): “1º  - jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal”; 2º  - o de dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas quantas possíveis; 3º - conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer;4º - o de fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões gerais, que eu tivesse a certeza de nada omitir “. Para as Ciências Humanas parece que vale o que o literato mineiro Guimarães Rosa sentenciou (1963: 62) que “o, real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”. Nesta travessia que nos socorre de novo é Aristóteles (1972 p. 243 Metafísica - II cap. II (4)): “é absurdo procurar ao mesmo tempo a ciência e o método da ciência: nenhum deles, pois, é fácil de apreender. Nem o rigor matemático se deve exigir em todas as coisas, mas somente naquelas que não tem matéria” No discurso coimbrão legalista percebe-se mais atenção ao método. A verdadeira ciência aberta a experiência e contradições no uso da natureza do Poder Originário petrificou-se e permaneceu restrito exclusivamente ao evento de uma Constituição.  Torna, assim,  o seu  conceito único, linear e apenas reversível ao seu antigo hábito e cultura e uso histórico. O método científico mitificado aparece como um verdadeiro fantasma para espantar qualquer desavisado sobre as forças que operam nos diversos campos científicos. Esta mitificação foi enfrentada pelo austríaco Paul Feyerband [53] que mostrou as fantasias e os tabus do método.

 

Micro física do poder: Esta posse do poder - por tempo indeterminado e de forma absoluta e eterna -  é o ideal pretendido pelo regime colonial,  reinol e  imperial do Brasil. Porém não faltaram avisos contrários esta pretensão idealista e separada do poder. A voz de Michel Foucault em relação à microfísica do poder é cada vez mais contundente e é difícil ignorar. Segundo ele (1995) é força camuflada pela violência pontual e disseminada nos interstício sociais. Na era industrial esta micro física do poder destilou e injetou nestas  interstício sociais uma forma de poder no qual o voto constitui uma autoridade individualizada por períodos de tempo predeterminados. Aparentemente busca contrariar a aparência da forma absoluta e eterna a linha de montagem. Contudo é só na aparência sobre quem recai a culpa de tudo continua intacto o sistema. Estes indivíduos são substituídos no final destes períodos como obsoletos e os devolvidos à multidão anônima.

 

Micro história: Todos conhecem os nefastos estragos das escolhas equivocadas da proporção realizadas a partir do espaço físico e relacional humano possível nesta forma do Estado. Estes nefastos estragos são arrastados para a cena pública e ali prolongados pala aparente contradição entre micro e macro história. Este é equivoco denunciada por Guinsburg quando afirma (in Pallares-Burke, 1999: 9) que “a ideia de opor  a micro história à macro história não faz sentido e é absurda a oposição entre história social e política”. A contradição é perfeitamente transformada em complementariedade e ali brota uma forma de História Politica que é umas áreas mais promissoras das Ciências Humanas. Sem a percepção e os recursos desta transformação desta contradição  em complementariedade cidadão, ou é esmagado pelo gigantismo deste Estado. Ou pior, é pervertido, radical e definitivamente, pela força desproporcional de um Estado hipertrofiado e central.

 

Mito da fala despolitizada: o mito é algo que possui a sua plena vigência e vigor na cultura contemporânea.  Especialmente  este mito se impõe com todo vigor de uma cultura na qual as edições, as mediações e eventos possuem  o horizonte de uma inteligência média corresponde aos doze anos Esta vigência foi estudada por Rollo May[54]. Os atravessadores, os mediadores e autotitulados proprietários do poder necessitam esta aparente neutralidade para quebrar a espinha dorsal da autorização do exercício deste poder, apresentam e com a qual arruínam toda a lógica institucional. Desmontam a linearidade administrativa pela denúncia vazia. Valem-se daquilo que Ruben Oliven (1992: 26) caracteriza como ‘mito da fala despolitizada’. Esta possui como: “seu princípio transformar a história em natureza e a contingência em eternidade. Ele não se propõe a esconder ou ostentar algo, mas deformar. Na medida em que a função específica do mito é transformar  um sentido em forma, ele é sempre um roubo de linguagem. O mito nas sociedades modernas é uma fala despolitizada que se imagina eterna”. Nesta deformação desqualificam e congelam a ação da autoridade das instituições destinadas ao bem comum e que lhe dão suporte

 

Modernismo:  manter um país continental possui o seu preço. Porém vale a pena correr o risco se for considerado o recurso às comunicações como ferramenta eficiente para a potencial segurança de uma nação. A escolha desta política evita que uma nação seja refém de corporações ou de poucos indivíduos. Evita que ideologias associadas à estéticas irreconciliáveis leve para duras e esterilizantes maniqueísmos. Maniqueísmos como frente ao termo modernismo em relação qual Durand apontou (1989: 05) que “a partir da conversão ao modernismo dos intelectuais mais ativos no jornalismo cultural e na crítica de arte, a história do campo das artes plásticas ficou clivado por uma espécie de periodização maniqueísta na qual tudo o que se refere à fase acadêmica como que lembra conformismo, subserviência ao estrangeiro e conservação estética e tudo o que diz respeito ao advento do modernismo como que se recobre de criatividade, ousadia e autenticidade nacional”. Maniqueísmos que conduzem para infindáveis paradigmas inconsequentes para uma nação. Maniqueísmos cuja saída é a imponderabilidade de um “laissez-faire” político, econômico, social e cultural. Esta disposição de viver no aberto, impõe e necessita de uma permanente vigilância, cultivo do hábito de integridade intelectual na linha do que Tourraine[55] observou, registro e publicou

 

Moderno. apareceram as mais inesperadas brechas no sistemas de segurança da era industrial. “Desmancharam-se no ar”. as estratégias, a logística e as táticas militares tradicionais, diante deste tipo de noosfera da informática, Este desmanche atingiu também, em cheio, as estéticas que utilizavam as estratégias que denominavam de modernas. Hansen analisou (1998: 34) este desmanche e constatou “em 1997 o momento heroico da sua diferença descolonizadora há muito foi apropriado no momento cínico do mercado objetivamente previsto no ato mesmo da invenção. O ‘moderno’ tornou-se método e pouco sobrou da negatividade das invenções [...] O que, supondo-se o monopólio do mercado, viria as ser romanticamente irrisório: Marinetti acadêmico, Duchamp no museu.  A pintura moderna era fundamentalmente  paródia. Capturada no museu, no mercado o nos media, tornou-se autoparódica, pois monumentalizada como classicismo da destruição de monumentos”. Destruição dos monumentos  de um passado da era e da economia agrícola. Destruição que por veza atinge os pesados, tradicionais e caros equipamentos da era industrial. Estes estão enferrujando e desativados como as fábricas que lhes deram origem, levando consigo o que restou do termo moderno. Desmanche que atingiu também as tradicionais estratégias, a logística e as táticas militares passaram a investir na lição das ditaduras do século XX. Estas preferem as formas das versões dos fatos políticos no lugar da realidade concreta.

 

Modo de produção erudita: a reprodução do poder de forma alguma pode desconhecer o difícil e sutil problema de prestar atenção e orientar as  ações concretas ao modo de produção erudita. Atenção e agir que Pierre Bourdieu descreveu e afirmou (1987: 117) que: “deve incluir as instâncias capazes de assegurar, não apenas a produção de receptores dispostos e aptos a receber a cultura feita, mas também a produção de agentes capazes de reproduzi-la e renová-la”. Graças a este modo de produção erudita espera-se que a revolução não ocorra do modo como ela se apresentou de fato na maioria das vezes. Graças a este modo de produção erudita as comoções sociais, ou a ação  de uma soberania de um Estado sobre soberania de outro Estado, podem serem diagnosticadas. Modo de produção erudita que identifica os pontos de atrito pelos instrumentos da informação numérica digital e formas civilizadas que contornam qualquer intervenção física. O agente deste modo de produção erudita foi objeto bem humorado estudo de Ely Souto dos Santos [56] na época da Ditadura Militar.

 

Moralidade: A Constituição Brasileira, de 1988, prescreve, no caput do seu artigo 37, uma íntima conexão entre o poder municipal, estadual e nacional impondo que todo o serviço público o preceito de ser “Legal, Impessoal, Moral, Publicizada e Eficiente” [LIMPE]. Este preceito inicia e se corporifica no âmbito do poder municipal. Contudo esta situação torna-se real só se existir uma imensa boa vontade na Câmara Municipal e expressa na representação efetiva desta nas conexões com a Câmara e o Senado Nacional. No entanto, uma vez eleita, esta representação esquece o restante da população, mesmo sabendo que ela é muito bem paga com o dinheiro do povo. Na medida em que esta representação corre pelas vias da economia e dos bancos ela responde cada vez mais ás injunções e aos comandos da matriz econômica internacional.  As práticas da “Legalidade, da Impessoalidade, da Moralidade, da Publicidade e da Eficiência” seriam impossíveis explicar e de aplicar nestes mesmos bancos. Para ser demonstrar a impessoalidade, a moralidade e a publicidade estes bancos teriam imensas dificuldades.  A publicidade seria substituída pela propaganda e pelo marketing que adoraria eficiência máxima na acumulação econômica que é a meta que contorna qualquer moralidade. Na questão da eleição dos dirigentes dos bancos pretende-se chegar ao ponto em que a sociedade é a origem apesar de todas as caras feias. Origem e fonte que sustenta, não só  uma nação, mas de todos os que reúnem suas vontades para gerar um coletivo humano. As decisões técnicas e econômicas não estão isentas de componentes coletivos humanos, sociais e axiológicos quando atingem toda uma coletividade. As decisões, face às aplicações econômicas e técnicas, necessitam passar pelo debate, escolhas das prioridades e pela a hierarquização dos valores humanos neles envolvidos.

 

Morte: a entropia e o caos andam de mãos dadas em todos os horizontes humanos e da Natureza. Arendt escreveu (1983: 313)  que “a vida humana precipita-se em direção à morte e a ruina”. A consciência do sentido da morte constitui um dever moral para o pensador Bobbio (1997 cad.5 p.4 3ª col)  pois “acho um dever moral do homem que tem consciência do limite da vida levar a sério a morte. E levá-la a sério significa que a morte é a morte - e não um prolongamento da vida”. Porém este limite e a sua efetiva ultrapassagem revelam partes significativas de quem é o ENTE humano. Pois segundo Arendt, (1983: 253) “a essência humana – a essência de quem alguém é – só começa a existir quando a vida se vai, não deixando atrás dela senão na história”. O mesmo principio da permanência Argan descobre (1996: XXIII) “no fundo da cada obra clássica encontramos o pensamento da vida enquanto em cada pintura ou escultura informal  encontramos a morte”. Na perspectiva oposta Max Bense afirma (1975 :118) que “a sua ação permite lembrar que ainda que o homem deva morrer, não nasceu para morrer, mas para renovação” .

 

Mostrar: o reducionismo é a salvação e sorte daqueles que não querem mudar. A leitura restrita ao mínimo das necessidades básicas, impede qualquer ruptura epistêmica e incapaz de deixar um espaço conceitual para um autêntico e coerente Poder Originário.  O conceitual apropriado necessita preparação e correção para produzir algo de útil. O senso comum solicita apenas quer que o seu interlocutor ‘mostre’ competências. Estes ‘mostrar’  para  o pensado e esteta Pedrosa (1986 : 122)”o que se exprime por si mesmo na linguagem não o podemos expressá-lo por meio da linguagem’, o que equivale a afirmar, ‘o que se pode mostrar não se pode dizer’...Mostrar pertence a outras categorias de conceituação; não é fixado pelo esqueleto lógico; sua estrutura já não é intrinsecamente linguagem. Se ‘mostrar’ significa, com efeito, ‘expressar-se espontaneamente’, é do domínio ainda intrinsecamente  psicológico , isto é, da expressão. Esta efetivamente surge, Quando da organização das partes sensoriais do todo perceptivo aparecem. Espontânea ou ingenuamente, com caracteres distintos dos dados sensoriais e físicos mensuráveis”.  Contra este senso comum do ‘mostrar’ o intelectual Danto afirma (1993: 204) que “a filosofia é pois literatura tanto mais que entre as condições da verdade figuram aquelas pelas quais ela é lida: ler tais textos supõe revelar o que nós somos em virtude da nossa leitura” Afinal mostramos o que somos naquilo que lemos.

 

Movimento: O poder econômico e monetarista usurpou o direito ao poder real e exercido pelo Estado Nacional. Esta usurpação foi apoiada e sustentada pela imprensa industrial, subordinada ao poder econômico e monetarista. Este poder econômico não só sombreia o poder real o Estado Nacional. Se não corrompe por dentro este poder nacional, condiciona e até determina decisões no executivo, norteia e reforça a legislação que lhe interessa. O poder econômico e monetarista desvencilha-se inteiramente das instituições. Precipitam-se por ações que se materializam em  ‘movimentos’ que seguem na linha da reflexão de Vilhena quando ele afirma (1997: 213)  que: “para a cultura brasileira cabe a crítica de que as ações eufóricas não vão além de ‘movimentos’ com grandes dificuldades para se institucionalizar até pela descrença nas próprias  instituições”. Esta descrença é pelo fato evidenciado que dificilmente banqueiro vai para o presidio. Vai todo e qualquer cidadão.

 

Mudança: em política não há espaço nem oportunidade para desculpas como não existe também em Artes e em Esportes. Para romper com este surreal ‘diálogo’ consigo mesmo cabem sim as mudanças que Barata descreveu necessárias para toda instituição dignas deste nome. Ele afirmou (1997: 389) que: “a possibilidade de mudanças faz parte das estruturas das instituições duradouras, seja através de mutações radicais, responsáveis por grandes e efetivas transformações dirigidas por um plano individual (expressões de época) ou geracional de alta capacidade modificadora, o seja por intermédio de lentas assimilações de novas cargas de ação fecundadora, em gradual modificação das situações de trabalho e de realizações da instituição. Para o maior resultado (ou ao contrário uma saída insuficiente) em face das necessidades da sociedade em que a instituição atua, ou dos encargos inerentes aos trabalhos da própria entidade, podem convergir apoios ou obstáculos externos”. No entanto não é possível nestas mudanças argumentar e agir em direção de um eterno progresso linear e uniforme. Muitas vezes há necessidade de recuos estratégicos para não colocar em campo e gastar as últimas e derradeiras reservas. Nas reservas reside o autêntico Poder Originário de uma instituição ou de uma nação.

 

Mundo: poucas pessoas examinam igualmente a Natureza como ao mundo conceitual. Mesmo no mundo construído pelo homem e que deriva do seu universo conceitual. Este detido e minucioso exame - do que a nossa mente produz no mundo empírico - que Hannah Arendt colocou (1883: 188) diante de nós:  “à subjetividade dos homens opõe-se a objetividade do mundo feito pela mão humana, muito mais que a sublime indiferença da natureza virgem cuja força elementar esmagadora nos obriga a girar sem descanso no círculo de sua biologia perfeitamente ajustadas a um vasto ciclo de economia da natureza. É somente porque que nós fabricamos a objetividade o nosso mundo com aquilo que a natureza oferece, porque nós o construímos inserindo no espaço da natureza e que assim nos sentimos protegidos, que nós podemos  olhar a natureza como alguma coisa «objetiva». Além de um mundo entre os homens e a natureza, existe um movimento eterno, não existe objetividade”. Pensamentos semelhantes podem serem encontrados em Schiller, (1963: 117)Este mundo conceitual encontra ou inventa a formalização e a definição que conferiu ao Estado a delegação da potência de uma Nação. Nação que possibilitou a origem e transformação num suas próprias competências. Neste amplo e indefinido campo de forças que se materializam num Estado que necessita fazer emergir, conservar e reproduzir um governo nacional. Governo que na contemporaneidade é proveniente das circunstâncias provocadas pela era industrial onde recebeu sua forma legível e as três funções do seu poder.

 

Município: a menor fração territorial e administrativa do Estado brasileira. A sua organização administrativa reproduz, como num fractal,  a mesma estrutura do Estado nacional  e regional. Considera-se que o seu cidadão encontra nesta célula  municipal os seus limites pessoais. De outra parte as instituições, as organizações poder civil possuem ali o seu ponto de origem, sustentação e reprodução.  O autêntico político reconhece a sua realidade sobre-humana e nem sonha em transformar o seu cargo público em algo do qual irá usufruir algum bem particular ou para os seus. O seu horizonte administrativo, cultural e estético é conferir identidade e visibilidade inclusive ao espaço físico de sua comunidade. Na célula municipal é possível maior agilidade e viabilidade para examinar o acervo das diversas ideologias correntes ativas no seu âmbito. De posse destas informações consolidadas, permite realizar contratos com potencias franquias legais institucionalizáveis, implementa, controla o funcionamento e avalia em tempo real.

Museu: a criação e a institucionalização dos museus ocorreu ao longa da era industrial e corresponde à afirmação dos Estados nacionais que depositaram ali a sua memória e patrimônio de sua própria identidade[57]. A sua implementação, controle e funcionamento foi paralelo com o acúmulo necessário para implementar, manter e reproduzir as fábricas[58]. Numa concepção de sistema cultural ele é a reserva técnica de saberes, tecnologias e produtos que não encontram mais utilidade imediata. Na concepção do britânico  Herbert Read a machadinha por muito tempo evoluiu para unir função e forma. No momento em que completou esta aliança ela foi item da linha de montagem da fábrica. Porém chegou o momento em que ela perdeu a sua função. Quando persiste só a forma sem a função este objeto está apto para ser peça a ser recolhida, catalogada e ganhar a função de uma peça da indústria cultural e do turismo.

 

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Nação: uma comunidade sob o comando do inconsciente coletivo com reflexos latentes e profundamente cravados no inconsciente individual e coletivo, e mantidos vivos pelos valores da eternidade e da dúvida universal. Os Estados Nacionais Soberanos comportariam 3 milhões de habitantes no máximo,  sonhados por Augusto Comte, não puderam ser implementados. Estados que dariam conta, de certa  forma do conceito de nação que lhe confere Max Weber (in Oliven 1996: 15) ao afirmar que nação é “uma comunidade de sentimentos que normalmente tende a produzir um Estado próprio”. Aos produzirem os próprios Estados Nacionais formariam, manteriam e reproduziriam comunidades de sentimentos expressas em unidades políticas soberanas, com territórios nos quais todos os habitantes manteriam estes sentimentos e até poderiam se conhecer potencialmente.

 

Nação-tradição: a entropia universal não poupa qualquer criação humana, por mais geniais que sejam estas formas de nacionalidade. Para prorrogar esta ruína e contornar as forças da entropia universal a racionalidade administrativa humana aponta para dois caminhos opostos, de dialética constante e ativa. Nesta dialética podem contar e agir coerentemente com a Natureza  Ruben Oliven percebeu (1992: 27) esta força na Nação-tradição na qual “uma das razões pela qual a problemática da nação e da tradição permanece sendo extremamente atual, num mundo que tende a se tornar uma «aldeia-global» se deve ao fato de as pessoas continuarem a nascer num determinado país e região”. Para agi coerentemente com a Natureza um dos caminhos são os pequenos Estados e com extensão territorial mínima como a Suíça, a Holanda e o Uruguai.  No caminho oposto aos Estados minúsculos estão  os blocos continentais em permanente estado critico e a beira de fragmentações como aconteceu com a Iugoslávia do pós Segunda Guerra Mundial

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Nacionalismo: o Estado padece da falta de legitimidade da parte da Nação e de um contrato “stricto sensu” entre quem sustenta o poder e aquele que arma a cena da sua divinização como poder. Nação que esta em permanente conflito de identidade própria pois, segundo Eco, (1995: 9) ele é terreno onde “o protofascismo germina a partir da frustração social ou individual. Para os que se veem privados de qualquer identidade social, o protofascismo diz que seu único privilégio é o mais comum de todos, o de terem nascido no mesmo país”. Para  Gellner (in Oliven, 1992: 15) a partir disto “o Nacionalismo não é o que parece nem, acima de tudo, o que parece a si mesmo. As culturas que ele reivindica defender e reviver, são frequentemente suas próprias invenções, ou são modificações a ponto de se tornarem irreconhecíveis”. Esta mesma constatação é possível encontrara também em Buzzar (1997: 397). Certamente este cenário, no âmbito brasileiro, sempre foi e continua sendo extremamente favorável e frutífero aos mediadores, atravessadores e de quem se diz tutelar do Poder Originário. Porém o cenário não é tão favorável aos atravessadores, aos pseudo titulares e aos mediadores no âmbito da célula municipal. A passagem entre o poder e a autoridade ocorre potencialmente com menos divinizações e mitos. é visível e na proporção da população.

 

Narração e História: o administrador potencialmente corre o risco de ser contamina e desqualificado como pessoa como agente do bem publico. Este administrador e servidor público vingam-se quando ele percebe algum vazio de uma lei. As descobertas ou alertas sobre destes vazios são graças à sua intimidade com esta lei.  Conhecem as desastradas mediações, fraquezas e das aversões no exercício da autoridade, herdadas do passado, do Estado central brasileiro. Diante de tantos fatores, a impunidade ganha ares de certeza mesmo que seja para escravizar o seu semelhante. Com esta certeza personaliza o poder nas suas próprias mãos e o naturaliza dando livre curso ao seu onisciente, ao seu onipotente, e o quer eterno e universal em atos de desvios funcionais. As narrativas históricas favoráveis a ele podem praticar também esta façanha. Isto é possível, pois a narrativa histórica para Chartier (1998: 246) abrange “a compreensão da história é construída na e pela narração. Coloca como central a possibilidade de inteligibilidade do fenômeno histórico a partir da localização dos seus traços acessíveis”. Para os corruptos e corruptores a construção desta inteligibilidade é mero detalhe. Hannah Arendt reforça  (1983: 251) pois que  “mesmo que a história seja o resultado das ações humanas, não é o ator,  mas o narrador que ‘faz’ a história”. Os atravessadores busca fazer esta história. Dominam todo este arsenal do poder e gozam da fortuna de manter qualquer ordem que lhes é favorável. Não permitem que as informações relativas a qualquer das suas próprias corrupções cheguem ao conhecimento do ocupante do cargo máximo e, muito menos ainda, ao seu Poder Originário.

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Natureza: De outro lado estes mundos estão próximos e dependem da Natureza. Enquanto isto as leis aspiram a serem eternas e intemporais.  Para Badiou, (1996: 109) “a natureza é o que do ser é rigorosamente normal”. Ele continua (1996:395) “a natureza é a normalidade recorrente. Assim o ser-natural realiza uma estabilidade, um equilíbrio maximal entre a apresentação e representação (+), entre presença (+) e a inclusão (+) entre situação (+) e o estado da situação(+)”.No plano estético o poeta Fernando Pessoa realiza precisas distinções entre razão e natureza  ao escrever (1985: 64-5) “porque se compreende a natureza por fora; e não se compreende  por dentro; porque a Natureza não tem dentro senão era a Natureza”.  Enquanto isto Gele (1980: 133) afirma que “a razão exige a unidade como tal, isto é o genérico, enquanto a natureza solicita a variedade e a individualidade, e assim, cada uma delas procura chamar a si mesmo o homem. Perante o conflito entra duas forças cumpre a educação estética impor-se como mediadora, porque o seu fim consiste, segundo Schiller, em conferir às inclinações, tendências, sentimentos e impulsos, uma formação que as leve a participar na razão de tal modo que a razão e a espiritualidade ficam despojadas do caráter abstrato, para se unirem a Natureza como tal, e da carne e do seu sangue se enriquecerem”. Esta busca de unidade pela razão constitui o terreno do mundo pragmático do administrador. Ele é capaz de realizar o que administrador escolar norte americano Rudolph P. Atcon aplica ao conceito de Campo. Ele escreveu (1974: 3) como a razão se comporta no “ramo do conhecimento que reúne todas as matérias básicas, derivadas e aplicadas de sua competência”. Com este conceito a razão consegue a unidade na pluralidade da natureza.

 

Nomos: A cultura social humana exige uma nova forma de autoridade. Esta forma do exercício do poder torna-se possível graças aos vetores da informática numérica digital. Esta possibilidade emerge da circulação da informação, em volumes expressivos, em tempo real, sob a orientação múltipla, simultânea e em tempo real. Emerge com a possibilidade do  armazenamento das informações sem limites. Firma-se pela reversibilidade e da recuperação imediata e integral destas informações disponíveis 24 e abertas 24 horas do dia e 365 dias por ano. Eclipsa-se a forma de autoridade que se mantinha no poder com mistérios e a venda das suas ilusões. Esta eclipse é coerente com a natureza da norma ou “nomos” que Hannah Arendt reconhece (1983: 104  nota 4) na “palavra grega para lei, nomos vem de nemein que significa repartir, possui ( o que se possui) e residir...A palavra latina lex, possui um sentido diferente: ela indica relação entre homens mais do que separação”. Da mesma forma Marcuse entende( 1981 p. 79) que: “o nomos a que a arte obedece não é o do princípio da realidade estabelecida, mas a sua negação. Mas, uma mera negação seria abstrata,  «má» utopia. A utopia na grande arte nunca é a simples negação do princípio de realidade, mas a sua preservação transcendente (aufhebung) em que o passado e o presente projetam a sua sombra na realização. A autêntica utopia baseia-se na memória”. Com esta concepção de lei, de norma ou de “nomos” é possível uma nova forma de autoridade. Autoridade que exerce a sua competência abastecida e abastecendo, com eficiência, a circulação do poder também com os vetores da informática numérica digital.

 

Nooesfera e biosfera  na concepção da “noosfera” de Pierre Teilhard de Jardin (1881-1955)[59] a humanidade toma consistência cada vez mais profunda e que se manifesta nos ambientes que dependem, cada vez mais, desta consciência. “Ce mot, que Pierre Teilhard de Chardin emprunte à Vernadsky, part de l'observation qu'une pellicule de faible épaisseur (quelques kilomètres) entourant la Terre - qu'on comparerait presque aujourd'hui à un biofilm - contient à la fois toutes les connaissances de l'humanité et toute sa capacité de traitement de l'information. La noosphère se juxtapose à la lithosphère (la masse inerte), la biosphère (la masse vivante) et à la sociosphère (ensemble des relations humaines et/ou écologiques) et l'ensemble de l'activité intellectuelle de la Terre : il s'agit d'une sorte de « conscience collective de l'humanité » qui regroupe toutes les activités cérébrales et mécaniques de mémorisation et de traitement de l'information.” https://fr.wikipedia.org/wiki/noosph  em 15.08.2006 “This biosphere, this advancing network of life, has thus far resulted in the culminating development of man. With the advent of man, Teilhard believes that cosmic evolution has finally become conscious of itself...at least on this planet, which is woven into the cosmic whole. Teilhard opines that the destiny of man is to culminate into a consciousness of the species.  This consciousness of mankind will ultimately become the "thinking layer of the earth," which Teilhard calls the *noosphere.*  Cosmic evolution will not cease with the noosphere. Teilhard does not consider the human species to be the epitome of the universe; rather, he believes that Nature provides us with yet another evolutionary opening...that of a "super-soul above our souls." The whole "gigantic psycho-biological operation" of cosmic evolution points toward a "mega-synthesis" of all the thinking elements of the earth forcing an entree into the realm of the super-human” in https://www.bizcharts.com.br/stoa  15.08.2006.

CHARDIN, Pierre Teilhard de (1881-1955). O Fenómeno Humano.  Porto Alegre: Tavares Martins, 1970. 355p.

A ação humana, comandada pela sua consciência, está apenas iniciando o seu processo transformador. Porém esta ação humana - consciente e determinante, em todos os ambientes e em mudanças permanentes. - ainda está muito longe de ser portadora da potência do ar, da água e da biosfera,

 

Norma: no domínio da liberdade e humanidade os sistemas abertos e com energias soltas são potencializadas melhor pela lógica formal da informática numérica digital do que pelo taylorismo da era industrial. Na base desta lógica continua imperando a norma cientifica. Esta norma, como sistema aberto, foi  descrita por Ladrière (in Bruyne, 1977: 16), pois: “de um ponto de vista lógico, a aquisição efetiva de um saber é comandada opor uma metodologia que obedece, ela própria, a uma norma diretora. Na realidade histórica  de seu devir, o procedimento científico é ao mesmo tempo  aquisição de um saber, aperfeiçoamento de uma metodologia e elaboração de uma norma” Esta trabalhosa e arriscada operação, da busca da norma num sistema aberto, para Ladrière (in Bruyne 1977: 13) acontece: “quando a reflexão sobre a ciência se organiza de maneira explicita, nada mais faz do que passar para a expressão o processo de auto finalização; é o que explica que as formulações que ela propõe possam ter um caráter normativo. A norma de que se trata que não vem de nenhum outro lugar senão do próprio processo pelo qual a ciência se constitui em seu devir histórico. Mas se pode falar de norma, é porque esse processo é, por si mesmo indicativo. Quando o procedimento epistemológico consegue refleti-lo, ele reencontra o eixo de progressão que se elaborou nesse processo e, ao mesmo tempo, descobre indicações relativamente precisas sobre a maneira pela qual o movimento poderá prosseguir” Com esta norma aberta para a imaginação e para a criatividade as energias mentais e físicas encontram no caos a matéria prima para os projetos possíveis e o espaço potencial para que a imaginação erga a sua criação. Esta elaboração é possível ao ENTE humano na medida em que o seu SER possui um núcleo solido e equilibrado --  Normas para um texto https://en.wikipedia.org/wiki/Wikipedia:Stub

 

Nôrmicos no mundo prático brasileiro está muito próximo ainda da satisfação das necessidades básicas e da dependência da mentalidade colonial. O Brasil está longe de uma nação única, pois resultou das diversas origens culturais e estágios, ainda muito vivos e atuantes e que se reproduzem carentes de  um pacto nacional nascido e cultivado no interior de cada cultura e de cada estágio cultural. Vão longe os ecos das argumentações dos ‘nórmicos’ “republicanos favoráveis à origem do programa republicano (manifesto de 1870 de ITU: S. Paulo) e contra os ‘desvios’ de Júlio de Castilhos”. Ecos abafados pelo tempo e pelo sangue das Revoluções de 1893 e 1923 e lembrados, em 1991, por raros historiadores como Fernando O’Donnel. Continua a imperar a vida em clãs e de tribos indígenas  da realidade de grande parte de territórios de Estados brasileiros devido a este esquecimento e o retorno para a onipresente e determinante Natureza.

 

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Objetivação: no uso e na intervenção das ferramentas numéricas digitais é possível também seguir os passos de Bruyne (1977: 51) para aproximar o mais possível de uma “objetivação que é o conjunto dos métodos e das técnicas que elaboram o objeto de conhecimento ao qual se refere a investigação. Esse objeto é transcendente a toda consciência, só se dá ‘por esboços, sempre incompletos, mas sempre captados numa presença’. A ciência entre a linguagem e as coisas, insinua, exprime proposições, fala de acontecimentos incorpóreos, de fatos acontecidos às coisas corpóreas. A ciência não pode atingir as coisas, mas constrói, manipula, realiza, prediz os fatos, os acontecimentos efeitos que não existem fora das proposições que os exprimem. O que é próprio de toda operação de sentido, de linguagem”. Esta objetivação do uso e intervenção das ferramentas numéricas digitais, apesar de trabalhos, difícil e subtil, mormente no seu uso em eventuais intervenções competentes para transformar as contradições entre o grande organismo nacional e a pequena célula política, social e cultural do município

                                                                        

Objeto: a criação dos Estados nacionais contemporâneos resultou da necessidade de constituir um campo de reserva de mercado para que a lógica das máquinas pudesse funcionar com previsibilidade para a colocação daquilo que elas produziam. Na concepção de Hannah Arendt os produtos são objetos (1983: 194) que: “não são apenas a coisa, mas a coisa em relação com outras coisas e em especial com o sujeito que pensa que não é apenas o indivíduo, mas o indivíduo em relação com os outros indivíduos e com as coisas, o indivíduo na sociedade”.  Controlando e produzindo estas coisas estes Estados nacionais contemporâneos acumularam no interior das suas fronteiras, gente, insumos, equipamentos e capitais destinados à estas máquinas cada vez mais vorazes. O processo, comandado pela lógica das máquinas, foi levado adiante de forma subliminar. O Poder Político Originário não ficou sabendo desta concepção empresarial, pois esta base desta lógica industrial não foi divulgada para ele.

 

Objeto de ciência: Durkheim afirma (1983: 129) que “um todo não é idêntico à soma das partes que o constituem. É algo diferente cujas propriedades diferem do que revelam as partes de que é composto.” Nisto Piaget acompanha (1983: 38) permitindo preciosas distinções no processo evolutivo humano bem distinto das etapas escolares formais e decorrentes do processo industrial da linha de montagem unívoca. Há necessidade de entender que esta busca é um objeto da Ciência. Para Bruyne (1977: 51) “ o objeto de ciência é um sistema de relações construídas expressa e explicitamente, ele se opõe ao objeto pré-construído pela percepção, com o qual lhe é necessário romper continuadamente”. Este formalismo torna presente numa alodoxia reforçada por um “fake-lore” e se materializa numa pseudo liberdade sob o comando da onipresente e subliminar indústria cultural. Os teóricos Adorno e Horkheimer, da Escola de Frankfurt

 

Objeto de conhecimento: existem evidentes dificuldades tanto nesta análise como na tentativa de tornar a construção do Estado nacional em coisa monossemântica. Esta tentativa enfrenta a imponderabilidade, vivida no espaço da 3ª onda, com uma não elaborada contradição entre a apregoada naturalidade e imortalidade de doutrinas e de ideologias, que teimam em se desmanchar no ar junto com os seus tempos irreversíveis da fumaça das fábricas da era industrial. As doutrinas e as ideologias, vigentes e suportes da era industrial, tornam-se peças de museu.  Como criações humanas, estas doutrinas e as ideologias, também seguem as leis de entropia. Situam-se no que  Bruyne denomina (1977: 51 /2) de:  “objeto de conhecimento construído é uma tradução específica, do real, é um objeto que responde a leis de composição autônomas, construído por métodos explícitos. É um sistema simbólico, que difere, em natureza, do objeto real e, em complexidade, do objeto percebido”. Os objetos de conhecimento apregoados pelas doutrinas, pelas ideologias e pela práticas derivadas destes projetos, possuem semelhante destino daquelas que a humanidade teve quando terminou o tempo da era agrícola. Uma vez que foi perdida a sua íntima e eficaz relação entre a sua forma e a sua função, tornaram-se peças de museu.

 

Objeto percebido: a criação humana da escola formal constitui um suporte para esta eficácia. Ela atingirá esta eficácia esperada, não só pelo controle, como pela liberdade, autonomia e dignidade que ela exigir do seu estudante. Esta liberdade inicia pela compreensão do que Bruyne denomina (1977: 51) de: “objeto percebido é aquele que se dá aos sentidos, sob a forma de imagens. Piaget denunciou o mito da origem sensorial de nossos conhecimentos, mito que postula que o sujeito cognescente é de algum modo um receptor passivo de informações vindas de fora; portanto, o próprio objeto percebido numa certa medida, construído por esquemas assimiladores e acomodares do espírito.” No caso da escola formal ela não ultrapassa os limites de um objeto percebido. Objeto percebido na sua arquitetura, agentes e rituais coletivos. Porem entre os objetos percebidos imediatamente não se encontra a dignidade, a autonomia e nem a liberdade. Como também a sua negação e contrário não são objetos percebidos imediatos A liberdade se revelará gradativamente na sua relação ao Poder Originário.  No presente texto o termo ‘liberdade’ que constitui um ente primitivo e não um objeto percebido imediato. Na mediação explicita-se o termo ‘liberdade’ em direção a sua etimologia latina, na qual a palavra deriva de ‘liber

 

Objeto real: A criação humana da escola formal constitui um suporte para esta eficácia. Ela atingirá esta eficácia esperada, não só pelo controle, como pela liberdade, autonomia e dignidade que ela exigir do seu estudante. Estes estudantes, agentes e equipamentos escolares são objetos reais que na concepção de Bruyne(1977: 51) constitui “causa presumida dos nossos sentidos. Os objetos percebidos são os efeitos supostos dos objetos reais latentes.”. A compreensão da liberdade possui um estágio intermediário que passa pela compreensão do que o mesmo Bruyne denomina (1977: 51) de: “objeto percebido é aquele que se dá aos sentidos, sob a forma de imagens”.

 

Obra: a diversidade e a riqueza da criação e a proporção humana oferece mananciais insuspeitos. Um dos campos nos quais flui gratuita esta mesma diversidade é o mundo das obras humanas. Entre estas obras de Arte Lemagny destaca (1992: 13) aquilo: “eu gosto, é o esplender das coisas. Existem coisas feitas pela mão humana, em relação aos homens, numa indiferença tão elevada e de uma cumplicidade tão muda como as coisas da natureza: são as obras de arte. Elas me ensinam a humildade e a fidelidade”. Por sua vez a pensadora Hannah Arendt completa (1983:41) “a obra é atividade que corresponde a não-naturalidade da existência humana, que não está incrustada no espaço e da qual a mortalidade não é compensada pelo retorno cíclico da espécie. O obra fornece um mundo «artificial» de objetos nitidamente diferentes de todo o meio natural. É no interior dessas fronteiras que se aloja cada uma das vidas individuais, quando o mundo está destinado a lhes sobreviver e as transcender todas. A condição humana da obra é o pertencer-ao-mundo”. Esta riqueza permite aproximar-se, tanto da vida comandada pela Natureza do meio rural como se conjugar com a vida urbana comandada pela abstração do ideal e da mentalidade humana que viceja e se renova em todas as épocas e lugares. Novamente Arendt intervém (1983: 228/9) e distingue “a produtividade específica da obra reside menos na utilidade que na sua capacidade de produzir a durabilidade”.

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Obra de Arte os dois universos mentais das prescrições e enumerações exaustivas são complementares com os seus respectivos universos empíricos. Neles os seus poderes micro e macro potencialmente podem celebrar alianças, contratos e pactos. Neste aspecto Giulio Argan percebe (1992: 40) que “a História da Arte e a única história do agir humano tanto no aspecto da contemplação como no do trabalho”. Esta contemplação aliada e complementar do trabalho, para Mazzocut-Mis (1994: 60) é potencial na obra de Arte pois ela “é uma posse durável e duradoura do objeto artístico e que consegue fixar, de alguma forma, o encantamento fugidio que nos mostra e nos faz acreditar naquilo que não reside nos objetos e nem nos sentidos”. Na mesma direção Reguera interpreta Wittgenstein ao afirmar (1994: 137) que “a obra de arte é um objeto liberado, sereno e feliz, que resplandece sobre o panorama do universo inteiro distanciado de todas as viscosidades de sua espessura fática”. Para Belting (in Gleizael, 1994: 49) “a obra de arte é uma ficção e uma ficção é uma projeção do real no mítico, que dizer, do temporal no eterno”.  A celebração destas alianças, contratos e pactos entre contemplação e trabalho reforçam-se na era informatizada e estabelecem uma legislação paralela e civilizada. É o campo das forças da Arte na qual age a legislação cultural

 

Obra de Arte semelhança com a Obra Institucional para a Arte: Para atingirem esta unidade, construída pela razão, ocorrem generalizações, apropriações e equívocos. As mediações desastradas, amadores ou de pura e simples tutela do bem público e universal pode ocorrer tanto na política como na administração. Nesta mediação da razão também é necessário distinguir o potencial da criação humana de sua eventual institucionalização pela razão unificadora. Esta distinção se evidencia em Genette no seu texto (1997: 262) quando afirma que: “o que «faz» de um objeto, durante algum tempo, uma obra de arte, não é sua eleição por uma instituição museológica, mas a atenção estética que, segundo Goodmenn, fundamenta essa eleição, e que pode muito bem faltar: basta uma pequena olhada”. O bem público e universal necessita esta atenção para distinguir conforme o mesmo Genette quando reitera (1997: 252) que  “a relação artística, quer dizer a atribuição a um objeto artístico o estatuto de obra de arte, repousa sobre a dupla hipótese, fundada ou não, sobre seu caráter de artefato e sobre a intenção estética de seu produtor”. Para aumentar a atenção e grau de acuidade é necessário afastar ruídos, filtros inúteis ou obstruindo e atulham de ruinas desta atenção em relação  unidade, construída pela razão e que interpõem e impedem o exercício da autoridade nestes campos. A corte francesa. em muitos momentos, conseguiu estabelecer esta aliança entre política e arte como Deswarte-Rosa descreve[60] esta interação característica dos apogeus das civilizações huamanas.

 

Obra de Arte e autonomização: a Democracia participa da concepção, da circulação e da atualização na linha de pensamento que acompanha o trânsito de uma obra de arte por este mundo. O pensador Recht esclarece (1998: 8) que: “possuímos o sentimento de que mais que o artista, é a obra de arte singular que se emancipa. Ela tenta ao longo dos séculos XII, VIV e XV, um longo processo de autonomização que irá afastá-la cada vez mais de seu caráter  «funcional»  de objeto de culto  para fazê-la entrar na economia do mercado e subir assim ao estatuto de, objeto de coleção particular, entregue ao prazer da posse do seu proprietário pois, num terceiro tempo enfim, a da obra de arte  destinada a coleção publica, à instituição patrimonial e ao museu. A cada uma dessas fases do destino da passado corresponde uma mudança que afeta a concepção de arte que lhe é contemporânea”. Está concepção da migração da obra de Arte transferida para democracia materializa-se no voto. O artista, tão bem como o eleitor, percebe a sua obra, ou seu voto, fugir-lhe das mãos e perdem a autonomia sobre ele. O voto, tão bem como a obra de Arte o voto, também está cercado de riscos permanentes da entropia e do caos a partir do seu portal de entrada da democracia e da Arte.

 

Obra de arte e História:. A íntima e coerente associação da conduta humana com a criatividade e a linguagem é também o campo dos vetores da informática numérica digital. Porem, esta nova tecnologia numérica digital, por mais abrangentes e avançados seja os seus estes vetores, revelam, reforçam e disseminam o que Gleizal escreveu em relação á criatividade e ao testemunho histórico fornecida por uma obra de Arte .  Para ele (1994: 49)  “a obra de arte como um documento histórico na medida em que revela a sua historicidade do homem com a sua  visão limitada do mundo e sua gama limitada de expressão. O ser humano, pela apropriação artística do mundo, não perde o contato com ele mas o contrário, faz-se o seu testemunho”. Numa concepção mais sintética Chartier, sentenciou (1998: 97) a obra de Arte “e o produto de uma negociação entre um criador, as instituições e as práticas da sociedade”. Numa sentença mais longa Belting afirmou (in Gleizal, (1994:. 49) que: “a obra de arte testemunha não só a arte, mas o ser humano que, pela apropriação artística do mundo não perde o contato com ele, mas ao contrário, faz-se o seu testemunho. Na obra de arte, o homem revela sua historicidade com a sua visão limitada do mundo e de sua gama limitada de expressão. Nesse sentido a obra de arte é um documento histórico”.  Nestes raciocínios, provocados pelo campo estético, existe uma busca de proporção, de reconhecimento dos limites da criatividade e da imaginação humanas, sem renunciar a todas as energias campo de suas forças. Assim a íntima e coerentemente criatividade humana necessita sustentar num continuo associação da linguagem. No campo político, a manutenção da circulação  da criatividade de imaginação não constitui um poder para si mesmo com a sua conduta um poder central desta nação. A Obra de arte é um patrimônio material e imaterial, para o indivíduo, para a sua nação e para toda a humanidade.

 

Obrar: a raiz da legitimação paralela reside na própria obra de arte. Esta  Umberto Eco entente (1995: 7) como “a arte é o único trabalho puro que se efetua na realidade, mas sem contradizer e destruir o seu significado, sem usar a violência contra ela”. A partir de concepção marxista Argan argumenta (1992: 40) “o que distingue o pior arquiteto da melhor teia de aranha é que o arquiteto ergue  a sua edifício na imaginação”. No panorama filosófico Hannah Arendt elucida (1983: 144/5) que o  obrar “possui um final quando o objeto está acabado, pronto para fazer parte do mundo dos objetos resultante do obras”. Enquanto o TRABALHAR: não tem fim a não ser na morte do organismo. A complementariedade obtida pela transformação da contradição entre contemplação e trabalho, entre o obrar e o trabalhar, permitem a reciproca potencialização.  A potencialização da legitimação paralela pode ser válida também para os vínculos que ligam às células micros (municípios) ao macro da cabeça nacional e internacional (Brasília- Blocos - ONU) e constituem o seu conteúdo.

 

Obrar distinto de trabalhar: A lógica taylorista está superada, mesmo que seja praticada amplamente nos dias atuais. Para o êxito desta superação há necessidade de ter bem presente a distinção entre o obrar e o trabalhar qu Carl Marx (in Hannah Arendt  1983: 145 nota 3 ) entende como: “a aranha pratica operações semelhantes ao de um tecelão e a abelha envergonha muito arquiteto construindo os seus alvéolos. Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha, é que o arquiteto ergue o seu edifício na imaginação antes de erigi-lo na realidade. No final de cada processo de trabalho, obtém-se um resultado que já existia na imaginação do trabalhador no seu início“. Ou então na percepção da própria Arendt que distingue1(983: 144) “o caráter comum ao processo biológico no homem e no processo de crescimento e declínio no mundo, é que eles fazem parte do movimento cíclico da natureza e consequentemente se repetem indefinidamente; todas as atividades humanas que vem da necessidade primária estão ligadas aos ciclos perpétuas da natureza e não possuem, em si mesmos, nem começo nem fim no sentido estrito da palavra, enquanto obrar, possui um final quando o objeto esta está acabado, pronto para fazer parte do mundo dos objetos, trabalhar  gira permanentemente no mesmo círculo que os processos biológicos prescrevem aos organismos vivos, as fadigas e os sofrimentos só tem fim na morte desse organismo”. O trabalho na era das fábricas deu lugar para a era da informação numérica digital. Este mundo do trabalho reina cada mais hegemônico sobre o obrar. O mundo da imaginação - antes de erigir algo na realidade - sede passo para as máquinas e mundo do trabalho sem fim. A imaginação e a criatividade materializaram-se e são editadas na media da informação numérica digital.  A nova baliza, para marcar estes territórios da informação numérica digital, são as bolsas de valores e os bancos comerciais.

 

Observar: o voluntariado só pode ser levado adiante entre iguais e pessoas em perfeita autonomia para celebrar contratos antes, durante e após ação coletiva para a doação de suas energias e de seu tempo. Pessoas competentes para realizar contratos válidos ao nível do que Maturana Varela designam (1996: 180) “observar que designamos como linguística a uma conduta comunicativa ontogenética, quer dizer, a uma conduta se dá um acoplamento estrutural ontogenético entre organismos, e que um observador pode descobrir em termos semânticos”. Na dificuldade ou na impossibilidade de constatar, lidar e reproduzir esta observação e traduzi-la em linguagem deixam se usurpar com deixam usurpar o seu trabalho e o seu próprio erário e o publico.  Aqueles que usurpam a “mais valia” da iniciativa do voluntariado são provenientes dos mesmos aproveitadores do erário e do poder do Estado brasileiro. Eles conhecem os processos de acurada observação destinando os resultados de sua investida sobre o patrimônio alheio. Incrementam a heteronímia da vontade dos participantes do trabalho voluntário e forma de auferir lucros simbólicos e materiais deste tipo de escravidão dissimulada

 

Ócio: Um dos factoides gerados pela abstração atende pelo chamativo nome de ócio. A concepção escapista do ócio é obra do Iluminismo e da era industrial. No seu âmbito surgiu a concepção do tempo e do espaço abstratos, nos quais o tempo (relógio) e o espaço (metro), não obedecem mais as medidas humanas (pé, polegada..) A luz e as máquinas aboliram o ritmo do tempo de repouso e de trabalhos humanos. Esta realidade para Kuhn (1997: 130) levou para “uma preocupação excessiva com problemas úteis, sem levar em consideração sua relação com os conhecimentos e as técnicas existentes, pode facilmente inibir o desenvolvimento científico”. O mesmo Kuhn havia escrito (1997: 130) que “a era industrial aboliu as relações antropométricas e da natureza introduziu medidas abstratas. A arte pode devolver  as medidas naturais ao homem. Mas será como escolha disponível transformar o lazer em ócio cultivado como valor” Entre as numerosas e potenciais escolhas a  arte pode devolver o homem ao seu ritmo e retirá-lo da alienação na qual foi jogada por fatores externos a ele. Será uma conquista profundamente humana contra a concepção escapista do ócio do Iluminismo e da era industrial. A concepção escapista do ócio é uma das versões que deram origem à “guerra das ideias”. Esta “guerra das ideias” mergulha as suas raízes nos “déspotas esclarecidos” e dos quais os reis franceses russos e prussianos foram mestres. No entanto em Aristóteles é possível encontrar (1973: 212) alguma concepções do ócio na antiguidade clássica.

 

Onipotência: A leitura restrita ao mínimo das necessidades básicas, impede qualquer ruptura epistêmica e incapaz de deixar um espaço conceitual para um autêntico e coerente Poder Originário.  Vazio que constitui o terreno fértil para a onipotência que para Arendt (1983: 40) “depende de acordos incertos” e circula muito distante da potencia que age no  âmbito de acordos sociais possíveis. Os conceitos apropriados para a percepção manutenção e reprodução de acordos sociais possíveis necessita preparação e correção para produzir algo de útil.

 

Onipotência distinta de potência: se o cultivo EGO fosse realizado numa proporção adequada à realidade. Esta probabilidade foi  vista por Arendt quando distinguiu (1983: 261) onipotência de potência, pois “se a potência fosse acima de tudo aquilo que é possível na coesão, se pudéssemos a possuir como a força, aplicá-la como a energia no lugar de depender de acordos incertos e tão somente temporários entre um grande número de vontades e de intenções, a onipotência seria uma possibilidade humana concreta”. Esta desproporção à realidade brasileira tem por efeito desmanchar no ar os sempiternos pais do futuro e das riquezas inesgotáveis. O Brasil continua vítima dos EGOS onipotentes, oniscientes, onipresentes eternos o aprisionam, e nas suas concepções estreitas e distorcidas. Reduzem toda a grandeza do território e a cultura nacional para a proporção dos seus pequenos e inflados EGOS. O seu interesse mesquinho e imaturo pretende dominar uma nação inteira para cultivar os seus pequenos interesses pessoais

 

Ontologias históricas de Foucault Os três eixos do Zeitgeist, Weltgeist e do Volksgeist podem ser associados ao resumo das três ontologias históricas de Foucault que Chartier apresenta (1996: 206) “do conhecimento quando a verdade que nos permite ser sujeitos, do poder dos sujeitos agindo sobre os outros e da ética como  agentes da ação ética”. Nesta tríplice ontologia histórica de Foucault a dimensão do sujeito do conhecimento pode ser percebida como Zeitgeist. O sujeito agindo sobre os outros é evidente a dimensão do Volksgeist. Já o sujeito da ética nos remete à percepção e as práticas do Weltgeist. As necessidades básicas humanas são incontornáveis no âmbito desta tríplice ontologia histórica e base de qualquer edifício cultural ou material.  Em tudo aquilo que se quer coletivo e uniforme redobra a atenção sobre poderes centralizados na política, na economia, na religião, na informação.

 

Origem: Na pergunta em relação à origem de uma construção artificial humana encontra-se a interrogação e a busca da verdade e das=s motivações e um possível projeto existente na  sua instauração neste mundo. Não para se apropriar, naturalizar ou mitificar o projeto que é fonte desta obra. A interrogação em relação à sua origem possui por objetivo o seu conhecimento, inclusive para modificar este projeto até corrigi-lo. A criatura humana só  pode modificar ou corrigir um determinado projeto na medida em que existir este projeto e estiver ao alcance da  inteligência de quem se propõe a continua-lo, modificá-lo ou rejeitá-lo. No caso da busca do Poder Originário ela é em relação ao projeto imante do bem estar social, profissional e moral que um determinado grupo possui e quer realizar esta sua ambição. Para Heidegger, (1992: 62) “a arte faz brotar a verdade. A arte faz assim surgir o ENTE a verdade da obra. Fazer surgir algo é trazê-lo ao SER no salto que instaura, a partir da providencia essencial - eis o que quer dizer a palavra origem. A arte é, na sua essência, uma origem: um modo eminente como verdade se torna ENTE, isto é, histórica”.  Na pergunta pela origem também é possível determinar o “estado anterior” a esta etapa O axioma do “estado anterior” pelo qual Alan Turing é considerado o pai das máquinas numéricas digitais e que lhe permitiram decifrar o código da máquina ‘ Enigma’  nazista.

 

 

Organização e estrutura: Neste âmbito ele representa uma organização e uma estrutura independente, porém complementar aos três poderes. Numa leitura de Maturana e Varela encontra-se (1996: 40) a descrição da “organização das relações que devem dar-se entre os componentes de algo para que seja reconhecido como membro de uma classe específica. Entende-se por estrutura de algo aos componentes e relações que concretamente constituem uma unidade particular realizando sua organização”. Nesta unidade particular que realiza a sua organização começa pela pergunta de quem irá sustentar este “quarto poder” e continua pela pergunta “se ele deve organizar-se por si mesmo”. Num estado contemporâneo existiriam poucas dúvidas quanto a este ponto. Este Poder Originário já existe.

 

Ortodoxia: por mais anárquicos e caóticos que sejam as pichações, não deixam de ser uma linguagem de ortodoxias as avessas. Ortodoxias expressas em desqualificações de discursos estéticos dos seus oponentes e que eles busca arrasar como donos do espaço público e do qual o pichador se apropria. Assim cabe-lhe o que Bourdieu escreveu (1987: 108) “quando os diferentes produtos se defrontam, a competição se desenvolve em nome de uma pretensão à ortodoxia...a melhor prova é o fato de que as oposições e divergências se expressam espontaneamente na linguagem da exclusão”. Os pichadores dos muros, na sua pretensão de hegemonia e na busca de um reconhecimento público, tornam-se iconoclasta e agressivamente inovadora. Caba assim ao pichador também “a linguagem de exclusão e se vale, em geral, da pretensão à ortodoxia” na concepção de Bourdieu (1987: 108). Nesta sua linguagem o pichador apresenta um arsenal de estratégias, táticas e de logística. Estas dependem da atual era da informática, das ideologias e dos projetos que os governantes remetem e decifram para o entendimento do seu próprio Poder originário

 

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Padrões culturais: a criatura humana aprendeu a manter produtivas as suas linhas de montagem ao longo da era industrial e que necessitam acumular abundantes bens, insumos, máquinas, capital e uma diversificada mão de obra. Esta produção material projetou-se no mundo social e político gerando padrões culturais. Estes “padrões culturais sobrevivem na medida em que persistem as situações que lhe deram origem, ou alteram o seu significado para expressar novos problemas” conforme Durham (in Oliven, 1992: 20/1) Neste ambiente de aprendizagem da era industrial os agentes políticos transferiram e aplicaram aos entes estatais. Nestes entes estatais também acumularam agentes, capital e insumos que permitiram o funcionamento de mecanismos burocráticos, á semelhança das linhas de montagem industrial.

 

Palavra: na cultura brasileira as palavras unidade de desenvolvimento possuem, na prática, sentidos quase antagônicos. O Brasil Colonial manteve a sua unidade garantida pela falta de desenvolvimento. Neste sentido o Alvará de D. Maria I não uma excrescência, porém a expressão pontual da lei geral. Nos raros momentos de desenvolvimento, os estados federados nacionais reclamam de exclusões e atentados à unidade nacional. Diante deste impasse é bom possuir um repertório mais aprofundado do sentido de uma palavra num discurso. Para Hannah Arendt (1983: 235 e 266) a “palavra (lexis) adere mais estreitamente a verdade do que a praxis, segundo Platão[...]O sentido profundo do ato e da palavra não dependem nem da vitória nem da derrota, nem  de um desvio eventual, de nenhuma consequência boa ou má”. Ela esclarece em nota (1983: 235) que “está claro que a afinidade entre a palavra e a revelação é muito mais íntima que entre a ação e a revelação [...] Se a ação e a palavra estão estreitamente aparentados, é que o ato primordial, e, especificamente humano, deve conter ao mesmo tempo a resposta e a pergunta colocadas aos recém chegados: «- Quem é você?»” As palavras unidade e desenvolvimento foram termos constantes nos discursos dos agentes políticos brasileiros de rodas as tendências ideológicas e com os objetivos e as formas as mais diversas possíveis. Estes favores foram relativizados por Umberto  Eco quando escreveu (1976: 228) que: “para o homem culto o fato de uma palavra estar ou não na moda não deveria influenciar o uso que dela se faz enquanto categoria científica, o que deve realmente constituir em elemento de indagação e preocupação é o problema do motivo porque, num determinada sociedade e num determinada contingência histórica, uma palavra ganha os favores da moda”. Neste antagonismo entre unidade e desenvolvimento acaba prevalecendo a lei da Física de que duas forças contrárias acabam por se anularem. Ou em termos populares ‘acabam em pizza’. Entre as numerosas evidências do sentido das palavras  unidade e desenvolvimento é possível aprofundar os discursos separatistas da unidade nacional a favor de um imaginado desenvolvimento.

 

Paradigma: Apesar da objetividade desta consciência, proveniente da reorganização, as suas consequências e os seus subprodutos mentais sempre foram projetados subliminarmente no inconsciente coletivo como uma segunda natureza. Esta objetividade pode constituir paradigmas que para Kuhn (1997: 66) “não precisam ser determinados por regras” ou então no mesmo Kuhn, (1997: 13) “considero «paradigma» as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência”. Ou ainda em Kuhn (1997: 71)ou “o fato de os cientistas usualmente não perguntarem ou debaterem a respeito do que faz com que um problema ou uma solução particular sejam considerados legítimos nos  leva a supor que, pelo menos intuitivamente eles conhecem a resposta. Mas esse fato pode indicar tão-somente que, nem a questão, nem a resposta são consideradas relevantes para suas pesquisas. Os paradigmas podem ser anteriores, mais cogentes e mais completos que qualquer conjunto de regras para a pesquisa que deles possa ser claramente abstraídos”. Nestes paradigmas subliminares os grupos humanos reorganizam, elaboraram, em todos os tempos, formas de comportamentos coletivos que querem uniformes e gerais nas suas ações. Paradigmas subliminares que se abastecem na fonte do senso comum. Só se problematizam quando questionados em interrogações escancaradas e públicas como se realiza aqui em relação senso comum do Poder Originário apenas derivado de uma constituinte. Enquanto o problema permanece oculto ao senso comum prevalece o inconsciente coletivo que controla mentes e corações dos grupos humanos que adota um repertório comum.

 

Paradigma concorrente: conforme Kuhn, (1997: 137) “as diferenças entre paradigmas sucessivos são ao mesmo tempo necessárias e irreconciliáveis”. A partir do sentido da realidade concreta constroem o uma memória coletiva própria para o uso de um grupo interno e que Ruben Oliven destacou (1992: 20) que “a memória coletiva está ligada a um grupo relativamente restrito e portador de uma tradição, aproximando-se do mito e manifestando-se através da ritualização dessa memória”. Para tanto manipularam e construíram factoides em versões interesseiras que ocultavam e fizeram circular, apenas, as informações que lhes eram favoráveis. Este grupo relativamente restrito vale-se de paradigmas concorrentes que conforme Kuhn, (1997: 137 e 184) “lutam pela adesão da comunidade científica. As diferenças são necessárias e irreconciliáveis”. O senso comum do termo ócio da realidade concreta, confronta-se com o paradigma concorrente forjado pela abstração atende pelo chamativo nome de ócio forjado pela indústria cultural. A concepção escapista do ócio é obra do Iluminismo e da era industrial. No seu âmbito surgiu a concepção do tempo e do espaço abstratos, nos quais o tempo (relógio) e o espaço (metro), não obedecem mais as medidas humanas (pé, polegada..). A luz e as máquinas aboliram o ritmo do tempo de repouso e de trabalhos humanos.: dois paradigmas que lutam pela adesão da comunidade científica. As diferenças são necessárias e irreconciliáveis. Kuhn (1997: 137 e 184) “Na ciência, a situação de teste não consiste nunca em simplesmente comparar um único paradigma com a natureza. Ao invés disso, o teste representa parte da competição entre dois paradigmas rivais que lutam pela adesão da comunidade científica”.

 

Pares concorrentes: o presente texto está atravessado pela dúvida e pela desconfiança do trabalho do mediador. Ao mesmo tempo está consciente que este texto só possui sentido para os pares concorrentes. Pares concorrentes que Bourdieu caracterizou (1987: 108) como “o escritor escreve e o artista produz para pares concorrentes. Só existe na relação circular de conhecimento recíproco entre artistas, os escritores e os eruditos”. Pares concorrentes que alimentaram o positivismo. Estes pares concorrentes tutelaram e desenvolveram o pensamento do cidadão francês Isodore Auguste Marie François Xavier Comte (1798-1852) transfigurando-se nos seus mediadores Um cortejo funesto de tutelares e mediadores transformou o pensamento coerente de Karl Marx em comunismo e que se expressa nas mais contraditórias ideologias que obscurecem e corrompem os textos originais. O mesmo aconteceu com os textos do Corão, da Bíblia ou escritos religiosos de todos os tempos.

 

Pátria distinta de nação: A meta final do bem comum, buscado pelo poder nacional na sua raiz, necessita de dois Ministérios (Exterior e Interior). No seu desdobramento os demais nasceriam desta raiz. Os originários desta fonte trabalham hierarquicamente com a meta final do bem comum. Externamente o ministério do Exterior necessita administrar a contradição de que “uma das distinções que se pode estabelecer entre a «nação» e a «pátria» é que a «nação» tende a excluir as demais nações enquanto «pátria» tende a reconhecer a legitimidade das demais pátrias” na concepção de Le Goff  (in Vital 1997: 8)  Internamente as diversas secretarias nacionais são mais proveitosas do que múltiplos cabides de empregos e que engessam a governabilidade de um Estado.

 

Pensar: a humanidade só se encontra aquilo que procura. Para Descartes (1983: 43) “não há nada que esteja em nosso poder exceto os nossos pensamentos”. Estes pensamentos necessitam, na sua busca incessante, de um projeto especifico fundado na Ciência e na Arte. Para Durkheim (1983: 111) não existe barreiras “entre a Ciência e a Arte já não há um abismo, em vez disso, passa-se de uma para outra sem solução de continuidade”. Esta passagem é realizada pelo ato de pensar que Hannah Arendt descreve (1983: 226) e distingue “pensar é outra coisa do que conhecer. O pensamento, fonte das obras de arte, manifesta-se sem transformação nem transfiguração na grande filosofia, enquanto a principal manifestação dos processos cognitivos, pela quais adquirimos e acumulamos conhecimentos encontra0-se nas ciências. O conhecer persegue sempre um objetivo definido, que podem se fixar sobre consideração práticas, seja uma «vã curiosidade»; mas no momento que esse objetivo foi atingido, o processo cognitivo termina. O pensamento, ao contrário, não possui uma finalidade nem um objetivo fora de si mesmo: ele nem mesmo produz resultados”. O Poder Originário, orientado pelo pensamento contínuo, pode estabelecer objetivos finitos do seu conhecimento especifico e coerente com as suas competências e limites. Competente para  decidir sobre o sentido que revelam as luzes de seus projetos especifico. Pensamento contínuo sensibilizado e humanizado pela Arte e lúcido pela Ciência e Razão. O papel do Estado é conhecer, conectar-se á energia e as luzes destes projetos proveniente da multiplicidade dos seus cidadãos e assim gerar, manter a tensão e reproduzir aquilo que constitui o bem, o belo e a verdade coletiva. Este Poder Originário necessita distinguir pensamento de cálculo. Para Arendt (1983: 400) o “pensamento é função do cérebro, enquanto o cálculo reduz a função do cérebro à lógica das máquinas [...] pensamento tornando «cálculo das consequências», reduziu-se a apenas uma das funções do cérebro, e é lógico que as máquinas eletrônicas preenchem essa função muito melhor do que nós ” Antes Arendt afirmara (1983: 226) que o pensar “não possui finalidade, nem objetivo fora de si mesmo, nem produz resultados. Manifesta-se na arte e na filosofia, enquanto o conhecer: persegue um fim definido. Manifesta-se nas ciências”

 

Periferia: o contrário da hegemonia também é verdadeiro quando esta ideia centralista é pulverizada numa multiplicidade caótica e inerente a aqueles que querem subir simultaneamente ao palco publico e da História. A percepção do seu próprio caos mental e material aumenta diante do olhar do estrangeiro.  Este caos conforme Burke (1997: 7) “manifesta-se na curiosidade pelo estrangeiro gerando a ‘síndrome da periferia ”. Síndrome de periferia para quem “interessa apenas à teoria mais recente e estrangeira da qual saltam ‘magos exóticos’ trazidos pela classe dominante” Conforme Durand (1989: 107) Porém no fundo poço do caos e perceber as estelas. Segundo Foucault (1995: 182) “é possível captar com maior eficácia o poder nos seus extremos do que no centro hegemônico”. O artista e professor Carlos Zílio expõe este índice no caos da periferia. Ele comenta (1997: 239) que “é preciso atentarmos para essa lógica de cultura periférica da Academia Brasileira que não vive, como a europeia, o conforto ideológico direto com a arte moderna. Aqui sobrevivemos de pequenas transformações, desvios incapazes de produzir algo relevante na relação com um processo mais amplo da História da Arte, no entanto importantes para compreendermos o exercício do sensível no nosso âmbito cultural”. Porém esta percepção dos desvios da compreensão no exercício do sensível depende de um projeto ou da vigência de um pacto nacional. Sem este referencial de julgamento continuara a imperar a cacofonia, o ruído e entropia são generalizados quando todos os caciques e coronéis disputam simultaneamente as mentes, os corações e os braços de poucos e exauridos índios da sua plateia. O positivismo foi uma das forças que se organizou no Brasil a partir de sua origem na metrópole francesa e que foi determinante em muitos aspectos na transferência física e mentais de Paris para o Brasil. Esta obra na periferia da época da hegemonia parisiense foi analisada pela ótica de Mozart Pereira Soares[61].

 

Periferia e a ‘síndrome da periferia’. cada um dos milhares de pequenos poderes julga-se divinos e onipotentes nos seus interesses. O poder arcaico e  tribal rebrota, ao acaso,  em cujo modelo todos mandam e ninguém obedece. Estes pequenos poderes “divinos e onipotentes” dobram apenas diante da curiosidade do estrangeiro que por sua vez não ficam menos surpresos. Foi o que constatou Lévy-Strauss no Brasil (in Durand, 1989: 107/8) na década de 1930: “nossos estudantes tudo queriam saber, mas em qualquer domínio que fosse, somente a teoria mais recente lhes parecia merecer atenção. Embotados por todos os festins intelectuais do passado, que, aliás, só conheciam de oitiva, pois não liam as obras originais, conservavam um entusiasmo sempre disponível para pratos novos. No seu caso deveríamos falar mais em moda que em cozinha: ideias e doutrinas não possuíam aos seus olhos um interesse intrínseco, eles as consideravam como instrumentos de prestígio cujas primícias deviam assegurar-se. Partilhar uma teoria conhecida de outrem equivalia a apresentar-se com um vestido já visto: seria desmoralizante. Em compensação, uma encarniçada concorrência exercia-se com enormes quantidades de revistas de vulgarização, de periódicos sensionalistas e de manuais, para obter a exclusividade do modelo mais recente no domínio das ideias (...). Para esses jovens que não tinham visto o mundo e cuja condição frequentemente modestíssima lhes interditava a esperança de conhecer a Europa, éramos trazidos como magos exóticos, por filhos-família duplamente execrados; primeiro, porque representávamos a classe dominante, depois por causa de sua própria existência cosmopolita, que lhes conferia uma superioridade sobre os que tinham ficado na aldeia”.  No final do século XX esta percepção de periferia apenas se institucionalizara e se transformou em rígidos rituais acadêmicos controlados por uma burocracia oficial onipresente. Estes foram constatados por Burke, que declarou (1997, cad.5: 7) que “o interesse pelo novo esteja vinculado ao interesse brasileiro pelo estrangeiro, pelas ideias, modas e pessoas estranhas à sua cultura - pouco importando se o novo é atraente por ser estrangeiro ou o estrangeiro por ser novo. Fiquei pasmo quando descobri que os professores nas universidades recebiam mais créditos pelos artigos publicados em revistas estrangeiras do que os editados no país. Talvez não devesse ficar tão surpreso. Afinal, essas reações fazem parte de uma «síndrome de periferia»”. Porém esta contradição e exposição da mitificação do poder na periferia abre uma possibilidade de pesquisa que não mais existe nas culturas homogenias como o modelo das suas florestas replantadas, cultivadas e uniformes. Isto é possível deduzir da leitura do texto de Foucault, (1995: 182) que escreveu que: “não se trata de analisar as formas regulamentares do poder em seu centro, no que possam ser seus mecanismos gerais e seus efeitos constantes. Trata-se, ao contrário, de captar o poder em suas extremidades, em suas últimas ramificações, lá onde ele se torna capilar; captar o poder em suas formas e instituições mais regionais e locais, principalmente no ponto em que, ultrapassando as regras de direito que o organizam e delimitam. Ele se prolonga, penetra em instituições, corporifica-se em técnicas e se mune de instrumentos de intervenção material, eventualmente violentos”.  No ambiente do poder caótico e periférico as possibilidades de múltiplas pesquisas num ambiente no qual todos mandam e ninguém obedece. Explica a precedência da lei precede o fato. Explica a floresta onde se criam-se religiões, bancos comerciais,  cartórios ou clubes . 

 

Perspectiva o paradigma - do exame dos projetos, contratos, controle e avaliação em tempo real - contraria o hábito personalista no qual o presidente da República é detentor da única palavra verdadeira e última do Estado. Nesta compreensão e ultrapassagem  do hábito estabilizado do poder há necessidade de ultrapassar perspectiva clássica  que coloca o cristal da entre o observador e o objeto de sua atenção. Na teoria e na prática da perspectiva desenvolvidas no Renascimento Italiano quando os matemáticos e artistas visuais desenvolvimento uma ótica precisa, universal e reversível da representação da Natureza. Etimologicamente é o “olhar através”. Através de um cristal sobre o qual são calculados como num momento preciso são marcados, ponto a ponto, as intersecções das linhas retas entre o observador e o objeto colocado além deste vidro. A separação realizada, por este vidro [cristal, lente ou anteparo de projeção],  colocado entre o sujeito e o objeto, distancia e neutraliza as interações entre observador e seu objeto de observação. Portanto o objeto não se mistura com o sujeito, o que constitui uma metáfora das ciências ditas objetivas. A teoria e práticas, deste distanciamento, foram quebradas na Arte pelo Cubismo, que reintroduziu o Tempo e pela Relatividade e demais Ciências que possuem por objeto a Natureza. Este novo paradigma das Ciências, incluindo a Matemática dos Cálculos Quânticos, influiu também nas pesquisas interativas das Ciências Sociais, incluindo as Ciências Politicas. Nestas últimas, o observador pode pertencer também ao conjunto, como do Poder Originário, por exemplo, sem ter, ou necessitar e ou reivindicar um lugar externo do seu objeto de observação e separado dele pelo frio cristal da perspectiva ótica linear e pontual.  Porém enquanto persistir o hábito da perspectiva clássica a única e última palavra presidencial interpreta a realidade nacional de forma pessoal e última. É evidente que este paradigma pessoal é construído e oferecido, ao primeiro mandatário da nação, pela sua corte de “apoiadores”. Como áulicos de um presidente - detentor estável da única palavra verdadeira e última do Estado totalitário - estes “apoiadores” possuem evidentes interesses pessoais.

 

Poder: os limites nos quais se projeta a construção de um “quarto poder”, a partir da célula municipal, há necessidade de pensar minuciosamente esta linguagem. Nesta linguagem é necessário representar passo a passo as formas nas quais o seu processo evolui em todos os patamares de um Estado. No tange a representação do que se entende aqui pelo termo poder recorre-se a Foucault (1995: 183) para quem o poder “não é algo que se possa dividir entre aqueles que o possuem e o detêm exclusivamente e aqueles que não o possuem”. Nessa concepção Chartier (1996: 206) resume o pensamento de Foucault onde se “destacam três ontologias históricas: - do conhecimento: verdade que nos permite serem sujeitos; do poder: sujeitos agindo sobre os outros; da ética: agentes da ação ética”.  É possível inserir a competência das expressões de autonomia da arte no triângulo do poder proposto por Foucault (1995: 180). Nesse triângulo existe um saber próprio da arte (conhecer), presente nas suas manifestações, cujas exigências respeita e pelas quais é respeitada (potência). Essa potência ao se constituir uma instituição encontra um sistema normativo (direito). Esse sistema normativo estabelece o limite da autonomia que favorece a reprodução da competência que esse limite encerra, distinguindo da soberania. Nesta linguagem o desafio e afastar as meias verdades, tanto na emissão como na recepção, como aquelas que permitam  gerar equívocos implementados pelos mediadores de sempre. No Rio Grande do Sula o Poder Legislativo foi um índice do autoritarismo. Estes índice foi estudada por Helgio Trindade[62] nos seus embates com o pode executivo e com o judiciário. Hélio Silva foi calmo e persistente estudioso do poder civil[63] que acabou se internando num convento onde faleceu.

 

PODER ORIGINÁRIO: o que se pretende aqui é o estudo do PODER ORIGINÁRIO e das circunstâncias para perceber como surge este fenômeno, se afirma e se reproduz nos grupos humanos distinguem e agem entre as demais forças na totalidade da sociedade. Nesta percepção trata-se de construir conceitualmente a partir de tendências comuns reunidas em uma comunidade, que possui traços de identidade de origem predominante de signos a partir de um determinado projeto humano ou de sua ausência, negação ou desqualificação por forças concorrentes. Situa-se o estudo empírico do Poder Originário com as suas circunstâncias da comunidade nacional brasileira do início do terceiro milênio e sob a técnica dos meios numéricos digitais. Buscam-se eventos empíricos e pensá-los na construção artificial do Estado Nacional por meio de experiências que são causas de vertigens aos despreparados para pairar no espaço do tempo presente e sem a aparente gravidade do poder.

 

Polo epistemológico:. contra o senso comum do ‘mostrar’ o  intelectual Danto afirma (1993: 204) que “a filosofia é pois literatura tanto mais que entre as condições da verdade figuram aquelas pelas quais ela é lida: ler tais textos supõe revelar o que nós somos em virtude da nossa leitura”.  Afinal mostramos o que somos naquilo que lemos. Contudo todo este conjunto, objeto do presente estudo, pode ser remetido ao polo epistemológico que para Bruyne (1977: 35) “exerce uma função de vigilância crítica. Ao longo de toda a pesquisa ele é a garantia da objetivação - isto é, a produção - do objeto científico, da explicitação das problemáticas da pesquisa. Encarrega-se de renovar continuadamente a ruptura dos objetos científicos com os do senso comum”. No começo dos trabalhos temos convir com o mineiro Guimarães Rosa que a verdade não está no início  nem no fim : ele está ao meio das veredas. No momento conceituamos e distinguimos os termos que se configurem para atravessar estas veredas para atingir o meio e depois o seu final.

 

Polo morfológico: no inicio coloca-se o objetivo geral que é do colaborar na construção de uma civilização do que a simples e pura demolição, agressão e terra arrasada, para ver como fica. Esta construção conceitual será operada com a mediação do polo morfológico. A concepção de Bruyne é aceita quando ele esclarece (1977: 35/6) que: “o polo morfológico é a instância que enuncia as regras de estruturação, de formação do objeto científico, impõe-lhe uma certa figura, uma certa ordem entre seus elementos. Permite colocar um espaço de causação em rede onde se constroem os objetos científicos, seja como modelos/cópias, seja como simulacros de problemáticas reais.” Nesta figura e nesta ordem necessárias para esta construção pretendida, há necessidade de examinar os dados concernentes à cidadania na sua individualidade no âmbito do espaço público do Estado no qual interage com outras individualidades.

 

Polo técnico:  adiantam-se algumas crenças em soluções necessárias para a circulação do Poder Originário. Esta é uma tarefa do polo técnico que Bruyne descreve (1977: 36) como aquele que “controla a coleta dos dados, esforça-se por contrastá-los para poder confrontá-los com a teoria que os suscitou. Exige precisão na constatação, mas sozinho, não garante sua exatidão” Neste polo, com calma e paciência, é necessário ponderar o que o pesquisador Kuhn nos faz distinguir (1997 p. 78) entre descoberta e invenção nos quais “devemos agora perguntar como podem surgir tais mudanças, examinando em primeiro lugar descobertas (ou novidades relativas a fatos), para então estudar invenções (ou novidades concernentes à teoria)” No hipotético “quarto poder” encontram-se variadas formas, resistências e recusas em admiti-lo no mundo prático. Nas sucessivas descobertas iremos orientar-nos pelos recursos técnicos provenientes do mundo numérico digital recém-instaurado. Nas invenções adiantamos novas formas de perceber, cultivar e reproduzir o Poder Originário.

 

Polo teórico:  no polo teórico que na percepção de Bruyne (1977: 35).pode ser descrito como:  “guia a elaboração das hipóteses e a construção dos conceitos. É o lugar da formulação sistemática dos objetos científicos. Propõe regras de interpretação dos fatos, de especificação e de definição  das soluções provisoriamente dadas às problemáticas. É o lugar de elaboração das linguagens científicas, determina o movimento das conceptualizações” Na interpretação dos fatos é necessário admitir que a naturalização ou da mitificação do poder humano ou aquele atribuído à intervenção divina na História humana é um fenômeno que acompanha o ENTE humano deste que ele se deu conta de si mesmo e circunstâncias de seu SER. Certamente está longe de ter um final.

 

Popular: a busca que perpassa todo o presente estudo é descobrir a maior proximidade possível do povo ao poder que ele constitui como fonte, mantém e reproduz.  Para Chartier a questão do popular ou não (1998: 54) “é um falso problema. Importa identificar a maneira na quais práticas, representações ou produções, cruzam-se e envolvem diferentes figuras culturais”. A partir da constatação sustenta-se a tese de que os atuais instrumentos da informação numérica digital realizam tantos, ou mais, cruzamentos e envolvimentos das diferentes figuras culturais. Cruzamentos e envolvimentos que abastecem esta interação, a mantém em constante produção e a circulação do poder quando coerente para reproduzir aquilo que aproxima o povo com as funções administrativas de um Estado contemporâneo.

 

Posição: o teste efetivo do fluxo do poder encontra-se no feedback dado pelo receptor ao emissor. Para Umberto Eco (1995: 7) a posição e a disposição da relação entre o criador e o observador do receptor são determinantes. Disto ele mesmo foi testemunha quando declarou Eco, (1995, cad.5 p.7): “se a «Obra Aberta» foi um dos primeiros livros a interrogar a posição e a atividade do leitor, foi porque, justamente, os músicos naquela época concebiam obras que deviam ser manipuladas, de alguma forma, pelo receptor para serem compreendidas”. Na época do telégrafo já não havia mais nenhuma razão para barreiras administrativas devido às posições entre emissor e receptor, muito menos na rede dos meios de comunicação numérica digital.

 

Pós-industrial : a era da informação numérica digital permite, pela sua infinita diversidade, contornar os terríveis conflitos entre metrópoles localizadas em culturas arbitrariamente uniformizadas pela era industrial. Com a era pós-industrial o que importa, para De Masi (1997: 18-165-200), é “reorganizar o tempo livre, a atividade artística e científica. Rever as estruturas e funções dos grupos empenhados no trabalho idealizador [...] Quando tudo possui máxima precisão, importa a aparência e a coerência das formas adequadas ao humano”. Porém este projeto também permite colocar por terra tudo novamente, e ao mesmo tempo, por meio da pasteurização geral, a mitificação e a naturalização da cultura. Para fugir e se libertar da armadilha dos eventos, do marketing e da propaganda, impõe-se a necessidade imperiosa da busca de sua identidade

 

Potência: as energias vivas buscam um ponto de equilíbrio homeostático das taxionomias culturais disponíveis da autoridade no meio das antigas, atuais e aspirantes ao governo. Aspirantes ao mando e ao poder que intuitiva, ou conscientemente, sabiam o que era e como lidar com a potência. Esta Hannah Arendt conceituou (1983: 260).como aquela que “assegura a existência do domínio público, do espaço potencial da aparência entre os homens agindo e falando. A palavra em si mesma, seu equivalente grego dynamis, como a latina potentia e seus derivados modernos, ou a alemã Macht (que vem de mögen, möglich, e não de machen), indicam o caráter «potencial»”. .Esta potência a ser mantida em homeostase constante entre as forças naturais da reprodução enquanto persistir a vida e os conceitos abstratos de sua origem. Este ponto de equilíbrio também não é possível transferir de um indivíduo para o outro individuo ou grupo social por meio da influência.

 

Potência distinta de força: o mundo conceitual encontra ou inventa a formalização e a definição que conferiu ao Estado a delegação da potência de uma Nação.  Potencia distinta de força. Conforme Arendt distingue (1983: 260/1) que:  “a potência é sempre uma potência possível, e não uma entidade imutável e segura, como a energia ou a força.   A potência, como a ação, é ilimitada; ela não possui as limitações físicas na natureza humana, na existência corporal do homem, como a força”.. Esta potência possibilitou a origem da nação e transformação num suas próprias competências e que nenhuma força corporal pode aniquilar. Neste amplo e indefinido campo da potência que se materializa num Estado que necessita fazer emergir, conservar e reproduzir um governo nacional. Governo que na contemporaneidade é proveniente das circunstâncias provocadas pela era industrial onde recebeu sua forma legível e as três funções do seu poder. Um governo, central monolítico é a forma histórica mais legível e forte da potência da cultura do poder.

 

Povo; a palavra povo tem por objeto a construção a partir de tendências comuns numa comunidade que possui traços de identidade de origem predominante de signos naturais. Este termo  está gasto pelo uso  continuado e como panaceia universal nos discursos que buscam o senso comum e  agradar o repertório de qualquer auditório em qualquer circunstância e lugar. A busca que perpassa todo o presente estudo é descobrir a maior proximidade possível destas tendências comuns dos signos naturais face ao poder. Poder que o povo constitui como fonte, mantém e reproduz, no entanto  é imediatamente alijado e desconsiderado e desqualificado deste poder

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Práxis com as lanças ou as baionetas, dá para fazer tudo, menos ficar sentado confortavelmente em cima das suas pontas.  Neste “fazer tudo” reside a concepção da práxis. Esta constitui o mundo do fazer distinto do mundo do falar, cogitar e do ócio. Como tais podem ser incluídos no mundo do agir e dos atos, mas distintos da práxis. . Para Hannah Arendt percebe (1983: 194 /5) que “o processo do fazer é em si mesmo inteiramente determinado pelas categorias do fim e dos meios. O objeto fabricado é um fim neste duplo sentido, que o processo da produção ali se conclui e apenas existe que um único meio  de produzir esse fim” No Para a mesma Hannah Arendt (1983: 235 e 266) a  “palavra (lexis) adere mais estreitamente a verdade do que a praxis, segundo Platão [...] O sentido profundo do ato e da palavra não dependem nem da vitória nem da derrota, nem  de um desvio eventual, de nenhuma consequência boa ou má”. Nesta maior adesão à verdade e no equilíbrio resultante reside “a felicidade da formação equilibrada de todas as forças humanas” nas sintéticas e sábias palavras de Schiller, o autor da ode à Alegria da Nona Sinfonia de Beethoven.                                                                  .

 

Problema: O presente texto possui como objetivo Imaginar soluções para problemas que afligem o ser humano, física ou simbolicamente. O termo problema é aceito aqui com obstáculo que impede uma solução imediata ou ao longo do tempo de algum projeto. Qualquer tese possui no seu núcleo um problema a ser solucionado. No caso do Poder Originário este pode ser estrutural ou e persistente ou ao contrario superficial, temporário e pontual. Os problemas estruturais e persistentes são basicamente problemas que necessitam do esforço coletivo de uma nação. Enquanto os episódicos e pontuais necessitam de da atenção dos municípios. Nesta linha o presente texto busca motivações para exercitar a potência humana na representação dos seus projetos. Crença na forma da concepção de Sperber e que Oliven  registrou (1992 p.24) como  “é o que chamamos de ‘convicções’, ‘persuasão’, ‘opinião’. Para, decidir se alguma crença é racional, necessitamos saber não somente seu conteúdo, mas também em que sentido ela é acreditada”. Esta convicção coletiva cria, alimenta, circula e reproduz na opinião de que o ser humano é portador na sua nação, no seu povo e no seu Estado. 

 

Primitivo: As energias  da infraestrutura podem serem expressas e tomar formas em mentalidades, em discursos e textos consagrados ou ações de pessoas consideradas paradigmáticas. Estas energias se legitimaram e convergem para serem elementos de um contrato coletivo ou autoridade legitimada. Não há como esquecer que os termos, deste contrato, são entes primitivos e que Kuhn coloca (1997: 23) na medida em que “a pesquisa eficaz raramente começa antes que uma comunidade científica pense ter adquirido respostas seguras”.

 

Princípio unificador e gerador: a unidade, a proporção e a hierarquia que toda a organização social supõe condições de um efetivo, rápido e continuado fluxo de dados significativos preservados, alimentados e reproduzidos no âmbito das competências e dos limites das células municipais. Conforme Bourdieu, (1987: 99) o principio unificador do fluxo continuado e gerador de dados cabe “aos diferentes sistemas de tomadas de posições culturais e transformação no tempo que cabem aos diferentes grupos de intelectuais e artistas em função da disposição que ocupam no sistema relativamente autônomo as relações de produção intelectual e artística”. No caso da política os problemas locais e regionais permanecem restritos aos seus agentes nos limites das suas reais competências. Preservados, alimentados e reproduzidos, caminham para a sua solução eficaz, neste âmbito, sem atropelar os grandes problemas inerentes à unidade nacional.

 

Processo:  constroem o uma memória coletiva própria para o uso do grupo interno e que Ruben Oliven destacou (1992: 20) que “a memória coletiva está ligada a um grupo relativamente restrito e portador de uma tradição, aproximando-se do mito e manifestando-se através da ritualização dessa memória”. Para tanto manipularam e construíram factoides em versões interesseiras que ocultavam e fizeram circular, apenas, as informações que lhes eram favoráveis. Realizam esta façanha pelo “domínio do processo e não das ideias ao modelo e nas formas das coisas futuras, servem de orientação às atividades do homo faber da época moderna” na concepção de Hannah Arendt (1983: 375) Este grupo relativamente restrito vale-se de paradigmas concorrentes.

 

Processo científico: nas dialéticas, transformadas em complementariedades, desejam-se todos os tratados disponíveis em todas as instâncias. Os contratos escondidos e depositados em arquivos estáticos de difícil acesso e cercados pela burocracia só ajudam a petrificar e congelar a memória viva. Projetos que, nas palavras do historiador e prefeito da cidade de Roma Giulio Argan (1992), se reconheçam no agir no qual existem uma somatória dos esforços da práxis com a ritualidade. Cientistas e filósofos, em suas devidas posições podem se complementar como Bruyne prognosticou (1977: 43) ao afirmar que “no processo científico os pesquisadores estão na base de um processo científico, armados com a metodologia, os filósofos estão no fim das pesquisas para analisar seus produtos e seus resultados” Também não se deseja a visibilidade pública do pelourinho da era agrícola no qual o colonizador do Brasil fixava as leis, de preferência numa língua culta eivada de latim. Infeliz do índio ou do africano que não soubesse decodificar esta vontade colonial e ou desobedecesse, pois o pelourinho era o lugar da aplicação das penas.

 

Processo de diferenciação das esferas da atividade humana: A ação de acordar a Nação desta alienação induzida e da escravidão assusta a qualquer um. Assusta tanto pela extensão como pelas consequências desta ação. Esta tarefa poderia redundar em mais uma demonstração de aprendiz de feiticeiro que ao não dominar a própria mágica. Para esconjurar este perigo há necessidade de recorrer ao processo de diferenciação das esferas da atividade humana que Hannah Arendt anuncia (1983: 297) como: “o conceito central das duas ciências verdadeiramente novas da época moderna, a ciência natural e a histórica, é o conceito de processo, que esta fundada sobre uma experiência humana: a da ação. É somente porque nós somos capazes de agir, de nós mesmos podermos deflagrar processos, que somos capazes de conceber, a História e a natureza como sistemas de processo”.  A ciência natural e a história são aliadas para esconjurar a improvisação e não deixar que o aprendiz chegue e colabore no efeito final contrário ao seu projeto malogrado, Se acontecer esta tentativa frustrada poderia invocar todas as sanções morais, jurídicas e materiais sobre este aprendiz.

 

Processo civilizatório: No grande organismo nacional as ações diferenciadas do “habitius” nacional impõe atenção, tempo e lógica para a convivência, eventuais modificações e para qualificações da era numérica digital, coerentes com o espaço e com o tempo. O objetivo é sempre instaurar, manter e reproduzir o processo civilizatório que no pensamento de  Mario Barata, (1997: 389) zela pela:   “grandeza, a eficácia e a modernidade de uma instituição não são somente um êxito interno restrito, mas trata-se sobretudo da colocação em movimento das realidades da sociedade em que ela se formou e na qual procura agir e produzir valores úteis e vetores de conhecimento” Este processo civilizatório, sem estas necessárias mudanças não deixaria lugar para a Arte, pois todos e suas ações seriam monotonamente iguais e sem criatividade na concepção de Schaeffer (1992). Esta diversidade de pessoas e ações poderá ser transformada em complementaridade..

 

Processo de diferenciação: linguagem é um dos instrumentos avançados, da cultura humana, um índice do estágio da ontogenia humana e, ao mesmo tempo, influi e condiciona as escolhas desta criatura humana. Neste estágio de interação a criatura humana pratica potencialmente o processo de diferenciação e que  Hannah Arendt nos concebe (1983) como sendo  capazes de agir, nos conceber distintos, ao mesmo tempo que a história e a natureza como partes do processo. A correta leitura dos índices característicos destes três estágios do desenvolvimento ontogenético humano, exigem, de quem administra a necessária atenção ao poder que emana uno do povo e é administrado em três vertentes. Esta atenção é especialmente crítica quando se trata do poder humano na sua origem. A administração em três vertentes do poder que emana uno do povo, no âmbito do Estado– é contemporânea e simétrica aos primórdios da linha de montagem da era industrial.

 

Produção de agentes capazes de reproduzir e renovar: Sem a percepção e os recursos desta transformação desta contradição  em complementariedade cidadão, ou é esmagado pelo gigantismo deste Estado. Ou pior, é pervertido, radical e definitivamente, pela força desproporcional de um Estado hipertrofiado e central.  Foucault percebe esta armadilha humana quando escreveu (1995: 292) que “a supervalorização do problema do Estado tem uma forma imediata, efetiva e trágica: o lirismo do monstro frio frente aos indivíduos; a outra forma é a análise que consiste em reduzir o Estado a determinado número de funções”. Contudo esta operação exige agentes capazes de reproduzir e renovar. Agentes capazes de vencer a desproporção do mongolismo estatal gera o contraditório que se manifesta na perversão do EGO incentivado ao crescimento desmesurado. Esta perversão do EGO faz com que o indivíduo não só perca a sua própria sombra, mas também a sua autonomia e seu senso crítico e ético. Este monstro desfila diante dos nossos olhos pronto para praticar qualquer crime como resultado e em nome do “seu” Estado e de si próprio.

 

Produtividade potencial: há dificuldade ou  impossibilidade de constatar, lidar e reproduzir esta observação e traduzi-la em linguagem deixam se usurpar com deixam usurpar o seu trabalho e o seu próprio erário e o publico.  Com a concepção de produtividade potencial desenvolvida por Hannah Arendt (1983) chega-se ao núcleo desta corrupção do voluntariado. Para a discípula de Heidegger esta produtividade potencial era possível aos senhores era graças a consumação sem esforço que era realizado pelos escravos, servidores e os domésticos. Estes seus servidores, aos seus domésticos, oiketai ou familiares, trabalhando para subsistir, empregados muito menos para produzir do que para permitir uma consumação sem esforços, que sempre se cogitou, antes dos tempos modernos, quando se identificava o trabalho com a escravidão. O que eles permitiam como preço de sua consumação, era, nem mais nem menos, do que a liberdade de seus senhores ou, em linguagem moderna, a produtividade potencial de seus senhores. Da mesma forma como procedem com os seus servidores transformam erário e do poder do Estado em produtividade potencial. Usurpam a “mais valia” da iniciativa do voluntariado são provenientes dos mesmos aproveitadores do brasileiro. Eles conhecem os processos de acurada observação destinando os resultados de sua investida sobre o patrimônio alheio. Incrementam a heteronímia da vontade dos participantes do trabalho voluntário e forma de auferir lucros simbólicos e materiais deste tipo de escravidão dissimulada em produtividade potencial.

 

Produtores, empresários e consumidores de bens símbolos: o Poder Originário foi seduzido com a promessa da distribuição das verbas nacionais. Este caiu na heteronímia por meio da armadilha constituída pela força do Capital econômico central. A cultura brasileira sofre também com estes piratas aninhados neste Capital econômico central. Os produtores, os empresários e os consumidores de bens símbolos seguem intuitivamente e seduzidos por estes produtores potenciais. Isto é possível verificar entre os produtores mais inclinados e mais aptos a responder à demanda das frações das classes dominantes, tendem a serem consagrados muito mais os autores e obras que as instâncias próprias do Poder Originário ou o campo erudito lhes aponta. No Brasil a seleção para ser membro da Academia Brasileira de Letras não passa pelos critérios da Universidade, mas pelas classes dominantes. Roberto Marinho, Getúlio Vargas, José Sarney, Assis Chateaubriand são algumas evidências desse fato. Isto é perceptível na relação que a Bienal, o MASP, e a USP mantém com as classes dominantes de São Paulo. Esta solução artificial, por cima e por fora fornecida pelos produtores potenciais, é índice da continuidade subliminar da política colonial para manter a população ocupando num determinado território.

 

Profeta: a ação humana, comandada pela sua consciência, está apenas iniciando o seu processo transformador. Evidente que se contorna  a figura do profeta que surpreende a todos ao instaurar uma revelação nova e  original. Profeta que para Giulio Argan (1992: 39) dialoga com “o divino é a nascente do poder. Para que as verdades supremas sejam obedecidas deve materializá-las em sinais e figuras”.  Sinais e figuras reproduzidas pelo sacerdote que assim mantém a revelações se constituem em ministro das verdades supremas. Porém esta ação humana - consciente e determinante, em todos os ambientes e em mudanças permanentes. - ainda está muito longe de ser portadora da potência que carrega o ar, a água e a biosfera.

 

Profeta distinto de sacerdote: o tecido social brasileiro sempre “esteve por um fio”. Também a utopia - que alimentou as mentes e os corações dos jovens - sempre esteve por um tênue fio de esperança. Fio de esperança suspenso por um cortejo de profetas e seus sacerdotes no papel de militares, de cientistas e da própria religião. Profeta crente, ou descrente total em qualquer divindade, mas que instauram uma nova  verdade. Cada profeta é seguido e consagrado por outro cortejo de sacerdotes que administra essa nova verdade. No conceito de Max Weber o profeta é a revelação do original. O sacerdote mantém a revelação original. O profeta é a ruptura com a tradição, o sacerdote é a conservação. O xamã descobre os espíritos ocultos, o feiticeiro dialoga com esses espíritos apontados pelo xamã. Os jovens continuam a sacrificar o que eles possuem de mais precioso na busca do que eles consideram a Verdade apesar deste tênue fio de esperança.

 

Progresso: O termo progresso possui evidentes concepções contraditórias. Para Mota, (1980: 246) o termo “para Schwarz, progresso técnico e conteúdo social reacionário às vezes andam juntos, e aí poderá estar a raiz do desvio. Conforme a vertente escolhida, se desembocará na integração capitalista – ou na sua negação”.  Quem levou a culpa merecidamente desta crença contraditório foi o positivismo.

 

Projeto: as leis importadas contornam e evitam o dolorido ato de ler e de pensar para transformar as suas contradições em complementariedades políticas para atingir um mínimo de identidade brasileira. Mínimo de identidade que basicamente irão se modelar pelo entender por um projeto preliminar. No presente textos segue-se Giulio Argan na sua concepção (1992: 23) de que projeto “é uma finalidade da ação, que realizando-se no presente, assegura um valor permanente histórico. Fundamenta a ideia da ação histórica”. Só mediante um projeto será possível medir o que foi atingido, avaliar os resultados e recomeçar o que eventualmente deu errado. Medição, avaliação e recomeçar que dependem do grau de consciência que o projeto original suscitou no universo conceitual e produziu no mundo prático. Um dos campos mais férteis de projetos foi sempre em qualquer cultura a educação com suas escolas formais seus agente e especialmente a nova geração humana que irá depender destes projetos. Este projeto é possível conferir em Bertrand Schwartz[64] entre as numerosas obras sobre o tema.  Esta tendência se acentua e se reforça constantemente na arte onde o projeto é a essência como para Strunk[65] que encontra no projeto o seu ponto fulcral da criação humana e a distingue da Natureza dada

 

Projeto civilizatório:  é impossível contornar a figura do projeto civilizatório compensador da célula macro nacional. O estudioso Marques dos Santos apontou um entre muitos na origem do Estado Soberano Brasileiro  que ele descreveu (1997: 132)  como: “o partido estético adotado pela Academia (Imperial de Belas Artes), os vínculos com o classicismo e a experiência artística e cultural de seus integrantes estarão diretamente imbricados com o problema da construção da civilização no Brasil da primeira metade do século XIX, onde a institucionalização do Estado autônomo compreendia, na contrapartida da afirmação política, uma espécie de missão civilizatória”. Este projeto civilizatório compensador seguiu o caminho até a sua base no Poder Originário. A resposta desta base foi lenta, porém segura e continuada ao longo de todo o Regime Imperial. No âmbito governamental significou a passagem do emocional Barroco para o racional Neoclássico. A corte foi comandada por um imperador e não um rei que permitiu o amadurecimento de um Estado nacional único apesar das duras provas em contrário. Contudo neste centro de poder coercitivo e aversivo para o Poder Originário foram apontados caminhos tão, ou mais, importantes do que simples exercício da potencia imperial. Nesta dialética entre o núcleo duro do poder do Estado Nacional unificado e o Poder Originário disperso as múltiplas parcelas refletem-se como num holograma ou fractal a macro célula nacional ordenada e completa. Neste holograma, ou fractal, circula o mesmo poder da célula macro nacional.  Esta circulação contínua, em tempo real e sincronizado é potencialmente possível por meio das ferramentas da informatização digital numérica.

 

Projeto e Poder Originário propõe-se transformar a ampla diversidade das contradições em complementaridade, a cultura do Poder Originário. Cultura que para Argan significa (1992: 23) a existência de um projeto que “fundamenta a ideia da ação histórica”. No sentido da sua intima interação deste projeto com o Estado Nacional para Marques dos Santos (1997: 132)  “compreende, a contrapartida da afirmação política da institucionalização dos Estado autônomo, uma espécie de missão civilizatória”. Chaves de Melo distingue (1974: 25) a “cultura de civilização, onde, civilização supõe instituições”. Já a Profª Drª Maria Amélia Bulhões argumenta (1992, p. 58) que “na sociedade brasileira, onde tudo parece estar por ser feito, a recorrência a projetos modernos enunciados como ideais, já é uma tradição. A cada projeto sócio-econômico e político corresponde um projeto estético a ele articulado num processo de mútuo reforço”. Neste amplo e gigantesco espaço nacional este projeto torna-se rarefeito e geral. Este projeto ganho peso e sentido na célula municipal. Este município mais próxima do cidadão possui um feedback  mais rápido dele e com menos obstáculos ruídos e rupturas. A cultura do projeto é potencialmente competente para implementar a origem, amadurecer e reproduzir do poder na sua fonte primeira. Ali transformar a ampla diversidade das contradições em complementaridade. O populismo e o ecletismo puramente formais e acomodatícios podem ser transformados imediatamente em complementariedade pelo projeto municipal. Este projeto possui ali mais força e centralidade para ser testado, questionado e  reenviado para o projeto de sua origem.

 

Propaganda distinta da publicidade: o problema do conchavo e da fofoca não é só ético, mas também formal. As suas formas de interação possuem um suporte semiótico muito estreito. Esta estreiteza e compensada pela Propaganda intensiva, retórica e redundante. Esta estreiteza da propaganda é proveniente do repertório limitado, a dois ou três indivíduos que são a origem e o manipulam e buscam usufruir algum proveito pessoal em detrimento de lógica administrativa interna privada ou pública. Para transformar a sua mentira em meia verdade defendem com unhas e dentes o seu projeto estreito repertório no meio interno no qual implantaram e externo onde fizeram circular a sua meia-verdade. Em contrapartida a publicidade se abre, não esconde pois o seu repertório é amplo onde mergulha com  coragem e imediatamente as suas eventuais contradições e transformá-las em complementariedades

 

Propriedade distinta de riqueza: há necessidade de ter uma noção clara e especifica das distinções entre propriedade e riqueza. A propriedade sempre possuiu caráter sagrado enquanto a riqueza nunca foi sagrada. Quem especifica esta distinção é Arendt afirma (1983: 102) que: “antes dos tempos modernos, que começaram pela expropriação dos pobres e que se ocuparam, depois, na emancipação as novas classes sem propriedade, todas as civilizações repousavam sobre o caráter sagrado da propriedade privada. A riqueza, ao contrário, possuída por indivíduos, ou repartida entre o público, nunca havia sido sagrado antes”.  Esta posse individual da riqueza profana profanou no espaço público os limites da sua competência. Com o concurso da concepção de produtividade potencial chega-se ao núcleo desta corrupção da sua competência e ruptura de todos os lites do ético e do humano.  A posse individual da riqueza condiciona, delibera e decide  apropria-se da  “mais valia” do trabalho alheio.  Para o Poder Originário as competências e os limites do cargo e as funções do banqueiro são obscuras e intencionalmente obscurecidas pela produtividade potencial. O máximo que o povo percebe são os sinais evidentes de riqueza do banqueiro e que ele não pode condenar, pois a riqueza não é sagrada.

 

Proposições dialéticas: na mentalidade, que oscila entre a naturalização, ou mitificação,  ela está impossibilitado de conceber a cultura e a civilização como algo projetado, mantido e reproduzido artificialmente pela criatura humana e em constante mutação no tempo e lugar. Aristóteles pressentiu e descreveu (1973: 19.Tópicos-I. 10 ou [104 a 30] m) esta força nas suas concepção de proposições dialéticas: “Todas as proposições que se harmonizam com as artes são proposições dialéticas; pois os homens estão predispostos a dar assentimento aos pontos de vista daqueles que estudaram essas coisas”. Deu m lado existe o medo da mudança devido a algum novo conhecimento desestruturador do estágio presente e contido nestas proposições dialéticas.  Do outro lado para não avançar neste terreno desestruturador e mais fácil simplesmente naturalizar ou então remetê-lo par o terreno imponderável e não comprometedor da mitificação sumária.

 

Prova em História: a História jamais se repete, a não ser como farsa. Contudo isto não significa que a narrativa ou escritura e encenação não possa trazer para o presente abundante material logístico e informacional para se aproximar das fontes. Neste sentido Chartier estabeleceu (1998: 249) como prova em História e: “pode ser considerada verdadeira se ela pode ser reproduzida por qualquer outra pessoa que saiba praticar as técnicas necessárias para circunstância. Conhecimento histórico é considerado imune as variações ou as singularidades, pois sua verdade é garantida pelas operações controláveis, verificáveis, renováveis”  As Ciências Jurídicas valem-se destes meios para conhecer fatos, lugares e pessoas do pretérito para configurá-los mentalmente emitir um juízo mais aproximado possível da verdade.  Porém no sentido preventivo a emissão, circulação e opinião das informações relativas ao menor vulnerável podem protegê-lo e fornecer-lhe um sentido de pertencimento. Com esta atenção é possível ajudá-lo a reconstruir a sua teia social, a sua personalidade, sem agredir e violentar o seu meio.

 

Publicidade se abre, não esconde, pois, o seu repertório é amplo onde mergulha - com  coragem e imediatamente - as suas eventuais contradições e transformá-las em complementariedades. Com esta característica é um dos cinco vetores que a Constituição Brasileira de 198 exige, no caput do seu artigo 37, do serviço público municipal, estadual e federal.

 

Público o que se pretende aqui é o estudo do PODER ORIGINÁRIO e das circunstâncias para perceber como surge este fenômeno, se afirma e se reproduz nos grupos humanos distinguem e agem no espaço público entre as demais forças na totalidade da sociedade.  Na concepção de Arendt, (1983: 260) “público o é espaço potencial da aparência entre os homens agindo e falando”. Nesta percepção trata-se de construir conceitualmente a partir de tendências comuns reunidas no espaço público em comunidade. Comunidade que possui traços de identidade de origem predominante de signos a partir de um determinado projeto humano. Projeto explícito ou subliminar, negado ou desqualificado por forças concorrentes. Situa-se o estudo empírico do Poder Originário com as suas circunstâncias do espaço público da comunidade nacional brasileira do início do terceiro milênio.

 

Público de pares concorrentes o Poder Originário é, de fato, o destinatário secundário e eventual deste destilado proveniente das classes dominantes. Estes constituem um público de pares concorrentes que escrevem por tabela e subsidiariamente para o Poder Originário. Para Bourdieu, (1987: 108) o seu interlocutor “não é apenas o público, mas para o público de pares que também são concorrentes” Para reforçarem a sua posição por cima e por fora esta classe vale-se dos aparelhos governamentais do Estado. Por meio deste Estado instrumentalizado absorvem e se recobrem com todas as manifestações culturais da nação. Arrebatam deste Estado projetos subsidiados e conquistado por meio de editais julgados pelos seus pares concorrentes, mas que os respeitam e esperam iguais mordomias do Estado nacionais, estadual ou municipal em outras ocasiões e por serviços prestados..

  

Q

 

Qualidade carismática: o feedback do cidadão em relação ao seu Estado reduzido a dados quantitativos, mitificações e meias verdades está muito longe da Democracia da qual apenas são contrafações. Contrafações semelhantes com uma qualidade carismática que Bourdieu registrou (1987: 127) no “sistema de ensino onde opera como instância de reprodução e consagração e ao mesmo  tempo, a ação dos mecanismos sociais tendem a assegurar  uma espécie de harmonia pré-estabelecida entre postos e ocupantes”. Assim o discurso de mudança social pode significar permanecer no mesmo e sem efeito prático.  Na lista desta estatística quantitativa, mitificações e meias verdades constam um voto a cada quatro anos e uma pesquisas de opinião que não mudam nada. No contraditório destas contrafações é necessário admitir algo semelhante do que é da natureza da Arte. Ela “está em que produz e não no que é produzido”, na concepção de Aristóteles, como também a Democracia também está no cidadão.  Ou como resumiu Heidegger “o ENTE no SER”.

 

Queimando etapas Nesta práxis despontam, amadurecem e se reproduzem as sementes da cultura humana a serem desenvolvidas ao longo da existência humana. Estas sementes, maduras e férteis, são transportadas para se reproduzirem em espaços novos e por tempo indeterminado.  No sentido inverso, uma vez adquirida a cultura, permite lhe usar o potencial para realizar o diálogo diferenciado com a macro Natureza, recomeçando e ampliando o ciclo do crescimento. No Brasil permitem queimar etapas gigantescas para uma única geração humana. O médico Roquete-Pinto e iniciador do radio no Brasil  escreveu (1931: 35) “o índio entra num Ford para assistir um filme na vila próxima sem nunca ter andado em carro de boi e  conhecer a lâmpada de petróleo”. Esta criatura humana pode valer-se da Arte para expressar o estágio deste crescimento

 

 

R

 

Realidade: aceita o termo realidade na concepção de Chartier, (1998: 143) como sendo “um tipo de racionalidade, uma maneira de pensar, um programa, uma técnica, um conjunto de esforços racionais e coordenados, objetivos definidos e perseguidos, é realidade, mesmo que não seja a 'realidade'’ propriamente dita nem ‘a’ sociedade inteira”. Nesta realidade e nesta ordem necessárias para esta construção pretendida, há necessidade de examinar os dados concernentes à cidadania na sua individualidade no âmbito do espaço público do Estado no qual interage com outras individualidades.

 

Rede: A informática numérica digital permite a dupla via de circulação do poder e, ao mesmo tempo, não quebrar a hierarquia originária da Nação. Esta circulação é reforçada pela concepção da circulação do poder em rede e na prática. Na área de concepção desta rede Giulio Argan esclarece (1992: 58) que  “o importante é que  a pesquisa não leve a isolar um fato ou um grupo de fatos, mas discernir um nó de relações, e que se tenha consciência de que, além da zona iluminada da pesquisa, essas relações se estendem e se ramificam ao infinito, a todas a área ilimitada dos fenômenos artísticos, não importa de que época e cultura” Na prática este fluxo do Poder Originário circula nos âmbitos “das ciências organizativas incluem o distrito, a rede, lobby, manegement by objetives, project work, congresso  permanente”, numa enumeração sumária (1997: 18) do italiano De Masi. Da mesma forma o Poder Originário circula envolvendo o pátrio poder, a célula municipal, passando pela região e dirigindo-se ao núcleo do poder central sempre em dupla via de ida e volta no âmbito da hierarquia.

 

Rede matemática:. com a norma aberta, para a imaginação e para a criatividade, as energias mentais e físicas encontram no caos a matéria prima para os projetos possíveis e o espaço potencial para que a imaginação erga a sua criação. O caos primordial continua a ostentar as suas potencialidades mesmo diante dos mais severos instrumentos de planejamento, execução e avaliação matemática rigorosa conforme Bertrand Russel (in Arendt, 1983: 337)  “se for possível demonstrar, que pode-se cercar de uma rede matemática, não importa qual universo, contendo muitos objetos [...] o fato é que o nosso universo se presta a um tratamento matemático, mas isto não tem grande significação do ponto de vista filosófico”. Do ponto de vista filosófico a elaboração é possível ao ENTE humano na medida em que o seu SER possui um núcleo solido e equilibrado. Este núcleo equilibrado e solido foi verificado por Piaget nas suas pesquisas

 

Reducionismo a concepção escapista do ócio é obra do Iluminismo e da era industrial. Eles são evidentes nas obras do reducionismo cultural necessária para uma comunicação massiva onde o horizonte é a idade mental de 12 anos. Contra esta tendência reducionista insurge-se Burke ao afirmar (1997: 7) “impossível vulgarizar certas questões”. Na antiguidade clássica Aristóteles era categórico ao afirmar “não se deve argumentar com todo mundo, nem praticar argumentação com o homem da rua, pois há gente com quem toda discussão tem por força que degenerar”. O reducionismo além do  risco da vulgarização,  mergulha o emissor e o receptor no ecletismo.

 

Reducionismo semelhança com vulgarização no presente texto não se deseja a visibilidade pública do pelourinho da era agrícola no qual o colonizador do Brasil fixava as leis, de preferência numa língua culta eivada de latim. Infeliz do índio ou do africano que não soubesse decodificar esta vontade colonial e ou desobedecesse, pois o pelourinho era o lugar da aplicação das penas. Não se deseja a publicação só no Diário Oficial - da era industrial da mídia impressa - cujo acesso é de poucos, e cuja leitura exige tempo e hermenêutica para a compreensão dos códigos cifrados jurídicos. A complexidade do Poder Originário não pode ser reduzida a alguns pontos, correndo risco de ser outra coisa e retornar ao mundo natural ou se elevar para uma mitologia esterilizante e metafísica do poder. Este perigo real levou o presente texto a se expor perigosamente no seu peregrinar pelos mais variados indícios desta complexa estrutura montada na vertente do Poder Originário.

 

Reflexão: a criação humana da escola formal constitui um suporte para esta eficácia. Ela atingirá esta eficácia esperada, não só pelo controle, como pela liberdade, autonomia e dignidade que ela exigir do seu estudante.  Implicam num esforço continuado de reflexão sobre si mesmo e as suas circunstâncias do aqui e agora. Bruyne é incisivo (1977: 77) “a reflexão fenomenológica exige um esforço constante para uma ‘compreensão’ cada vez mais elaborada do real, compreensão sempre um vir-a-ser”. Enquanto isto Gleizal afirma (1994: 47) “a arte torna-se um processo sobre o qual é necessário refletir. Ela aparece indissociável de uma epistemologia da criação” . Estes estudantes, agentes e comunidade escolar entregues a esta reflexão criativa são objetos reais que na concepção de Bruyne(1977: 51) constitui “causa presumida dos nossos sentidos. Os objetos percebidos são os efeitos supostos dos objetos reais latentes.”. A concepção da liberdade possui um estágio intermediário que passa pela reflexão que desemboca na compreensão.

 

Regional: no amplo e gigantesco espaço nacional um projeto torna-se rarefeito e geral. Este projeto ganho peso e sentido na célula municipal. Além de potencialmente atingir o universal este pequeno espaço regional conforme Gullar (in Mota, 1980: 237) permite “clamar em países subdesenvolvidos, pelo estudo e conhecimento de sua própria realidade não é, como se pretende fazer crer, frequentemente, uma atitude retrógrada ou anti-internacionalista, mas, pelo contrário, a verdadeira atitude internacionalista”. Isto pelo fato empírico do espaço regional municipal estar ao alcance empírico e intelectual do cidadão. Nele possui um feedback  mais rápido de suas aspirações e necessidades concretas e com menos obstáculos ruídos e rupturas. A cultura do projeto é potencialmente competente para implementar a origem, amadurecer e reproduzir do poder na sua fonte primeira. Ali transformar a ampla diversidade das contradições em complementaridade. O olhar atento e crítico do estrangeiro, como Joseph Love[66], pode perceber, representar e produzir narrativas que possuem focos e pontos de observação que já foram naturalizados, ou o contrário, mitificados, por aqueles que estão mergulhados e vivem o dia a dia de uma cultura regional. De posse desta representação gerara os vínculos internacionais consistentes e coerentes

 

Regra e paradigma: a Arte é distinta da cultura.  Nesta discussão há necessidade de distinguir também os termos regra e paradigma na concepção de Kuhn (1997: 66) ao afirmar que:  “a ciência normal é uma atividade altamente determinada, mas não precisa ser inteiramente determinada por regras. É por isso que, no início deste e ensaio, introduzi a noção de paradigmas compartilhados, ao invés das noções de regras, pressupostos e pontos de vistas compartilhados como sendo a fonte da coerência para as tradições da pesquisa normal. As regras, segundo minha sugestão, derivam de paradigmas, podem dirigir a pesquisa, mesmo na ausência de regras”. Resumindo a regra deriva dos paradigmas, enquanto estes não precisam ser determinados por regras. Afastando as diferenças superficiais e externas a Arte, a cultura, os paradigmas e as suas regras derivadas fornecem juntas um espaço de base universal para se constituir um índice de avaliação do “que constitui  um grande mal ou um grande bem”.

 

Reificação: os recursos numéricos digitais são instrumentos eficientes e suficientes como armas na luta permanente humana  contra o esquecimento que na concepção de Horkheimer e Adorno (in Marcuse (1981: 79) “toda a reificação é um esquecimento”. Este exame  permanente dos projetos, dos contratos, do controle e da avaliação em tempo real contraria também o hábito personalista no qual o presidente da República é uma reificação na medida em que esquece o Poder Originário e se julga detentor da única palavra verdadeira e última do Estado

 

Relação ambivalente: enquanto persistir o hábito da perspectiva clássica a única e última palavra presidencial interpreta a realidade nacional de forma pessoal e última. Esta interpretação penetra no espaço no qual Bourdieu coloca (1987: 126) a “relação ambivalente dos produtores com a autoridade escolar. Denúncia da rotina professoral contra a ambição profética até constituir o atestado de qualificação profética”. Este paradigma pessoal da ‘relação ambivalente’ é construído e oferecido, ao primeiro mandatário da nação, pela sua corte de ‘apoiadores’.

 

Relação circular de representação recíproca: na atualidade o Poder Originário nunca dispôs de tão numerosas formas culturais e técnicas para estudar as causas destas interrupções e crises do e tomar os meios para fazê-lo circular se solução de continuidade. Evidente que nesta potencial circulação pretendida há necessidade de atenção e meios para ultrapassar os abismos e os desvios implícitos na relação circular de representação recíproca entre o campo de produção erudita contra o campo das instâncias de conservação e consagração.  Os contratos não precisam confundir o Poder Originário e encobrir as instâncias de conservação e consagração e misturar o assaltante com o cargo e buscar perpetuar-se no poder. A autoridade consagrada e ungida com poder concedido a alguém ao longo de quatro anos,  constituem uma eternidade sem um exame continuado. Entre o campo de produção erudita contra o campo das instâncias de conservação e consagração.

 

Relações que inculcam o campo de produção erudita ao sistema das instituições: paira uma dúvida permanente sobre até que ponto um determinado governo brasileiro inclui nos seus quadros administrativos as suas próprias Universidades Federias ou Estaduais. Esta tensão de pertencimento oscila, de fato, entre alguns momentos de inscrição plena para outros de completo alijamento do corpo administrado do Estado. Esta dúvida ganha relevância e urgência na medida em que ocorre a mais alta velocidade de mudanças radicais quando este governo necessita fazer a passagem da mentalidade e dos comportamentos da era linha de montagem para era pós-industrial. Neste momento de mudança o governo é um dos maiores e mais privilegiado destino da produção proveniente da instituição escolar especialmente na sua sustentação burocrática. Relações que inculcam o campo de produção erudita ao sistema das instituições que possuem a atribuição governamental específica de cumprir uma função de consagração. Esta mudança e diferença são particularmente visíveis na instituição escolar que ainda se move na mentalidade agrícola comparada com a industrial e pós-industrial.

 

Renovação radical: no Brasil o problema inicia na incoerência do projeto enunciado e a competência da autoridade. A competência é aceita aqui como aquilo que está contido entre os limites ou, ainda, uma faculdade ou um direito concedido. No mundo da ação humana constitui a qualidade de quem é capaz. No mundo da axiologia pode ser um desafio ou uma luta pela verdade e ortodoxia A competência da autoridade, enunciada é algo absolutamente diferente daquilo que se pratica. Diferença tão flagrante como aquelas renovação radical determinada pelas revoluções da axiomática intelectual onde impera a lei ideal despojada do mundo empírico. Mundo empírico que difere completamente daquilo que se julga e do foi apresentado como ideal ao final do texto anterior em relação a instituição escolar  e a cultura difusa. Este desvio deriva daquilo que é percebido no interior da cultura difusa cuja matriz ainda recende do colonialismo lusitano.

Determinada pelas revoluções da axiomática intelectual.

 

Representação: na segurança e estabilidade é necessário colocar a Politica acima de partidos. Estes por sua vez, vindo do Poder Originário, prosperam neste horizonte no qual seja possível ter um panorama do bem geral. Panorama geral no qual pode prosperar uma representação do Poder Originário que Villela enunciou (1997: 275) como mais coerente com a realidade: “Na década de 80, desenvolveu-se uma nova trajetória que apropriando-se de novos estudos, surge como História Cultural, no momento que a visão dos historiadores passa a aceitar novos olhares sobre a realidade. Essa forma de ver a história se desloca da visão compartimentalizada do passado buscando a abrangência a totalidade, das coisas, objetos, sociedades, pensamentos, representações. Busca uma interdisciplinaridade entre múltiplas dimensões da realidade e de se ver essa realidade. Passa-se da análise das práticas da história social ao estudo de suas representações. Essas representações tanto podem ser a partir da construção das cidades, como na construção intelectual, literária, plástica e musical, permeando-se nos textos  visuais e verbais”. Este pensamento é resumidor por Chartier quando afirma (1998: 35, 79) “passa-se da análise das práticas da história ao estudo de suas representações”  Como esta abertura cultural está em quem a pratica e não naquilo que produz, a autêntica representação encontra-se em quem a  cria, conduz e reproduz e não em gêneros que Aristóteles configura (1973, p. 14 Tópicos-I.5 [102]) como  “ gênero é aquilo que se predica na categoria de essência, de várias coisas que apresentam diferenças específicas”.

 

Representação coletiva: na medida em que coloca a Politica acima de partidos, qualquer contrato não pode incluir ingerências indevidas. A agremiação que possui a fortuna de prosperar no âmbito do Poder Originário é aquela cuja fonte das  representações coletivas. Isto Chartier explicita (1998: 78 - 178) que “a realidade é construída por diversos grupos que compõe uma sociedade; uma lei ou posto significa simbolicamente uma identidade e uma maneira própria de ser no mundo”. Argan  insiste no mesmo (1992: 23) “as formas institucionalizadas e objetivas marcam de forma visível e perpetuam a existência do grupo, da comunidade  ou da classe”.  Evidente que um partido necessita a fonte do Poder Originário para a sua autonomia econômica e sem favorecimentos ou contrapartidas governamentais de qualquer um dos três poderes. Porém as fontes do financiamento de forma alguma podem ser pretextos para ingerências indevidas destes partidos. Muito menos servirem posteriormente com fontes de ’mensalões’ corruptores das demais agremiações partidárias. Se examinarmos os voos curtos dos partidos brasileiros, certamente irão despontar os seus conluios obscenos com governos transitórios.

 

Reprodução o que move todo este conjunto de instrumentos, agentes estratégias e elementos logísticos é a busca de sua reprodução. Este o núcleo tanta da Natureza como da cultura humana. Hannah Arendt comentou (i983: 155) que: “a força da vida é a fecundidade. O ser vivo não foi esgotado quando ele providenciou a sua própria reprodução, e sua ‘mais-valia’ está na sua multiplicação potencial. O naturalismo coerente de Marx descobriu a ‘força do trabalho’ como modo especificamente humano da força vital tão capaz do que a natureza para ciar uma mais-valia, um além-produto”. Para os biólogos Maturana Varela a reprodução (1996: 48) é “um além-produto específico da força vital humana”. Para Bourdieu (1987: 177) representa “a ‘força do trabalho’ é capaz de criar uma ‘mais valia’”. O mesmo Bourdieu[67], ao lado de Passeron, dedicou um livro (1982)  ao tema de ‘reprodução’, examinando- o por diversos ângulos.  A continuidade de uma civilização e de uma cultura depende nas palavras de Hannah Arendt (1983: 314) que “o milagre que salva o mundo, o domínio das atividades humanas, da ruína normal, «natural», é o fato da natalidade, na qual se enraíza ontologicamente a faculdade de agir. em outros termos: é o nascimento de homens novos, o fato de que eles começam novamente a ação que eles capazes por direito de nascimento. A reprodução é a raiz  que permite transformar a contradição entre a unidade e a diversidade. Reprodução que torna contemporâneas todas as gerações humanas e espécies vivas da Terra pelo código genético de que são portadores.

 

Revolução: o  cientista suíço Jean Piaget (1896-1980) realizou uma revolução silenciosa. As suas observações podem ser colocadas numa via de dupla mão. Numa tira dos ombros da frágil criatura humana a sua onipotência em face dos processos vitais nos quais ele esta mergulhado desde a sua origem até o seu final. Revolução que de uma forma geral é para Kuhn (1997: 122)  constituída por aqueles “episódios de desenvolvimento não-cumulativo, nos quais um paradigma mais antigo é total ou parcialmente substituído por um novo incompatível com o anterior”. O mesmo Kuhn continua “quase sempre, os homens que fazem as invenções fundamentais são muito jovens ou estão a pouco tempo na área de estudos cujo paradigma modificam”. A revolução silenciosa da qual Jean Piaget derrubou e venceu os mitos pedagógicos do bom selvagem ou do tipo ideal por natureza e do outro o mito de sua subordinação à ideologias, à crenças e predestinações alheias às competências e aos limites da criatura humana. Estas revoluções, muitas vezes são aureoladas com mitos heroicos, românticos e idealizados como aqueles que Chaui[68] propõe. Na política brasileira  todas as revoluções foram seguidas de dolorosos período onda havia o projeto de substituir os hábitos, as quebras da ordem institucional por um retorna á normalidade política, administrativa e cultural em vivo contrate com o período anterior e cura dos males provocados pelos atropelos do Poder Originário. Uma destas fases foi descrita por Bittar[69]. Ou então no texto de Luís Inácio da Silva[70] que viria a tornar-se o mandatário supremo da hierarquia constitucional brasileira. Na mesma edição de Olívio Dutra[71] que seria, depois, o 1ºmandatário do Rio Grande do Sul. Os efeitos do Golpe de 1964 se haviam reproduzido em todos os municípios brasileiros com maior ou menor intensidade. Na cidade de Rio Grande o capitão Rodrigues[72] descreveu este período

 

Ruptura: o poder humano é dinâmico. Ele circula e, se  amadurecido, é competente para acompanhar e entender a natureza deste fluxo. Compreensão que leva a interrompê-lo, mudar de rumo e praticar rupturas. Rupturas como das Ciências que “ocorrem quando um paradigma substitui outro contrário ao primeiro” como Kuhn constatou (1997: 190). Ruptura que constitui o campo de produção erudita que permite às classes dominantes se diferenciarem do público dos não-produtores, ou seja, com funções não intelectuais. Se de um lado isto permite discriminações sociais, políticas, religiosas e econômicas. De outro lado permite verificar que esta circulação é construída e determinada por meio de um projeto que, por sua vez, também é uma construção humana. Esta construção depende tanto da infraestrutura disponível, neste tempo e lugar, como depende da maturidade ontogenética dos seus agentes .

 

Rupturas epistêmicas e estéticas: o campo das forças da Arte na qual age a legislação cultural que Bourdieu, descreveu (1987: 108) como “todo ato de produção cultural implica na sua afirmação de pretensão à legitimação cultural”. Força da Arte que Greenberg distingue (1996: 48) como “inatividade ou atividade sem finalidade  distinta do trabalho como atividade carregada de finalidade”. Esta atividade sem finalidade trata de uma transição entre incomensuráveis e paradigmas em competição não pode ser feita passo-a-passo por imposição da Lógica e de experiências neutras na concepção. Em função disto Kuhn argumenta (1997: 190) por esta razão “esta mudança da forma (gestalt) visual, a transição deve ocorrer subidamente (embora não necessariamente num instante) ou, então,  não ocorre jamais”. Bourdieu argumenta (1989: 49) “aquilo que se chama a «ruptura epistemológica», que dizer, o por- em-suspenso as pré-construções vulgares e os princípios geralmente aplicados na realização dessas construções, implica uma ruptura com modos de pensamento do senso comum, do bom senso vulgar científico”  De uma forma geral a ruptura epistêmica necessita de condições somáticas e mentais. No aspecto somático a criatura humana revela as condições e competências físicas diante da ruptura epistêmica para não agredir diante da mudança necessária aos seus comportamentos corporais. No aspecto mental a criatura humana é capaz de receber, iniciar e elaborar críticas e implementar rupturas epistêmicas e estéticas que são preocupações culturais constantes na Educação e na Psicologia quando buscam unir vontade e uma inteligência. Para Bourdieu, (1987: 218):“há necessidade de ruptura com o seu próprio conhecimento para ser oposição dialógica de uma obra de arte que não se inscreve no código pessoal.  Os conservadorismo estético funda-se na recusa de romper com os códigos conhecidos para entregar-se as exigências internas da obra”. Os objetivos, as causas e as consequências da ruptura epistêmicas  na estética Bourdieu as descreve (1987: 218)são “para incluir uma obra de arte, que não se inscreve no código pessoal, rompe com o próprio conhecimento, gerando uma oposição dialógica. Essa ruptura é exigência interna da obra”.  Estas rupturas epistêmicas e estéticas bem conduzidas,  somática e mentalmente,  constroem portas e janelas para a concepção ganhar espaço da legitimação paralela na qual a Arte serve às classes inferiores como forma de inclusão no sistema vigente. Esta legitimação paralela é sustentada pelo consumo de objetos oferecidos pelas classes artísticas inferiores as classes elevadas.

 

S

 

Sabedoria em Arte: na paixão pela liberdade existe o longo caminho do ‘ensinar’ e do ‘aprender’ que significa APRENDER na medida do ‘compreender’ e o seu efeito do ‘ter compreendido’. Nesta compreensão encontras a impossibilidade da volta ao campo e nem o fim das metrópoles. Apenas defende-se a necessidade de projetos e de intenções claras de quem avalia o seu preço, o paga e de quem carrega o seu peso de fato. Esta prudência, proveniente da sabedoria, corre límpida desde a antiguidade clássica. Aristóteles já argumentava (1973: 345.1141a 10) que: “o conhecimento científico é um juízo sobre universais e necessárias. Assim sendo o primeiro princípio de que decorre o que é cientificamente conhecido não pode ser objeto de ciência, nem de arte, nem de sabedoria prática.. A sabedoria, nas artes, é atribuída aos seus mais perfeitos expoentes, por exemplo Fídias como escultor e a Policleto como retratista em pedra: por sabedoria, aqui, não entendemos outra coisa senão a excelência na arte”.  O mestre de Alexandre Magno expunha assim, ao seu discípulo, a compreensão e a sabedoria necessária para as realizações de contratos, ou pactos, em constante avaliação e recomeço diário em função das perdas e ganhos, antes, durante e após qualquer ação coletiva.

 

Saber distinto de fazer: a palavra povo tem por objeto a construção a partir de tendências comuns numa comunidade que possui traços de identidade de origem predominante de signos naturais. Este termo está gasto pelo uso  continuado e como panaceia universal nos discursos que buscam o senso comum e  agradar o repertório de qualquer auditório em qualquer circunstância e lugar. Este gasto e esta desqualificação são atribuídos por Hannah Arendt à distinção entre saber e fazer. Ela afirma (1983: 288/9) que: “a separação platônica entre saber e fazer fica na base de todas as teorias da dominação que não são simples justificativas de uma potência irredutível e irresponsável. Pela única força da colocação na forma de conceitos e da iluminação filosófica, a assimilação do saber ao mandamento, à autoridade, e da ação à obediência, à execução, anularam todas as experiências precedentes, todas as articulações antigas do domínio político, ela dominou inteiramente a tradição do pensamento político mesmo quando não se havia esquecido as bases experimentais das qual Platão haviam tirado seus conceitos.” A busca que perpassa todo o presente estudo é descobrir formas e recursos para transformar a contradição do saber e do fazer em complementares. Busca o saber o mais próximo possível ao fazer implementado pelas tendências comuns dos signos naturais do povo face ao poder. Poder que o povo constitui como fonte, mantém e reproduz, no entanto  é imediatamente alijado e desconsiderado e desqualificado deste poder pelo saber

 

Segurança Wright Mills observou (1975: 410/1) que “somente quando o pensamento tem uma base autônoma, independente do poder, mas poderosamente ligada a ele, pode exercer sua força no condicionamento dos assuntos humanos”. Antes dele Espinosa havia afirmado que a virtude do cidadão é a liberdade enquanto aquela do Estado é a segurança.

 

Sensibilidade distinta de inteligência: o populismo e rebanho atropela a ética (hqikh’) para quem  Varela reserva (1995: 13) o papel de “ estar mais próxima da sabedoria do que da razão, mais próxima da compreensão de que coisa deve ser o bem do que da formulação de princípios corretos” esta concepção que Shusterman transfere (1992: 223) para a Arte na qual “essa reflexão deve incluir o outro para gozarmos uma perspectiva mais abrangente. Essa virtude é adquirida mediante o exercício tal qual sucede como na  arte”. Subsidiariamente permite concordar com Léger quando afirmou (1965) que “a obra de arte fica para os «sensíveis», é como eles se vingam dos «inteligentes»”. Este altruísmo dos «sensívei não exclui etnia, idade, condição social, cultura e econômica, discriminada, muitas vezes, pelos «inteligentes». Para estes «sensívei quando indivíduo for pensado a partir dele em direção ao Estado o filho do cidadão abastado não precisa ser excluído da escola ou da saúde pública. O benefício prestado.

 

Sentido distinto de projeto: o objetivo da circulação permanente da informação é renovar o poder da nação tornando-o conhecido de todos (publicidade) e coerente com o seu tempo e o seu lugar (oportunidade). Numa nação a cultura enraíza e fixa as finalidades desta mesma nação. As palavras de Ladrière expõem isto ao afirmar (1977: 204) que: “as duas funções essenciais de uma cultura são o enraizamento e a fixação de finalidades, são possíveis, nesta linha, dois grandes pólos de organização interna da cultura: o do sentido e dos projetos. O sentido é como o meio na qual a ação pode se elaborar, mas da qual ela também tem responsabilidade; é ao mesmo tempo aquilo que o sustenta e aquilo que é encarregado de fazer acontecer. Os projetos são os objetivos concretos, de maior ou menor alcance, em relação aos quais se mobiliza. Vistos na perspectiva do sentido, os projetos devem criar as condições que permitem à existência de atribuir-se um sentido, eles devem construir, de uma certa forma, os quadros de uma vida sensata”.. Ainda Ladrière afirma (1977: 204/5) que “existe sempre estruturalmente, uma diferença  irredutível entre o projeto e o sentido. O projeto é sempre de ordem mais ou menos relativo,  pois ele é sempre, em suma, o projeto de projetos ulteriores. O sentido possui um caráter último: ele é o que uma vida pode encontrar, concretamente, uma justificativa em si mesma e como um a consagração definitiva,  ele é aquilo pelo qual uma vida se perde ou se salva. Na cultura existem elementos que contribuem particularmente na formação de sentido (ainda que este só se descubra e se ateste verdadeiramente na  ação) : assim certas formas de valores, que permitem estruturar a existência como um destino, certos aspectos do sistema das representações, certas formas simbólicas. Existem outros que contribuem particularmente na formação de projetos: por exemplo os valores éticos que fornecem princípios de orientação a ação coletiva (como aqueles que inspiram os direitos do homem, como a ideia de justiça, como a noção de bem coletivo)”. Resumindo e distinguindo sentido possui um caráter último sendo aquilo pelo qual uma vida se perde ou se salva. Já o projeto é sempre de ordem mais ou menos relativa pois ele é o projeto de projetos ulteriores .Diante deste contínuo necessário tanto para o projeto como para o sentido de uma nação a circulação do poder central, necessita existir na sincronização diária e que precisa vivê-lo nas 24 horas, sete dias por semana e em todos os dias do ano. Seria um absurdo se as férias pessoais de agentes, ou as suas eventuais viagens, significassem a paralisação da circulação contínua do poder central desta nação. A multiplicação de ministérios e ministros está longe de convencerem como sentido e projeto de uma nação.  Não ordenam este sentido do funcionamento do Estado nacional além de caro, revelou-se ineficiente para os projetos e sem garantia entre investimento e retorno

                                                         

Série: o continuo administrativo supõe viver e se sustentar ao longo das 24 horas diárias, por sete dias por semana e ao longo do ano todo, sem férias ou feriados. Este contínuo e formado por séries de eventos que se encadeiam ao modelo de um padrão infinito islâmico.  Na sua repetição incessante incorporam o novo do seu tempo e lugar. A série pode representada como uma ordenação sequencial em que todo o elemento novo é incorporado para ser repetido adiante. Hansen informa (1998: 113) que “a série é o meio de construir uma repetição  que nunca é a mesma, porque também implica uma diferença, como um perda ou um desnível do que se repete naquilo que é repetido.  Na sua ordenação sequencial, a série implica  uma organização do tempo de experiência”. Por sua vez Argan explica (1992: 33) que: “entre as unidades de que é composta, não há apenas analogias, mas desenvolvimento ou progressão. Não há explicação sem a constituição de séries de fenômenos, econômicos, políticas, culturais. Sá há história por que certos fenômenos continuam”.  Diante desta concepção de séries não adianta multiplicar a base administrativa com incontáveis ministérios e ministros dos mais variados setores seja na cultura da infraestrutura agrícola, da industrial ou da numérica digital. A quantidade presente numa série não é sinônima de sua qualidade intrínseca.

 

Setor: os jornais e os seus editoriais são publicados em todos os recantos do território nacional por pessoas que percebem o mundo através de sua realidade e as circunstâncias que os cerca. Este ‘setor’ da comunicação dos jornais periódicos congrega  áreas afins por sua natureza e os seus objetivos Atcon, (1974: 5) que se reforçam ao prestarem atenção ao mundo quotidiano brasileiro do qual extraem o que é significativo e relevante para o Poder Originário. Sintetizam editam e fazem circular a no espaço público. Como tais trabalham não só para si mesmo e para o seu público de apoiadores, mas também em função dos seus ‘pares concorrentes’ na concepção de Bourdieu (1987: 108).  Os editoriais possuem potencialidades insuspeitas na nova época numérica digital para poder gerado na origem na política e na administração de um governo. A informática numérica digital (Internet) permite enviar os editoriais em tempo real ao centro do poder ao mesmo tempo em que são impressos na linha de montagem gráfica.

 

Significante da metáfora flutuante. no âmbito da continuidade de uma conduta cultural obedece e se concretiza no que Leonardo da Vinci já havia previsto: “tudo aquilo que é contínuo, pode ser dividido em infinitas partes“ Continuo dividido em infinitas partes e que permite a sua reprodutibilidade constante e fiel é por tempo e lugares indeterminados. Ao mesmo tempo estas partes são distintas como significantes de uma metáfora flutuante. Marchán Fiz esclareceu (1996: 242) que “na obra artística o significante e o significado são assimétricos, isto é não se relacionam de modo linear, não se acoplam como um molde”. Passado e presente não se acoplam apesar de pertencerem ao mesmo continuo. Apesar de na atualidade ainda predominam traços de hábitos de uma cultura proveniente do suporte tecnológico da era agrícola, estes presente é algo distinto e próprio do tempo e lugar. Apesar de autoridade e o poder resistem e se agarram aos hábitos disfuncionais está face à realidade que exige a percepção da cultura da era numérica digital pelos agentes deste poder. Este poder disfuncional é lento, está envolto em mitos e circula num bloco monolítico.

 

Significante flutuante: Nestes raciocínios, provocados pelo campo estético, existe uma busca de proporção, de reconhecimento dos limites da criatividade e da imaginação humanas, sem renunciar a todas as energias campo de suas forças. Alguns consideram isto algo perigoso para a Ciência, percebendo na estética o imponderável de significante flutuante. É o que Marchán Fiz registrou (1996: 242 /3) em relação a um dos maiores expoentes das Ciências. “Um representante (do estruturalismo) tão qualificado como Levi-Strauss, não só considerava  a arte nas coordenadas do símbolo e a percepção estética como algo incompatível com o conhecimento científico, como também sustentava que a arte bebe do poço quase insondável do significante flutuante, quer dizer, dessa superabundância ou excesso obscuro que escapa as análises definitivas, às formalizações exaustivas, já que na obra artística o significante e o significado são assimétricos, isto é, não se relacionam de modo linear, não se acoplam como ‘um molde’”.O que pode parecer um grave problema e motivo para colocar a arte de quarentena permite também tecer uma íntima e coerentemente criatividade humana necessita sustentar num continuo associação da linguagem. A linguagem permite transformar ‘o cru em cozido’ numa das mais conhecidas metáforas de Claude Levi Strauss (1908-2009). Esta operação é uma das tarefas da técnica da linguagem numérica digital.

 

Sistema o Poder Originário complementa a linha de montagem da fábrica superando-a, municiado por uma informação numérica virtual. Este tipo de informação confere um sentido para esta série linear e consecutiva da intenção, do ato e do mérito. Série que se admite como uma noção derivada da semiótica nascida em função e para o âmbito da indústria. Neste âmbito existe basicamente uma circulação que podem ser enumeradas como entrada de insumos, a sua elaboração, seu controle e distribuição seguida pelo seu consumo. Estas operações são separadas entre si. Nenhuma agente domina o processo todo e que se encadeiam mecanicamente pela linha de montagem central. Na maioria das vezes resulta em operações fragmentadas previstas pelo design e executada por mão de obra treinada e especializada para aquela operação específica. A informação numérica virtual em rede supera a lógica da fábrica devido à energia revelada pela do “tempo real” ou “just in time” na qual circula o poder com mais intensidade e potência e colocado entre a  intenção, o ato e o mérito.

 

Sistema de ação: Na via contrária o socorro e prevenção coletiva pela ajuda dos demais municípios a um poder municipal isolado  poderá ser mais efetivo, volumoso e intenso. Evidente que esta efetividade pode ser  reforçada por um sistema  de ação. Ladrière definiu (1977: 17)“o sistema de ação compreende, ao mesmo tempo, as mediações técnicas que permitem dominar - mais ou menos adequadamente - o meio social e as mediações propriamente sociais através dos quais a coletividade se organiza com vistas a gerir seu próprio destino” Neste sistema de ação o socorro e a prevenção coletiva provém da ajuda dos demais municípios serão potencializados pelos instrumentos atuais informações e comunicações comuns. Diante desta abertura das janelas e portas os poucos privilegiados não poderão mais fugir da mudança e se refugiar nos segredos e mitos que eram, antigamente, os seus instrumentos de domínio do poder público.

 

Sistema e cultura: os que trabalham para ocultar o fato de que o poder circula permanentemente num sistema que se espelham naqueles que conseguiram capturar uma parcela mínima desta cultura nalgum tempo. Sistema e cultura Ladrière entende (1977: 206) como “se é possível usar o termo «sistema» para marcar a objetividade das formas culturais e seus modos de evolução, é necessário precisar que se trata de um sistema do tipo plástico, com ligações pouco rígidas, eminentemente deformáveis, e não um sistema do tipo determinista, no qual toda modificação local repercute inevitavelmente na totalidade das partes”. Totalidade das partes que facilmente confunde inteligência com sabedoria

 

Sistema de ensino: As causas presentes no processo  desencadeado no sistema de ensino constituem elementos fundamentais para o Poder Originário atingir esta socialização e qualificação do seu estudante. Se aceita Bourdieu para quem (1987: 117) o sistema de ensino “é uma instância qualificada para assegurar a reprodução do sistema de esquemas de ação, de expressão, de concepção, de imaginação, de percepção e de apreciação objetivamente disponíveis em uma determinada formação social”. A criação humana da escola formal constitui um suporte para a eficácia deste sistema. Ela atingirá esta eficácia esperada, não só pelo controle, como pela liberdade, autonomia e dignidade que ela exigir do seu estudante.  Implicam num esforço continuado de reflexão sobre si mesmo e as suas circunstâncias do aqui e agora.

 

Sistema de expressão: Apesar de um texto soar como um mundo de contradições com os argumentos desenvolvidos até aqui, o dito acima permite também  complementariedades. É necessário afastar o perigo maior que é o da estetização da política e o fatal populismo marqueteiros e proselitista.  O Poder Originário, que se apregoa aqui contraria o misticismo e estetização, possui infinitos paradigmas e é constituído politicamente pela sociedade civil organizada. A sociedade necessita redobrar a atenção, mesmo que ela balbucie estes paradigmas num sistema de expressão.  Para Ladrière, (1977: 17) “os sistemas de expressão compreendem as modalidades tanto materiais como formais através dos quais as representações e as normas encontram suas projeções concretas, ao nível da sensibilidade, e graças as quais os efeitos profundos (nas quais toma forma a existência vivida, como maneira de provar a realidade natural e histórica) se exteriorizam em figuras significativas, oferecidas a uma constante decifração”. Apesar deste sistema de expressão este mesmo Poder Originário deverá ser considerado de forma permanente pelo outros três poderes que nascem, representam e agem em seu nome.

 

Sistema de instâncias: Existem dúvidas até que ponto certas energias potenciais da era numérica digital, queiram fazer o vestibular da Ciência e submeter-se aos seus rituais de iniciação.  Um índice desta dúvida é indefinição do mercado face aos profissionais da Informática e que, por sua vez parecem pender mais para o lado dos profissionais da Arte. Até o presente estes profissionais continuam mergulhados num sistema de instâncias que, na concepção de Bourdieu (1987: 126),  são: “incumbidas de definir, conservar e consagrar um tipo de bens culturais e ao mesmo tempo, de produzir incessantemente novos produtores e novos consumidores dotados de uma disposição duradoura para que possam apropriar-se simbolicamente destes bens”. No entanto estas instâncias, apesar de sua intensa atividade não definiram o sistema e muito menos o normatizaram e conferiram um estatuto definitivo e canônico para estes professionais da informática. Seguem o mesmo caminho dos profissionais da criatividade e do campo Arte dos quais se exige constantes energias novas, intensos estudos, experimentações implementações para uma mudança permanente em relação ao seu dia anterior. Contudo já é possível constar que os professionais da informática são mais humanos e menos invasivos do que o bisturi  do médico taylorista da era industrial.

 

Sistema de produção e circulação de bens simbólicos uma população incapaz de entender e muito menos comandar um sistema de produção e circulação de bens simbólicos está a mercê e a espera que o Estado Central exerça este papel. Este Estado, sem uma delegação e muito menos um contrato usa para os seus interesses este sistema de relações objetivas entre diferentes instâncias definidas pela função que cumprem na divisão do trabalho, da reprodução e da difusão dos bens simbólicos. Desta forma este Estado está legitimado, diante destas energias descartadas e desqualificadas, para gerar a sua lei, executar o que é possível e avaliam, com a sua própria justiça para tudo e para todos.

 

Sistema de representação: a busca da proximidade à Natureza não é um retorno aos meios entrópicos. A constante atualização da Inteligência permite a interação entre o meio natural as maiores conquistas artificiais da humanidade. Isto se realiza num sistema de representação que para Ladrière (1977: 16)  “compreendem os conjuntos conceituais e simbólicos através dos quis os diferentes grupos que constituem a coletividade tentam se auto interpretar e interpretar o mundo nos quais estão imersos, e também os métodos por meio dos quais a coletividade, em questão, se esforça em entender se conhecimentos e seu saber”. Para  Bruyne trata-se (1977: 51) de “métodos pelos quais a coletividade se esforça em entender seu conhecimento e seu saber” . Este sistema de representação acompanha e controla a circulação constante, entre Natureza e Inteligência. Sistema de representação que, coloca a realidade em permanente mutação, afetando tanto a mentalidade humana como os meios tecnológicos. O presente estudo é devedor permanente da obra de Theotônio dos Santos[73], em especial no que tange ao sistema de representação de que as classes fazem de sis mesmas.

 

Sistema distinto de rede: o sistema é uma noção derivada da semiótica nascida em função e para o âmbito da indústria. Trata-se ali de uma circulação comandada pelo relógio e de forma linear A circulação inicia com entrada de insumos, a sua elaboração, seu controle e distribuição seguida pelo seu consumo. Estas operações são separadas entre si mesmas, consecutivas e geram divisões de trabalhos com profissionais específicos e treinados para esta função especifica. Na era pós-industrial domina mais na prática e na teoria o planejamento, execução e o trabalho em rede. Esta funções são simultâneas nos projetos, a execução é entregue para ‘sistemistas” que elaboram os seus produtos em rigorosa máquinas comandadas por programas numéricos digitais recebidos da central, Esta rede faz  confluir ‘just-of-time’ os seus produtos onde se encaixam rigorosamente no produto final. Com isto elimina-se o estoque como as sobras na hora da montagem. A informação numérica virtual em rede supera a lógica da fábrica devido à energia revelada pela do “tempo real” ou “just in time” na qual circula o poder com mais intensidade e potência e colocado entre a  intenção, o ato e o mérito

 

Sistema normativo: A certidão de nascimento é atualmente um instrumento anacrônico como registro de cidadania. Este anacronismo torna-se evidente diante dos instrumentos potenciais da informação relativos aos elementos primários da cidadania pode seguir, nos registros eletrônicos, um sistema normativo numérico digital.  De uma forma geral para Ladrière (1977: 16/7) este sistema normativo: “compreende tudo o que determina valores, sobre cuja base são apreciados as ações e as situações a partir dos quais são eventualmente justificadas as práticas concretas, e de outra parte todo o que determina regras particulares  por meios das quais se organizam os sistemas de ação”. Os elementos primários da cidadania necessários ao seu Poder de Origem pertencem a este sistema normativo.  Um Estado, um pouco mais atento qualifica-se num sistema normativo para receber processar, emitir e fazer circular, pelos recursos eletrônicos relativos, os dados públicos da cidadania.

 

Soberania: Porém por mais forte que seja este juiz externo há necessidade de trabalhar para o Poder Originário atinja um grau aceitável de soberania. Este termo para Hannah Arendt significa (1983: 312) que:  “a soberania de um grupo de homens ligados e presos não por uma vontade idêntica que os inspiraria sempre de uma forma mágica, mas por um desígnio concertado, única razão de ser e único laço das promessas, se manifesta muito claramente na sua superioridade incontestada sobre pessoas inteiramente livres, e que não estão ligados por nenhuma promessa, que não estão presos nenhum desígnio. Esta superioridade provém da capacidade de dispor o futuro como se tratasse do presente:  é o alargamento formidável, realmente miraculoso da dimensão mesma na qual pode haver aí potência eficaz”. Tudo que atentar  contra a emergência , desenvolvimento e reprodução desta soberania do Poder Originário necessita ser remetido para a política dos répteis.                                                                   

 

Social distinto de humano: antes de qualquer naturalização ou mitificação do termo ‘social’ é necessário escutar Torres Nafarrate apropriada pelo biólogo Maturana (1996: XXIII) quando distinguem o social do humano: “o social nunca foi (e talvez nunca será) o espaço da realização absoluta das possibilidades mais humanas do homem. A sociedade manifesta consistência própria (ainda que dinâmica e evolutiva), uma regulação auto-referente que dá pé a que cada indivíduo a experimente em graus de profundidade (ou de decepção) e em direções diferentes. Contudo esses graus de vivência subjetiva não pertencem propriamente o âmbito do social: estão colocados no outro lado da forma do social, no entorno. A descoberta moderna da incomensurabilidade da interioridade humana, a partir de Freud, avisa que não é possível construir uma sociedade que possa corresponder a tais possibilidades de variação”. O conhecimento deste limite constitui um desafio permanente a quem quiser pensar, agir e fazer mudanças consistentes neste meio e potencia humana. Sigmund Freud, apontado acima, advertiu no seu  “mal estar das civilizações” dos seus múltiplos aspectos e manifestações que distinguem o humano e o social. Já o filosofo francês Jean Jaques Rousseau passou por cima desta distinção.

 

Sociedade de admiração mútua: na era da informática numérica digital o território e a floresta tornaram-se virtuais e sem fronteiras físicas. No entanto não estão menos povoados de répteis políticos. Repteis que geram o terrorismo individual e independente das fronteiras físicas de qualquer Estado com respaldo da circulação econômica. Os répteis econômicos aliaram-se com os répteis políticos e estes com os conceituais. Repteis resultantes e consagrados por uma sociedade admiração reciproca. Sociedade que pode ser transcrita de Bourdieu que afirmou (1987: 106) que: “os progressos do campo de produção erudita em direção da autonomia caracteriza-se pela tendência cada vez mais a crítica de atribuir a si mesma a tarefa, mas de fornecer uma interpretação «criativa» para o uso dos «criadores»”. Repteis de admiração recíproca e em permanente estado de busca de pertencimento aos seus semelhantes. Certamente o campo de produção erudita é muito frágil diante do campo das forças políticas

 

Sociedade de discurso:  graças ao modo de produção erudita as comoções sociais, ou a ação  de uma soberania de um Estado sobre soberania de outro Estado, podem serem diagnosticadas. Esta ‘sociedade de discurso’ é denominada por Simmel (1986:432 como: “a «república dos sábios» é união semi-estável, semi-ideal, de todas as personagens que coincidem em fim tão geral como o conhecimento e que pertencem aos mais diversos grupos, no que se refere à nacionalidade, interesses pessoais e especiais, posição social etc..”:.. O seu produto é, para Bruyne (1977: 32) a elaboração de uma ética profissional, e uma linguagem comum para os pesquisadores de cada uma das disciplinas. Para Hobsbawn, (1990 : 52) “sem este espaço comum, sem as regras reconhecidas de um discurso comum, sem aquela parte de nossa identidade, que é comum a todas as pessoas estaríamos falando no vazio” Bruyne descreve (1977:32 /3) este espaço e grupo humano como: “a ‘sociedade de discurso’, isto é, o conjunto dos pesquisadores, as teorias e as experiências, os rituais e as normas, as instituições acadêmicas e científicas, exerce um controle direto sobre toda a pesquisa. Os aspectos nefastos das sociedades de discurso sem dúvida são numerosos - conservadorismo, modas, nepotismo, dogmatismo, etc.-, no entanto, sua contribuição positiva é capital. Na verdade elas são a concretização, institucionalizada socialmente, de uma certa autonomia da pesquisa, o lugar crítico de controle mútuo, de elaboração intra-subjetiva, que garante a objetividade científica... O papel das sociedades de discurso, que formam a ‘cidade científica’, é o de elaborara uma ética da profissão e uma linguagem comum para os pesquisadores de cada uma das disciplinas, favorecer um certo ‘esoterismo’ que preserva a ciência da voracidade dos grupos sociais externos e de uma perigosa vulgarização que se conforma com um ‘mundanismo’(Durkheim) do que com o rigor.” Este modo de produção erudita que identifica os pontos de atrito pelos instrumentos da informação numérica digital e formas civilizadas que contornam a necessidade de qualquer intervenção física.

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Sofista: Caso contrário é conversa por cima e por fora é para embalar na inércia das consciências interesseiras e as vontades primitivas mergulhadas na doce letargia e no sono de sua heteronímia. Em muitos momentos a própria ‘república dos sábios’ de Simmel necessita entregar a mão á palmatória. A corrupção dos ótimos intelectuais é invadida e contaminada por sofista que tem por mira ganhar renome e dinheiro. Foi a praga na lavoura dos sábios clássicos gregos que também os denunciaram.  Aristóteles foi categórico (1973 : 176 e 171b 25) denunciando   “aqueles [...] que agem.. com o fim único de conquistar a vitória são geralmente considerados como erísticas e rixentos, enquanto os que tem em mira ganhar renome e enriquecer com isso são sofistas. Pois a arte do sofista é [...] uma espécie de arte de fazer dinheiro graças a uma sabedoria aparente, e assim os sofistas tendem para as demonstrações aparentes”. O seu paraíso são os Estados nacionais soberanos em permanentes conflitos fomentados e mantidos por contraventores internacionais. Uma única cabeça ou um grupo humano colocado no vértice isolado e desenraizado de uma nação, é facilmente manipulada por eles inclusive da criminalidade transnacional. 

 

Sonho no campo social: O acoplamento estrutural ontogênico entre organismos ou, a costura entre o fato empírico e a narrativa do texto legal, acontece com frequência e com intensidade no universo do micro universo municipal.  O município de Porto Alegre ficou em evidência na mídia mundial por contrapor-se ao discurso dos representantes reunidos em Davos. Foi um episódio de um sonho no campo social. Este sonho como ideia aconteceu no Fórum Social Mundial em Porto Alegre é como projeção de uma necessidade ainda não resolvida no espaço local. Não há como resgatar aqui os sonhos ali havidos o que só será possível na medida em  que ganharem corpo através de registro escrito, sua circulação aberta e da sua continuada reprodução em outros eventos. É da natureza do social a busca da criatividade pois a criatura humana não nasce social. Sonhos que chegaram ao nível do consciente, através de um problema, e, que se constitui problema, na medida em que busca transformar-se numa obra do mundo físico. Essa definição justifica-se de um lado pela vigência do social que se materializa apenas até o ponto do conceito. A saturação e a poluição de objetos físicos que procuram o estatuto de referenciais para este social constituem como pontes penseis provisórias. Pontes entre o mundo das ideias e mundo da concretude dos sentidos humanos. Espaço conceitual do social está intimamente relacionado com a erudição e crítica dos paradigmas que os conceitos podem tomar ao tentar criar um corpo físico num evento com o Fórum Social Mundial. Esta crítica purifica o evento jogando-o no plano do pensamento, como interdiz qualquer conceito que teria problemas ao se transformar em obra. Por meio do sonho no campo social realizado no município também será possível evitar, com mais eficácia, que este fio se rompa devido a sua proximidade entre o fato empírico e a lei ideal. 

A crítica purifica o evento  jogando-o no plano do pensamento, como interdiz qualquer conceito que teria problemas ao se transformar em obra.

 

Subsumidores educacionais: Estes dois universos mentais das prescrições e enumerações exaustivas são complementares com os seus respectivos universos empíricos. Estas enumerações exaustivas revelam e são índices dos subsumidores educacionais que aportam os elementos destas enumerações do que foi incorporado pelo estudante no interior do processo ensino aprendizagem e apto a ser assimilado e compreendido. Estes conceitos foram desenvolvidos pelo educador norte americano David Ausubel (1908-2008). No âmbito destes subsumidores educacionais os seus poderes micro e macro potencialmente podem celebrar alianças, contratos e pactos.

 

Sujeito: somos convidados como sujeitos para superar todas as mediações tendenciosas, inadequadas e de tutelas desastradas, no exercício da autoridade herdada pelo Estado central brasileiro do passado para atingir esta utilidade para a parte inteligente do nosso ânimo civil. Sujeitos na medida em que “a produção não cria apenas um objeto para o sujeito, mas também um sujeito para o objeto” na concepção de  Marx (in Pedrosa, 1986: 119). Na contramão deste sujeito armam-se tutelas, mediações e intermediações que invadem todos os campos e saberes humanos que ignoram suas próprias competências e limites. Pior: naturalizam ou mitificam estas observações empíricas ou projetando utopias sem pé nem cabeça.

 

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Tabu: as mais sólidas nacionalidades desmoronam aos nossos olhos na contemporaneidade. No plano individual: “os tabus são feitos para serem violados” na concepção de Didi-Hubermann (1995: 20) Na linha do pensamento de Freud[74] um grande soma de totens da cultura humana são construídos  a parir de tabus que foram violados. Assim a conquista do poder envolve um sem número de tabus que os pretendentes a este exercício necessitam transformar em totens a serem exibidos como troféus e celebrações cívicas e religiosas. Os tabus materiais ou mentais transformados e totens  não escapam da lei da entropia universal como em todos os tempos nos campos das construções mentais ou físicas. Esta não poupa qualquer criação humana, por mais genial, revolucionária ou inédita que pretendam ser as formas materiais ou imateriais. É a oportunidade para que um novo paradigma reproduza a transformação do antigo tabu em totem coerente com uma nova lógica, em ciclo sem fim.

 

Taxinomia das posições culturais: o retorno às rígidas estruturas de uma sociedade primitiva dos clãs tribais, nos quais todos se conhecem pessoalmente. Nestes clãs tibais reina uma taxinomia das posições culturais dos campos dos valores. Para Pierre Bourdieu esta taxionomia (1987: 109) se traduz “num valor propriamente cultural atribui marcas de distinções reconhecidas pelo campo como culturalmente pertinente e, portanto, suscetíveis de serem percebidos e reconhecidos enquanto tais”. Na sua radicalidade rigidez a política primitiva não conhece proporções elaboradas

                                              

Tecnologia: uma vez que um objeto ou uma teoria perdeu a sua íntima e eficaz relação entre a sua forma e a sua função, tornaram-se peças de museu o que não significa a sua destruição ou entropia. Ao contrário a humanidade os guarda e os coloca em evidência, em lugar privilegiado, é para lembrar pontos cruciais de uma civilização. Se for o caso das Ciências Exatas e estes momentos forem personalizados pode-se pensar numa “em Quarto Revoluções Tecnológicas sendo a 1ª de Nicolau Copérnico dizendo que não estamos no centro do universo; a 2ª de Charles Darwin provando que não somos animais superiores e totalmente desconectados dos outros animais; a 3ª de Sigmund Freud afirmando que não somos seres totalmente racionais e 4ª de Alan Turing mostrando qu não somos seres autônomos, mas sim inforganismos” numa síntese de Luciano Floridi, na obra “Filosofia da Informação” 2011 -  in Ruy Queiroz UFRGS. Vale acrescentar que neste museu, as doutrinas e as ideologias, adquirem uma função completamente estranha à sua função original, sendo alvos de curiosidade e migram para a função de peças da indústria virtual do turismo de massa. https://www.ufrgs.br/alanturingbrasil2012/presentation-RuyQueiroz-ptBR.pdf

 

Tecnologia, mediação e autonomia da arte: Se considerarmos a tecnologia, a mediação e a autonomia da arte necessita-se aceitar Gleizal quando afirma (1994: 48) que: “as tecnologias não agem sobre a arte que na medida em que elas produzem uma mediação e que designa o modo do funcionamento do político na arte política. Assim a mediação é um verdadeiro conceito que permite pensar a autonomia de uma arte social e política. Pela mediação, a arte se socializa, mas segundo mecanismos que lhe próprios. A arte abre-se ao político, mas sem aí se perder podendo pois agir sobre ele (o político)”.No universo da arte estamos diante da exaustiva enumeração enquanto na tecnologia nas normativas e leis. Enumeração característica da era pós 9industrial mas poderosamente ajudado pelas tecnologias comandadas pelos recurso numéricos digitais. Estas passam para o papel de mediadores. Porem esta mediação possui um sentido na medida em que sistematiza a diversidade e a riqueza da criação e a proporção humana oferece mananciais insuspeitos.

 

Teleologia: a razão pela qual se insiste que toda instituição digna deste nome tão bem como cada célula municipal possua um arquivo documental, não só de sua origem, como dos fatos correntes da atualidade. Nestes documentos é possível compreender os limites e as competências de uma célula municipal viva. Neste espaço logístico, que preserva a memória desta célula municipal, irá emergir em especial a teleologia desta comunidade e que escapa aos indivíduos isolados. Conforme Ferrater Mora, (1994: 3457) o termo ‘teleologia’ foi empregado por Wolff para designar a parte da filosofia natural que explica os fins (teloz = fim) das coisas para diferenciá-la da parte da filosofia natural que se ocupa das causas e das coisas. Só o nome é novo. A ideia mesma de uma explicação por meio dos fins é antiga. Entre os filósofos gregos podem encontrar-se em Anaxágoras, Platão e Aristóteles.  Com a proteção deste lastro logístico as lições sobre a célula viva

 

Teleologia e estética: no domínio da liberdade e humanidade os sistemas abertos e com energias soltas são potencializadas melhor pela lógica formal da informática numérica digital do que pelo taylorismo da era industrial. Nisto estes sistemas participa da teleologia estética. O pintor e gravador Carlos Oswald, escreveu (in Monteiro 2000: 191) que nas artes: “consolo-me com a seguinte frase de Degas: Hereusement que moi, je n’ai pás trouvé ma manière; ce que m’embêterais ! É isso mesmo: eu não tenho maneira, eu vou fazendo o que quero, sempre mudando e isso  me interessa. Tanto os acadêmicos como os modernistas veem a arte em si e a consideram como fim em si mesma. A arte deve ter um “fim”, além de sua técnica e se o “fim” for superior, isto é social ou religioso, então estas palavras: maneira, técnica, impressionismo, academicismo, cubismo, etc., desaparecem. Só fica a “ideia”, o apagamento da alma que sente não vê os meios que a fazem sentir” O enciclopedista filosófico  espanhol Ferrater Mora inclui no sei dicionário (1994: 3460) que “entre as teorias estéticas teleológicas figuram: – a teoria baseada nas intenções ( e interesses) do artista; a teoria que explica a gênese da arte como uma atitude  fundamental humana e teoria que explica a  gênese da arte como um jogo ”O filósofo francês Jacques Maritain asseverou (1964: 52) que  “é necessário à perfeita descriminarão prática entre o fim do operário (finis operantis, como dizia a escolástica) e o fim da obra (finis operis): da tal maneira que operário trabalhe pelo seu salário, mas que a obra não seja regulada, formada e colocada no ser como um bem em si e não em consideração ao salário”.  Na base desta lógica continua imperando a norma cientifica 

    

Teleologia imanente: a força motriz da liberdade projetou para o século XXI as energias que estavam represadas pelo Muro de Berlim, pela hermética URSS industrializada ou pela Revolução Cultural da China maoísta. Liberdade como origem,  propulsor e reprodução de um modo de nova vida, de ambientes e de mentalidades. Nestes movimentos pode-se pensar numa espécie de teleologia imante e se materializando no Poder Originário. Teleologia imanente que Ladrière se deu conta ao escrever (in Bruyne 1977: 13) que “existe um processo de autocontrole e um processo de invenção dos critérios em termos dos quais esse autocontrole funciona efetivamente. Existe como que uma teleologia imanente da pesquisa, mas é uma teleologia que se constrói; não existe um “telos” colocado previamente, que regularia segundo um esquema invariável o devir da ciência, existe como que um processo de auto-organização, graças ao qual um procedimento de início tateante consegue desenhar de modo cada vez mais preciso seu próprio eixo de evolução. Numa visão de longa duração Bruyne percebe (1977: 13) que: “existe  como que um processo de auto-organização, graças ao qual um procedimento de início tateante consegue desenhar de modo cada vez mais preciso seu próprio eixo de evolução” . Para que um grupo seja unido Souza afirma (1996: 96) seja sustentado como por “uma estrutura flexível só pode sobreviver no tempo se um grupo relativamente homogêneo  a compreende como a própria base para o seu desenvolvimento”. Estrutura flexível que sustente a vida, os ambientes e as mentalidades por meio dos quais seria possível constituir um círculo de amizades sem patrulhamentos ou por intromissões indevidas de ideologias fechadas e mortas.

 

Tensão essencial: A entropia e o caos andam de mãos dadas em todos os horizontes humanos e da Natureza. No caos o próprio cientista encontra a sua matéria prima e o impulso para as suas descobertas. Diante do caos acontece uma tensão essencial no mundo ordenado do cientista que provoca nele a centelha da descoberta cujo processo Kuhn descreve (1997: 109) como:  “tal como os artistas, os cientistas criadores precisam em determinadas ocasiões, ser capazes de viver em um mundo desordenado - descrevi em outro trabalho essa necessidade como «tensão essencial» implícita na pesquisa científica”. O cientista, tão bem o artista, sabe que a Ciência, ou Arte, são longas e a sua vida breve. Diante do imenso caos e a brevidade da vida Arendt escreveu (1983: 313)  que “a vida humana precipita-se em direção à morte e a ruina”. O registro desta mesma urgência e tensão essencial pode encontrado também em Perez Hesse, (1994: 18)

 

Teoria: ideologia necessita dar-se conta que ela pressupõe a prestação de contas e a sua avaliada por uma teoria. Teoria que na concepção de Hannah Arendt (1983: 56 /7) signifique:.“Theoria ou «contemplação» designa a experiência do eterno, diferente de outras que não podem dizer, em maior ou menor grau, respeito que a imortalidade. O que ajudou, talvez os filósofos a descobrir o eterno, é que eles duvidavam,  por justa razão, das possibilidades da imortalidade e mesmo da duração da polis; talvez essa descoberta foi tão espantosa que não lhe restou outra chance do que desprezar como vã e fútil toda a procura de imortalidade, colocando-se assim, de vez,  em flagrante oposição com a cidade antiga e com a religião que a inspirava. Contudo quando a preocupação com o eterno triunfou de todas as aspirações em direção da imortalidade, essa não foi o resultado da reflexão filosófica. A queda do Império Romano demonstrou com estrondo que nenhuma obra humana iria escapar à morte; na mesma época o cristianismo pregando a vida eterna tornava-se a única religião do Ocidente. Essa queda e essa pregação tornaram inúteis e fúteis todos os esforços da imortalidade terrestre”. Panofsky acrescenta  (1979: 272) que no campo da Arte “acreditamos sinceramente que a abordagem ‘histórica’ e ‘teórica’  da arte representam dois polos de vista dissimilares no tocante ao método, mas necessariamente inter-relacionados e interdependentes à sua meta última” Por sua vez Goethe já havia escrito (1945: 13) que “o simples olhar não nos leva a parte alguma. Todo o olhar se  transforma em considerar, todo considerar em meditar, todo meditar em relacionar, assim cabe dizer que o pouco que se olhe com atenção se está em plena atividade teorizante. Mas para fazê-lo com consciência, conhecimento de si mesmo, liberdade e, para usarmos uma palavra atrevida, com ironia, eis aqui o que se requer se a abstração temida deve ser inofensiva e o resultado empírico, esperado, palpitante e proveitoso”. Mais recentemente  Kuhn registrou (1997: 130/1) que “o homem que luta para resolver um problema definido pelo conhecimento e pela técnica existentes não se limitam simplesmente a olhar à sua volta. Sabe o que quer alcançar, concebe seus instrumentos e dirige seus pensamentos de acordo com seus objetivos. A novidade não antecipada, isto  é, a nova descoberta, só pode emergir na medida em que as antecipações sobre a natureza e os instrumentos do cientista demonstram estar equivocados. Frequentemente a importância da descoberta resultante será ela mesma proporcional a extensão e à tenacidade da anomalia que a prenunciou”. Novamente Kuhn resumiu (1997: 130) “a importância da descoberta será ela mesma proporcional à extensão e à tenacidade da anomalia que prenunciou”. Um grande número de autores tratou do tema teoría. Entre eles estão Pasanen, (1992: 23), Chartier, (1998: 78), Feyerband, (1991: 94) e tanto outros  Diante da teoria que orienta a sua ideologia a célula municipal está preparada para apresenta agilidade e viabilidade para examinar o acervo das diversas ideologias concorrentes e ativas no seu âmbito.

 

Teoria derivada: no estudo das invenções (ou novidades concernentes à teoria) relativas ao hipotético “quarto poder” encontram-se variadas formas, resistências e recusas em admiti-lo no mundo prático. Relativo este estudo de invenções do “quarto poder” é possível valer-se de Kuhn ao tratar da teoria derivada: quando afirma (1997: 185) que  “não pode haver nenhum sistema de linguagem ou de conceitos que seja científica ou empiricamente neutro, então, a construção de testes e teorias alternativas deverá derivar-se de alguma tradição baseada em um paradigma. A verificação é como seleção natural: escolhe a mais viável entre as alternativas existentes em uma situação histórica determinada”. Neste rumo iremos orientar-nos pelos recursos técnicos provenientes das sucessivas descobertas do mundo numérico digital recém-instaurado. Nas invenções adiantamos novas formas de perceber, cultivar e reproduzir o Poder Originário.

 

Tese: a verdadeira ciência aberta a experiência e contradições no uso da natureza do Poder Originário petrificou-se e permaneceu restrito exclusivamente ao evento de uma Constituição.  Torna, assim, o seu  conceito único, linear e apenas reversível ao seu antigo hábito e cultura e uso histórico. O presente texto discorda radicalmente deste hábito, desta tradição e do histórico da opinião geral deste uso restrito. Com esta discordância da opinião geral o presente estudo envereda pelo caminho da tese na concepção que Aristóteles lhe conferiu, ao afirmar (1973: 20. 104b 30 Tópicos I-11) que: “uma tese também constitui um problema, é evidente: pois se deduz necessariamente que ou a grande maioria dos homens discorda dos filósofos no tocante à tese, ou uma ou a outra classe está em desacordo consigo mesma, já que a tese é uma suposição em conflito com a opinião geral”.  Admitindo este problema, porém, como um dos brasileiros cordiais, é possível ceder a precedência conceitual para o hábito desta respeitável Faculdade de Direito de Coimbra e mãe de todas as faculdades congêneres brasileiras. Se o Brasil tivesse dobrado e seguido a tradição das leis de Coimbra ele ainda continuaria no Regime Colonial. O Brasil teria remendos de uma constituição lusitana de origem arcaica e que pautaria os seus conceitos e as suas ações na sua lógica europeia de dominação. Esta lógica formal de uma tese acadêmica foi exposta por Serra Bravo[75] sob a sua ótica formal consagrada pela conduta cultural do meio.

 

Texto: distinto de livro:  em relação ao termo ‘texto’  o intelectual Chartier se posicionou (1989: 59 e153) que eles são “construídos segundo modelos discursivos e de recortes intelectuais característicos de cada situação da escritura [...]os autores escrevem  textos”. Ou então o texto é maneira pela qual se deseja a historicidade de sua produção e a estratégia de sua escritura. Difere do livro no qual outros transformam os textos em objetos. Por esta razões este autor irá  remeter os seus textos para o âmbito da comunicação numérica digital e no qual o objeto será virtual. Mas potencialmente aberto para o objeto múltiplo da era industrial e os manuscritos da era agrícola. Neste e noutros conceitos, que se seguirão, é necessário concordar com tradicionalista Paixão Cortes quando sentenciou (1984: 7) "o brasileiro fala muito, documenta pouco, analisa menos e conclui definitivamente, a sua moda, na hora que interessa”. Reducionismo que é a salvação e sorte daqueles que não querem mudar. A leitura restrita ao mínimo das necessidades básicas, impede qualquer ruptura epistêmica e incapaz de deixar um espaço conceitual para um autêntico e coerente Poder Originário. 

 

Tipo ideal: Esta atenção é especialmente crítica quando se trata do poder humano na sua origem. Atenção redobrada quando a cada momento ou autor é assaltado pela alodoxia de um ‘tipo ideal’ a ser investigado e a ser transformado em paradigma único no caminho da sua transformação em mito messiânico e eterno. No Brasil esta tentação de um lado existe por todos os lados este ‘tipo ideal’ do outro a torrente do múltiplo mostra que na realidade não é tão simples. Na transformação desta contradição em complementariedade o intelectual  Cohn pode ajudar (1991: 26 – 31) quando afirma: “quanto mais clara a consciência se pretende ter do caráter significativo de um fenômeno cultural, tanto mais imperiosa se torna a necessidade de trabalhar com conceitos claros, que não tenham sido determinados segundo um só aspecto particular, mas segundo todos”. No Brasil esta diversidade de ‘tipos’ humanos, culturais e econômicos recebe a sua administração política em três vertentes do poder que emana do povo idealmente uno. Unidade gerada ao longo  da era industrial na qual a origem do Estado é contemporânea e simétrica aos primórdios da linha de montagem. Contudo admitir que a infraestrutura é determinante de tudo aquilo que é construído acima dele, é desconhecer as forças dispares que agem em cada ENTE humano no seu  SER.

 

Tirania: age no silencio e no isolamento típico e descrito por Hannah Arendt quando se reporta (1983: 262/3) a “Montesquieu que compreendeu a grande característica de tirania é o de depender do isolamento - o tirano está isolado dos súditos, os súditos estão isolados uns dos outros com medo e pelas suspeita mútua - assim a tirania não é uma forma de governo entre os outros: ela contradiz a condição humana essencial da pluralidade, do diálogo e comunidade de ação, que é a condição da todas as formas de organização política”. Este tirano quando consegue comparsas no seu projeto de isolamento, resta-lhe assaltar Estado em quadrilha. Como quadrilha eles conspurcam a origem do poder. Contudo mantém a ficção do serviço público, trabalhando no isolamento para a mitificação da realidade. Mitificam esta realidade ao recorrem á uma realidade traduzida pela estatística quantitativa. Com as meias verdades, e munidos de fortes e truculentos serviços de segurança, mantém o seu isolamento inexpugnável. Diante este isolamento torna-se urgente a pergunta:- Qual o feed-back seguro que este Estado possui da verdade do cidadão e da reversibilidade deste cidadão sobre quem Estado diz exercer o seu poder?

 

Titivilus: diabinho que faz cometer erros mínimos num texto ou em iluminuras. Na Idade Média o mundo era habitado por legiões de diabinhos que se intrometiam em tudo e atormentavam os humanos. https://en.wikipedia.org/wiki/Titivillus

 

Trabalhar distinto de fazer: cabe a este animal laborans a tarefa de trabalhar que Arendt investiga como termo etimologicamente distinto de  fazer. Ela escreveu (1983: 124 nota 1) que: “assim como o grego distingue ponnein de ergazesthai, o latim laborare de facere ou fabricari, o inglês labor de work, o alemão arbeiten de werken. Em todos esses casos, somente os equivalentes a «trabalho» significam sem equívoco sofrimento e infelicidade. O alemão Arbeit não se aplicava antes a não ser aos trabalhos dos campos executados pelos servos e não a obra dos artesões, denominados Werk. Em frances, travailler que substituiu labourer vem de tripalium, uma espécie de instrumento de tortura”. Os predadores, os mediadores e aqueles que se tutelam com guardiães do Poder Originário apropriam-se da mais valia do trabalho alheio.  Realizam esta façanha por tabela apropriando-se dos cargos do Estado construído pelo mais valia do trabalho do Poder Originário. Reivindicam e assaltam os cargos como mediadores universais e definitivos como qualquer outro tirano totalitário. Porem não conhece o trabalho que as funções dos cargos exigem, ou odeiam esta razão da função administrativa. De fato estão apenas interessados no poder, como qualquer outro produto. Na sua posse sentem-se no direito de deliberar e decidir em nome deste “pobre povo” do qual julgam se fiéis depositários de seu ânimo e que eles interpretam na sua própria lógica pragmática.

 

Trabalho: no direito de deliberar e decidir em nome deste “pobre povo” do qual julgam se fiéis depositários de seu ânimo e que eles interpretam na sua própria lógica pragmática apesar das estridentes vozes contrárias. Estridência proveniente de que sofre o conhece os  rigores do trabalho humano. “Trabalho, que segundo a mitologia, ponos saiu da caixa de Pândora, castigo de Zeus contra Prometeu, «o supliciado», que o havia enganado” conforme Arendt (1983: 41).  O biólogo Maturana desce o mundo empírico e ali verifica (1996: 15) que:“as relações de trabalho são acordos de produção no quais o é central o produto, não os seres humanos que o produzem. Por isso, as relações de trabalho não são relações sociais. O fato de isso ser dessa maneira, é o que justifica a negação do humano nas relações de trabalho: ser humano numa relação de trabalho ‘es una impertinencia’. O fato de que as relações de trabalho não sejam relações sociais fazem possível a substituição dos trabalhadores humanos por autômatos, e o uso humano no desconhecimento humano, que os trabalhadores que desconhecem essa situação vivenciam como exploração”. Para Hannah Arendt  (1983, p.41) :“o trabalho é atividade correspondente ao processo biológico do corpo humano, no qual o crescimento espontâneo, o metabolismo e eventualmente a corrupção, estão ligados a produção elementar em que o trabalho alimenta esse processo vital. A condição humana do trabalho é a vida ela mesma”. A partir de Carl Marx a mesma Hannah Arendt concluiu (1983, p.152) “de todas as atividades humanas somente o trabalho  (nem mesmo a ação nem a obra) jamais termina e avança automaticamente conforme a vida, fora do alcance das decisões da vontade ou dos projetos humanamente inteligíveis. O que pode indicar mais claramente o nível do pensamento de Marx e a fidelidade das sua descrições da realidade do fenômeno, é que ele fundou toda sua teoria sobre o trabalho e a procriação concebidos como dois modos do mesmo processo de fertilidade vital. Para ele, o trabalho era «a reprodução da vida», assegurando a conservação do indivíduo e a procriação era a produção «da vida de outro» assegurando a perpetuação da espécie”. Para Carl Marx (in Arendt, 1983 p.131.nota). “o primeiro ato histórico desse indivíduo, que começou a se diferenciar dos animais, não foi o pensamento, mas, o início da produção dos seus próprios meios de vida”. Ainda “Marx definia o trabalho como ‘o metabolismo do homem com a natureza’” (Arendt (1983: 145). Enquanto isto Mota registrou (1980: 247) que trabalho intelectual “Schwartz mostra como descolar das afirmações vanguardistas a ideologia segundo a qual a figura do produtor cultural progressista, ‘avançado, seria aquele que produz muito, regularmente e com mercado certo : ‘ Concebe a produção já na forma  de mercadoria, incorpora a ela as exigências da circulação, e não se humilha portanto, pois não há tensão entre os dois momentos”. A negação do humano, nas relações do trabalho, permite ao mediador, atravessador e governante constituir-se em outros predadores e se considerarem oniscientes, onipotentes, onipresentes e eternos destinatários da mais valia do trabalho dos seus governados, tutelados e representados.

 

Trabalho distinto de obra: há necessidade de distinguir ‘trabalhar’ de ‘obrar’. Para tanto Arendt escreveu (1983: 127 nota) que: “Hesiodo distingue o trabalho da obra (ponos et ergon); a obra é devida a Eris. deusa da luta salutar, o trabalho, como todos os males saídos caixa de Pândora, é um castigo de Zeus que Prometeu «o supliciado» havia enganado”. O ‘trabalhar’ na era das fábricas deu lugar para o ‘trabalhar’ sob as condições era da informação numérica digital. Neste mundo o ‘trabalhar’ reina cada mais hegemônico sobre o ‘obrar’. O mundo da imaginação - antes de erigir algo na realidade - sede passo para as máquinas e mundo do trabalho sem fim. A imaginação e a criatividade materializaram-se e são editados na mediada da informação numérica digital. 

 

Trabalho intelectual: O trabalho intelectual não faz sentido e só atrapalham aos mediadores, atravessadores e aquele que se dizem tutelares da massa ignara. A posição do intelectual sempre foi esta ao longo da civilização pragmática ocidental. Hannah Arendt as expõe (1983: 137) estas circunstâncias do trabalho intelectual como “é conveniente lembrar-se aqui que durante toda a História Antiga os serviços «intelectuais» dos escribas, tanto no domínio público como no domínio privado, foram executados por escravos e julgados como tais. É a burocratização do Império Romano, acompanhado com a elevação social e política dos imperadores, provocou uma revalorização dos serviços «intelectuais»”. Mediadores, atravessadores e os que se dizem tutelares da massa ignara editam versões filtradas por intelectuais e os metamorfoseiam em propaganda e em marketing nos quais escamoteiam os seus interesses pelo poder em todas as dimensões.

 

Trabalho liberal:  o Poder Originário recebe apreciações,  valores e  recompensas que são inversamente proporcionais na sua utilidade. Hannah Arendt esclarece (1983: 136) que nas categorias do trabalho liberal:  “são liberais as ocupações compreendendo a prudentia, a aptidão de julgar bem é a qualidade do homem de Estado, e das profissões de interesse público (ad hominem utilitatem), tais como o arquitetura, a medicina e da agricultura. Todos os ofícios, o dos escriba como a do carpinteiro, são «sórdidos», indignos de um cidadão de pleno direito, os piores são aqueles que nós  diríamos os mais úteis”. Desqualificado, limitado e com recompensas ínfimas pelo seu trabalho, o Poder Originário nunca decidiu e deliberou em relação às competências aos limites do banqueiro.

 

Transcendência: O grande problema é a percepção equivocada do Estado Nacional como algo natural, obscurecendo ou negando o trabalho da sua construção artificial. De fato este projeto transcende em muito o senso comum e aquilo que é dados aos sentidos humanos na sua vida diária. Não se nega este senso comum e vida empírica. Ele é extremamente importante para que exista transcendência, é o que Arendt reitera (1983: 272-362) quando afirma “se desaparecer a imanência e o mundo dado pelos sentidos será impossível a transcendência”. O índice desta artificialidade é que esta construção recebeu as mais diversas formas, ao longo dos tempos e dos lugares onde foi implementado. O que parece atravessar a sua construção artificial é a sua base material (infraestrutura) que age poderosamente sobre as escolhas de suas formas (superestrutura).

 

Transcendência e a obra do gênio:  não dá para negar é que houve construções coletivas contemporâneas e que dão margem a especulação da transcendência. Uma delas aconteceu com uma visibilidade particularmente nas forças do campo das artes. Trata-se do fenômeno que Hannah Arendt descreveu em relação á concepção da transcendência e a obra do gênio. Segundo ela (1983: 272):“o que conta em nosso contexto, é que a obra de gênio, por oposição ao produto artesanal, parece haver absorvido os elementos da individualidade e da unicidade que não encontram sua expressão imediata que na ação e na palavra.  A obsessão da assinatura do artista, a sensibilidade ao estilo, algo sem precedente, indicando que na época moderna que o artistas se preocupa acima de tudo dos traços pelos quais o artista transcende seu talento, seu oficio, de uma forma análoga pelas quais a unicidade de cada pessoa transcende a soma de suas qualidades. Por essa transcendência,  que efetivamente distingue a grande obra de arte de toda a outra produção da mão humana, o fenômeno do gênio criador apareceu como justificativa suprema do homo faber convencido que as obras podem ser essencialmente superiores ao seu autor”. Esta concepção da transcendência e a obra do gênio já possui uma expressão temporã em Leon Batista Alberti(1404-1472) ao afirmar que o “ o artista aspira fama”. Fama que o norte Americano Andy Wahrol (1928-1987) estendeu a todos aos afirmar que “no futuro todos seremos famosos durante 15 minutos”. A concepção da transcendência, e a obra do gênio, ultrapassaram as fronteiras da arte invadiu a cultura através da indústria cultural, a economia pela riqueza e a política pela figura do candidato divinizado. Porém onde esta fez maiores estragos foi na sociedade na qual este gênio apresentou e desqualificou o pátrio poder. Pátrio pode que se corrompeu, gerou meias verdades que iniciam e se prolongam tragicamente até na área da reprodução humana.

 

Transcendência e o mundo dos sentidos: o que deve assustar ao observador neutro não é a volatilidade e o desaparecimento do mundo transcendente e imaterial mas a possibilidade do acesso ao mundo empírico e material. Graças às mediações, as edições e atravessadores este mundo empírico autêntico e original está cada vez mais distante dos sentidos humanos. Este fenômeno da transcendência e a sua relação com o mundo dos sentidos humanos foi objeto de análise de Hannah Arendt que anotou (1983: 362)“com o desaparecimento do mundo dado pelos sentidos, o mundo transcendente desaparece também, e com ele a possibilidade de transcender no conceito e o pensamento do mundo material...então não é surpreendente que o novo universo seja praticamente inacessível» mas ainda «nem mesmo pensável» pois «qual for a maneira pela qual pensamos, ela será falsa»”.Na medida em que caos primordial continua a instigar os sentidos humanos,  o conceito e o pensamento podem ostentar as suas potencialidades.

 

Transgressão distinta de recusa: Não há recusa de que alguém continue a defender os conceitos arcaicos e do senso comum do Poder Originário confundir-se como formalismo de uma constituinte. Porém se transgride este conceito e o senso comum. Segue-se Didi- Huberman no seu aviso (1995: 20) “a transgressão não é uma recusa, mas a abertura de um conflito, de uma caminhada crítica, ao lugar no qual encontrará, num tal choque, transgredido”. Inicia-se, pois, uma caminhada crítica na qual um projeto preliminar é colocado para entender um mínimo de identidade do Poder Originário fora do conceito arcaico e do senso comum consagrado, mas para os quais não se quer fechar a possibilidade.

 

Tutela a tutela do Poder Originário inicia mediante um contrato genérico e universal onde o seu tutelar assume o papel de administrar a sua vontade, a sua inteligência e os bens do tutelado. O tutelar assume ato contínuo, a condição de representar o Poder Originário, tomando a sua voz e a sua vez para assistí-lo nos atos da vida civil; na sua defesa, no seu amparo e na sua proteção. O Poder Originário, como tutelado,  comporta-se, ou é redusido, na sua condição na qual alguém ou uma autoridade assume dirigir e proteger como um coletivo de pessoas carentes de deliberações e decisões proprias. Nesta condição o tutor cria relações de sujeição que reduzem o tutelado para a heteronomia de mentalidade e vontade dependência, a mais absoluta e profunda.  O positivismo foi tutelado e desenvolvido pelos mediadores do pensamento do cidadão francês Isodore Auguste Marie François Xavier Comte (1798-1852). Um cortejo funesto de tutelares e mediadores transformou o pensamento coerente de Karl Marx em comunismo

 

U

 

Unidade: Diferenciação que permite fugir do padrão unificador, ao modelo do “tipo” único, linear e eterno. Tipo único e hegemônico em luta permanente para “sua” representação. Luta crucial em  Chartier ao  destacar (1996: 79) como “a atenção sobre as estratégias simbólicas que determinam posições relativas e que constroem, para cada classe, grupo ou meio, um ‘ser percebido’ constitutivo de sua identidade”. Esta luta para um padrão unificador e totalitário também está presente e é visível nos núcleos urbanos inchados. Estes núcleos valem-se das estratégias simbólicas e reproduzem pelas atividades industriais comandadas pela uniformidade da obsolescência programada e instaladas em todas as metrópoles mundiais. Esta busca do ‘tipo ideal’ encontra cada vez menos adeptos e promotores. Ladrière aborda esta questão  ao afirmar (1977: 204) que “é necessário perguntar-se, se na evolução moderna, o tipo de unificação das culturas tradicionais ainda é útil e se não é necessário pensar a unidade da cultura numa perspectiva muito diferente. Descartamos que a ideia de uma absorção pura e simples  do sistema  científico-técnico no sistema cultural tão bem com o contrário, e propomos de ver na ação a mediação concreta dos diferentes sistemas gerados por essa ação. Isto já indica que a unidade não pode ser uma unidade de composição, não de integração, pois ela não pode ser colocado antecipadamente na autossuficiência de um único sistema, mas deve ser reinventado a cada momento, a partir de diferentes  elementos de composição (tornados apenas compatíveis), na iniciativa sempre renovada da ação”. O mesmo pensamento  foi sintetizado por Ladrière ao afirmar  (1977: 204) que a “unidade não pode ser uma unidade de composição, não de integração, mas deve ser reinventada a cada momento na iniciativa sempre renovada da ação”.Os chilenos  Maturana e Varela escreveram (1996: 34) . “Uma unidade (entidade, objeto) é definida por um ato de distinção. Cada vez que fazemos referência a uma unidade, implica na operação de distinção que a define e faz possível” A era da informação numérica digital favorece esta operação de reinventar a cada momento a parir de infinitos elementos. A infinita diversidade favorece a o processo de contornar os terríveis conflitos entre metrópoles localizadas em culturas arbitrariamente uniformizadas pela era industrial. Esta questão da unidade face à diversidade também foi tratada por Chartier, (1998: 78) e Hegel (1980: 133)

 

Universidade: fiel a linha de montagem, todos os esforços que visam construir um SER social numa arquitetura intencional que tende ao erro zero.  Esta modalidade de socialização do ENTE humano busca lograr a eficácia controlável e reversível à sociedade de sua origem unívoca da linha de montagem. Assim a instituição escolar e a cultura difusa caem num processo de endogenia da era industrial. Esta endogenia era perceptível na Universidade de São Paulo duas décadas após a sua fundação quando Souza Campos registrou, em 1954, que “a Universidade cresceu, a partir de década de 50, em um sentido que acabou sendo paralelo ao crescimento das grandes instituições empresariais e burocráticas. A divisão de trabalho, a competição em todas as juntas da hierarquia, e um difuso racionalismo técnico, que é a boa consciência do profissional, a afastou, em geral, de uma empatia mais profunda com a condição oprimida”. Na velocidade e nas urgências de toda ordem, não é possível esquecer a síntese de Max WEBER em relação à Universidade ao afirmar (1989: 70) que “o único elemento, entre todos os “autênticos” pontos de vista essenciais que elas (as universidades) podem, legitimamente, oferecer aos seus estudantes, para ajudá-los em seu caminho pela vida afora, é o hábito de assumir o dever da integridade intelectual; isso acarreta necessariamente uma inexorável lucidez a respeito de si mesma”.  Nesta inexorável lucidez a respeito de si mesma a instituição escolar necessita reconhecer que o governo é um dos maiores e mais privilegiados destinos da produção proveniente da especialmente destina à sua sustentação burocrática governamental nos momentos de crises e de mudanças. Rossato a percebe (1998) como “uma instituição ocidental clássica que reúne sob diversas formas os diversos saberes eruditos. A Universidade medieval foi substituída na história moderna por diversos paradigmas. No Brasil ela foi definitivamente adotada e regulada após a Revolução de 1930”.  Na América Latina houve uma radiografia geral da instituição universitária na década de 1980 e traçada pelo pesquisado Della Senta[76]. O político brasileiro Cristóvão Buarque tratou o tema da universidade como uma aventura[77].  O processo que se formou ao redor da universidade brasileira está  cercado de imensas e insuspeitas dificuldades para romper com lógica da linha de montagem da cultura que lhe é imanente e difusa no meio social. Processo industrial da linha de montagem unívoca. Esta mesma  universidade foi objeto de estudos, reflexões e publicações de seus próprios agentes[78] e muito longe de uma visão externa crítica e sob a ótica do Poder Originário do Estado Nacional. O tema da universidade foi tratado também por Bosi (in Mota, 1980: XIII) e na linha aqui exposta.

 

Utopia:  o problema da diferença entre o ESPAÇO PSÍQUICO é o ESPAÇO RELACIONAL é perceptível na incoerência do projeto enunciado pela mentalidade e a competência da autoridade no espaço administrativo. É espantoso o abismo entre aquilo que autoridade sonha, enuncia e faz que ela diz acreditar no ESPAÇO PSÍQUICO no contraste com aquilo que ela pratica no ESPAÇO RELACIONAL. Este abismo é perceptível no seu fazer e a forma do seu fazer. Forma que se resume em marcar o seu espaço. Incoerência flagrante entre o cargo que ocupa e as funções que efetivamente exerce. Uma utopia competente e um sonho que uma autoridade pode acalentar possui uma sólida base na memória relacional. A característica desta memória relacional é descrita por  Marcuse ao afirmar (1981: 79) que:  “a utopia na grande arte nunca é a simples negação do princípio de realidade, mas a sua preservação transcendente (Aufhebung) em que o passado e o presente projetam a sua sombra na realização. A autêntica utopia baseia-se na memória”. Esta memória se encarrega das conexões entre o ESPAÇO PSÍQUICO o ESPAÇO RELACIONAL e gera atos coerentes entre o projeto enunciado pela mentalidade e a competência da autoridade no espaço administrativo relacional. De outra parte uma utopia se sustenta no presente na medida em que tiver um pé solidamente apoiado no passado e com outro pé buscando autentica solidez no futuro.                                                   

 

V

 

Valor: a linha de montagem e as máquinas, com uma “aparente vida própria” trabalha em escala industrial e assim destrói a proporção construída do contato humano íntimo do ritmo da Natureza. Nesta busca de proporção e as suas relações com o todo concepção do sentido de um valor. Bourdieu afirmou (1996ª: 259) que “uma perturbação que se produz no sistema de valores, repercute profundamente não só no conjunto da cultura, mas também nas outras instâncias da vida social”. O próprio autor de uma obra de arte é colocado em segundo plano diante do fetiche gerado pelo mercado.  Bourdieu reconhece (1987: 109) esta dependência do reconhecimento quando “o  valor da obra de arte não é o artista, mas o campo de produção enquanto universo de crença que produz o valor da obra de arte como um fetiche ao produzir a crença no poder criador do artista”. Esta distinção Hannah Arendt a percebe entre a obra pela ferramenta artesanal e aquela gerada pela máquina quando escreveu (1983: 200) que “a ferramenta a mais refinada permanece ao serviço da mão que não pode nem guiar nem substituir. A máquina, a mais primitiva, guia o trabalho corporal e eventualmente pode substituí-lo de fato”. A ferramenta é típica da criatura humana ainda próxima da Natureza incluindo o agricultor. Já a máquina exige uma “aparente vida própria”. Ladrière afirmou (1977: 101 /2) que “a cultura cumpre o papel de unidade do controle e da regulação (de um sistema social). Para que  ela seja eficaz é necessário que os seus diversos elementos  trabalhem em complementaridade e cooperação, sustentando-se mutuamente e sejam eles mesmos organizados entre eles de maneira a formar um conjunto auto-estabelizador. É muito plausível considerar que são os valores que, num sistema cultural, desempenham o papel de sub-sistemas reguladores. É com efeito a partir dos valores que se constroem e se justificam as normas ( que fornecem as regras específicas definindo os diferentes papeis institucionais. São os valores que hierarquizam os modos de conhecimento e mesmo os conteúdos do conhecimento(determinando coeficientes de importância), são eles também que inspiram os sistemas expressivos e que subentendem as formas simbólicas, que lhe servem em suma de mediações sensíveis.. Os valores  por si mesmos não podem cumprir suas funções do que na medida em que eles estão unificados num sistema coerente, quer dizer, de um lado não contraditórios e formado por elementos interconectados. Disso tudo resulta que se uma perturbação se produz no sistema de valores, ele deverá ter repercussões profundas não só no conjunto da cultura, mas também nas outras instâncias da vida social” O mesmo tema também é tratado por Santos, (1975: 25) e sob esta ótica.

 

Valor de uso distinto de troca: a firme crença dos indivíduos nos valores do clã, do pátrio poder da era agrícola, da relação do proletário com o patrão foi substituída por aqueles do estado nacional. Nestes valores há necessidade diferenciar aqueles de uso distintos daqueles de troca. Na concepção de Alves (1999: 7) “o valor de uso o juiz é o corpo. Se refere às relações de um objeto com o corpo Sua função é vital como os animais avaliam os alimentos. Aqueles de trocas foram criados para pelas relações econômicas”. Os valores do clã até os do estado nacional os dois interagem profundamente. Assim um ‘salário família’ é tanto um valor de uso como de troca. Com isto o estado nacional coloca no lugar devido a crença e a esperança de que ele substitui. Sem esta crença e esperança o Estado nacional dá sinais de sua entropia e seu desmoronamento definitivo diante da era da informação numérica digital. Ele já não possui mais suporte das suas antigas e deslocadas crenças que o sustentaram na origem e ao longo da era industrial. O desmoronamento da esperança no Estado faz com que o indivíduo humano descubra-se de novo. Esta descoberta faz-se diante da barbárie e da volta para selva, formada e atravessada pelas redes da informática numérica digital.

 

Vanguarda: a maioria das histórias nacionais constrói as suas narrativas a partir do referencial e guia dos entes primitivos discursivos simplesmente delimitados pela cultura política dos governos centrais ao estilo das narrativas das dinastias dos faraós egípcios. O histórico do Poder Originário não é evidente. Ela é ardilosamente camuflado entre as linhas das narrativas estatais carentes de análise do discurso de suas próprias versões. Os olhares, a atenção e os votos são para aqueles que se dizem da vanguarda e  portadores da última novidade europeia ou norte americana. Escapa do seu horizonte conceitual a iniciativa de fazer a pergunta  de Schwartz (in Mota, 1980: 245) “- o vanguardista está na ponta de qual corrida?”. Conforme os autores Maturana e Varela afirmaram que as respostas irão depender das perguntas que dirigirmos a esta realidade camuflada.

 

Vendeta: ninguém manda em ninguém na hierarquia primitiva do bando cuja cultura está muito distante destes requintes retóricos e metafísica. A justiça corre livre e solta comandada pelo cânon da ‘vendeta’ na qual  uma parte de um dos bandos permite fazer justiça com as próprias mãos. A falta distinções e de hierarquia dispensa qualquer projeto coletivo unívoco e linear do exercício administrativo de um governo.

 

Velho: a posse física para usufruto individual não existia na sociedade do coletador e do clã nômade. Tudo pertencia a todos e a propriedade coletiva era sagrada. O velho era um patrimônio coletivo respeitado, ouvido e segui. No período agrícola o poder tornou-se físico e encadeado em linhagens de famílias resultantes da acumulação de riqueza física que não era sagrada. Posse por meio de governos familiares, hereditário e ungidos para tanto e para um período indeterminado. Esta posse tornava-se simbólica, na era da máquina. Simbólica por meio de governos contratuais e eleitos para tanto e para um período determinado. Esta posse simbólica do poder tornou-se virtual na era da informática numérica digital. Virtual por meio de múltiplos e variadas formas, de origens e de fontes de tendências hegemônicas na busca da  autoridade. Bobbio constatou ( 1997 cad.5. p.4.) que “o velho não é mais aquela pessoa a quem os mais jovens se dirigem para apanhar os primeiros fundamentos do conhecimento essencial que servirão para prosseguir na vida”.  O gradativo acúmulo e a crescente complexidade levam estas energias a um estado crítico no qual é possível praticar distinções culturalmente pertinentes.

 

Verbo: O verbo desempenha o seu papel primordial. Toda autentica autoridade sabe e pratica pelo verbo o sentido no qual o agente se identifica como ator, anunciando o que ele fez, o que ele faz, o que ele quer fazer. Este verbo, ou palavra, para Hannah Arendt percebe (1983: 235) que: “a ação silenciosa não será ação maior porque não haverá mais ator, e o ator, o fazer de atos, não é possível se ao mesmo tempo ele é falante de palavras. A ação que ele começa é revelado humanamente pelo verbo,  e ainda que se consiga perceber seu ato na aparência física bruta sem o acompanhamento verbal, o ato não toma sentido que pela palavra na qual o agente identificasse como ator, anunciando o que ele faz, o que ele faz, o que ele quer fazer”. Evidente que a prática do verbo necessita constar no início do seu projeto e com objetivo claro e avaliável ao longo de sua prática. Ao longo desta prática, além de constituir um expediente corajoso, com evidentes riscos, estes agentes temerários encontram um apoio inédito na era numérica digital. Estes oferecem instrumentos poderosos para desmontar os interesses fundados sobre meias verdades. O objetivo claro e avaliável ao longo da prática por meio dos instrumentos numéricos digitais é desmascarar as meias verdades semeadas pelos corruptores e os corruptos.

 

Verdade: na maior adesão à verdade e no equilíbrio resultante reside “a felicidade da formação equilibrada de todas as forças humanas” nas sintéticas e sábias palavras de Schiller, o autor da ode à Alegria da Nona Sinfonia de Beethoven. A possibilidade de a criatura humana atingir a verdade sempre esteve em todos os horizontes dos mais diversos sistemas filosóficos. Pragmático Aristóteles (1973: 342 /3  1139b 15) listava “as disposições em virtude das quais a alma possui a verdade, quer afirmando, que negando, são em número de cinco: a arte, o conhecimento cientifico, a sabedoria prática, a sabedoria filosófica e a razão intuitiva”. Com um imenso acumulado de discussões a respeito deste tema Hannah Arendt discute (1983: 245 /6)“a velha oposição da verdade dos sentidos e da verdade racional, da inferioridade dos sentidos, menos capazes de atingir a verdade, e da superioridade da razão, mas apta para a verdade, esta oposição se apaga diante desse desafio, diante dessa evidência implícita, que nem a verdade nem o real, são dados, que nem um nem outro aparecem tais quais, e que somente a operação sobre a aparência, a supressão das aparências, pode fazer aguardar um conhecimento verdadeiro”. Na supressão das aparências que uma narrativa de uma ação histórica pode propiciar no comprometimento da verdade é uma preocupação de Chartier que avisa (1998: 197) “o historiador tem por tarefa especifica de dar um conhecimento apropriado, controlado, dessa «população de mortes- personagens, mentalidades, prêmios» que são seu objeto. Abandonar esta intenção de verdade, pode ser desmesurado, mas seguramente fundador, seria deixar livre a todas as falsificações”. O intelectual Bereson encontrou uma tábua de salvação neste mar de incertezas quando afirma (1953: 112)  que “a arte visual não pode mentir”. No universo pragmático a criatura humana aprendeu a unir a verdade na formação equilibrada entre o racional com a dos seus sentidos

 

Verdade-adequação: o artista, tão bem  como o eleitor, percebe a sua obra, ou seu voto, fugir-lhe das mãos e perdem a autonomia sobre ele. O voto, tão bem como a obra de Arte o voto, também está cercado de riscos permanentes da entropia e do caos a partir do seu portal de entrada da democracia e da Arte. A sua corrupção pode encenar-se por meio de um pseudo voto como obra falsa. De fato o voto pertence ao universo das verdades adequação e que Todorov sintetizou (in Oliven, 1992: 24) como “a verdade-adequação não conhece outra medida que o tudo ou nada”. Nestas necessárias verdades adequação instaura e segue rituais que permitido ao público o que ele deseja, delibera e determina e que possuem apenas afastar as tensões inerentes ao exercício do poder. Um péssimo governo possui na sua raiz e princípio a corrupção do ótimo, a Democracia entre eles.

 

Verdade científica distinta da verdade filosófica. o domínio das condutas linguísticas do cidadão autônomo é jogada, violentamente, na heteronímia pelo marketing e pela propaganda eleitoral. Estes necessitam impostar, não só uma nova linguagem, mas modificar aos genes do repertorio do eleitor, violando e adulterando o centro da vontade das ontogenias dos organismos que os geram. A separação violenta e quase irreparável entre a verdade filosófica e verdade científica legitima os discursos, as práticas e os resultados irreconciliáveis entre si mesmos. Esta ruptura foi registrada por Arendt quando distingue (1983: 364) “a verdade científica e verdade filosófica estão quites uma com a outra; a verdade científica não tem mais necessidade de ser eterna, ela não tem inclusive necessidade de ser compreensível, nem de convir a razão humana”. O contrato entre eleitor e o eleito cessa no ritual e no fugaz instante do voto eletrônico. O eleitor seguiu a singela e incompreensível verdade científica do voto e que de fato não passa de um placebo da democracia

 

Verdade-desvelamento: os limites nos quais se projeta a construção de um “quarto poder”, a partir da célula municipal, há necessidade de pensar minuciosamente a verdade possível a esta linguagem. Verdade que se ergue no trabalho de desvelamento pela linguagem e pela arte. O filósofo Heidegger afirma (1992: 62) que  “a arte faz brotar a verdade. A arte faz assim surgir, na obra,  o ENTE e a sua verdade. Fazer surgir algo é trazê-lo ao SER no salto que instaura, a partir da providencia essencial - eis o que quer dizer a palavra origem. A arte é, na sua essência, uma origem: um modo eminente como verdade se torna ENTE, isto é, histórica”. Este ENTE revelando a sua origem histórica encontrou em Chartier alguém  capaz de perceber e registrar que esta relação é dialética entre o que é verdadeiro e aquilo que é falso. Ele escreveu (1998: 197) que: “na história das ideias e das condições nas quais aparecem. Dar-se a verdade como adquirida, mas também não se pode fazer economia de uma relação com a verdade e do falso. É essa referência, a ordem  da verdade e do falso, que dá para essa história sua especificidade e sua importância”. Todorov distingue (in Oliven, 1992: 24) “as respostas só podem conter mais ou menos de verdade, uma vez que elas aspiram desvelar a natureza de um fenômeno, não estabelecer fatos”. A pensadora Arendt senta falta neste desvelamento da glória quando afirma (1983: 237) “em razão de sua tendência inerente de desvelar o agente ao mesmo tempo que o ato, a ação requer a luz brilhante que antigamente se denominava a glória, e que não é possível que no domínio público”. A mesma Hannah Arendt insiste (1983: 351) “Descartes repete: mesmo se não há verdade, o homem poder ser verdadeiro, mesmo se não há certeza na qual possa se confiar, o homem pode ser digno de fé. Se a salvação existe, ela deve ser no homem, e se uma solução nas questões colocadas pela dúvida, ela deve vir da dúvida. Se é necessário duvidar de tudo, a dúvida ao menos é certa e real”. O pensador Chalumeau torna-se irônico quando afirma (1991: 194) “decididamente não existe verdade em arte, como o quer o pensamento clássico. Os animais-homens que dançam .bêbados de cor, (na pintura) ‘De todas as cores’ (de Fromager) testemunham que existe o verdadeiro”. O mesmo tema também e tratado por  De Masi (1997: 355) e Danto (1993 : 204) Neste trabalho da linguagem é necessário representar passo a passo as formas nas quais o seu processo evolui em todos os patamares de um Estado.

 

Verificação: a ciência natural e a história são aliadas para esconjurar a improvisação e não deixar que o aprendiz chegue e colabore no efeito final contrário ao seu projeto malogrado, Se acontecer esta tentativa frustrada poderia invocar todas as sanções morais, jurídicas e materiais sobre este aprendiz. Enquanto isto o Poder Originário é jogado na mais profunda heteronímia, e vez de mantê-lo acordado, vigilante e com voz ativa na sua neutralidade diante de eventuais desmandos provenientes dos tiranos sempre de plantão. Estes desmandos necessitam um ativo sistema de verificação e que na concepção Kuhn, (1997: 185) “é como seleção natural: escolhe  a mais viável entre as alternativas existentes em uma situação histórica determinada”. Esta mentalidade coincide com sistema de verificação do mundo estético onde Worringer concluiu (1957: 15) que “ todo fenômeno artístico permanece incompreensível para nós, até conseguirmos penetrar na necessidade e na regularidade de sua formação”. Sem este tempo e atenção aos fenômenos específicos esta verificação mesmo o cientista político ou o estudioso da administração pública esta impedido de atirar em qualquer um e a qualquer pretexto.

 

Vestibular em Artes e Cargos Públicos:  nos raciocínios, provocados pelo campo estético, existe uma busca de proporção, de reconhecimento dos limites da criatividade e da imaginação humanas, sem renunciar a todas as energias campo de suas forças. A necessidade de o Artista continuara a sala relação como os campos das Ciências,  praticada e defendida por Leonardo da Vinci (1452-1519), e a sua presença foram defendidas vigorosamente, no plano mundial, por Marcel Duchamp[79]. De outra parte se Marcel Duchamp é um ponto de chegada ele é muito mais um ponto de partida como nos ensina De Duve[80]. Existe um estranho fato no mundo da administração pública brasileira que testemunha a falta de preocupação, ou medo, de incluir nos quadros administrativos públicos os profissionais eruditos do campo das artes.  Esta verificação só se evencia por tabela em texto de Cunha onde ele registra (1980: 105) que: “os alunos que pretendiam ingressar na Academia [de Belas Artes] precisavam apenas saber ler, escrever e contar, conforme os Estatutos de 1855. A razão, dessas diferenças  está no fato do ensino das belas-artes não garantir aos formandos o privilégio de ocuparem cargos na burocracia do Estado, nem exercerem profissões liberais controladas por entidades corporativas”. Porém, na prática, o pintor Pedro Américo foi  o primeiro brasileiro a defender a sua tese em Filosofia[81] diante de uma banca e de  um auditório de 2.000 pessoas.  No Brasil o vestibular tornou-se um mito sustentado por uma legislação que por sua vez e fruto de pressões oriundas de profissões que se consideram hegemônicas e com esta hegemonia ditam normas para a autonomia universitária.

 

Vida:  o Brasil estava muito longe da vida democrática plena, em 1988,  como continua ainda em 2013. Assim restam sempre imensos desafios nesta homeostase de forças antagônicas. Mas vivas. Vida que para Arendt (1983: 397) “é o bem supremo”. Que Lyotard Bernardes, (1997: 5cad.5 p.5 1ª col) possui uma única lei: “a vida se é dada não vale nada: deve ser conquistada”. Para o esteta britânico Herbert Read (1986: 32)_”o ser vivo constitui-se num paradigma por meio do qual o homem tentou compreender-se a si mesmo e o mundo na sua totalidade. Mesmo quando ele quer representar as suas operações próprias, como do pensamento e da linguagem, ele usa a comparação com a vida” Arendt considera (1983: 142/3) que “o nascimento e a morte dos seres humanos não são simples acontecimentos naturais; eles estão ligados a um mundo no qual aparecem  e se vão indivíduos, entidades únicas, insubstituíveis, e que não se repetirão jamais. Sem um mundo no qual os homens  vem, nascendo e que deixam morrendo, não haveria mais nada a não ser eterno retorno, a imortalidade perpetuada da espécie humana como das outras espécies animais. A principal característica dessa vida especificamente humana, na qual a aparição e desaparecimento constituem acontecimentos desse mundo, é de serem desdobramento de acontecimentos que no final podem ser contados com história, podendo fundar uma biografia; é que essa vida, bios oposta a simples zoé, que Aristóteles dizia que ela «é de uma certa maneira um tipo de praxis» Arendt ainda (1983: 168) argumenta que “a condição humana é tal que o sofrimento e o esforço não são simplesmente sintomas que se pode fazer desaparecer sem mudar a vida;  são além de  modalidades de expressão da vida, necessidades às quais ela está ligada. “Para os mortais, a «vida fácil dos deuses seria um vida sem vida»“. Arendt enfática  (1983: 253) insiste “a essência humana - a essência de quem  alguém é - só começa a existir quando a vida se vai, não deixando atrás dela senão uma história”. Arendt conclui (1983: 391) “se a vida se impôs à época moderna como um último ponto de resistência, se ela continua o bem soberano da sociedade moderna, é que o estremecimento moderno operou-se no contexto de uma sociedade cristã cuja crença fundamental no caráter sagrado da vida sobreviveu, absolutamente intacta, depois da laicização e o declínio geral da fé cristã”. Ladrière registra (1977: 108) “o esquema da vida parece haver determinado um papel extremamente importante, pode-se dizer, nas culturas tradicionais. O ser vivo constitui-se num paradigma por meio do qual o homem tentou compreender-se a si mesmo e de compreender  o mundo na sua totalidade. Mesmo quando ele quis representar as sua operações próprias, como a do pensamento ou da linguagem, ele usa a comparação com a vida. Ele representa o mundo como um «grande ser vivo». É notável constatar que a metáfora da vida ocupa um lugar considerável, ainda que não exclusivo, nas grandes mitologias e nas grandes concepções religiosas”. Schmid  registra (1998: 79) que “no cerne da vida está o que as vezes é chamado de «dialética», que é simplesmente uma contenda entre as forças positivas e negativas, entre o amor e a morte; e é da tensão criada por esta contenda a que mais vitalidade surge, ou o que é otimisticamente chamado de progresso”. Pensamento semelhantes poder ser encontrados em  Worringer (1953: 19) e Garritano (1967: 65) O torpor das forças vivas brasileiras, adormecidas por uma ditadura militar, iniciada em 1964 e formalmente concluída em 1985, reforça, comanda e legitima muitos hábitos políticos, ainda no século XXI. Os conceitos e as associações intimas entre a arte, política e cultura são cada veza mais numerosos e expressivas como as de Schmid[82] que percebe na forma de conduzir a vida humana uma obra de arte.

 

Vida distinta de imortalidade: no jogo homeostático permanente o Poder Originário tenta equilibrar-se entre a cultura e a Natureza. A cultura aciona os seus poderes, criados artificialmente pelos projetos subjetivos que as tornam históricas e conectáveis a projetos similares.  O poder da Natureza trabalha com as energias como aquelas do parentesco e da gerontocracia. Como Natureza, separa, discrimina e controla os agentes destas energias com argumentos objetivos e externos. Porém a dialética entre a cultura e a Natureza sempre permite transformar esta contradição em complementaridade. Especialmente se quisermos dar atenção para Hannah Arendt quando ela constata (1983: 397) na condição humana atual “o que conta hoje, não é a imortalidade, mas que a vida seja o bem supremo”  É de se perguntar: “COMO” e “QUANDO” esta complementaridade irá ocorrer na vida quotidiana do Poder Originário brasileiro.

 

Violência simbólica: uma parte do texto é orientada pelo pensamento de Pierre Bourdieu que afirma (1987: 131) a necessidade da “violência simbólica pela ritualização dos seus conflitos atuais ou passados”. Sobre o tecido social brasileiro pesam enormes conflitos do passado e do presente a espera desta ritualização. Devido aos covardes  contornos, os esquecimentos voluntários ou a simples desqualificações destas violências, efetivamente praticadas e clamando aos céus,  o tecido social brasileiro sempre “esteve por um fio”. Contribuíram também as utopias - que alimentou as mentes e os corações dos jovens – levou este tênue fio de esperança sempre a beira da ruptura. Fio de esperança suspenso por um cortejo de profetas e seus sacerdotes no papel de militares, de cientistas e da própria religião. Profetas, crentes, ou descrentes totais em qualquer divindade, mas que instauram uma nova ‘verdade’  insustentável. Cada profeta é seguido e consagrado por outro cortejo de sacerdotes que administra essa nova verdade.

 

Visão: Se de um lado a massiva tendência em transformar e editar tudo em imagens a visão humana ainda guarda a intacta a instrumentalidade para o acesso da sabedoria que Aristóteles descreveu (1973: 211, .Metafísica L.I cap. 1) ao afirmar que: “não só para agir, mas até quando não nos propomos operar coisa alguma preferimos, por assim dizer, a vista aos demais sentidos. A razão é que ela é, de todos os sentidos, o que melhor nos faz conhecer as coisas e mais diferenças nos descobre”  A imagem eletrônica pode ser diferenciada que permite fugir do padrão unificador, ao modelo do “tipo” único, linear e eterno. Assim ela provém basicamente do Poder Originário como do espetacular registro da queda inesperada da queda de um meteorito sobre o vasto território Rússia, em 15 de fevereiro de 2013, cuja imagem foi instantaneamente transmitida pra todo o planeta por observadores do Poder Originário. Enquanto isto o poder central estava ausente e nada previu. Este Poder Originário trava luta permanente contra a imagem do tipo único e hegemônico na teimosia permanente do poder central em impor-lhe “sua” representação oficial.

 

Vita contemplativa distinta de vita ativa: o Estado está legitimado, diante das energias descartadas e desqualificadas, para gerar a sua lei, executar o que é possível e avaliar, com a sua própria justiça para tudo e para todos. Contudo de fato a própria compreensão deste processo alterou-se do pós Renascimento italiano, pelo maneirismo, pela reforma e pelas descobertas da Galileu Galilei. Este momento de flexão da História da cultura Ocidental foi registrado por Arendt (1983: 364) como:“a mudança havida no século XVII foi mais profunda do que uma simples ruína da ordem tradicional estabelecida entre o fazer e a contemplação. A ruína propriamente dita não concerne só a relação entre o fazer e o pensar, enquanto que a contemplação, no sentido original vinda da visão prolongada da verdade, foi totalmente eliminado. Pois a contemplação é outra coisa do que o pensar. Tradicionalmente, concebia-se essa último como o caminho principal, o mais direto, para a contemplação e a verdade”.  Por mais que Galileu Galilei quisesse afiar, qualificar e potencializar o seu modo de pensar as suas descobertas não teriam sito comprovadas sem a sua luneta. Da mesma forma nova era da informação numérica digital encontra condições novas e uma ocasião única para fazer refluir esta compulsão linear, unívoca e concentradora da era industrial.

 

Vontade: na tríplice ontologia histórica de Foucault a dimensão do sujeito do conhecimento pode ser percebida como Zeitgeist. O sujeito agindo sobre os outros é evidente a dimensão do Volksgeist. Já o sujeito da ética nos remete à percepção e as práticas do Weltgeist. Estas três dimensões possuem um poderoso suporte na vontade humana. Ela permite realizar o que Worringer expressou como dos instrumentos humanos para perceber, recolher e sistematizar os vestígios deixados pela prática artísticas. Ele escreveu (1957: 21)   que isto é significativo “ao considerar a história da arte não como uma simples história da capacidade artística, mas coimo uma história da vontade artística, adquire uma significação universal”. Esta vontade é universal na espécie humana na concepção de Mário Pedrosa quando afirmou (1949: 151) que “a vontade da arte se manifesta em qualquer homem de nossa terra, independente do seu  mediano, seja ele papua ou cafuzo, brasileiro ou russo. Negro ou amarelo., letrado ou iletrado, equilibrado ou desequilibrado” . O historiador Marc Bloch escreveu (1976: 60) que “a investigação histórica admite, desde os primeiros passos, que o inquérito tenha já uma direção. De início está o espírito. Nunca em ciência alguma, foi fecunda observação passiva. Supondo, aliás, que seja possível”. No entanto as necessidades básicas humanas são incontornáveis no âmbito desta tríplice ontologia histórica e base de qualquer edifício cultural ou material.

 

Voto . um contrato coerente do Estado central com o Poder Originário, não cabe num voto. Nele se materializa a discurso de segunda ordem e cujo objetivo se traduz e destina primordialmente à etapa da conquista de cargo no poder central. O voto é um ato isolado anterior ao governo e que não garante um contrato para o durante e o depois de um evento governamental.  Porém o mais grave é a concepção Umberto Eco, numa divulgação de Calligari (1995 cad.5  p.6) que  denuncia  “o controle físico afeta os valores espirituais. A referência ao corpo é importante porque nenhuma ditadura pode paralisar nossa possibilidade de pensar, mas ela pode impedir nossa possibilidade de expressar este pensamento com a língua.” Assim, no caso do voto eletrônico, todo o discurso do cidadão é silenciado e reduzido ao gesto de tocar alguma teclas e da qual não recebe outro feedback do que o “FIM”. Diante desta distorção e reducionismo das deliberações e decisões do cidadão pelo atual sistema de votar não é possível do que denunciar uma armadilha. A falta de um contrato claro e previamente pactuado, mergulha em meias verdades pontuais e transitórias e arrasta o eleitor para esta “armadilha”. Nela perecem as boas intenções dos cidadãos que se tornam agentes involuntários a contragosto da corrupção da Democracia. O voto dado nestas circunstâncias da heteronímia da vontade do eleitor não legitima nenhum contrato digno deste nome. A carência contratual clara e consciente oportuniza aos eleitos tomam-se a liberdade para amplia o raio da corrupção.  A maior boa vontade do eleitor - apanhado por esta rede colocada compulsória legalmente no seu caminho - é o início de um grande mal.



[1] COLI, Jorge. «Elogia das trevas» in O Ensino das Artes nas Universidades. São Paulo :  EDUSP-CNPq, 1993. pp 5, 58.

 

[2] DACANAL, José Hildebrando «Um cadáver na universidade» in Correio do Povo Caderno  de  Sábado. Volume , ano VII,  no 606, 1980. p.2.

 

[3] GASPARI, Elio «O único banco que não dá certo é o de teses» in Correio do Povo,  Porto Alegre:  Caldas Junior,  ano 107, no 126,  03.02.2002, p.6.

 

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[5] MERSH,  Dieter. «Ereignis und Aura: Radikale Transformation der Kunst vom Werkhaften zum Performativen» Kunstforum international.    Ruppichteroth- D.,  no 152,  Okt – Dez. 2000, pp. 94-103.

 

[6] MONNIER, Gérard. L’art et ses institutions en France: de la Révolution à nos jours.   Paris : Gallimard-Folio-histoire,   1995.  462p

 

[7] MICHAUD, Yves. L’artiste et les comissaires.: quartre essais non pas  sur l’art  contemporain mais sur ceux qui s’en occupent. Paris : Jacqueline Cambon 1989.  244p.

 

[8] Aristóteles – Da arte poética. Cap. IV – Origem da poesia: seus diferentes genros - art 5

                                     https://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2235

 

[9] BAKOS, Margaret Bakos «Decorando a sala de visitas: Porto Alegre na virada do século  19» in Porto Alegre na virada do século 19: cultura e sociedade. Porto  Alegre : UFRGS, 1994 pp. 144-151

[10] - HOLANDA, Sérgio Buarque (1902 – 1982).  Raízes do Brasil.  (12ªed).  Rio de Janeiro : José Olympia, 1978. 1254p

[11] - SAUNDERS, Robert, «A educação criadora nas artes» .AR´TE 10. São Paulo : Max   Limonad. Ano II,  nº 10, 1984.  pp. 18/23.

 

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[14] - TEIXEIRA COELHO NETO, Dicionário de política cultural. São Paulo: Iluminuras, 1997.

 

[15] PIMENTA, Aluisio. Universidade: a Destruição de uma Experiência Democrática.  Petrópolis : Vozes, 1984.  136p

[16] WEFFORT, Francisco C. Por que democracia?  São Paulo : Brasiliense, 1984. 133p

 

[17] VARGAS, Getúlio. «Discurso do Chefe do Governo Provisório, Dr. Getúlio Vargas, ao   receber a Comissão Legislativa no Palácio do Catete, em 04 de maio de 1931» in  Boletim do Ministério da Educação e Saúde Pública. Rio de Janeiro : MESP. Ano 1, s 1 e 2,  jan-jun 1931 pp.6 / 13

 

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[19] - TEIXEIRA, Anísio(1900-1971). Educação não é privilégio(5ª ed) Rio de Janeiro : UFRJ. 1994, 250 p.

 

[20] - FERNANDES, Florestan (1920 – 1995).  Educação e Sociedade no Brasil. São Paulo : Dominus,  1966. 614p.                          ---------- Universidade brasileira: reforma ou revolução. São Paulo:  Alfa Omega, 1975, 257 p.

[21] - RIBEIRO, Darcy (1922-1997)  O processo civilizatório . Rio e Janeiro:  Vozes, 1978.  270p.

--------------  Universidade necessária.  4.ed.  Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1982.

 

[23] READ, Herbert. A redenção do robô: meu encontro com a educação através de  arte.   São Paulo: Summus, 1986, 158p.

 

[24] GIRON, Luis Antonio. «Ruína cultural na Paulicéia: o Conservatório Dramático e Musical   de São Paulo experimenta a pior degradação de sua história» Gazeta Mercantil. São Paulo. Ano LXXXI, no 22.109, caderno Fim de Semana, 2001, pp. 1 e 2

[25] - SAVIANI, Dermeval.  Escola e Democracia.  Teoria da Educação. São Paulo : Cortez Autores Associados, 1983. 96p.

[26] - TOBIAS, José Antônio.  História da Educação Brasileira. São Paulo : Juriscredi, 1972,  484p.

 

[27] - ALVES, Rubem. « Professor não vale nada»,  in Folha de São Paulo, São  Paulo, ano 79, nº  25.729 cad. Especial,  1999.   p.7.

 

[28] - PORTANTIERO Juan Carlos(1934-2007). Estudiantes y Política en América Latina: el proceso da  la Reforma Universitaria (1918-1938). México : Siglo Veintiuno,

       SIGRIST,  José Luiz.  A JUC no Brasil: estudo de um movimento. São Paulo : Cortez – UNIMEP, 1982.

 

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        PRIETO, Justo. Sentido social de la cultura universitaria. Buenos Aires: Plantié.  1942,  379p.

 

[30] - ABREU, Regina. A fabricação do Imortal: Memória, História e Estratégias de consagração no Brasil.  Rio de Janeiro :  Rocco, 1996. 235p.

[31] VILHENA, Luís Rodolfo da Paixão. (1963-1997). Projeto e Missão. O Movimento Folclórico Brasileiro, 1947-1964. Rio de Janeiro: Funarte/Fundação Getúlio Vargas. 1997, 332 pp

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[33] BURKE, Peter. A Revolução Francesa da historiografia: a escola dos Annales, 1929-1989. São Paulo : Editora Universidade Estadual Paulista, 1991  154p.

[34] - BELTING, Hans «Histories d’art  aujourd’hui» in Connaissance  des arts. Paris  nº 561   mai  1999. pp. 24/30.

 

[35] - BIANCHI,  Paolo. «Kunst ohne Werk– aber mit Wirkung» Kunstforum international. Ruppichteroth- D.,  no 152,  Okt – Dez. 2000, pp. 66-81

[36] NICOLET, Claude. L’idée républicaine em France (1789-1924). Paris:  Gallimard,   1994, 528 p.

 

[37] - ORTIZ, Renato. Cultura Brasileira & Identidade Nacional. 3.ed. São Paulo :Brasiliense, 1985. 147p.

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[38] - SODRÉ, Nelson Werneck. O que se deve ler para conhecer o Brasil. (5ª.ed). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976, 393p.

      Em época numérica digital muitas desta obras estão disponíveis na íntegra num toque em https://www.brasiliana.usp.br/  ou no Domínio Público

 

[39] - ALTHUSSER, Louis (1918 – 1990).  Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado. Lisboa : Editorial Presença Ltda.,  1980.  120p.

[40] - CHAUI, Marilene  O que é Ideologia?.  São Paulo:  Brasiliense, 1981. 93p.

 

[41] BOEIRA, Nelson «À sombra de Augusto Comte» in Correio do Povo Caderno de        Sábado.  Ano 12, Vol XXXI,  no 620,  21.06.1980,  p. 4

 

 

[42] - MICELI, Sérgio.Imagens negociadas: retratos da elite brasileira (1920-1940). São Paulo:  Companhia de Letras, 1996,  174p.

 

[43] GRAMSCI, Antônio (1891–1937) Os Intelectuais e a Organização da Cultura. São Paulo : Círculo do Livro, 1980.

 

[44] - GOMES, Ângela de Castro(org)  Capanema: o Ministro e seu ministério. Rio de Janeiro : Fundação Getúlio Vargas, 2000. 269 p.

 

[45] - MICELI, Sérgio. Intelectuais e classe dirigente no Brasil (1920-1945). São Paulo: Difel,  1984. 240 p.

[46] - CAPELATO, Maria Helena. « Os intelectuais e o poder no varguismo e peronismo» in  História  : questões & debates. Curitiba, vol 13, nº 25,  pp. 5/39,  jul/dez 1996. 

 

[47] - PIGUET,Philippe.«L´Institut de France: histoire d’une culture»in L’Œil,Paris,nº 476  nov. 1995, pp. 30-35.

 

[48] - GAUER, Ruth Maria Chittó. A construção do Estado-nação no Brasil: a contribuição dos egressos de Coimbra. Curitiba: Juruá.2001.336 p

 

 

[49] - NASH, Paul. Autoridade e Liberdade na Educação.  Rio de Janeiro : Bloch, 1968. 365p.

 

[50] NAGLE, Jorge et al. Educação e Linguagem.  Para um Exame do Discurso Pedagógico.  São Paulo : EDART, 1976. 160p.

 

[51] PINTO, Estevão.  A Escola e a Formação da Mentalidade Popular do Brasil.  São Paulo : Cia. Melhoramentos.  Biblioteca da Educação. v.XVI.  Direção: Lourenço Filho, 1932.

[53] FEYERBAND, Paul (1924-1994).  Diálogo sobre o método. Lisboa: Presença, 1991, 139 p.

 

[54] MAY, Rollo. La necesidad del mito: la influencia de los modelos culturales en el mundo  contemporáneo. Barcelona: Paidos Contextos, 1992. 297p.

 

[55] TOURAINE, Alain.  Crítica da modernidade Petrópolis: Vozes, 1995. 431 p.

 

[56]  SANTOS, Ely Souto dos. Os Proletários da Cultura. Porto Alegre: Gráfica Dom Bosco, 1975.  209p.

[57]LEON, Aurora.  El Museu: teoria, práxis y utopia. Madrid : Cátedra, 1995. 378

 

[58] - MICHAUD, Yves «La dynamique des musées» in Connaissance des arts. Paris, N° 559, 1999. pp.100-103.

 ____.  «SAVOIRS: um bilan de l’utils» Connaissance des arts. Paris, No 578. déc. 2000.  pp. 98-99.

 

 

 

[60] DESWARTE-ROSA, Sylvie «Consideration sur l’artiste courtisan et le génie au XVI e Siècle» in La condition sociale de l’artiste. Paris: Centre Interdisciplinaire d’Etudes et de Recherches sur l’Expression Contemporaine 1985. pp. 13/28.

 

[61] SOARES, Mozart Pereira. O positivismo no Brasil: 200 anos de Augusto Comte: Porto  Alegre : AGE-UFRGS, 1998. 206 p.

 

[62] TRINDADE, Hélgio «Poder legislativo e autoritarismo no Rio Grande do Sul» in Estudos  Ibero-Americanos. Vol. VII n.o 1-2. Porto Alegre : PUCRGS, 1981. pp. 222-7.

 

[63] - SILVA, Hélio.  O Poder Civil.  Porto Alegre : L&PM Editores.  Primavera de 1985. 354p.

 

[64] - SCHWARTZ, Bertrand.  A Educação Amanhã. Petrópolis: Vozes, 1976. 407p.

[65] STRUNK,  Marion. «Vom Subjekt zum Projekt: Kollaborative Envioronments» Kunstforum   international.    Ruppichteroth- D.,  no 152,  Okt – Dez. 2000, pp. 120-133.

 

[66] LOVE, Joseph L. O regionalismo gaúcho. São Paulo : Perspectiva, 1975.  282 p.

 

[67] - BOURDIEU, Pierre (1930–2002) & PASSERON, Jean Claude.  A Reprodução.  Elementos para uma Teoria do Sistema de Ensino.  Rio de Janeiro :  Francisco Alves, 1982. p. 238

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[69]  - BITTARAbertura Política BrasileiraCorreio do Povo.  Porto Alegre,  p. 8, dez. 1983.

[70] LULA, Luís Inácio da Silva.  Abertura Política Brasileira.  Correio do Povo. Porto Alegre, p. 4. dez. 1983

[71] DUTRA, Olívio.  Abertura Política Brasileira.  Correio do Povo.  Porto Alegre,  p. 4, dez. 1983

 

[72]  RODRIGUES, Cap. Athaydes.  Agora eu...- A Revolução de 1964, em Rio Grande.  Porto Alegre : Pallotti, 1980. 236p.

 

[73] - SANTOS, Theotônio dos. Conceito de Classes Sociais.  Trad. de Orlando Reis.  Petrópolis : Vozes, 1982. 81p

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[76] DELLA SENTA, Tarcisio Guido «Educação superior latino-americana no início da década  de 80» in Universidade ontem, hoje, amanhã. Brasília  : GULERPE, 1980 pp. 1-8.

 

[77] BUARQUE, Cristovam.  A aventura da universidade - São Paulo : UNESP; Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994. 239p.

 

[78] CHAUI, Marilena, «O enigma chamado Universidade Pública» in Adverso. Porto Alegre :  ADUFRGS- Associação dos Docentes da UFRGS, n° 55, 2000. p.12...

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[79] - DUCHAMP, Marcel (1887-1968) «L’artiste doit-il aller a l‘université?» in  SANOUILLET Michel  Duchamp du signe  . Paris: Flammarion, 1991.  pp. 236-239

 

[80] FERREIRA, Glória et CARON, Muriel «Reinterpretar a modernidade: entrevista  de  Thierry de  Duve a Glória Ferreira e Muriel Caron – Bruxelas 07.02.1997 » Arte    & Ensaios Revista do Mestrado em História da Arte da EBA. Rio de Janeiro:   EBA-UFRJ Ano 5, no 5, pp.109-124 , 1998.

 

[81] - FIGUEIREDO e MELLO,  Pedro Américo (1843-1905) LA SCIENCE et les SYSTÈMES: questions d´histoire et de philosophie naturelle. Bruxelles : Gustave Mayolez, 1869, 169 p

 

[82] - SCHMID, Wilhelm .«Das Leben als Kunstwerk» in .Lebenskunstwerke – KUNSTFORUM.  Ruppichteroth – Köln Bd. 142, Okt-Dez 1998.   pp. 72/79.